Sonoplastas x músicos x cantores: uma relação por vezes conflituosa!
Autor: Fernando A. B. Pinheiro
Um bom som é resultado de um bom conjunto de equipamentos e até mesmo de uma boa acústica local.
De que adianta termos uma mesa de som da Neve (talvez a melhor do mundo) se na saída de som temos
caixas de som "feitas a facão", de tão ruins? De que adianta comprarmos microfones caros se depois
deles temos uma mesa porcaria, sem qualidade nenhuma, com seus péssimos prés "comendo" toda a
qualidade do microfone? Um bom conjunto é essencial para um bom resultado. É a história dos "elos de
uma corrente" em sonorização. Para quem quiser saber mais, há o artigo do mestre David Distler sobre
isso em http://www.somaovivo.mus.br/artigos.php?id=100.
Se o David no seu artigo falou em 4 elos, envolvendo os equipamentos (Captação, Processamento e
Projeção) e também a Acústica, eu vou tomar a liberdade de acrescentar um outro elo: as Pessoas
envolvidas tanto na geração quanto no gerenciamento do som. Da mesma forma que a qualidade de um
equipamento vai influenciar no resultado obtido, a qualidade dos músicos e dos operadores de som
envolvidos na sonorização de um evento também vai influenciar - e muito - no som que o público ouve.
Que adianta equipamentos de primeiríssima se os músicos tocando são de última? Que adianta o melhor
microfone do mundo se o cantor desafina sempre? E que adianta o melhor equipamento do mundo se
quem vai operá-lo é um incompetente?
O trabalho do técnico de áudio (seja nas igrejas ou não) deve ser intimamente ligado ao trabalho dos
músicos e dos cantores. Devem formar (deveriam, pelo menos) um conjunto muito unido, um verdadeiro
trabalho em equipe. A Bíblia diz em Atos 4:32 o seguinte: "E era um o coração e a alma da multidão dos
que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes
eram comuns"
"Todas as coisas lhes eram comuns..." É exatamente isso que todo o pessoal envolvido em louvor precisa
entender. O trabalho de um influencia diretamente no resultado do trabalho do outro. Se todos
trabalharem bem, o trabalho individual de cada um será melhor e até mesmo mais fácil. Os músicos e
cantores geram os sons, enquanto os operadores de áudio gerenciam esses sons, de maneira a obter o
melhor resultado sonoro possível nessa nobre missão que é louvar ao Senhor. Mas às vezes
encontramos em algumas igrejas uma relação conflituosa entre essas pessoas envolvidas com o louvor.
Cabe aqui uma ressalva. Um músico não precisa cantar, mas o quanto mais ele souber sobre o ato de
cantar melhor músico ele será. Se o tom está muito alto para a voz do cantor, porque insistir? Abaixar um
tom é fácil e pode salvar a performance do cantor. Da mesma forma, um cantor não precisa saber sobre
instrumentos, mas se souber, melhor cantor será. Terá uma noção melhor de como aproveitar com sua
voz as nuances da música. E se músicos e cantores souberem um pouco sobre equipamentos de som
vão ajudar infinitamente a vida do operador.
Já o operador é uma pessoa que, ao nosso ver, precisa saber de equipamentos, de instrumentos
musicais e vozes também. Quanto mais souber dos outros, melhor técnico ele será. Aliás, o
melhor técnico de som que conheço também é músico e cantor (com formação superior em Música
mesmo). A percepção musical dele é muitas vezes maior que a minha.
A falta de conhecimento técnico por parte de algum dos envolvidos no louvor será o primeiro motivo para
um conflito entre as partes. Quem nunca viu um "músico" que toca um violão completamente desafinado e
ele mesmo é o último a saber? E os cantores que "desafinam" mas acham que cantam muito bem, que os
outros que estão errados! Essas situações são comuns (não deveriam ser)
O operador de som, ao perceber uma situação dessas, obviamente deverá reduzir o volume do
instrumento ou do microfone. Alguém desafinado e com volume alto atrapalha todo o grupo. Claro que
para tomar uma atitude dessas o operador precisa ter muito conhecimento de canto e música. Precisa ter
certeza do que está fazendo. Só que aí... é comum alguém não gostar de ter o seu volume diminuído. E
vai gostar muito menos de ouvir a explicação do motivo: "estava desafinado". Está instalado o conflito!
Entramos em um campo perigoso. Acredito que o técnico de áudio tem o DIREITO de abaixar o volume
de alguém que está "atrapalhando" (desafinado, fora do tom, etc), mas tem também a OBRIGAÇÃO de
comunicar o fato ao responsável pelo louvor da sua igreja imediatamente. Ele é quem pode tomar uma
atitude mais direta em relação à pessoa. Não cabe a um operador de som em uma igreja dizer que
Fulano/Beltrano tocam bem ou mal - NUNCA! Nossa função é de servir, não de julgar. Existem casos até
em que são os próprios cantores e músicos que pedem para abaixar o volume de uma determinada
pessoa. Pode ser feito, mas comunique também ao responsável. Já aconteceu comigo de familiares ou
amigos do cantor/músico virem reclamar comigo pelo fato de que não ouviram o instrumento ou a voz da
pessoa. Em vez de ter que falar com eles que a pessoa estava atrapalhando, simplesmente disse que
havia sido ordem do responsável e que era melhor conversar com ele. Evitei um situação constrangedora
(para mim, pelo menos).
Algumas vezes é realmente muito difícil "engolir" situações que encontramos. Um amigo meu que
também opera som mudou de bairro e de igreja. Após poucas semanas, sabendo que ele entende de
sonorização, o responsável da igreja o colocou nesse trabalho. Uma das grandes dificuldades foi com
uma senhora, que tocava guitarra absolutamente mal e altíssimo, atrapalhando os outros instrumentistas.
Ele começou a diminuir o volume dessa senhora, e o louvor da igreja melhorou. Só que o responsável da
igreja foi perguntar por que ele estava fazendo isso, e ele explicou tudo, disse que a pessoa tocava muito
mal. Mas a senhora era também a esposa desse responsável. Nem queiram saber que fim levou essa
situação.
Mas não pensem que são apenas os músicos e os cantores que desafinam. Um operador de som precisa
ter noções mínimas sobre seus equipamentos. Quando dou aulas sobre sonorização, uma das perguntas
mais comuns sobre pessoas que JÁ CUIDAM de som nas suas igrejas é sobre como equalizar
corretamente - Agudo , Médio e Grave. Uma das funções mais primordiais e também das mais
desconhecidas.... Tenho pena do público nessas igrejas. O David Distler falou com muita propriedade: a
ESCALA do som nas igrejas é a ESCOLA de som. Imaginem os conflitos que acontecem porque o
operador nunca consegue deixar o instrumento com a correta equalização...
Outro ponto de conflito são músicos "surdos". Qual operador de som nunca reclamou que Fulano e
Beltrano são absolutamente "surdos", e querem os seus volumes muito mais alto que os dos outros? A
parte de monitor de som para os músicos é fruto de conflitos sérios entre o operadores e os músicos. Os
músicos querem mais, mais, mais volume, e o operador quase nunca pode dar tudo o que eles querem.
Problemas no Monitor pode causar até atritos entre os próprios músicos. Conheço uma jovem violonista
que fala que "quando Siclana toca, eu não quero chegar nem perto do palco". Ela toca tão alto que eu
nem consigo me ouvir".
Por incrível que pareça, esse problema é de fácil solução. O uso de fones de ouvido individuais pode
acabar completamente com esse problema, tendo um custo relativamente baixo de implantação
(http://www.somaovivo.mus.br/artigos.php?id=92). Muitos músicos não conheçem essa solução, que
precisa ser levada a eles pelos técnicos de áudio. Isso é um exemplo de trabalho em conjunto: o operador
atuando para resolver um problema individual dos músicos.
Um terceiro motivo para conflitos é a (ir)responsabilidade com os equipamentos e instrumentos musicais.
Aqui os cantores se salvam, pelo fato de não terem instrumentos/equipamentos para cuidar (se bem que
qualquer operador detesta receber um microfone todo cheio de marcas de batom). Tenho alguns
exemplos absurdos de irresponsabilidade.
Conheço uma igreja que tem 4 violões. Quebrou a corda de um, algum tempo depois quebrou a corda de
outro, algum tempo depois quebrou a corda de outro, algum tempo depois quebrou a corda do último. E aí
não tinha mais violão. Detalhe: havia jogos de corda novos guardados e todos cientes disso. Não havia
era boa vontade para trocar as cordas. Teve que o líder da igreja intervir para que alguém se animasse
para resolver o problema.
Já vi uma bateria em uma igreja com tanta poeira que eu mesmo escrevi "lave-me" em um canto dela. E
um mês depois voltei lá e o "lave-me" continuava escrito, mas já recoberto por mais um pouco de poeira.
Interessante que fui na casa do baterista dessa igreja depois, onde havia uma reluzente Pearl. Em cima
da bateria dele não havia poeira nenhuma, mas na da igreja...
Quase 10 anos atrás, o pessoal de uma igreja comprou uma guitarra Yamaha excepcional, com
microafinação. Um rapaz tocou-a durante muito tempo, e muito bem nela. Até que o rapaz literalmente
"casou e mudou". A guitarra ficou parada por uns dois anos. Segundo os músicos da igreja, ninguém mais
sabia regular a microafinação, só esse rapaz . Lembro que falei que era só ir em uma loja de instrumentos
musicais e perguntar como se faz. Mais um ano e nada. Após 3 anos parada e vendo que a guitarra
continuava lá, eu conversei com as lideranças da igreja, expliquei que a mesma estava parada a anos
sem uso, e se ele não teria alguém interessado em outra igreja. Ele a levou para outra igreja, e o pior que
nunca ninguém daquela igreja perguntou sobre a guitarra.
Uma igreja tem dois teclados. Por causa de um roubo acontecido em uma outra, o teclado da igreja foi
emprestado. Quando chegou a hora do culto, "cadê" o outro teclado? Acabou que a igreja que emprestou
ficou sem teclado algum. O responsável pela igreja precisou reunir todo mundo envolvido com o louvor
para perguntar o que teria acontecido. Descobriu que Fulana havia levado ele para casa "para treinar", e
sem avisar ninguém.
Evidente que há músicos e músicos. Há os que cuidam com o maior zelo dos equipamentos, como os que
"não estão nem aí".
Em sonorização, também não é diferente. De vez em quando chega um no Anfiteatro dizendo que cuida
do som na sua igreja e que quer trabalhar conosco, na equipe do Anfiteatro. A primeira coisa que faço é
perguntar o que ele tem de equipamento na sua igreja. Quero saber marca e modelo. De 10 que pedem
para trabalhar, os 10 não sabem os equipamentos que tem nas suas próprias igrejas. Como cuidar bem
de algo que você nem sabe que possui? Quando dou minhas aulas, a primeira coisa que peço é que os
alunos façam um inventário dos bens de sonorização da igreja. Faço isso para que eles conheçam o que
tem. Peço para colocarem quantidade, marca, modelo e se está funcionando ou não.
Lendo um desses inventários vi uma situação no mínimo constrangedora. Uma igreja para 100 pessoas
tinha 5 amplificadores. Dois Ciclotron DBK 720 em uso, um DBK 1500 com defeito, um DBK 2000 com
defeito e um DBK 1500 "de reserva", guardado na caixa ainda. Conversando com o "responsável", ele
sempre achou que o conserto dos amplificadores devia ser muito caro, e não compensava, então preferiu
pedir para comprarem novos logo. Detalhe: ele nem levou os equipamentos na autorizada para saber qual
o problema. Pedi para ele deixar os amplificadores comigo, e levei para um técnico amigo. O DBK 2000
tinha queimado um CI de R$ 1,00. Já o DBK 1500 estava com problema nos jacks P10 de entrada e
saída, gastei R$ 8,00 para trocar. Gastei R$ 9,00 para recuperar equipamentos no valor de R$ 1.500,00.
Certa vez fizemos um evento grande, e precisamos pegar equipamentos com várias igrejas. Depois do
evento, no sábado, separamos tudo e cada um foi para sua casa, mas confesso que tudo foi meio corrido
e poderia ter havido alguma confusão nessa devolução e disse a todos que reconferissem tudo pelo
domingo de manhã. No domingo à tarde, liguei para cada um e pedi confirmação, e todos disseram que
estava tudo certo. Uma semana depois, me ligou um rapaz dizendo que estava faltando dois microfones.
"Como? Você já disse que tinha conferido e estava OK". "Ah, Fernando. Sabe como é que é, eu estava
muito cansado no domingo e não conferi nada. Quando você ligou eu menti, porque sabia que você iria
brigar comigo por não ter feito a conferência, mas agora eu fui olhar e está faltando esses 2". O resultado
foi o seguinte: coloquei as lideranças da igreja no meio da história, e soube que o rapaz nunca mais
encostou em uma mesa de som.
Outro ponto de conflito são os músicos que não conhecem seu próprio instrumento. Tecladistas que ficam
perguntando "onde é que liga o pedal?", "onde é que liga o cabo que sai o som?". Também tem o caso do
baixista ou guitarrista que o tempo todo fica pedindo "Põe mais grave". "Tira agudo", "Aumenta o volume".
E a maioria dos baixos e guitarras tem volume e controle de tom, só que os próprios usuários não sabem
disso! Já fiz som com bons músicos que, após uma regulagem inicial, usavam insistentemente esses
recursos do próprio instrumento, e não havia a menor necessidade de se mexer nos seus canais durante
todo o evento. Isso é trabalho em equipe.
Também existem operadores que não lêem o manual do equipamento. Um rapaz tinha um equalizador
Yamaha no rack, e entendiado com a pregação, resolveu dar uma "futucada" nos equipamentos. Apertou
um botão chamado Pink Noise no equalizador, no meio da pregação. Imaginem o resultado! E o pior, ele
se apavorou, ficou sem saber o que fazer e praticamente acabou com o culto.
Aliás, o problema de desconhecimento do equipamento é muito mais sério para o operador de áudio do
que para o músico. Se o músico não conhece bem seu instrumento o máximo que vai acontecer é não
obter o resultado desejado. Já se o operador não conhecer seu equipamento, poderá até mesmo causar
danos ao equipamento. Quem nunca viu um canal queimado porque um instrumento foi ligado na entrada
de microfone?
Para o cantor, conhecer o seu "instrumento" (o microfone) pode ser de grande valia. Se os cantores
tiverem noções de diagrama polar e de como uma microfonia é causada, com certeza a vida do operador
de som vai ser muito, muito mais fácil. Quem nunca viu um cantor praticamente "apontar" o microfone
para a caixa e ainda por cima achar que isso é normal?!! E o efeito de proximidade pode gerar
sonoridades excelentes, mas os cantores precisam conhecer o funcionamento desse efeito para
aproveitá-lo. É papel do operador de som ensiná-los a se portarem diante do "instrumento" microfone. Até
mesmo o modo de repousá-lo no colo ou na cadeira ou banco é importante. Isso é trabalho em equipe
Às vezes o conhecimento de um pode ser muito útil para os outros. Sempre tive "birra" com microfones
que tem chave ON-OFF. Muitas vezes chegava a hora do solo e... o microfone estava desligado! Mas em
um ensaio observei um flautista que ele próprio ficava o tempo todo ligando e desligando seu microfone.
Como a flauta só fazia arranjos, ele ligava o microfone quando ia tocar e desligava quando não mais
necessário. Por incrível que pareça, é uma funcionalidade simples, mas que ajuda muito. O operador
pode simplesmente deixar o controle do canal com o próprio músico, preocupando-se com outros mais
importantes. Durante a passagem de som eu regulo tudo e, a partir daí, os próprios músicos e em alguns
casos os cantores ligam e desligam os seus microfones conforme necessário. Acabou minha birra com a
chave ON-OFF! Isso é trabalho em equipe.
Outro motivo para conflitos, principalmente em eventos fora da igreja, é a desorganização pessoal. Isso
acontece muito com músicos. Mais uma vez, os cantores são privilegiados pois andam sempre com seus
equipamentos (cordas vocais), não esquecendo-os em lugar nenhum. Quantas vezes vi os músicos
levarem seus instrumentos com acessórios elétricos (pedaleiras, cubos, teclados, etc) mas não levavam
sequer uma única extensão de energia nem pilhas. Ou então levaram o teclado e esquecem o suporte. Já
vi essas cenas inúmeras vezes, e aí os músicos ficam pedindo para o pessoal do som providenciar uma
extensão, suporte, pilhas, etc. Em eventos, o operador do som já tem um milhão de coisas para fazer e
ter que ajudar os desorganizados é algo penoso.
Quando faço eventos, costumo ter um trabalhão para puxar a energia para os equipamentos de som (faça
som em uma quadra de colégio ou ginásio de esportes e você verá o que é dificuldade para "puxar"
energia). Daí, deixo uma régua de tomadas à disposição: quem precisar ou senta próximo ou leva sua
extensões. Só que a maioria "esquece" de levar as extensões. Um até brigou comigo: "Vocês do som que
tem que trazer as extensões." Respondi que não sou eu que toco os instrumentos, então não tenho como
saber quais que vão precisar de energia ou não. Duro é ver alguém carregando um teclado de 2.000,00
reais e não ter uma mísera extensão de energia de 10 metros e 15,00 reais no case.
Uma vez tive um problema muito estranho com uma tecladista em um evento. Já estava todo atrasado
quando montei o teclado para ela (ela não sabia como fazer), mas deixei para ela a tarefa de ligar a fonte
de alimentação à tomada. Havia um filtro de linha do pessoal da projeção (notebook + projetor) logo ao
lado, falei para ela ligar alí e saí para fazer outras coisas. Era simplesmente só encaixar a tomada no
lugar. Mais alguns minutos e ela me pediu de novo, e falei: "a tomada tá aí, só ligar". Mais alguns
minutos, noto a menina com lágrimas nos olhos e a fonte ainda na mão. Veio então uma outra moça me
pedir para ligar o teclado. "Mas a tomada tá ali, do lado dela, só enfiar no lugar". A moça foi lá e montou
em 5 segundos. Se eu não conhecesse a tecladista eu imaginaria que ela morava na roça, em algum
lugar sem luz elétrica. Atualmente ela só canta.
Lá no Anfiteatro há um lugar para batismos. Um amigo foi cuidar do som e voltou com uma história
incrível. Foram 5 igrejas para um batismo, em um total de 700 pessoas. Sabem o que aconteceu? Só um
instrumentista levou um violão, para cantar alguns hinos no ônibus, durante a viagem. 5 igrejas, pelo
menos uns 30 instrumentistas no total, e todos ficaram um esperando o outro. Podem até dizer que foi
desorganização dos responsáveis pelas igrejas, mas será que nenhum instrumentista pensou em levar o
seu instrumento para qualquer eventualidade?
Não vou nem comentar sobre desorganização de operadores de som em eventos. Acredito que um
operador desorganizado simplesmente não pode realizar eventos. Como comentado por um dos
membros do fórum do site, "quem não planeja seu evento planeja errar". Veja mais sobre o assunto:
http://www.somaovivo.mus.br/artigos.php?id=108 e
http://www.somaovivo.mus.br/artigos.php?id=109.
Mais um ponto de conflito: os "folgados". Há gente que acha que os operadores de som são seus
empregados. Já ouvi inúmeras vezes de alguns músicos "Vocês não trouxeram o meu instrumento? Eu já
avisei: cuido de som, não de instrumentos. Não carrego nada de instrumentos, pois já tenho muito de som
para carregar.
Uma viagem de evangelização para o interior do Estado. Um ônibus iria levar o pessoal. Cheguei cedo, fui
levar os equipamentos e um rapaz que iria viajar no meu lugar (estou velho para essas coisas).
Chegamos cedo, antes do ônibus e tiramos as coisas de som do carro (caixas, mesa, amplificador,
cabos). As pessoas foram chegando, deixando suas malas, seus instrumentos, tudo ali perto. O ônibus
chegou, e junto com o rapaz coloquei as coisas no bagageiro e fui embora. Ele entrou no ônibus e se
acomodou. Após algum tempo, com o ônibus pronto para partir, alguém do lado de fora guitou "Ei, e
essas coisas aqui?". Eram os instrumentos musicais. Um dos músicos perguntou "Ei, você do som, não
vai guardar os instrumentos não?" O meu amigo respondeu "Sim, os meus instrumentos já estão
guardados. Aqueles alí não são meus". O responsável deu um enorme brigueiro nos músicos. Cantor tem
uma sorte...
Costumo ficar triste com os cantores homens. Qualquer evento envolve pelo menos uma dezena de
varões tenores e baixos (ou até barítonos). Terminado o evento, há um monte de equipamento para
desmontar e simplesmente fazem que não é com eles. Tenho que ficar pedindo ajuda, insistindo e muitos
se negam a ajudar. "Vai sujar a minha roupa", já ouvi. É duro e triste. Depois de se carregar mais de
100kg de equipamentos sozinho ou em dois, dá um desânimo danado e uma vontade de desistir enorme.
Aliás, muitos ficaram pelo caminho porque som é uma profissão ingrata mesmo, neste aspecto de
carregar peso e ninguém querer ajudar.
Por causa de casamento, duas igrejas "trocaram de lugar", pois o templo de uma era bem maior que a
outra. O pessoal de uma iria fazer o culto na outra. Os equipamentos de som também foram trocados. Fui
cuidar do som no casamento. Os instrumentistas levaram os instrumentos e fizemos o casamento. Ao
final, todos foram para a festa, mas como de costume voltei para colocar tudo de volta no lugar, pois
haveria culto no outro dia de manhã cedo. Pois bem: no domingo o som estava todo perfeito, mas só
haviam violões (que não foram usados no casamento). Alguns instrumentistas levaram seus instrumentos,
deixaram lá e foram para a festa, e no outro dia ninguém acordou cedo para ir buscar.
Recentemente, fui cuidar de outro casamento, em uma cidade próxima. Mesmo sendo a 40km, cheguei
bem cedo e montei tudo. Peguei a única mesa e cadeira disponíveis na igreja (os outros eram bancos
grandes) para instalar a mesa de som em um lugar diferente do habitual (muito ruim o original). Faltando
45 minutos para o início do evento, me chegou um camarada, com um violoncelo e me pediu a cadeira.
Disse que estava muito ruim para ele sentar em um dos bancos de madeira, e que precisava da cadeira.
O pedido foi tão exdrúxulo que só perguntei "E eu, como é que eu fico?". O rapaz me respondeu: "Ah,
você fica em pé". Dá para acreditar? Fiquei com a cadeira.
Outro conflito: comprometimento com os cultos e eventos. É comprometimento com Deus, não com
homens. O operador de som tem que saber que será o primeiro a chegar e o último a sair da igreja. Da
mesma forma, os músicos e cantores precisam chegar cedo também. A passagem do som antes do
evento é algo muito importante para o resultado sonoro. Costumo dizer que, se passar o som antes, tudo
dará certo (as microfonias já foram corrigidas, etc). Se não passar o som, só Deus...
Muitas vezes os instrumentistas e cantores nos deixam em uma enrascada. Eles chegam faltando
minutos para o início do culto/evento, e ainda querem ligar seus instrumentos/microfones. Aí somos
nós operadores que nos levantamos e nos movimentamos para passar os cabos, pedestais e
equipamentos. Aí o público que já chegou olha para nós e pensa que a falha é nossa. A algum tempo não
faço mais isso. Já deixo cabos, microfones e até pedestais do meu lado, e caso necessário eu passo para
eles sem sequer me levantar da cadeira. Imaginem a cena de um pedestal de microfone passando pelas
cabeças de um monte de gente. Um músico que costumava chegar atrasado agora até já fala: "Não,
precisa ligar nada não" só pela vergonha de receber e montar o pedestal.
Vida de cantor é sempre mais folgada. Pode chegar mais tarde que o músico, mas tem gente que
abusa! A pessoa vai fazer solo e chega faltando 3 minutos para o culto. E como ficou a passagem de
som? Não teve passagem de som! Depois dá microfonia ou fica ruim e a culpa é de quem: do operador! É
dureza. Comunique ao responsável pelo louvor da igreja, situações dessas não podem acontecer.
Uma experiência das mais marcantes para mim e para os instrumentistas da minha igreja. Meu pastor
mora longe, a 20km de distância, enquanto a maioria do pessoal da minha igreja mora bem próximo (eu
inclusive). Em um culto de domingo de manhã (inicia-se às 08:00h), ele chegou cedo (07:40h), eu havia
chegado 5 minutos antes para montar o som. Mas não chegaram os instrumentistas. Deu 07:55 quando
chegaram alguns deles, e o pastor não deixou que eles tocassem. O culto ficou sem instrumento algum.
Mas foi o melhor culto em anos que a igreja teve. A presença do Senhor era muito grande no meio da
igreja, durante todo o culto. Ficamos todos com a sensação de que sem os músicos as coisas são
melhores.
Também já vi o mesmo com operadores de som. Simplesmente nenhum deles foi na igreja e um rapaz
que nada entendia de som foi lá, ligou tudo e, seguindo as identificações dos canais da mesa, aumentava
os volumes. Com muito bom senso e bons ouvidos, não houve sequer uma microfonia no culto, que foi
muito bom em termos de sonorização. Graça de Deus!
Um outro conflito que pode existir é a questão de ego pessoal. Dá pena, mas já vi instrumentistas que não
se "bicam" e não tocam juntos nunca, como também cantores que ficam oprimidíssimos porque não são
escolhidos para fazer um solo na igreja, ou então a "turma do contra", gente que só sabe colocar
dificuldade em tudo. Reclamam dos hinos escolhidos, dos responsáveis, dos músicos, dos cantores.
Gente que atua nos bastidores, nas "conversar ao pé do ouvido", etc. Não vou entrar em detalhes porque
quem trabalha com louvor nas igrejas provavelmente já presenciou isso. Mas que ficamos tristes ao ver
isso, ficamos. Fico imaginando como eles vão conseguir cair na "graça do povo" (Atos 2:47) se não
conseguem nem sequer cair em graça uns com os outros. Depois a igreja começa a perder vidas e
ninguém sabe o motivo.
Uma coisa aprendi. Vida de operador de som é vida de servir aos próximos. Não é servidão, mas sim de
atuar em prol dos outros, no caso os músicos e cantores. Se eles precisam de algo, vou tentar fazer o
máximo ao meu alcance para conseguir o que eles querem, e vou até propor coisas melhores do que eles
querem. Mas NUNCA NUNCA NUNCA entro no meio dessas dissenssões como as citadas no parágrafo
anterior. Se achar que Fulano canta melhor que Beltrano, falo com o responsável, nunca com os próprios
cantores. Se achar que algo pode melhorar, falo sempre com o responsável geral de louvor. É ele que
tem unção para esse trabalho. Fico "de fora" o máximo que puder, mantendo-me afastado desses
assuntos. Sirva a todos da mesma forma: o melhor possível. Na hora que der uma microfonia com um e
não com outro você irá entender muito bem o que quero dizer.
Até mesmo entre operadores de uma mesma equipe há problemas. Claro que existem gente mais
experiente ou menos, mais paciente ou menos, mais competente ou menos. Mas que os mais experientes
ensinem os mais novos. Que o mais paciente ensine o impaciente. Que o competente ensine ao que está
aprendendo. Adianta ficar reclamando porque o culto foi um "festival de microfonias"? Já aconteceu, não
tem como voltar atrás. Mas tem como ensinar a evitá-las no futuro.
Para concluir, todos os problemas citados aqui são situações reais que vivenciei e tenho certeza que
muitos também viveram situações parecidas em suas igrejas, seja de que denominação for. Por sorte
foram exceções, sendo que a maioria esmagadora das vezes sempre houve um excelente
relacionamento entre todos os envolvidos com o louvor. Mas os acontecimentos ruins às vezes marcam
mais que os bons. Em 17 anos trabalhando com sonorização ao vivo deu para colecionar essas e outras
histórias, mas muita coisa já foi aprimorada e resolvida no nosso meio. Afinal, somos homens e passíveis
de falhas, mas temos a incrível capacidade de aprender com nossos erros. Os exemplos não estão aqui
para expor ninguém, mas para mostrar o tipo de coisas que podem acontecer, como também as
providências a serem tomadas. Tudo isso pode ser corrigido. Falhas técnicas precisam de correções
técnicas, investimento em equipamentos, treinamentos. Algumas atitudes ruins precisam de novas
atitudes. Responsabilidade pode ser ensinada e deve ser cobrada. Comprometimento da mesma forma.
Não basta ensinar música nem canto nem sonorização, mas também organização, planejamento, solução
de pequenos problemas. Isso tudo pode ser conversado ANTES que aconteça. Porque Deus se agrada
do perfeito louvor.
E para terminar, vamos relembrar: "Todas as coisas lhes eram comuns..." É exatamente isso que todo o
pessoal envolvido em louvor precisa entender. O trabalho de um influencia diretamente no resultado do
trabalho do outro. Se todos trabalharem bem, o trabalho individual de cada um será melhor e até mesmo
mais fácil.
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