PT e as concessões e privatizações: uma relação flexível 08 de julho de 2011 Autor: Rodrigo Ferreira de Araujo Souza, Graduado em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB) e trabalha na área de Relações Governamentais desde 2007. No início desse segundo período do governo do PT, podemos constatar que a relação do Partido com as privatizações e concessões encontra-se além da confirmada flexibilidade dos discursos do seu expresidente, Luiz Inácio Lula da Silva. Essa maleabilidade recai sobre boa parte de seus atuais líderes e, com base nas últimas três eleições federais, pode ser posicionada/classificada com base em três características principais: repúdio, indiferença, e necessidade. O “repúdio” é criado, cultivado e amplamente explorado nos embates eleitorais contra o grupo liderado pelo seu principal partido adversário, o PSDB. Durante as campanhas eleitorais de 2002, 2006 e 2010, o PT fomentou essa característica induzindo a relação entre as privatizações e concessões à entrega de bens públicos nacionais ao setor privado. Neste processo, o Partido criou o “amedrontamento” do eleitorado com base na possibilidade do PSDB entregar para o setor privado a administração de várias estatais rentáveis e de sucesso no âmbito internacional, como a PETROBRAS (eleições de 2010) e o Banco do Brasil (eleições de 2006), além de criticar as concessões realizadas pelo governo FHC. Com essa ação, o Partido dos Trabalhadores maximizou as suas ações em busca de votos na medida em que conseguiu criar um inimigo comum e disponibilizar argumentos simples para a toda sua militância em prol do taxado “Partido nacional antiprivatização”. Já a “indiferença” toma seu lugar no centro ideológico petista quando estes assumem o governo e seus líderes trabalham eficientemente no processo de esquecimento de uma doutrina contrária a privatizações ou concessões. Esse mecanismo é implementado por meio da expurgação de discursos, declarações e/ou ações relacionadas a qualquer idéia que seja minimamente ligada ao conceito de “privatização e/ou concessão é mal”, amplamente deflagrado no período eleitoral pelo próprio PT. Desta forma, o Partido promove o início da transformação da figura da privatização/concessão no consciente coletivo brasileiro ao mesmo tempo em que executa o plano de controle de seus filiados ligados a ideologia de esquerda mais radical. Essa imparcialidade é utilizada pelo PT como base para a utilização da sua terceira posição: a “necessidade”. Tal espectro ideológico se implementa em um ambiente em que o Partido encontra-se à frente da administração do Estado pressionado por fortes demandas do setor produtivo por infraestrutura básica a ser utilizada no processo de expansão de suas atividade e, consequentemente, do crescimento do país. Neste cenário, o PT se vê atrelado à necessidade de buscar junto à iniciativa privada o capital financeiro e agilidade no planejamento, execução e administração de ações estruturantes, características pouco observadas nos empreendimentos do governo. Com base na alteração de seu discurso e em sua carência administrativa e financeira, o primeiro presidente petista promoveu diversos processos de concessão no intuito de sanar graves carências no setor de infraestrutura do país. No decorrer destas ações, Lula delegou à iniciativa privada a administração de mais de 2,5 mil km de estradas federais distribuídas por diversos estados da federação, além da permissão de construção e, posterior, administração das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, dentre outros projetos fundamentais para a economia nacional. Seguindo a mesma linha do seu antecessor, em discrepância com o seu “discurso eleitoral”, Dilma já anunciou a execução das suas primeiras concessões: os aeroportos de Guarulhos (SP), Viracopos (SP) e Brasília (DF). De acordo com o governo, essa decisão visa suprir a necessidade de expandir a infraestrutura aeroportuária do país no intuito de atender a demanda para os próximos anos, inclusive no período da Copa de 2014 e olimpíadas de 2016. Desta forma, a segunda governante petista confirma a tendência do seu Partido em manter uma posição flexível com relação à participação da iniciativa privada em seus grandes projetos, conforme a proximidade do período eleitoral e da sua necessidade na administração da máquina estatal.