Quando penso no futuro não esqueço meu passado A belíssima lembrança no cartaz do PCdoB-SP em comemoração dos 80 anos de fundação, dizem tudo do esforço de permanência e renovação que buscamos no pensamento acerca das questões de partido. Lembremo-nos que tal foi o propósito anunciado no 9º Congresso - "um partido de princípios, marxista-leninista, de feições modernas" - e que esteve em curso também no 10º Congresso. O desenvolvimento do pensamento acerca do partido sofreu enormes vicissitudes, devido a décadas de clandestinidade - anos de ditaduras - e de uma determinada leitura do movimento revolucionário proletário - anos de modelagem. Com a legalidade, acentuou-se a necessidade de atualizar esse pensamento, em meio a uma década terrível - a derrocada da URSS, e a democracia mutilada pelo neoliberalismo. O essencial fizemos, desde o 8o Congresso em 1992: reafirmamos princípios e tratamos de reforçar o partido. Foi um êxito expressivo. A comemoração dos 80 anos de fundação, 40 de reorganização e 30 da heróica jornada de luta libertária no Araguaia, nos encontra mais conscientes dos esforços necessários para seguir adiante, e suficientemente autocríticos para lidar abertamente com as lacunas de nosso trabalho. O que não podemos perder de vista é que falamos em desenvolver-atualizar o pensamento de partido em meio a uma situação ainda defensiva, na ausência de um forte e ascendente movimento de massas do proletariado. Portanto, não vamos fazer receitas para a cozinha do futuro. Mas o notável Saramago, afora instante de forte pessimismo manifestado no Fórum Social Mundial, gosta de lembrar uma reflexão de Marx em "A Sagrada Família": "Se o homem é formado pelas circunstâncias, então há que formar as circunstâncias humanamente". Ou seja, historicamente. Então segue irrecusável a questão essencial de seguir construindo o sujeito coletivo da luta transformadora, que tem por centro a noção de pertencimento de classe e de consciência de classe do proletariado. O partido comunista é esse instrumento e essa consciência, cujo papel é indelegável. Com a condição de concebê-lo como partido vivo, atuando nos pólos principais dos conflitos sociais, cotidianamente, infundindo a cada luta o conteúdo de seu projeto político transformador, nas circunstâncias concretas do Brasil e do mundo de hoje. Ou seja, pensado e estruturado para o tempo atual, em ligação com a realidade econômica, social política e cultural profundamente modificada e com o projeto político que almejamos. Falamos portanto de formar as mulheres e os homens reais que reconstruirão a perspectiva socialista, renovada, numa atitude comprometida e militante. Permanecemos leninistas, devemos atualizar as formas, funções e feições que assume nosso trabalho partidário, principalmente lá nas raízes que nos ligam ao povo, que são as bases militantes. Walter Sorrentino Publicado em 2 de abril de 2002