XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005 A relação entre a gestão da qualidade e a cultura organizacional: um estudo de caso ambientado em uma fábrica de embalagens de papelão Gabriel Sperandio Milan (UFRGS - UCS - CESF) [email protected] Marcos Ricardo Pretto (CESF) [email protected] Paulo Rogério Pigozzi (CESF) [email protected] Resumo Este artigo relata o desenvolvimento de um estudo de caso sobre a evolução da qualidade no contexto de uma empresa fabricante de embalagens de papelão e sua relação com a cultura organizacional. Inicialmente, resgata-se a sistemática de implantação e a evolução do processo da qualidade na empresa. Na seqüência, as principais percepções das pessoas sobre o processo da qualidade são identificadas, destacando-se o impacto das melhorias provenientes da qualidade sobre a gestão e a cultura organizacional. Finalmente, algumas áreas de ação são propostas no sentido de maximizar os efeitos da qualidade para a empresa. Palavras-chave: Cultura Organizacional, Gestão da Qualidade, Qualidade. 1. Introdução Com o modelo de produção em massa tornando-se ultrapassado, ao final da década de 70, surge, com as organizações japonesas, novas técnicas de gestão. Aliadas à crescente demanda por produtos de melhor qualidade e à mudança comportamental dos clientes, cada vez mais exigentes, percebe-se uma transformação na realidade da produção industrial. Diante disso, muitas empresas têm buscado um aperfeiçoamento constante em seus processos e atividades por meio de programas da qualidade, o que resulta em uma evolução em sua estrutura organizacional, tanto no aspecto técnico, quanto em relação à sua cultura empresarial. Nesse novo contexto, emerge uma visão mais abrangente da qualidade, a qual direciona a empresa a adotar práticas mais eficientes e eficazes em seus processos e, principalmente, a entender e atender às necessidades e desejos de seus clientes (KOTLER, 2000). Assim, para satisfazer o cliente, deve-se controlar sistematicamente a qualidade, melhorá-la e inovar continuamente (KANO et al., 1984). “Se a qualidade é relacionada a exceder continuamente as expectativas do cliente em um mercado competitivo, então, o pensamento criativo e a habilidade de inovar são competências-chave (...)” (PLESEK, 1998, p. 723). Conseqüentemente, a implementação de um novo modelo de gestão da qualidade exige mudanças estruturais e comportamentais, ou seja, não é possível abordar a evolução da qualidade nas empresas sem que se faça uma relação direta com a cultura corporativa e com as mudanças organizacionais decorrentes (CROSBY, 1994; ISHIKAWA, 1993). Portanto, abordar a qualidade no ambiente empresarial pressupõe esforços para mudanças contínuas e permanentes. Conseguir mudar as atitudes e o comportamento das pessoas é algo fundamental. Enquanto tais atitudes e comportamentos não estiverem incorporados ao conjunto de crenças e valores das pessoas, não se conseguirá consolidar uma cultura organizacional orientada para a qualidade. Por isso, a busca pela qualidade só será plena quando todos os colaboradores da empresa mudarem de mentalidade e compreenderem os seus papéis individuais a serem desempenhados e sua responsabilidade na consecução de ações e tarefas voltadas à melhoria contínua (AIDAR, 1994). ENEGEP 2005 ABEPRO 1231 XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005 2. Qualidade: um breve resgate conceitual Feigenbaum e Feigenbaum (1999) defendem que a qualidade é um dos mais poderosos geradores de crescimento nas vendas e receitas das empresas, e um fator de sustentação da expansão dos negócios. Porém, embora os programas, sistemas e modelos da qualidade já estejam bastante difundidos e, apesar de sua popularidade, há pouca convergência a respeito de sua definição (HUFF et al., 1994). Como exemplo disso, é posível citar algumas definições de qualidade, as quais abordam diferentes enfoques. Qualidade é conformação a especificações (CROSBY, 1979), melhoria da conformação a especificações através da redução da incerteza e da variabilidade (DEMING, 1986) e adequação ao uso (JURAN, 1989). Sob uma perspectiva mais específica, Zeithaml (1988) define qualidade como o julgamento do consumidor sobre a excelência global ou superioridade de um produto ou de um serviço. Neste sentido, com um direcionamento voltado ao mercado, Garvin (1987, p. 104) defende que “algumas preferências do consumidor deveriam ser tratadas como padrões absolutos de desempenho [ou de qualidade]”. Consoante a isso, um dos grandes desafios para a implantanção e o desenvolvimento da gestão da qualidade está em integrar essas diferentes visões de qualidade. Definir uma linguagem comum, que gere sinergia entre os colaboradores da empresa em torno de uma mentalidade orientada para a qualidade é o primeiro passo. No entanto, é imprescindível que a qualidade, seus procedimentos, critérios e padrões não se transformem em um fim em si mesmos, fazendo com que o objetivo primordial seja suprir as expectativas dos clientes. 3. A relação entre cultura organizacional e qualidade Recentemente, diversos estudos têm abordado a relação existente entre a cultura organizacional, ou cultura corporativa, e as práticas relacionadas à gestão da qualidade e seus processos subjacentes (vide AMBROZ, 2004; IRANI et al., 2004; KUJALA; LILLRANK, 2004; van der WIELE; BROWN, 2000). Inclusive, Salegna e Fazel (1995) defendem que o sucesso proveniente da implementação de ações atinentes à qualidade depende da convergência entre o planejamento estratégico, e seus respectivos objetivos diretivos, e a cultura corporativa. Em concordância a esses autores, Ambroz (2004) salienta que os resultados advindos dos sistemas da qualidade total são equivalentes ao fortalecimento da cultura organizacional, a qual influencia, também, a performance organizacional – vendas, lucratividade e rentabilidade (IRANI et al., 2004). Por isso, é oportuno que se aprofunde o entendimento em torno da cultura organizacional. Ao longo da década de 80, o conceito de cultura organizacional permeou a imaginação de pesquisadores e executivos (WILSON, 1997). Nessa época, era apregoado que a chave para o sucesso das organizações era a incidência de uma cultura corporativa fortemente unificada (PETERS; WATERMAN Jr., 1982), e que, a alta administração das organizações deveria construir tal cultura por meio da articulação de um conjunto de valores, que deveriam ser reforçados com políticas tanto formais quanto informais, e partilhados e respeitados por todos os colaboradores, levando-os a um compromisso mais elevado (WILSON, 1997). Wilson (1997) comenta, ainda, que de modo não surpreendente, a cultura corporativa tornou-se rapidamente uma arma secreta para negócios bem-sucedidos. A cultura corporativa é um padrão de pressuposições básicas de um determinado grupo, o qual está relacionado à forma de como este grupo aprende a lidar com seus problemas de adaptação externa e de integração interna, e que tem funcionado suficientemente bem a ponto de ser considerado válido e ensinado a novos membros que sejam incorporados ao grupo como a maneira correta de perceber, pensar e agir sobre os problemas que surgirem (SCHEIN, 1991). A cultura corporativa, portanto, se refere aos valores subjacentes àquilo que ENEGEP 2005 ABEPRO 1232 XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005 a organização recompensa, apóia e espera; às normas que fundamentam suas políticas, práticas e procedimentos; e ao significado que tem a incumbência de partilhar e disseminar os valores e as normas da organização (SCHNEIDER, 1988). Para Plesek (2000), a cultura, os valores e princípios e a história da organização podem ser vistos, metaforicamente, como seu material genético. Nesta direção, é possível estabelecer uma relação entre o comportamento organizacional, a gestão dos recursos humanos, as ações relativas à melhoria contínua, os processos de trabalho e as relações industriais (van der WIELE; BROWN, 2000), e sua relação com aspectos tais como: ambiente interno e externo, estilo de gestão, estratégias e políticas empresariais, estrutura organizacional e processo de mudança adotado pelo organização, sob uma ótica evolutiva do negócio (DALE et al. 1997a e b), o que pode ser melhor entendido pela Figura 1. Fonte: Adaptado de van de Wiele e Brown (2000), Dale et al. (1997a e b) e Ambroz (2004). Figura 1 – Cultura organizacional e a evolução do negócio 4. Desenvolvimento da pesquisa 4.1 Ambiência da pesquisa Como campo de pesquisa, foi utilizado o ambiente de uma empresa fabricante de embalagens de papelão. A empresa iniciou suas atividades industriais em 1962, na área de sacos e artefatos de papel, na cidade de Curitiba - PR. Atualmente, a empresa atua nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, basicamente, em três segmentos: celulose e papel, papelão ondulado e sacos e artefatos. Para ilustrar sua participação no mercado (%) e seu desempenho frente à concorrência (colocação), segue a Tabela 1. Segmentos de Atuação 2001 (%) 2001 2002 (%) 2002 2003 (%) 2003 Celulose e papel 2,60 8º 2,60 8º 2,60 8º Papelão ondulado 7,62 4º 8,20 4º 6,80 4º Sacos e artefatos 13,45 3º 15,39 3º 14,78 3º Obs.: Para cada ano, a primeira coluna resgata a participação de mercado da empresa, enquanto que a segunda coluna, sua colocação em relação ao mercado (concorrentes). Tabela 1 – Participação de mercado da empresa e desempenho de mercado No intuito de aprofundar a análise no que diz respeito aos objetivos da pesquisa, optou-se por desenvolver o estudo especificamente em uma unidade da empresa, a qual está localizada no interior do RS, direcionada à fabricação de papelão ondulado. Tal unidade opera 24 horas por dia, em 3 turnos de trabalho, e conta com cerca de 530 colaboradores. Seus principais clientes ENEGEP 2005 ABEPRO 1233 XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005 estão concentrados nos segmentos de: produtos alimentícios, plásticos, madeiras, mobiliário, fruti e floricultura, bebidas, material elétrico, papéis e papelões, vestuário, produtos químicos e derivados, metalurgia, vidros e cerâmicas e borracha. 4.2 Objetivos e método da pesquisa Os objetivos a que o trabalho se propõe são, respectivamente: a) resgatar a sistemática de implantação e evolução do processo da qualidade na empresa, ao longo do tempo; b) verificar a percepção das pessoas sobre o processo da qualidade; c) analisar o impacto das ações relativas às melhorias da qualidade sobre a gestão da empresa e a cultura organizacional; e d) propor ações que maximizem os efeitos internos e externos da qualidade. Para que esses objetivos pudessem ser alcançados, foi utilizado o método do estudo caso (YIN, 2001), que se caracteriza como uma forma de pesquisa qualitativa, utilizada para investigar um contexto de pesquisa claramente definido. Operacionalmente, foram utilizadas as técnicas de levantamento de informações e análise documental (VERGARA, 2000) e entrevistas individuais em profundidade (RIBEIRO; MILAN, 2004), que compreendeu os integrantes da Comissão da Qualidade, composta pelo Gerente da Unidade, pelos Gerentes de Vendas, de Produção e Administrativo, e pelas Assessorias de Recursos Humanos, Técnica e da Qualidade. Cabe destacar que esse grupo de sete pessoas é o responsável pela implantação e desenvolvimento do processo de gestão da qualidade na empresa. 5. Resultados da pesquisa 5.1 Sistemática de implantação e evolução do processo da qualidade na empresa A implantação do processo da qualidade na empresa em estudo, se deu, basicamente, em três grandes áreas: 5.1.1 Sensibilização, conhecimento e conscientização para a qualidade Objetivos: a) estabelecer um processo de educação e treinamento em relação à qualidade, buscando a formação de uma base conceitual sólida para o desenvolvimento e implementação do processo da qualidade da empresa; b) subsidiar os participantes para que pudessem atuar como agentes de mudanças por meio de atitudes concretas, voltando-se para um sistema de gestão da qualidade total; e c) subsidiar os participantes para que pudessem atuar como disseminadores da cultura da qualidade aos demais colaboradores. Atividades: formalização da estrutura da qualidade, definindo: o Conselho, o Comitê, a Comissão e os Coordenadores da Qualidade, além da política da qualidade e dos objetivos da qualidade para a organização. Fases: 1ª Fase (1994): sensibilização, conhecimento e conscientização da Comissão; 2ª Fase: (1995): dos Departamentos; 3ª Fase (1996-1997): dos Supervisores; e 4ª Fase (1997-1998): do pessoal de nível operacional. Temas Abordados: mudança comportamental, motivação, relação cliente-fornecedor interno, política da qualidade, liderança, normalização e padronização, melhoria contínua, conceito de sistema, variabilidade, auditoria da qualidade e técnica de solução de problemas. 5.1.2 Sistematização das atividades Objetivo: estruturar os processos de modo a garantir a qualidade dos produtos e serviços prestados. Atividades: elaboração do Manual da Qualidade (conforme NBR ISO 9001: 1994), elaboração e implementação do sistema da qualidade e certificação. ENEGEP 2005 ABEPRO 1234 XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005 Fases: 1ª Fase (1995): elaboração do Manual da Qualidade; 2ª Fase (1995-1999): sistematização da qualidade e treinamento básico (capacitação) em relação à sistematização da qualidade para os Departamentos e Supervisores; e 3ª Fase: (1999-2000): implantação da certificação (ISO 9001). 5.1.3 Melhorias da qualidade Objetivos: a) criar mecanismos que possibilitem a melhoria contínua dos processos e, conseqüentemente, seu acompanhamento; e b) implementar programa de qualificação das pessoas (sistematização, técnicas estatísticas, auditoria da qualidade e estímulo aos instrutores e multiplicadores internos dos conceitos inerentes à qualidade). Fases: 1ª Fase (1995-1999): definição e implementação dos instrumentos de controle e ferramentas a serem adotadas; 2ª Fase (1999-2000): treinamento para chefias e colaboradores em nível operacional; e 3ª Fase (2000-até o momento): melhorias contínuas. 5.2 Percepção das pessoas sobre o processo da qualidade Com o objetivo de compreender a percepção das pessoas em relação ao processo de implantação da qualidade na empresa, e sua evolução, procedeu-se uma pesquisa de opinião, do tipo survey (MALHOTRA, 2001). A amostra contou com 82 respondentes, sendo 7 componentes do grupo diretivo, 17 Supervisores, de diversas áreas, e 58 colaboradores do nível operacional; o que representa 15,47% sobre o total de colaboradores da unidade. Dessa forma, foram identificadas as principais percepções das pessoas: a) b) c) d) há um forte compromisso das equipes de trabalho em relação à qualidade; os colaboradores demonstram-se muito participativos e interessados em se aperfeiçoar; há um bom entendimento sobre os conceitos da qualidade e suas implicações; os colaboradores entendem que há uma significativa relação entre a qualidade de vida no trabalho, as melhorias nos processos e na qualidade dos produtos e o aumento da satisfação dos clientes, o que configura um círculo virtuoso para o negócio e seus stakeholders (grupos de interesse); e) existe a necessidade do processo de melhorias contínuas da qualidade ser melhor planejado, envolvendo além da organização, como um todo, os fornecedores e os clientes. 5.3 Impacto das melhorias da qualidade sobre a gestão e a cultura organizacional Um dos impactos da melhoria do processo da qualidade foi o desenvolvimento das chefias por meio de programas ou ações específicas de capacitação e aperfeiçoamento e de mudanças comportamentais, com base nos princípios de gestão da qualidade, focalizando conceitos filosóficos apregoados, principalmente, por autores como Deming e Ishikawa. Tal orientação tem levado a empresa a questionar os métodos de trabalho atuais e a buscar uma sistemática mais eficaz de gestão do negócio. No entanto, oposições a mudanças também puderam ser sentidas. O processo de sensibilização para a qualidade trouxe benefícios a todos os envolvidos, porém, sabe-se que se trata de um processo lento e nem sempre eficaz. O processo de melhoria da qualidade evidencia uma tendência de maturidade do sistema de gestão, tendo provocado mudanças nos seus padrões culturais, motivados pelas influências do mercado e exigindo uma nova postura em relação aos clientes. Percebe-se, também, que para atender às expectativas dos clientes, o grupo de gestores entende que devem consolidar o enfoque na qualidade, direcionar a empresa para o cliente e investir sistematicamente em educação, ou seja, na capacitação e aperfeiçoamento dos colaboradores. As pessoas têm potencial e querem crescer. A qualidade é de responsabilidade de todos e a condução do processo da qualidade é responsabilidade indelegável da alta administração. A exigência de melhorias da qualidade de produtos e/ou de serviços é algo esperado pela ENEGEP 2005 ABEPRO 1235 XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005 sociedade como um todo. Com um mercado cada vez mais competitivo, a busca da eficiência e da eficácia se faz presente em qualquer organização. Nesta direção, uma forma de buscar a competitividade é a adoção de um processo de qualidade total. Salienta-se que a empresa nunca teve como preocupação central, a certificação. O conceito de qualidade sempre foi mais amplo. Porém, existem fatores que dificultam a implantação da qualidade total em organizações familiares, tais como conciliar objetivos e estratégias entre as diferentes gerações e/ou partes envolvidas na sucessão da gestão organizacional. É importante comentar que a empresa está na terceira geração na gestão do negócio. Apesar das dificuldades para a implementação do processo da qualidade, a empresa tem dado passos significativos na melhoria de suas atividades, sendo o processo da qualidade o maior impulsionador das mudanças. Neste sentido, a estrutura organizacional na unidade foi revista com o intuito de agilizar o processo de tomada de decisões. Existe uma sistemática de promoção interna para o aproveitamento do potencial dos colaboradores e os investimentos na qualificação dos mesmos foram intensificados. O trabalho de parceria interna tem melhorado, já que determinadas fábricas são fornecedoras de outras e está havendo a proximidade entre os gestores destas unidades, buscando uma solução conjunta para os problemas existentes. 5.4 Proposição de áreas de ação que maximizem os efeitos da qualidade Recomenda-se que a empresa busque, de alguma forma, uma filosofia mais abrangente que a adotada pela escola japonesa, de maneira a deixar a empresa mais competitiva. Neste sentido, Beer e Nohria (2001) salientam que a maioria dos casos de insucesso está na pressa de mudar a empresa. Os gestores acabam se perdendo em iniciativas, perdem o foco com a quantidade de alternativas disponíveis na literatura e/ou propostas por consultores. Ainda segundo esses autores, a empresa deve apoiar-se em duas teorias essenciais ao desempenho organizacional: a teoria com base no valor econômico e a teoria focada na capacidade organizacional. A teoria de valor econômico diz que o valor para o acionista é a única medida legítima de sucesso. Geralmente, sugere o uso de incentivos econômicos, redução do quadro funcional e reestruturação. A teoria focada na capacidade organizacional tem como foco o desenvolvimento de uma cultura corporativa e a capacitação humana pelo aprendizado individual e organizacional, assumindo um relacionamento psicologicamente forte, duradouro e baseado no comprometimento entre as partes. As empresas que efetivamente unem as abordagens, conjuntamente, podem obter melhores resultados em produtividade, lucratividade e rentabilidade. São àquelas que têm maior probabilidade de estabelecer e consolidar uma vantagem competitiva sustentável (PORTER, 1985). Vale destacar, então, que é imprescindível que a empresa continue investindo em programas de aperfeiçoamento e capacitação dos colaboradores, sem esquecer de qualificar o processo de recrutamento e seleção dos mesmos e pensar, de forma estratégica, em adotar um programa de remuneração complementar, com base no desempenho e no atingimento de metas. Uma outra proposta é a de buscar uma maior homogeneidade na adoção do programa de qualidade por parte de todas as unidades da empresa, fazendo com que este não fique restrito a uma única unidade de negócios. Sob este aspecto, a aceitação e o entendimento por parte da Diretoria é de fundamental importância. São os superiores hierárquicos que deem dar o exemplo, agindo e motivando os demais à adesão ao processo de qualidade total. Deve haver um compromisso inabalável com a qualidade, o qual deve começar no topo da organização. O conceito da qualidade total está direcionado ao cliente e envolve a todos na organização. Hoje, dizer que uma empresa está realmente comprometida com a qualidade é a mesma coisa que dizer que seus colaboradores estão orientados para os clientes. Assim, o grande desafio para a melhoria da qualidade é fazer com que o cliente seja inserido no processo de melhorias ENEGEP 2005 ABEPRO 1236 XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005 contínuas da qualidade, principalmente no que diz respeito à qualidade dos produtos, dos serviços ao cliente (serviços agregados aos produtos) e do lançamento de novos produtos. Além de estreitar o relacionamento com os clientes, é oportuno que a empresa desenvolva e solidifique o relacionamento com seus fornecedores, o que pode resultar, significativamente, no nível de competitividade do negócio perante os concorrentes. 6. Considerações finais As moficações que estão acontecendo no mundo dos negócios têm influenciado fortemente a gestão das empresas. As empresas enfrentam ameaças cada vez maiores nos mercados em que atuam e o desenvolvimento acelerado força a busca por novas tecnologias, além de influenciar mudanças na cultura organizacional. As empresas inseridas no contexto mercadológico, onde a qualidade era imaginada como uma compensação pelo preço, começam a entender que a qualidade significa preços mais competitivos com a maximização da performance de produtos e/ou serviços e da satisfação de clientes. As mudanças no comportamento dos clientes e as relações que as empresas estabelecem entre si, justificam a necessidade de modelos mais avançados de gestão dos sistemas da qualidade. Assim, emerge o Total Quality Management (TQM), o qual deve ser implantado com o objetivo de incentivar melhorias contínuas, tornando as empresas mais flexíveis, produtivas e competitivas. O mais importante é que se passe a ter uma atitude baseada na competência do próprio trabalho e do trabalho de grupo, que requer total comprometimento e envolvimento da alta administração e que deve ser estendido a todos os colaboradores, com foco no cliente, reforçando o nível de qualidade a ser entregue ao mercado. Assim, o TQM surge como uma resposta ao atendimento às exigências de mudança que o mercado impõe. Deming (1997) afirma que para as empresas sobreviverem no mercado é necessário percorrer um caminho sistemático de práticas que conduzam mudanças em toda a organização, nas crenças e valores comportamentais, nas estratégias e nos processos de trabalho. O sucesso da gestão da qualidade depende e gera impacto na cultura organizacional, pois a mesma é um conjunto de maneiras tradicionais e habituais da empresa se comportar frente às situações adversas e/ou restritivas com que se defronta (MOLLER, 1997). Portanto, para implantar e desenvolver um sistema de gestão da qualidade é necessário compreender a cultura organizacional, estabelecendo claramente os objetivos diretivos e metas a que os gestores se propõem, contando com a colaboração, cooperação e envolvimento de todos os colaboradores e, dentro do possível, inclusive, dos clientes e dos fornecedores, elevando o nível de competitividade do negócio e do desempenho organizacional (participação de mercado, faturamento, lucratividade e rentabilidade). Referências AIDAR, M.M. (1994) - Qualidade humana: as pessoas em primeiro lugar. São Paulo: Maltese. AMBROZ, M. (2004) - Total quality system as a product of the empowered corporate culture. TQM Magazine, v.16, n.2, p.93-104. BEER, M.; NOHRIA, N. (2001) - Desenvolvendo o código da mudança. HSM Management, n.25, p.126-132. CROSBY, P.B. (1979) - Quality is free: the art of making quality certain. New York: New American Library. CROSBY, P.B. (1994) - Qualidade é investimento. Rio de Janeiro: José Olympio. DALE, B.G.; BOADEN, R.J.; WILCOX, M.; McQUARTER, R.E. (1997a) - TQM sustaining audit tool: description and use. Total Quality Management Journal, v.8, n.6, p.395-408. DALE, B.G.; BOADEN, R.J.; WILCOX, M.; McQUARTER, R.E. (1997b) - Sustaining total quality management: what are the key issues? Total Quality Management Journal, v.9, n.5, p.372-380. ENEGEP 2005 ABEPRO 1237 XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005 DEMING, W.E. (1986) - Out of the crisis. Cambridge: MIT Center for Advanced Engineering Study. DEMING. W.E. (1997) - A nova economia para a indústria e a educação. Rio de Janeiro: Qualitymark. FEIGENBAUM, A.V.; FEIGENBAUM, D.S. (1999) - New quality for the 21st century. Quality Progress, v.32, n.12, p.27-31. GARVIN, D.A. (1987) - Competing on the eight dimensions of quality. Harvard Business Review, v.65, n.6, p.101-110. HUFF, L.; FORNELL, C.; ANDERSON, E.W. (1994) - Quality and productivity: contradictory and complementary. Working Paper, NQRC (National Quality Research Center): The University of Michigan. IRANI, Z.; BESKESE A.; LOVE, P.E.D. (2004) - Total quality management and corporate culture: constructs of organisational excellence. Technovation, v.24, n.8, p.643-650. ISHIKAWA, K. (1993) - Controle da qualidade total: à maneira japonesa. Rio de Janeiro: Campus. JURAN, J.M. (1989) - Juran on leadership for quality. New York: Free Press. KANO, N.; SERAKU, N.; TAKAHASHI, F.; TSUJI, S. (1984) - Attractive quality and must-be quality. Quality, v.14, n.2, p.39-49. KOTLER, P. (2000) - Administração de marketing. 10.ed. São Paulo: Prentice Hall. KUJALA, J.; LILLRANK, P. (2004) - Total quality management as a cultural phenomenon. Quality Management Journal, v.11, n.4, p.43-55. MALHOTRA, N.K. (2001) - Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 3.ed. Porto Alegre: Bookman. MOLLER, C. (1997) - O lado humano da qualidade: maximizando a qualidade de produtos e serviços através do desenvolvimento das pessoas. São Paulo: Pioneira. PETERS, T.J.; WATERMAN, R., Jr. (1982) - In search for excellence: lessons from America´s best-run companies. New York: Harper & Row. PORTER, M.E. (1985) - Competitive advantage. New York: The Free Press. PLSEK, P. (1998) - Surprising quality: creative customer needs analysis. In: ANNUAL QUALITY CONGRESS, 52., ASQC, Philadelphia, p.716-724. PLSEK, P. (2000) - Complexity and quality: new models for the new century. In: ANNUAL QUALITY CONGRESS, 54., ASQC, Indianapolis, p.150-157. RIBEIRO, J.L.D.; MILAN, G.S. (2004) - Planejando e conduzindo entrevistas individuais. In: RIBEIRO, J.L.D.; MILAN, G.S. (eds.). Entrevistas individuais: teoria e aplicações. Porto Alegre: FEEng/UFRGS, p.9-22. SALEGNA, G.; FAZEL, F. (1995) - An integrative framework for developing and evaluating a TQM implementation plan. Quality Management Journal, v.3, n.1, p.73-84. SCHEIN, E.H. (1991) - Organizational culture and leadership. 2nd edition. San Francisco: Jossey-Bass. SCHNEIDER, B. (1988) - Notes on climate and culture. In: LOVELOCK, C.H. (ed.). Managing services. New York: Prentice Hall. van der WIELE, T.; BROWN, A. (2000) - Continuously struggling with TQM. In: ANNUAL QUALITY CONGRESS, 54., ASQC, Indianapolis, p.777-783. VERGARA, S.C. (2000) - Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 3.ed. São Paulo: Atlas. YIN, R.K. (2001) - Estudo de caso. 2.ed. Porto Alegre: Bookman. WILSON, A.M. (1997) - The nature of corporate culture service within a service delivery environment. International Journal of Service Industry Management, v.8, n.1, p.87-102. ZEITHAML, V.A. (1988) - Consumer perceptions of price, quality, and value: a means-end model of synthesis of evidence. Journal of Marketing, v.52, n.3, p.2-22. ENEGEP 2005 ABEPRO 1238