Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Tecnologia e Ciências Faculdade de Engenharia Caroline Sidrim Gomes Leite Mansur Antunes Comportamento dos aterros que compõem a obra do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2012 Caroline Sidrim Gomes Leite Mansur Antunes Comportamento dos aterros que compõem a obra do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de PósGraduação em Engenharia Civil, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Geotecnia. Orientadores: Prof.ª Dr.ª Ana Cristina Castro Fontenla Sieira Prof. Dr. Rogério Luiz Feijó Rio de Janeiro 2012 CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CTC/B A636 Antunes, Caroline Sidrim Gomes Leite Mansur. Comportamento dos aterros que compõem a obra do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro / Caroline Sidrim Gomes Leite Mansur Antunes. – 2012. 158f. Orientadores: Ana Cristina Castro Fontenla Sieira; Rogério Luiz Feijó. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Engenharia. 1. Engenharia Civil. 2. Aterros - Dissertação. I. Sieira, Ana Cristina Castro Fontenla. II. Feijó, Rogério Luiz. III. Universidade do Estado do Rio. III. Título. CDU 624.13 Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese, desde que citada a fonte. Assinatura Data Caroline Sidrim Gomes Leite Mansur Antunes Comportamento dos aterros que compõem a obra do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de PósGraduação em Engenharia Civil, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Geotecnia. Aprovado em: 06 de Junho de 2012. Banca Examinadora: _______________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Ana Cristina Castro Fontenla Sieira (Orientadora) Faculdade de Engenharia – UERJ _______________________________________________________ Prof. Dr. Rogério Luiz Feijó (Orientador) Faculdade de Engenharia – UERJ _______________________________________________________ Prof. Dr. André Pereira Lima Faculdade de Engenharia – UERJ _______________________________________________________ Profa. Dra. Anna Laura Lopes da Silva Nunes Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE - UFRJ Rio de Janeiro 2012 À Deus, que sempre me dá fé para prosseguir e ultrapassar obstáculos. À minha família, pelo amor, carinho e apoio contínuo. AGRADECIMENTOS Aos meus orientadores, Prof.ª Doutora Ana Cristina Castro F. Sieira e Prof. Doutor Rogério L. Feijó, pela excelente orientação, pela amizade, pelo auxílio oferecido em todos os momentos, me apresentando novos caminhos e me conduzindo nesta jornada constante que é o aprendizado da engenharia geotécnica. Aos professores do PGECIV-UERJ, pela atenção dedicada e pelos ensinamentos sólidos fornecidos durante o mestrado. Aos meus colegas de mestrado, pela amizade demonstrada ao longo do tempo, companheirismo e horas de estudo na UERJ. Aos funcionários do PGECIV – UERJ (Shirlei B. do Canto e Helena Moreira), do LABBAS – UERJ e do LMS – UERJ, pelo apoio e amizade. À UERJ, universidade querida, que tanto contribuiu na minha formação acadêmica e profissional, desde os tempos da graduação. À minha família, que tanto amo, pela compreensão e apoio em todos os momentos. A todos aqueles, que embora não citados nominalmente, contribuíram direta e indiretamente para a execução deste trabalho. À Portaria Conjunta DER-RJ/UERJ Nº01 de 01 de Maio de 2010, que propiciou o desenvolvimento do presente estudo. À CAPES pelo apoio financeiro. “Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos." O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint-Exupéry RESUMO ANTUNES, Caroline Sidrim Gomes Leite Mansur. Comportamento dos aterros que compõem a obra do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro. 2011. 158f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Faculdade de Engenharia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012. O presente trabalho tem como objetivo a análise do comportamento dos aterros instrumentados que compõem a obra do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro. Os resultados da instrumentação de campo serão discutidos e retroanalisados, juntamente com dados disponíveis na literatura, buscando-se a definição de parâmetros confiáveis, representativos do comportamento da argila compressível da região em estudo. O Arco Metropolitano do Rio de Janeiro é uma rodovia projetada que servirá como ligação entre as 5 principais rodovias que cortam o município do Rio de Janeiro. Dada a magnitude da obra e a ocorrência de significativas espessuras de solos moles em alguns trechos da região, determinados aterros que compõem a rodovia foram instrumentados com placas de recalque e inclinômetros, instalados em diferentes estações de monitoramento, no intuito de avaliar os deslocamentos verticais e horizontais dos aterros durante o processo construtivo. De posse de parâmetros confiáveis, procede-se à simulação numérica do processo construtivo de um dos aterros, a partir do programa PLAXIS, de elementos finitos. Os resultados numéricos são confrontados com a instrumentação de campo (fornecida por placas de recalque) e com os resultados de previsões teóricas (teoria de adensamento unidimensional). Em projetos de aterros sobre solos compressíveis, a instrumentação geotécnica é de grande importância, pois permite acompanhar o desenvolvimento de todo o processo construtivo, e as deformações decorrentes da sobrecarga imposta pelo lançamento de camadas de aterro. A imposição de um carregamento sobre solos de alta compressibilidade e baixa resistência pode acarretar em grandes deformações ao longo do tempo, além de rupturas indesejáveis do solo de fundação. Os resultados comprovaram que a modelagem numérica mostrou-se uma ferramenta adequada para a previsão dos recalques totais e tempos de adensamento. A definição de parâmetros representativos, com base em ensaios executados em amostras de boa qualidade, é o primeiro passo para a previsão coerente da evolução dos recalques com o tempo. A retroanálise do comportamento de aterros sobre solos moles permite a reavaliação das premissas de projeto, uma vez que as limitações das teorias de análise e a dificuldade na seleção de parâmetros, muitas vezes acarretam em estimativas de recalque incoerentes com as observações de campo. Palavras-chave: Recalques por adensamento; Aterro sobre solos compressíveis; Simulação numérica. ABSTRACT The present work aims to analyze instrumented embankments behavior that composes the Rio de Janeiro’s Arco Metropolitano construction. Field instruments results will be discussed and reanalyzed, altogether with data available in literature, seeking to define reliable parameters, representative of the compressible clay behavior into the studied area. The Rio de Janeiro’s Arco Metropolitano is a road designed to work as a link between the five major highways that cross Rio de Janeiro city. Given to the work’s magnitude and the occurrence of significant thickness of soft soil in some parts of the region, some landfills that form the highway were instrumented with inclinometers and settlement plates installed in different monitoring stations in order to evaluate the vertical and horizontal landfill during the construction process. Armed with reliable parameters, it will be carried out to the numerical simulation of the construction process of a landfill, from the program PLAXIS, of finite elements. The numerical results will be compared with field instrumentation (provided by boards of repression) and the results of theoretical predictions (one-dimensional consolidation theory). In projects of embankments on compressible soil, geotechnical instrumentation is very important because it allows following the development of the entire construction process and the deformations due to overload imposed by the release of embankment layers. The imposition of a load on soils high compressibility and low resistance can lead to large deformations over time and undesirable disruptions in foundation soil. Concerning the numerical modeling, results proved to be a suitable tool to total settlements and times of consolidation prediction. The representative parameters definition, based on tests performed on good quality samples, is the first step for predicting the development of coherent repression with time. The reanalysis of the embankments’ behavior on soft soil permits the revaluation of the premises of the project, since the theory limitations of analysis and the difficulty in selecting parameters often leads to inconsistent estimates of repression with field observations. Keywords: Settlement; Consolidation; Embankment on soft soils; Numerical simulation. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Traçado do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro ................................... 22 Figura 2 – Gráfico e versus log σ’v ............................................................................ 28 Figura 3 – Equipamento para a realização do Ensaio de Adensamento (Laboratório de Mecânica dos Solos da UERJ, 2010) ................................................................... 35 Figura 4 – Desenho esquemático: Ensaio de Adensamento (Sousa Pinto, 2002) .... 35 Figura 5 – Esquema do Ensaio CRS (Moura, 2004) ................................................. 37 Figura 6 - Método de Asaoka (Ortigão, 1995). .......................................................... 44 Figura 7 – Gráfico do Método de Orleach ................................................................. 47 Figura 8 - Método de Casagrande (Souza Pinto, 2002) ............................................ 48 Figura 9 – Método de Pacheco e Silva (Adaptado de Pacheco, 2010) ..................... 49 Figura 10 – Efeito do amolgamento na curva mv versus σ’v (Correia e Lacerda, 1982 – Adaptado de Almeida et al., 2005) ......................................................................... 53 Figura 11 – Índice de vazios inicial (eo) em função da profundidade (Adaptado de Marques et al., 2008) ................................................................................................ 55 Figura 12 – Índice de compressibilidade (Cc) em função da profundidade (Adaptado de Marques et al., 2008) ........................................................................................... 55 Figura 13 – Coeficiente de adensamento vertical (cv) em função da profundidade (Adaptado de Marques et al., 2008) .......................................................................... 56 Figura 14 – Variação de e0 em função da profundidade ........................................... 57 Figura 15 – Variação de Cc em função da profundidade ........................................... 58 Figura 16 – Variação de cv em função da profundidade............................................ 59 Figura 17 – Faixas de valores de coeficiente de adensamento vertical (cv) .............. 59 Figura 18 – Faixas de valores de CR (Adaptado de Lima, 2007) .............................. 60 Figura 19 – Traçado do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro (Adaptado de material da Secretaria de Obras – Governo do Estado do Rio de Janeiro) ............................ 63 Figura 20 – Traçado do Segmento C – Lote 1 - Arco Metropolitano do Rio de Janeiro .................................................................................................................................. 65 Figura 21 - Aterros com Remoção de Solos Moles (Projeto Arco Metropolitano do Rio de Janeiro) ................................................................................................................ 67 Figura 22 - Aterros sobre Drenos, construídos em Etapas e Bermas (Projeto Arco Metropolitano do Rio de Janeiro) .............................................................................. 68 Figura 23 - Aterros Reforçados com Bermas (Projeto Arco Metropolitano do Rio de Janeiro) ..................................................................................................................... 69 Figura 24 – Bench Mark (Adaptado do Projeto do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro) ..................................................................................................................... 71 Figura 25 – Inclinômetro (Adaptado do Projeto do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro) ..................................................................................................................... 72 Figura 26 – Inclinômetro instalado no Lote 1 - Arco Metropolitano do Rio de Janeiro .................................................................................................................................. 73 Figura 27 – Instalação de Inclinômetros - Arco Metropolitano do Rio de Janeiro...... 74 Figura 28 – Placa de Recalque (Adaptado do Projeto do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro) ................................................................................................................ 75 Figura 29 – Placa de Recalque instalada no Lote 1 - Arco Metropolitano do Rio de Janeiro ...................................................................................................................... 75 Figura 30 – Animais próximos à área das Placas de Recalque ................................ 76 Figura 31. Localização das Placas no Aterro 1 ......................................................... 78 Figura 32. Localização das Placas no Aterro 2 ......................................................... 79 Figura 33. Localização das Placas no Aterro 3 - Pista Esquerda .............................. 80 Figura 34. Localização das Placas no Aterro 3 - Pista Direita ................................... 81 Figura 35. Localização das Placas no Aterro 4 - Pista Esquerda .............................. 82 Figura 36. Localização das Placas no Aterro 4 - Pista Direita ................................... 83 Figura 37. Localização das Placas no Aterro 4A - Pista Esquerda ........................... 84 Figura 38. Localização das Placas no Aterro 4A - Pista Direita ................................ 85 Figura 39. Localização das Placas no Aterro 5 - Pista Esquerda .............................. 86 Figura 40. Localização das Placas no Aterro 5 - Pista Direita ................................... 87 Figura 41. Localização das Placas nos Aterros 6 e 6A - Pista Esquerda .................. 88 Figura 42. Localização das Placas nos Aterros 6 e 6A - Pista Direita ....................... 89 Figura 43. Localização das Placas no Aterro 6B - Pista Esquerda ........................... 90 Figura 44. Localização das Placas no Aterro 6B - Pista Direita ................................ 91 Figura 45. Localização das Placas no Aterro 6C - Pista Esquerda ........................... 92 Figura 46. Localização das Placas no Aterro 6C - Pista Direita ................................ 93 Figura 47. Localização das Placas no Aterro 7 - Pista Esquerda .............................. 94 Figura 48. Localização das Placas no Aterro 7 - Pista Direita ................................... 95 Figura 49 – Execução das atividades de terraplenagem e lançamento dos aterros – Arco Metropolitano do Rio de Janeiro ....................................................................... 96 Figura 50 – Recalque e cota de aterro versus tempo:Placa de Recalque PRPD-11 ................................................................................................................................ 113 Figura 51 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPD-29 ................................................................................................................................ 113 Figura 52 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPD-49E ................................................................................................................................ 114 Figura 53 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPE-06 ................................................................................................................................ 115 Figura 54 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPE-25 ................................................................................................................................ 115 Figura 55 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPE-32 ................................................................................................................................ 116 Figura 56 – Confronto entre os valores de CR obtidos por retroanálise e dados da literatura .................................................................................................................. 118 Figura 57 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPD-21 ................................................................................................................................ 119 Figura 58 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPD-49 ................................................................................................................................ 120 Figura 59 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPD-50 ................................................................................................................................ 121 Figura 60 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPD-28E ................................................................................................................................ 122 Figura 61 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPD-29E ................................................................................................................................ 123 Figura 62 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPE-18E ................................................................................................................................ 124 Figura 63 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPE-19E ................................................................................................................................ 124 Figura 64 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPE-20E ................................................................................................................................ 125 Figura 65 – Método gráfico de Asaoka para a placa de recalque PRPD-50 ........... 126 Figura 66 – Geometria adotada nas análises numéricas: Seção S1 – PRPD-21 .... 138 Figura 67 – Malha de Elementos Finitos Seção S1 – PRPD-21.............................. 139 Figura 68 – Simulação da sequência de carregamento: Seção S1 – PRPD-21 ...... 140 Figura 69 – Resultado das análises numéricas: Seção S1 – PRPD-21 .................. 141 Figura 70 – Dissipação dos excessos de poropressão, antes do lançamento da 2ª camada de aterro: Seção S1 – PRPD-21 ................................................................ 143 Figura 71 – Distribuição dos excessos de poropressão e das tensões efetivas ao longo do processo executivo: Seção S1 ................................................................. 144 Figura 72 – Geometria Adotada nas Análises Numéricas Seção S2 ...................... 145 Figura 73– Malha de Elementos Finitos Seção S2 – PRPE-19E ............................ 145 Figura 74 – Resultado das Análises Numéricas: Seção S2 .................................... 146 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Principais ensaios de campo e seus respectivos graus de aplicabilidade (Lunne et al., 1997b – Adaptado de Schnaid, 2000) ................................................. 39 Tabela 2 – Classificação dos solos, de acordo com o índice de resistência à penetração (NBR 7.250/1982)................................................................................... 42 Tabela 3 – Classificação da qualidade das amostras - Lunne et al. (1997a) ............ 51 Tabela 4 – Classificação da qualidade das amostras - Coutinho et al., 2001 (adaptado de Teixeira, 2011) .................................................................................... 51 Tabela 5 – Classificação da qualidade das amostras - Oliveira (2002) ..................... 52 Tabela 6 - Valores de permeabilidade reportados na literatura e definidos no projeto .................................................................................................................................. 60 Tabela 7. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 1 ....................................... 99 Tabela 8. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 2 ....................................... 99 Tabela 9. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 3 ..................................... 101 Tabela 10. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 4 ................................... 102 Tabela 11. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 4A ................................ 103 Tabela 12. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 5 ................................... 104 Tabela 13. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 6 ................................... 105 Tabela 14. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 6A ................................ 106 Tabela 15. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 6B ................................ 106 Tabela 16. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 6C ................................ 107 Tabela 17. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 7 ................................... 108 Tabela 18 – Seções analisadas no presente estudo com as respectivas placas de recalque .................................................................................................................. 109 Tabela 19 – Valores dos recalques finais de campo: registros da instrumentação versus Método de Asaoka (1978)............................................................................ 111 Tabela 20 - Obtenção de CR a partir de retroanálises em trechos com a presença de geodrenos ............................................................................................................... 117 Tabela 21 – Coeficiente de Adensamento (cv) ........................................................ 126 Tabela 22 – Resultado dos Ensaios de Adensamento de Projeto: Lote 1............... 133 Tabela 23 – Valores de OCR: Ensaios de Adensamento de Projeto do Lote 1....... 134 Tabela 24 - Qualidade das Amostras de Projeto - Lote 1 ........................................ 134 Tabela 25 – Parâmetros de Projeto: Lote 1 ............................................................ 136 Tabela 26 - Parâmetros Geotécnicos Representativos da Argila Mole da Região .. 137 Tabela 27 – Sequência de carregamento: Seção S1 .............................................. 139 Tabela 28 – Recalques totais: Seção S1 ................................................................ 142 Tabela 29 – Sequência de carregamento: Seção S2 .............................................. 145 Tabela 30 – Recalques totais: Seção S2 ................................................................ 147 Tabela 31 - Parâmetros de Compressibilidade da Argila Mole Definidos no Projeto ................................................................................................................................ 148 Tabela 32 – Recalques previstos com os parâmetros de projeto ............................ 148 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CPMT Cone-Pressiômetro CPT Cone Penetration Test / Ensaio de Cone CPTU Cone Penetration Test, com medição da pressão neutra / Ensaio de Piezocone CRS Constant Rate of Strain / Ensaio de Velocidade Constante de Deformação DER-RJ Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Rio de Janeiro DMT DilatoMeter Test / Ensaio Dilatométrico DNER Departamento Nacional de Estradas de Rodagem DNIT Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes E.U.A. Estados Unidos da América FEN Faculdade de Engenharia FUNDERJ Fundação Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Rio de Janeiro IN Inclinômetro INPD Inclinômetro da Pista Direita INPE Inclinômetro da Pista Esquerda IPR Instituto de Pesquisas Rodoviárias LMS – UERJ Laboratório de Mecânica dos Solos - Universidade do Estado do Rio de Janeiro MEF Método dos Elementos Finitos NA Normalmente Adensado NBR Norma Brasileira PA Pré-Adensado PAC Programa de Aceleração do Crescimento PBP Ensaio Pressiométrico em Pré-furo PGECIV–UERJ Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil – Universidade do Estado do Rio de Janeiro PR Placa de Recalque PRPD Placa de Recalque da Pista Direita PRPE Placa de Recalque da Pista Esquerda PVC Policloreto de Vinil RJ Rio de Janeiro SBP Pressiômetro Auto-Perfurante SCPT Ensaio de Cone Sísmico SCPTU Ensaio de Piezocone Sísmico SPT Standard Penetration Test UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro UFPE Universidade Federal de Pernambuco LISTA DE SÍMBOLOS av Coeficiente de compressibilidade c’ Intercepto da envoltória de resistência do gráfico τ versus σ Cc Índice de compressão (índice de compressibilidade) Cr Índice de recompressão Cs Índice de expansão Cα Coeficiente de compressão secundária CR Razão / Relação de Compressão ch Coeficiente de adensamento horizontal cv Coeficiente de adensamento vertical / Coeficiente de consolidação de Diâmetro de influência do dreno Dr Densidade relativa dw Diâmetro do dreno e Índice de vazios eo Índice de vazios inicial ou de campo eσ’vo Índice de vazios correspondente ao nível de tensão efetiva vertical inicial E Módulo de deformabilidade dos solos fs Atrito lateral G Módulo de cisalhamento Gs Densidade específica das argilas Hd Espessura da camada de argila, de acordo com o nº de faces drenantes/ distância máxima de drenagem Ho Espessura inicial da camada de solo compressível k Coeficiente de permeabilidade ko Coeficiente de empuxo lateral no repouso mv Coeficiente de variação volumétrica N60 Fator que corresponde ao número de golpes de padrão americano, com energia liberada na ordem de 60% da energia teórica NSPT Fator que corresponde ao número de golpes, no ensaio SPT n Razão entre o diâmetro de influência do dreno (de) e o diâmetro do dreno (dw) OCR Over consolidation ratio / Razão de sobre-adensamento P Carga aplicada qc Resistência de ponta Rf Razão de Atrito RPA Razão de pré-adensamento Su Resistência ao cisalhamento não-drenada indeformada t Tempo tf Tempo final tp Tempo relativo ao final do adensamento primário ti Tempo inicial ti-1 Tempo anterior t1 Tempo relativo a leitura de lnu1 t2 Tempo relativo a leitura de lnu2 u Poropressão ub Poropressão na base wo Umidade inicial z Distância vertical / profundidade α1 Inclinação da reta, em ln (u) versus tempo β1 Inclinação da reta de Asaoka ∆e Diferença entre o índice de vazios inicial da amostra (eo) e o índice de vazios correspondente ao nível de tensão efetiva vertical de campo(eσ’vo) ∆h Variação de altura ∆P Variação de cargas ∆t Intervalo de tempo ∆u Excesso / Variação de poropressão ε Deformação εv Deformação vertical εvo Deformação axial no nível de tensão inicial de campo φ’ Ângulo de atrito efetivo γ Peso específico γsat Peso específico saturado ρ Recalque ρasaoka Recalque final, pelo método de Asaoka ρi Valores de recalque, nos tempos ti ρi-1 Valores de recalque, nos tempos ti-1 ρreal Recalque final real de campo σ Tensão σh Tensão total horizontal σv Tensão total vertical σ’v Tensão efetiva vertical σ’vf Tensão efetiva vertical final σ’vm Tensão efetiva de pré-adensamento σ’vo Tensão efetiva vertical inicial ou de campo SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................. 22 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................ 26 1.1 Compressibilidade, Adensamento e Recalque dos Solos ...................... 26 1.1.1 Compressibilidade – Aspectos Gerais .......................................................... 26 1.1.2 História de Tensões no Solo......................................................................... 27 1.1.3 Adensamento e Recalque ............................................................................ 29 1.1.3.1 Teoria do Adensamento Unidimensional de Terzaghi (1943) ....................... 30 1.1.3.2 Categorias de Recalque (Inicial, Primário e Secundário) ............................. 31 1.1.4 Ensaios de Laboratório para a Determinação dos Parâmetros de Compressibilidade dos Solos ....................................................................... 33 1.1.4.1 Ensaio de Adensamento Unidimensional (Convencional ou Ensaio de Compressão Edométrica) ............................................................................. 34 1.1.4.2 Ensaio de Adensamento com Velocidade de Deformação Constante (CRS) ......................................................................................................... 36 1.1.5 Ensaios de Campo ....................................................................................... 38 1.1.5.1 Ensaios de Cone (CPT) ................................................................................ 39 1.1.5.2 Ensaios de Piezocone (CPTU) ..................................................................... 40 1.1.5.3 Ensaio SPT (Standard Penetration Test)...................................................... 41 1.2 Métodos Gráficos ....................................................................................... 43 1.2.1 Método de Asaoka (1978) ............................................................................ 43 1.2.2 Método de Orleach (1983) ............................................................................ 46 1.2.3 Método de Casagrande ................................................................................ 48 1.2.4 Método de Pacheco e Silva .......................................................................... 49 1.3 Influência da Qualidade das Amostras ..................................................... 49 1.3.1 Lunne et al. (1997a)...................................................................................... 50 1.3.2 Coutinho et al (2001) .................................................................................... 51 1.3.3 Oliveira (2002) .............................................................................................. 52 1.3.4 Correia e Lacerda (1982).............................................................................. 52 1.4 Estudo dos Parâmetros Geotécnicos de Solos Compressíveis na Baixada Fluminense ................................................................................... 53 1.5 Considerações Finais................................................................................. 61 2 ARCO METROPOLITANO DO RIO DE JANEIRO – CARACTERIZAÇÃO DOS ASPECTOS DE INTERESSE DA ÁREA EM ESTUDO ...................... 62 2.1 Caracterização e Delimitação da Área de Estudo .................................... 62 2.1.1 Considerações Gerais .................................................................................. 62 2.1.2 Localização do Segmento em Estudo .......................................................... 65 2.2 Concepções do Projeto Geotécnico para os Trechos Instrumentados com a Presença de Solos Compressíveis ................................................ 66 2.3 Instrumentação de Campo - Definições ................................................... 69 2.4 Aterros Instrumentados ............................................................................. 77 2.5 Considerações Finais................................................................................. 96 3 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DA INSTRUMENTAÇÃO DE CAMPO . 97 3.1 Análise Global dos Aterros Instrumentados ............................................ 97 3.2 Definição das Seções Representativas do Estudo ................................ 109 3.3 Previsão dos Recalques Finais para as Seções Representativas do Estudo: Método de Asaoka (1978) .......................................................... 110 3.4 Análise das Seções Representativas Inseridas em Trechos com a Presença de Geodrenos ........................................................................... 111 3.4.1 Discussão dos Resultados da Instrumentação de Campo: Seções com Geodrenos .................................................................................................. 112 3.4.2 Retroanálise dos Recalques Finais de Campo para a Obtenção de CR .... 116 3.5 Análise das Seções Representativas Inseridas em Trechos sem a Presença de Geodrenos ........................................................................... 118 3.5.1 Discussão dos Resultados da Instrumentação de Campo: Seções sem Geodrenos .................................................................................................. 119 3.5.2 Determinação de cv pelo Método de Asaoka .............................................. 125 3.6 Considerações Finais............................................................................... 127 4 ANÁLISE NUMÉRICA DOS ATERROS INSTRUMENTADOS .................. 128 4.1 Programa PLAXIS ..................................................................................... 128 4.2 Modelos Constitutivos ............................................................................. 130 4.3 Parâmetros Representativos ................................................................... 132 4.3.1 Avaliação da Qualidade das Amostras utilizadas nos Ensaios de Projeto . 132 4.3.2 Seleção dos Parâmetros Geotécnicos para a Região do Empreendimento .................................................................................................................... 135 4.4 Confronto entre as Previsões Analíticas e Numéricas.......................... 137 4.4.1 Seção S1 .................................................................................................... 138 4.4.2 Seção S2 .................................................................................................... 144 4.4.3 Discussão entre os Parâmetros Adotados no Projeto Executivo e os Parâmetros Reavaliados ............................................................................ 147 5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES ................................................................ 149 5.1 Conclusões ............................................................................................... 149 5.2 Recomendações para Trabalhos Futuros .............................................. 150 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 151 22 INTRODUÇÃO O desenvolvimento desta pesquisa foi subsidiado pela Portaria Conjunta DER-RJ/UERJ Nº01 de 01 de Maio de 2010, que estabelece um convênio entre a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e o Departamento de Estradas e Rodagens (DER-RJ). O Arco Metropolitano do Rio de Janeiro consiste em uma rodovia de aproximadamente 145 km de extensão (Figura 1), que interligará oito municípios do Estado do Rio de Janeiro, sendo uma das principais obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a principal obra do Estado nas últimas décadas. Figura 1 – Traçado do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro Este empreendimento se encontra em fase de execução e permitirá a desobstrução do tráfego das principiais vias e rodovias do Estado, aumentando a acessibilidade ao Porto de Itaguaí, além de possibilitar o desenvolvimento de regiões que ainda possuem economia pouco expressiva. A obra foi dividida em 4 lotes e está sendo executada por um Consórcio que envolve oito Construtoras: Odebrecht, Andrade Gutierrez, Carioca, Queiroz Galvão, 23 OAS, Camargo Corrêa, Delta e Oriente. As atividades envolvidas compõem, em linhas gerais, drenagem, terraplanagem, obras de arte especiais e correntes. O traçado da rodovia em estudo corta diversos trechos com relevante presença de camadas de solos compressíveis (argila orgânica mole). A construção em terrenos constituídos de solos compressíveis e com baixa resistência apresenta uma série de dificuldades no que tange à previsão da magnitude dos recalques. A construção em regiões com a presença de solos muito moles requer uma boa infraestrutura e a utilização de técnicas adequadas. Sendo assim, torna-se imprescindível o constante monitoramento dos aterros, com o auxílio de instrumentos (placas de recalque, inclinômetros, entre outros), de forma a acompanhar a evolução gradual dos deslocamentos verticais e horizontais dos maciços durante o período construtivo. Ressalta-se que, na previsão dos recalques por adensamento de solos compressíveis são utilizadas formulações analíticas, com hipóteses simplificadoras, que são dependentes da qualidade dos parâmetros geotécnicos adotados. Desta forma, a qualidade das amostras é fator fundamental na obtenção de parâmetros geotécnicos representativos das condições in situ. Objetivos O presente trabalho contempla a análise do comportamento dos aterros instrumentados que compõem a obra do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro, visando a avaliação da magnitude dos recalques obtidos durante o processo de lançamento das camadas dos aterros, bem como a verificação dos parâmetros e premissas de projeto. Metodologia e Estrutura da Dissertação A metodologia utilizada na concepção desta dissertação foi baseada em dados de projeto, coleta de informações de campo e pesquisas realizadas na região do empreendimento. Inicialmente, foram realizadas diversas visitas técnicas aos 24 aterros instrumentados, canteiros, laboratórios e aos demais setores do empreendimento, permitindo uma maior integração com o cotidiano das atividades desenvolvidas na obra. Em seguida, foi delimitada a área de estudo, tendo como foco os aterros localizados em região com grande incidência de solos compressíveis. A partir do acompanhamento das leituras da instrumentação geotécnica, contidas nos Relatórios Mensais (Junho de 2010 a Novembro de 2011) fornecidos pelo Consórcio executor das obras, foi possível realizar o estudo dos recalques reais de campo. A reprodução da sequência construtiva dos aterros foi realizada com o auxílio de um programa computacional de elementos finitos (PLAXIS). Os resultados numéricos obtidos foram confrontados com as leituras da instrumentação de campo e com as previsões teóricas. Os parâmetros geotécnicos dos solos compressíveis foram definidos a partir da avaliação dos ensaios edométricos de projeto, executados em amostras extraídas em campo. Tais parâmetros foram reavaliados, levando em consideração a análise da qualidade das amostras e as faixas de valores pesquisadas por diversos autores para a região em estudo. A presente Dissertação foi organizada em 5 capítulos. O capítulo 1 aborda a revisão bibliográfica com a finalidade de inserir os conhecimentos teóricos, subsidiando o estudo em questão. Foram comentados aspectos relativos à compressibilidade, adensamento e recalques. Também foi abordada a questão da qualidade das amostras, e dos parâmetros geotécnicos pesquisados para a região na qual se inserem os aterros instrumentados. O capítulo 2 disserta a respeito dos aterros instrumentados da obra do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro, contextualizando o empreendimento, delimitando o foco dos estudos e aspectos referentes à instrumentação geotécnica. O capítulo 3 aborda a análise do comportamento dos aterros instrumentados da obra do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro, introduzindo o estudo dos recalques. Adicionalmente, foi feita a obtenção do coeficiente de adensamento (cv) e a estimativa da magnitude dos recalques finais através do Método de Asaoka (1978). Estes recalques estimados foram confrontados com os recalques reais finais registrados em campo. Ainda neste capítulo, discute-se a obtenção de valores para o parâmetro Razão de Compressão (CR), a partir de retroanálises realizadas com o registro das placas de recalque situadas nos trechos instrumentados mais 25 representativos da região em estudo e que apresentaram recalques de magnitude expressiva. O capítulo 4 contempla o uso do software PLAXIS na reprodução do processo construtivo e no confronto com a realidade de campo e com as previsões teóricas. Este capítulo também trata da análise e definição dos parâmetros geotécnicos das argilas moles, através de comparações com os valores anteriormente estudados e obtidos por demais autores para a área em estudo. Também foi realizada a verificação da qualidade das amostras de projeto. O capítulo 5 apresenta as conclusões do estudo e as recomendações para pesquisas futuras. 22020 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA No presente capítulo, serão abordados os principais aspectos envolvidos nos fenômenos de compressibilidade; adensamento e recalque dos solos; ensaios de campo e laboratoriais; estudo de parâmetros geotécnicos da literatura para a região da obra do Arco Metropolitano, além de abordar alguns critérios de avaliação da qualidade das amostras. 1.1 Compressibilidade, Adensamento e Recalque dos Solos 1.1.1 Compressibilidade – Aspectos Gerais Para que ocorra uma variação de volume ao se aplicar um carregamento a uma massa de solos, deve ocorrer ao menos um dos seguintes efeitos: a) Compressão dos grãos sólidos do solo; b) Compressão da água e do ar dos poros da massa de solo; c) Expulsão da água e do ar dos poros do solo. Considerando-se os grãos e a água como incompressíveis em relação à compressibilidade do arcabouço sólido, o que é aceitável para as solicitações impostas ao solo em termos de Engenharia e, ainda, que este seja saturado, a variação de volume deve-se exclusivamente à expulsão da água dos vazios do solo. O princípio das tensões efetivas enuncia que: 1) As tensões em qualquer ponto de uma massa de solo podem ser computadas a partir das tensões principais σ1, σ2 e σ3 que agem neste ponto. Se os vazios do solo estiverem preenchidos por água sob uma pressão u, as tensões totais consistem em duas parcelas. Uma parcela u que age na água e nos grãos sólidos em todas as direções com igual intensidade. Esta parcela é denominada 27 poropressão. A outra parcela é suportada apenas pelo esqueleto sólido do solo e é chamada de tensão efetiva. Assim, Terzaghi escreveu a equação fundamental que expressa o valor da tensão efetiva (σ'): σ' = σ - u (1) Onde: σ = tensão total; u = poropressão; σ' = tensão efetiva. A segunda parte do princípio das tensões efetivas descreve a sua importância. 2) Todos os efeitos mensuráveis devidos a uma variação do estado de tensões, tais como compressão, distorção e variação na resistência ao cisalhamento são exclusivamente devidos às variações no estado de tensões efetivas. Deste modo, de acordo com o princípio das tensões efetivas, sempre que houver uma variação de volume em uma massa de solo, esta é consequência da variação do estado de tensões efetivas. Entretanto, vale a pena ressaltar que a recíproca não é verdadeira, isto é, pode ocorrer uma variação no estado de tensões efetivas sem variação de volume. É o que ocorre nos carregamentos não drenados. Desta forma, pode-se definir compressibilidade, de maneira genérica, como sendo a relação entre a deformação volumétrica específica (εv) e a variação do estado de tensões efetivas. Assim, a compressibilidade é função da rigidez do esqueleto sólido e do caminho de tensões que liga os estados de tensões inicial e final. 1.1.2 História de Tensões no Solo Os solos podem ter sofrido diversas alterações em seu estado de tensões ao longo de sua história. Analisando-se a curva e versus log σ’v é possível observar as mudanças de comportamento dos solos (Figura 2). 28 O trecho inicial da curva mostra o processo de recompressão do solo, ou seja, o solo nesta fase sofre menor compressibilidade. Em seguida, observa-se um trecho que apresenta valores de tensão efetiva maiores do que os máximos valores aos quais este solo já foi, anteriormente, submetido. O limite entre estes dois trechos corresponde à tensão efetiva de pré-adensamento (σ’vm), que é a máxima tensão efetiva ao qual o solo já foi submetido em toda sua história. Figura 2 – Gráfico e versus log σ’v A tensão efetiva de pré-adensamento (σ’vm) é um fator importante e seu valor tem bastante influência na estimativa de recalques em depósitos moderadamente pré-adensados. A partir da análise da Figura 2, relacionando a tensão efetiva de préadensamento (σ’vm) com a tensão efetiva vertical de campo (σ’vo), pode-se obter as seguintes conclusões: • σ`vm = σ`vo Significa que o solo nunca foi submetido a uma tensão efetiva vertical maior que a tensão efetiva vertical de campo atual. Sendo assim, este solo é denominado normalmente adensado e possui uma razão de pré-adensamento (RPA) igual a 1,0 (um). A razão RPA é usualmente chamada de OCR (over consolidation ratio). A razão de pré-adensamento (RPA) é definida pela fórmula a seguir: 29 RPA = σ `vm σ `vo (2) • σ`vm > σ`vo Significa que o solo, no passado, já foi submetido a uma tensão efetiva vertical maior que a tensão efetiva vertical atual. Sendo assim, este solo é denominado pré-adensado e possui uma razão de pré-adensamento (RPA) maior do que 1,0 (um). Para que um maciço de solo seja considerado pré-adensado, ele pode ter sofrido uma remoção da sobrecarga superficial, um processo de erosão (natural ou pela ação do homem), variações no estado de poropressões, bombeamento, ressecamento superficial, fenômenos diversos como fluência, compressão secundária, precipitações de agente cimentantes, entre outros. 1.1.3 Adensamento e Recalque No instante da aplicação de um acréscimo de tensão a uma massa de solo saturado, em vista da baixa compressibilidade da água relativamente à compressibilidade do esqueleto sólido, todo esse acréscimo é suportado pela água presente nos vazios, gerando um excesso de poropressão, desde que não haja drenagem. No instante posterior, desde que haja drenagem, a água dos poros começa a ser expulsa devido ao gradiente hidráulico que se estabelece e o excesso de poropressão diminui progressivamente. Ocorre, então, uma transferência progressiva da tensão aplicada para a estrutura do solo. O adensamento é o processo lento e gradual de variação de volume associado à expulsão de água dos poros do solo, após a imposição de determinado acréscimo de tensão. Este processo está, portanto, relacionado com a facilidade com a qual a água é capaz de drenar através do solo, sendo particularmente importante em solos finos. 30 1.1.3.1 Teoria do Adensamento Unidimensional de Terzaghi (1943) A Teoria do Adensamento foi desenvolvida por Terzaghi (1943) a fim de estudar o processo de adensamento dos solos, e a transferência gradual de esforços da água (poropressão) para o arcabouço sólido. Esta teoria clássica se baseia nas seguintes hipóteses: • O solo é saturado; • O solo é homogêneo; • A compressão é unidimensional (vertical); • O fluxo d’água é unidirecional (vertical); • É válida a Lei de Darcy; • A compressibilidade dos grãos e da água é desprezível em relação à compressibilidade do arcabouço sólido; • As propriedades do solo não variam no processo de adensamento; • As deformações são infinitesimais; • A variação do índice de vazios com o aumento da tensão efetiva é linear. A transferência de esforços da água para a parte sólida se dá através da dissipação dos excessos de poropressão, pela expulsão da água dos vazios do solo. Sendo assim, ressalta-se a utilização das equações de fluxo, de continuidade e da lei de Darcy, para a dedução da Equação de Adensamento de Terzaghi. A Equação de Adensamento de Terzaghi, para carregamento variando no tempo, é dada por: ∂2∆u ∂∆u ∂σv cv ⋅ 2 = − ∂z ∂t ∂t Sendo: cv = coeficiente de adensamento vertical; ∆u = excesso de poropressão; t = tempo; z = distância vertical entre um ponto e a superfície de aplicação do carregamento; σv = tensão vertical. (3) 31 A Equação de Adensamento de Terzaghi, para carregamento instantâneo, é dada por: cv ⋅ ∂2∆u ∂∆u = ∂z2 ∂t (4) O coeficiente de adensamento vertical reflete as características do solo, como as propriedades de permeabilidade e compressibilidade. A velocidade do processo de transferência de tensões entre a água (poropressão) e o arcabouço sólido (tensão efetiva) é diretamente afetada pelo valor de cv. 1.1.3.2 Categorias de Recalque (Inicial, Primário e Secundário) O recalque dos solos devido à aplicação de carregamentos pode ser dividido em três etapas: 1) Recalque imediato (recalque elástico ou recalque inicial) O recalque inicial possui suas formulações fundamentadas na teoria da elasticidade, para a determinação das deformações. Ele ocorre imediatamente após a aplicação do carregamento, através da deformação elástica dos solos, sem alteração no teor de umidade, ou seja, não há saída de água (recalque nãodrenado). 2) Recalque por adensamento primário O recalque por adensamento primário é resultado de uma mudança de volume nos solos coesivos saturados provocada pela saída da água que ocupa os vazios do solo. Ao receber o carregamento, os esforços são imediatamente absorvidos pela parcela de água contida no solo. Em seguida, ocorre o processo de drenagem e os 32 esforços inicialmente absorvidos pela água são transferidos de forma gradual para a estrutura sólida, ocasionando alteração no valor inicial de tensões efetivas. O recalque em solos normalmente adensados (RPA = 1,0) pode ser expresso por: ρ= σ 'vf H0 ⋅ Cc ⋅ log (1+ e0 ) σ 'vo (5) Sendo: Ho = espessura inicial da camada de solo compressível; eo = índice de vazios inicial; Cc = índice de compressão; σ’vf = tensão efetiva vertical final; σ’vo = tensão efetiva vertical inicial. O recalque em solos pré-adensados é calculado a partir das seguintes expressões: • Se σ’vf < σ’vm: ρ= σ 'vf H0 ⋅ Cr ⋅ log (1+ e0 ) σ 'vo (6) Onde: σ’vm = tensão efetiva de pré-adensamento; Cr = índice de recompressão. • Se σ’vf > σ’vm: ρ= 3) σ 'vf H0 σ' ⋅ Cr ⋅ log vm + Cc ⋅ log (1+ e0 ) σ 'vo σ 'vm (7) Recalque por compressão secundária O recalque secundário é uma compressão adicional nos solos coesivos saturados que acontece após a estabilização (constância) das tensões efetivas e se 33 deve ao fato da relação entre o índice de vazios e tensão efetiva ser uma função do tempo. Este tipo de recalque possui maior incidência em argilas bastante plásticas, sendo pouco expressivo na maioria dos solos. O recalque por compressão secundária é expresso por: ρs = tf H0 ⋅ Cα ⋅ log (1+ e0 ) tp (8) Onde: eo = índice de vazios inicial; Ho = espessura inicial da camada de solo compressível; Cα = coeficiente de compressão secundária; tf = tempo final (tempo associado à vida útil da obra); tp = tempo relativo ao final do adensamento primário. 1.1.4 Ensaios de Laboratório para a Determinação dos Parâmetros de Compressibilidade dos Solos A utilização das teorias de Mecânica dos Solos e das simulações numéricas na resolução dos problemas e elaboração dos projetos de engenharia geotécnica requer, constantemente, o conhecimento prévio de parâmetros e de condições do subsolo. A fim de determinar estes parâmetros geotécnicos, são realizados ensaios de campo e de laboratório. O presente item se delimita na abordagem de determinados ensaios laboratoriais amplamente utilizados em amostras extraídas do campo. É importante ressaltar que o processo de retirada de amostras no campo é bastante difícil, exigindo cuidado e responsabilidade por parte da equipe de profissionais envolvidos diretamente na coleta e no transporte do material a ser ensaiado. Tal cuidado se deve ao fato de evitar a ocorrência do processo de amolgamento das amostras. Vale lembrar que é comum a ocorrência de um 34 pequeno alívio de tensões decorrente do descarregamento, durante o processo de amostragem. Nos itens subsequentes, serão apresentados os principais ensaios utilizados com a finalidade de determinar os parâmetros geotécnicos de compressibilidade e adensamento dos solos. 1.1.4.1 Ensaio de Adensamento Unidimensional (Convencional ou Ensaio de Compressão Edométrica) O ensaio de adensamento unidimensional foi sugerido, inicialmente, por Terzaghi e consiste na compressão de uma amostra de solo dentro de um molde (edômetro ou consolidômetro) que impede as deformações laterais. Em linhas gerais, a carga vertical (tensão vertical) aplicada é transmitida através de uma placa de distribuição rígida na superfície da amostra de solo e mede-se a evolução das deformações verticais ao longo do tempo, através de leituras no extensômetro. Durante o ensaio, o corpo de prova é mantido sob a água. Pedras porosas permitem a drenagem. A Figura 3 apresenta uma prensa de ensaio de adensamento, e a Figura 4 ilustra o esquema do mesmo. Inicialmente, aplica-se uma carga no corpo de prova por um período de 24 horas (ou até que se tenha atingido uma estabilização dos deslocamentos verticais). Em seguida, dobra-se o valor da carga aplicada e a medição da compressão é feita novamente. Repete-se este procedimento até níveis de tensões pré-estabelecidos. Para cada incremento de carga, traça-se uma curva compressão (leituras do extensômetro) versus tempo. Em cada estágio de carga, é calculada a variação do índice de vazios devido à compressão do corpo de prova. Ao término do ensaio, elabora-se o gráfico de índice de vazios versus tensão efetiva, que define a curva de compressibilidade do solo. Este ensaio é bastante eficaz na obtenção de parâmetros geotécnicos de compressibilidade do solo. Por correlações, podem ser obtidos, entre outros, os seguintes parâmetros: • Coeficiente de variação volumétrica (mv); • Coeficiente de compressibilidade (av); • Índices de compressibilidade (Cr, Cc, Cs). 35 Figura 3 – Equipamento para a realização do Ensaio de Adensamento (Laboratório de Mecânica dos Solos da UERJ, 2010) Figura 4 – Desenho esquemático: Ensaio de Adensamento (Sousa Pinto, 2002) Correlações entre parâmetros de compressibilidade são úteis na prática da engenharia, pois através delas é possível realizar estimativas de recalques, avaliar soluções de projeto, aferir e retroanalisar os resultados obtidos através das campanhas de ensaios, entre outros. O índice de compressibilidade Cc, obtido 36 através de ensaios edométricos, pode ser correlacionado com os limites de Atterberg, por exemplo, fornecidos por ensaios de caracterização (Ortigão, 1995). Ressalta-se que o ensaio em tela reproduz, em laboratório, a condição de fluxo e deformação unidimensional, pois a amostra é impedida de se deformar horizontalmente e a drenagem é imposta no topo e na base. Ele reproduz o comportamento do solo quando este recebe novas camadas, durante a construção de grandes aterros, por exemplo. Teixeira (2011) relata em seu trabalho que o ensaio convencional possui diversas limitações que são inerentes a sua execução, podendo citar a obtenção descontínua da relação tensão versus deformação (curva e versus log σ’v) e o longo tempo de execução do ensaio. É importante ressaltar que a obtenção de pontos mais espaçados na curva e versus log σ’v dificulta uma adequada definição da tensão de pré-adensamento. O autor aborda ainda que variações do ensaio convencional são bastante utilizadas e que diversos laboratórios adotam valores menores de razões de incrementos de cargas (∆P/P=0,5) principalmente para tensões próximas à tensão de pré-adensamento do solo. Dentre as variações, citamse a realização de ensaios com recarregamento no final do adensamento primário, reduzindo o tempo total de ensaio e a variação do ensaio convencional utilizando o carregamento em estágio único, realizada para uma tensão efetiva vertical maior que a tensão de pré-adensamento, possuindo valor apenas para a determinação da tensão de pré-adensamento. 1.1.4.2 Ensaio de Adensamento com Velocidade de Deformação Constante (CRS) O Ensaio de Velocidade Constante de Deformação (CRS: “Constant Rate of Strain”) é um tipo de ensaio de adensamento contínuo bastante utilizado, no qual ocorre a aplicação gradual de carga vertical no corpo de prova, com velocidade constante de deformação. A drenagem é permitida somente em uma face (topo) da amostra, sendo a base submetida à condição não-drenada, com medição da poropressão. Hamilton e Crawford (1959) foram os pioneiros na apresentação de ensaios CRS na literatura. A Figura 5 ilustra o ensaio CRS. 37 Figura 5 – Esquema do Ensaio CRS (Moura, 2004) Este ensaio é realizado em uma prensa para aplicação de carregamento uniaxial. São medidos os valores da tensão total vertical aplicada no topo (σv), da poropressão na base (ub) e da variação da altura (∆h) do corpo de prova. Crawford (1965) verificou que ocorre uma redução de poropressões na base (ub) com o decréscimo da velocidade de deslocamento aplicada. As principais vantagens do ensaio CRS em relação ao ensaio de adensamento convencional estão relacionadas à rapidez e agilidade no tempo de realização do ensaio, e a ampliação do número de pontos que definem a curva e versus log σ’v para a melhor obtenção da tensão de pré-adensamento (σ’vm). Porém, este ensaio apresenta dificuldades quanto à determinação da velocidade de deformação mais adequada. Moura et al. (2006) comprovaram a eficácia do ensaio CRS na obtenção de curvas εv versus σ`v de boa qualidade. Os autores discutem a diversidade de critérios da literatura para a seleção da velocidade mais adequada a ser utilizada nos ensaios CRS, de forma a obter curvas e valores de cv satisfatórios. Dentre os critérios da literatura comentados por Moura et al. (2006), destacam-se: 38 • Wissa et al. (1971) apresentaram um critério que objetiva a determinação de uma poropressão na base (ub) que permita a obtenção de curvas εv versus σ`v e o cálculo de cv. Este critério, no entanto, acarreta em velocidades de deslocamento bastante reduzidas para argilas muito plásticas. A velocidade a ser adotada deve resultar na razão ub/σ`v dentro da faixa de 2% e 5%; • Armours e Drnevich (1986) apresentaram uma equação para a determinação da velocidade. O valor máximo admissível da razão ub/σ`v deve ser de 40% a 50%; • Smith e Walhs (1969) definiram que o valor máximo da razão ub/σ`v deve ser de 50%. Teixeira (2011) ressalta como desvantagem deste tipo de ensaio a dificuldade da determinação da tensão de pré-adensamento, pois observa-se que quanto maior é a velocidade de realização do ensaio, maior parece ser a tensão de préadensamento. 1.1.5 Ensaios de Campo As informações obtidas nos ensaios de campo, em geral, são a base dos projetos de Geotecnia. Estes ensaios permitem a obtenção de parâmetros, a caracterização e o reconhecimento da estratigrafia dos solos, seja diretamente, ou a partir de correlações empíricas. Os ensaios de campo apresentam vantagens em relação aos ensaios laboratoriais. Dentre elas, citam-se a diminuição da ocorrência de perturbações causadas pela variação do estado de tensões durante as operações de coleta, transporte e manuseio das amostras; a possibilidade de se ensaiar grandes volumes de solo, in situ; além de permitirem a obtenção de medições contínuas dos parâmetros geotécnicos com a profundidade. Schnaid (2000) apresenta um resumo dos principais ensaios de campo e suas aplicações (Tabela 1), a fim de orientar o engenheiro no que tange à escolha do tipo 39 de ensaio. Interpretam-se as classificações de aplicabilidade A, B, C e I, respectivamente, como: alta, moderada, baixa e inexistente. Tabela 1 – Principais ensaios de campo e seus respectivos graus de aplicabilidade (Lunne et al., 1997b – Adaptado de Schnaid, 2000) Identificação Outros Pressiômetro Penetrômetro Grupo Parâmetros Equipamento Tipo de Solo Perfil u ϕ' Dr mv Cv k OCR Su G0 σh σ-ε Dinâmico C B I C C I I I C C C I I Mecânico B A/B I C B C I I C C C C I Elétrico (CPT) B A I C A/B C I I B B B B/C I Piezocone (CPTU) A A A B A/B B A/B B B B B B/C C Sísmico (SCPT/SCPTU) A A A B A/B B A/B B B A/B A B B Dilatômetro (DMT) B A C B C B I I B B B B C Standard Penetration Test (SPT) A B I C B I I I C C C I I Resistividade B B I B A C I I I C I I I Pré-furo (PBP) B B I C C B C I C B B C C Auto-perfurante (SBP) B B A B B B A B B B A A/B A/B Cone-pressiômetro (CPMT) B B I C C C C I C B A C C Palheta B C I I I I I I B/C A I I B Ensaio de Placa C I I C B B C C B B A C B Placa Helicoidal C C I C B B C C B B A C I Permeabilidade C I A I I I B A I I I I I Ruptura Hidráulica I I B I I I C C I I I B I Sísmico C C I I I I I I B I A I I A seguir, serão abordados os ensaios de campo mais utilizados na obtenção de parâmetros geotécnicos. 1.1.5.1 Ensaios de Cone (CPT) O ensaio de cone (CPT) consiste, basicamente, na penetração/cravação estática e vertical de uma haste de ponteira cônica em um terreno, onde se realizam as medições da resistência de ponta (qc) e do atrito lateral (fs) que ocorrem na interface entre o equipamento e o solo. A partir da correlação destas medidas fornecidas pelo ensaio, obtém-se o parâmetro denominado Razão de Atrito (Rf), dado por: 40 Rf = fs qc (9) Os boletins de ensaios CPT fornecem gráficos de qc, fs e Rf em função da profundidade. Este ensaio se subdivide em 2 (dois) tipos, basicamente: o ensaio de cone com penetrômetro mecânico e o ensaio de cone elétrico. Este último tipo de ensaio permite a medição contínua da variação da resistência de ponta com a profundidade, além de possuir extensômetros elétricos de resistência para medir as deformações do equipamento na etapa de cravação. É importante ressaltar que os estudos iniciais sobre ensaios de cone foram realizados em 1930, por Terzaghi (Árabe,1995). No Brasil, o ensaio de cone começou a ser utilizado, porém de forma ainda restrita, no final da década de 1950 Schnaid (2000). 1.1.5.2 Ensaios de Piezocone (CPTU) Este ensaio consiste, basicamente, em uma evolução do ensaio de cone (CPT), incorporando a medição da poropressão e os elementos piezométricos a um conepenetrômetro padrão (Robertson e Campanella, 1983). O registro da poropressão é feito através de um filtro (elemento poroso), do transdutor de pressão, das conexões e da cavidade do transdutor. A cravação do equipamento para a realização de um ensaio CPTU pode utilizar o mesmo sistema para a realização do ensaio de cone elétrico (CPT). No ensaio CPTU, são medidos o atrito lateral (fs), a resistência de ponta (qc) e a poropressão (u). Diversos parâmetros geotécnicos podem ser estimados ou obtidos por meio de correlações com resultados de ensaios, sejam laboratoriais ou de campo. Por exemplo, em solos argilosos, é possível obter parâmetros como a razão de préadensamento (RPA), a resistência ao cisalhamento não-drenada (Su), o coeficiente de empuxo lateral no repouso (ko), o coeficiente de adensamento vertical (cv), coeficiente de adensamento horizontal (ch), o coeficiente de permeabilidade (k), entre outros. 41 As principais vantagens do CPTU são (Robertson e Campanella, 1983): a identificação mais apurada da estratigrafia do solo, a melhor obtenção dos parâmetros geotécnicos e a estimativa do valor de cv através do tempo de dissipação das poropressões. 1.1.5.3 Ensaio SPT (Standard Penetration Test) O SPT (Standard Penetration Test) é um ensaio que utiliza métodos diretos, sendo uma importante ferramenta de investigação da estratigrafia dos subsolos. Por ser economicamente viável, este ensaio é bastante utilizado no Brasil na previsão de recalques, projetos de fundações, entre outros. Este ensaio permite ainda a obtenção de parâmetros geotécnicos através de correlações. Em solos granulares, por exemplo, pode-se obter a estimativa de densidade relativa (Dr) e o ângulo de atrito efetivo do solo (ϕ’). Em solos coesivos, por exemplo, em argilas pré-adensadas pode-se correlacionar a resistência nãodrenada (Su) e o valor de SPT (NSPT). Ressalta-se que as relações entre Su e NSPT não devem ser utilizadas para solos moles (NSPT <5) devido à falta de representatividade dos valores de NSPT medidos nos ensaios (Schnaid, 2000). A Tabela 1 mostra também a aplicabilidade do ensaio SPT e alguns dos parâmetros que podem ser obtidos. Vale ressaltar, também, a possibilidade de correlacionar o valor de NSPT com o módulo de deformabilidade dos solos. O ensaio SPT consiste em uma medida de resistência dinâmica conjugada a uma sondagem de simples reconhecimento. O sistema é composto por um trépano de lavagem (ferramenta de escavação), onde a perfuração é obtida por tradagem e circulação de água. As amostras do solo são extraídas, a cada metro de profundidade, através de um amostrador padrão. A cravação deste amostrador é realizada por meio da queda de um peso de 65 kg, a uma altura de 75 cm. O valor NSPT é o número de golpes necessário para fazer o amostrador penetrar 30 cm, após a cravação inicial de 15 cm (Schnaid, 2000). Ressalta-se a importância da correta execução do ensaio, utilizando-se, ainda, equipamentos em bom estado de conservação, a fim de se obter bons resultados, sem interferências externas que 42 atrapalhem a investigação do solo. A normalização brasileira do ensaio SPT é encontrada na NBR 6.484/1980. A Tabela 2 apresenta a classificação da consistência/compacidade dos solos em função do índice de resistência à penetração (NSPT), segundo a NBR 7.250/1982. Tabela 2 – Classificação dos solos, de acordo com o índice de resistência à penetração (NBR 7.250/1982) Solo Índice de resistencia à penetração Designação <2 muito mole 3-5 mole 6 - 10 média 11 - 19 rija > 19 dura <4 fofa 5-8 pouco compacta 9 - 18 medianamente compacta 19 - 40 compacta > 40 muito compacta Argila e Silte Argiloso Areia e Silte Arenoso Segundo Schnaid (2000), os ensaios SPT apresentam algumas limitações relacionadas às influências que este sofre em função do tipo de martelo, ou da energia transferida ao amostrador durante a cravação, que pode ser um pouco distinta da energia de queda livre teórica. Diante destas limitações, recomenda-se a necessidade de correção dos valores medidos de NSPT, a fim de se obter estimativas de parâmetros geotécnicos do solo. A fórmula de correção é dada por: N 60 = N SPT × ENERGIA APLICADA 0,60 (10) 43 O fator N60 é o número de golpes de padrão americano, com energia liberada na ordem de 60% da energia teórica. A prática internacional sugere normalizar o número de golpes, baseando-se neste padrão americano. Velloso e Lopes (1996) recomendam efetuar a majoração do valor de NSPT obtido através de sondagem brasileira em 10% a 20%, antes de utilizar correlações formuladas nos E.U.A. 1.2 Métodos Gráficos 1.2.1 Método de Asaoka (1978) O método de Asaoka (1978) é um método que se utiliza de um processo gráfico, elaborado com o objetivo de estimar os recalques totais e o coeficiente de consolidação in situ (cv), a partir de informações de campo, obtidas pelos registros das placas de recalque instaladas nos aterros instrumentados. Este método pode ser estendido para casos de construção de aterros em etapas ou para incorporação da parcela de compressão secundária. Os registros de recalque de campo são inseridos em um gráfico de recalque versus tempo, em escala aritmética (Figura 6.a). A escala de tempo é dividida em intervalos constantes, sendo aconselháveis intervalos entre 15 e 100 dias (Ortigão, 1995). Em seguida constrói-se um segundo gráfico (Figura 6.b) representando os recalques ρi (nos tempos ti) versus os recalques ρi-1 (nos tempos ti-1). Traça-se uma reta interpolando os pontos deste segundo gráfico. Desenha-se uma reta com 45° tendo origem no ponto (0,0), que intercepta a reta interpolada. Desta forma, obtémse cv a partir da relação (Ortigão,1995): cv = 5.H2d . ln β1 12.∆t (11) 44 Sendo: Hd = distância de drenagem; ∆t = intervalo de tempo; β1 = inclinação da reta de Asaoka. (a) Gráfico de recalque versus tempo (b) Obtenção do recalque final Figura 6 - Método de Asaoka (Ortigão, 1995). É importante ressaltar, ainda, a modificação do método de Asaoka (1978) proposta por Magnan e Deroy (1980), elaborada com a finalidade de se obter, além dos valores de recalque final e coeficiente de adensamento vertical, o valor do coeficiente de adensamento horizontal. Para adensamento com drenagem radial, se utiliza a seguinte formulação: ch = − Sendo: Hd = distância de drenagem; d2e ln β .F(n). 1 8 ∆t (12) 45 ∆t = intervalo de tempo; β1 = inclinação da reta de Asaoka; F(n) = ln (n) – 0,75; n = razão entre o diâmetro de influência do dreno (de) e o diâmetro do dreno (dw). de = diâmetro de influência do dreno, onde: de = 1,13 x s (para a área quadrangular); de = 1,05 x s (para a área triangular); s = espaçamento entre drenos. Para obtenção de drenagem combinada (Nacci e Schnaid, 2001), utiliza-se a expressão: de2 ⋅ F(n) ln⋅ β1 π ⋅ cv ch = ⋅ − − 2 8 ∆t 4 ⋅ Hd (13) Onde: Hd = distância de drenagem; cv = coeficiente de adensamento vertical; F(n) = função da razão do espaçamento entre drenos n=de/dw (F(n) = ln(n)-0,75); ∆t = intervalo de tempo; β1 = inclinação da reta de Asaoka; dw = diâmetro equivalente do dreno vertical pré-fabricado, onde: dw = 2 ⋅ ( a + b) π ; de = diâmetro de influência do dreno, onde: de = 1,13.s (para a área quadrangular); de = 1,05.s (para a área triangular); s = espaçamento entre drenos. Almeida (1996) sugere que são necessários registros de placas de recalque com magnitudes de, pelo menos, 60% do valor de recalque final, a fim de se utilizar o Método de Asaoka com segurança. Magnan e Mieussem, (1980) também afirmam que este método fornece previsões satisfatórias, desde que o grau de adensamento 46 alcançado seja superior a 60%. Ressalta-se que o método de Asaoka é recomendado para uma condição mínima de 60% de dissipação do excesso de poropressão gerado pelo carregamento (Asaoka, 1978). Nacci e Schnaid (2001) relatam que o método de Asaoka (1978) utilizado para a estimativa do valor de recalque final estimado a partir do registro das leituras de placa e a modificação deste método por Magnan e Deroy (1980) para a retroanálise de parâmetros de adensamento são em geral satisfatórios para a análise de aterros sobre solos moles. A simplicidade de aplicação dos métodos é considerada vantajosa. As condições de aplicação do método devem ser criteriosamente observadas a fim de garantir sua aplicabilidade e confiabilidade. Os autores ressaltam ainda que, em processo de adensamento de camadas nas quais se utilizavam drenos verticais, o adensamento secundário exerce pouca influência na estimativa do recalque final por Asaoka, sendo o valor obtido correspondente ao adensamento primário. 1.2.2 Método de Orleach (1983) O método de Orleach (1983) consiste em um processo gráfico que fundamenta-se tanto na teoria de Terzaghi, para adensamento vertical, quanto na teoria de Barron (1948), para adensamento radial ou horizontal, com o objetivo de se obter os coeficientes de adensamento horizontal e vertical a partir de dados de campo (Almeida, 1996). Para a realização deste processo gráfico, traça-se um gráfico do excesso de poropressão (escala semi-log) no tempo (Figura 7). Ajusta-se uma reta pelos pontos do gráfico e obtém-se o ângulo α1, que corresponde à inclinação da reta traçada. Os valores dos coeficientes de adensamento vertical e horizontal (cv e ch) são dados a partir das formulações: cv = 4.H2d .α1 π2 (14) 47 f (n) c h = d2e . .α1 8 (15) u1 u2 α1 = t2 − t1 (16) ln Sendo: cv = coeficiente de adensamento vertical; Hd = distância máxima de drenagem; α1 =inclinação da reta em ln (u) versus tempo; t1 e t2 = tempos relativos a leituras de lnu1e lnu2; de = diâmetro de influência do dreno; f(n) = ln (n) – 0,75; n = razão entre o diâmetro de influência do dreno (de) e o diâmetro do dreno (dw). Figura 7 – Gráfico do Método de Orleach 48 1.2.3 Método de Casagrande O método do Prof. Casagrande é bastante utilizado, tanto no Brasil, quanto em outros países, na obtenção do valor da tensão efetiva de pré-adensamento (σ`vm). Sabendo-se da dificuldade de se determinar a tensão efetiva de préadensamento com precisão, os métodos empíricos permitem estimar o valor mais provável ou a ordem de grandeza desta referida tensão (Sousa Pinto, 2002). O processo gráfico (Figura 8) se dá pela seguinte maneira: dado o gráfico de tensão vertical x índice de vazios, traça-se uma reta horizontal no ponto de maior curvatura e uma tangente à curva. Depois, traça-se uma bissetriz do ângulo formado pelas duas retas. Em seguida, traça-se o prolongamento da reta virgem até interceptar a referida bissetriz. A leitura da abscissa deste ponto de interseção determina a tensão efetiva de pré-adensamento (σ`vm) (Caputo, 1988). Figura 8 - Método de Casagrande (Souza Pinto, 2002) 49 1.2.4 Método de Pacheco e Silva O método do engenheiro Pacheco e Silva é utilizado para a obtenção do valor da tensão efetiva de pré-adensamento (σ`vm). Inicialmente, traça-se uma reta horizontal correspondente ao índice de vazios inicial da amostra. Prolonga-se a reta virgem até interceptar com a reta horizontal anteriormente citada. Traça-se um segmento vertical partindo do ponto de interseção até interceptar a curva de adensamento da amostra. A partir deste último ponto interceptado, traça-se um novo segmento horizontal que deverá interceptar o prolongamento da reta virgem. Esta última interseção corresponde ao valor da tensão efetiva de pré-adensamento (σ`vm). Figura 9 – Método de Pacheco e Silva (Adaptado de Pacheco, 2010) 1.3 Influência da Qualidade das Amostras Nos ensaios, a utilização de amostras de melhor qualidade é fundamental na obtenção de parâmetros geotécnicos mais confiáveis e satisfatórios. Durante o processo de coleta, introdução dos instrumentos, transporte, manuseio e preparação do ensaio, a amostra pode sofrer algumas mudanças em 50 seu estado de tensões, ou seja, alterações significativas na condição inicial à qual esta amostra estava submetida. Este fenômeno é conhecido como amolgamento. Cavalcante et al. (2007) em seu trabalho sobre os Campos Experimentais Brasileiros, relataram que a cravação de estacas causam amolgamento do solo e, provavelmente, um aumento das poropressões, ao analisar os trabalhos referentes ao Campo Experimental da UFPE, em Recife. A qualidade das amostras se torna fundamental na caracterização dos solos, principalmente, quando se trata de solos argilosos, pois refletirá diretamente na qualidade dos resultados e dos parâmetros obtidos através de ensaios edométricos, afetando também a previsão dos recalques. Ocorrerá a redução do valor estimado da tensão efetiva de pré-adensamento (σ`vm). O trecho de maior curvatura da curva e x log σ`v torna-se menos acentuado, dificultando a estimativa de σ`vm. A baixa qualidade da amostragem pode ser refletida na redução do índice de vazios para um valor de tensão de adensamento; na dificuldade da definição do ponto de menor curvatura para a determinação da tensão vertical de préadensamento; na diminuição do valor da tensão de pré-adensamento pelo método de Casagrande; no aumento da compressibilidade na região de recompressão e decréscimo na região de compressão virgem (Coutinho et al., 1998). Qualquer que seja a tensão vertical efetiva, o índice de vazios é menor para a amostra de qualidade inferior. Diversos autores apresentaram propostas para a classificação da qualidade das amostras. Nos itens subsequentes, serão discutidas algumas classificações propostas na literatura. 1.3.1 Lunne et al. (1997a) Lunne et al. (1997a) apresentaram um critério de classificação das amostras em relação ao seu nível de amolgamento. As amostras são classificadas de acordo com a razão de pré-adensamento do solo (RPA ou OCR – Over Consolidation Ratio) e com o valor da razão ∆e/eo, onde ∆e corresponde a diferença entre o índice de vazios inicial da amostra (eo) e o índice de vazios correspondente ao nível de tensão 51 efetiva vertical de campo (eσ’vo). Este critério define faixas classificatórias, conforme apresentado na Tabela 3. Tabela 3 – Classificação da qualidade das amostras - Lunne et al. (1997a) OCR 1-2 2-4 ∆e / eo Excelente - Muito Boa < 0,04 < 0,03 Boa - Regular 0,04 - 0,07 0,03 - 0,05 Ruim 0,07 - 0,14 0,05 - 0,10 Muito Ruim > 0,14 > 0,10 Pode-se observar que as amostras de má qualidade, ou seja, que apresentam maior amolgamento, apresentam valores de ∆e/eo maiores. Segundo Lima (2007), esta classificação de qualidade das amostras também foi apresentada por Lunne et al. (1997a) em relação à deformação axial no nível de tensão inicial de campo (εvo), sendo necessário multiplicar o valor de (∆e/eo) pela expressão eo/(1+eo). 1.3.2 Coutinho et al (2001) Os trabalhos de Coutinho et. al (1998 e 2001) apresentam uma proposta mais branda que a de Lunne et al.(1997a), fornecendo uma faixa de transição (entre a classificação regular e pobre), quando se trata de solos brasileiros. Tal critério está apresentado na Tabela 4. Tabela 4 – Classificação da qualidade das amostras - Coutinho et al., 2001 (adaptado de Teixeira, 2011) ∆e / eo OCR Excelente Muito Boa Boa Regular Transição Pobre Muito Pobre 1-2 < 0,04 0,04 - 0,055 0,055 - 0,07 0,07 - 0,105 0,105 - 0,14 > 0,14 2-4 < 0,03 0,03 - 0,04 0,04 - 0,05 0,05 - 0,075 0,075 - 0,10 > 0,10 52 1.3.3 Oliveira (2002) Oliveira (2002) em seu trabalho denominado “A Influência da Qualidade da Amostra no Comportamento Tensão-Deformação-Resistência de Argilas Moles” expôs um critério de classificação das amostras, conforme a Tabela 5. Tabela 5 – Classificação da qualidade das amostras - Oliveira (2002) Classificação Muito Boa - Excelente Boa - Regular (aceitável) Ruim Muito Ruim ∆e / eo < 0,05 0,05 - 0,08 0,08 - 0,14 > 0,14 1.3.4 Correia e Lacerda (1982) Segundo Almeida et al. (2005), os autores Correia e Lacerda (1982) fizeram uso do conceito de compressibilidade volumétrica (mv), para definir a qualidade de amostragem. A curva de mv versus σ’v de uma amostra de boa qualidade apresenta uma mudança acentuada no valor de mv na região da tensão de pré-adensamento (Figura 10). Nas amostras muito amolgadas, esta mudança é quase imperceptível e a curva é praticamente contínua. Os autores sugerem ainda que é possível admitir que a tensão de pré-adensamento se situe no intervalo de mudança brusca. 53 Figura 10 – Efeito do amolgamento na curva mv versus σ’v (Correia e Lacerda, 1982 – Adaptado de Almeida et al., 2005) 1.4 Estudo dos Parâmetros Geotécnicos de Solos Compressíveis na Baixada Fluminense O traçado da rodovia do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro se insere, quase em sua totalidade, na região da Baixada Fluminense. Esta região foi amplamente estudada por diversos autores, e continua sendo objeto de estudo de várias pesquisas, principalmente aquelas relacionadas ao conhecimento dos parâmetros geotécnicos das argilas moles. Marques et al. (2008) analisaram a caracterização geotécnica de um depósito de solo compressível em Itaguaí (RJ) com a finalidade de definir parâmetros e modelos, para a proposição de soluções de estabilização de aterros. Foram discutidos os resultados de ensaios de campo (SPT, ensaio de palheta e piezocone) 54 e laboratório (caracterização, ensaios triaxiais e edométricos), tendo como foco 2 estações de investigações, denominadas “Alstom” e “Stockyard”, nas quais foram realizadas, respectivamente, 7 e 6 verticais de investigações. Nestas áreas, foram detectadas espessuras de argila mole variando de 7 m a 14 m, podendo haver ainda a ocorrência de lentes de areia de espessuras variáveis em alguns setores estudados (de 0,3 m a 4,3 m). Os resultados apresentados para as 2 áreas forneceram os seguintes parâmetros: densidade específica das argilas (Gs) variando entre 2,39 e 2,73, índice de vazios (eo) entre 2,5 e 4,2 e valores de razão de compressão CR = Cc /(1+eo) variando de 0,24 até 0,50. Ressalta-se ainda que houve ocorrência de argilas siltoarenosas com índice de vazios (eo) inferior a 1,5, mas que também foram menos compressíveis, com valores de razão de compressão (CR) inferiores a 0,2. Os valores dos coeficientes de adensamento vertical (cv) obtidos através dos ensaios edométricos e de piezocone se apresentaram em uma faixa variando de 8 x 10-9 m²/s a 1,1 x 10-6 m²/s. Marques et al. (2008) forneceram, também, valores de índice de vazios (eo) e de índice de compressibilidade (Cc) em função da profundidade para 2 (duas) verticais de investigações denominadas BH13 e B308 (Figura 11 e Figura 12), além de valores de coeficiente de adensamento vertical (cv), obtidos por ensaios de adensamento e piezocone, como mostra a Figura 13. Tais valores serão confrontados com outros dados obtidos por demais autores para a região em estudo. Futai et al. (2008) resumem valores de propriedades geotécnicas das argilas do Rio de Janeiro, pesquisadas por diversos autores para a região de Sarapuí (Lacerda et al., 1977; Ortigão, 1980; Almeida & Marques, 2002). Os autores destacam faixas de valores de índice de vazios inicial (eo) de 3,71 ± 0,57, e ângulo de atrito efetivo (φ’) entre 25o e 30o. Almeida et al. (2005) estudaram as características geotécnicas dos depósitos de argila mole de Sarapuí, com base em ensaios de campo e de laboratório realizados para esta região por diversos autores (Ortigão, 1975 e 1980; Coutinho, 1976; Duarte, 1977; Collet 1978; Vieira 1988; Barbosa, 1990 e Lima, 1993). Os estudos mostraram que o índice de vazios inicial das amostras (eo) diminui com a profundidade de 4,9 a 2,5 e que o peso específico (γ) varia de 12,5 a 14,5 kN/m³. 55 0 0 1 2 3 4 5 Profundidade (m) -2 -4 -6 Vertical BH13 -8 Vertical B308 -10 -12 -14 eo Figura 11 – Índice de vazios inicial (eo) em função da profundidade (Adaptado de Marques et al., 2008) Figura 12 – Índice de compressibilidade (Cc) em função da profundidade (Adaptado de Marques et al., 2008) Almeida et al. (2005) apresentam, ainda, valores de índice de compressibilidade (Cc) variáveis de 1,3 a 3,2, e um valor médio da razão de compressão (CR) de 0,41 (considerado alto). 56 Figura 13 – Coeficiente de adensamento vertical (cv) em função da profundidade (Adaptado de Marques et al., 2008) A Figura 14 a Figura 17 apresentam as faixas de valores de índice de vazios inicial (eo), índice de compressão (Cc) e coeficiente de adensamento vertical (cv) obtidas pelos diversos autores na literatura, juntamente com os valores obtidos nos ensaios executados durante a fase de projeto do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro (Antunes et al., 2011b). Os valores de índice de vazios inicial (eo) concentraram-se na faixa de 2,5 a 5,0 (Figura 14), mostrando uma tendência de decréscimo com a profundidade. No projeto, os valores de eo concentraram-se na faixa de 2,23 a 4,91, com apenas algumas amostras com valores superiores. Segundo Almeida et al. (2005), da análise de 63 ensaios edométricos executados por Ortigão (1980), observou-se que o valor médio de ∆e/eo foi de 0,033 e apenas 16% das amostras apresentaram valores maiores que 0,04, para as argilas de Sarapuí (Baixada Fluminense). Tal observação mostra a confiabilidade dos resultados apresentados por Ortigão (1980). 57 Com relação ao índice de compressibilidade (Cc), observa-se uma grande dispersão de valores para a região em estudo (Figura 15), com uma maior concentração de valores entre 1,5 e 2,5. Figura 14 – Variação de e0 em função da profundidade 58 Figura 15 – Variação de Cc em função da profundidade A Figura 16 mostra a variação do coeficiente de adensamento vertical (cv) com a profundidade, obtido na literatura. Pode-se observar que cv varia entre 1 x 10-8 m2/s e 2 x 10-7 m2/s, com uma maior concentração da ordem de 3 x 10-8 m2/s. Na Figura 17 são fornecidas as faixas de valores de cv estudadas por diversos autores, para a Região da Baixada Fluminense, confirmando a variação de cv entre 1 x 10-8 m2/s e 2 x 10-7 m2/s. 59 Figura 16 – Variação de cv em função da profundidade Figura 17 – Faixas de valores de coeficiente de adensamento vertical (cv) A Tabela 6 apresenta os valores de coeficiente de permeabilidade (k) pesquisados na literatura para a região em estudo. Os resultados apresentados mostram a grande variabilidade obtida pelos diferentes autores para o coeficiente de permeabilidade (k) da argila mole. A faixa de variação situa-se entre 4,32 x 10-6 60 m/dia a 5,36 x 10-3 m/dia, com um valor médio de 2,70 x 10-3 m/dia. Os ensaios de projeto reportam a uma faixa de k de, aproximadamente, 1,7 x 10-4 m/dia a 1,7 x 10-3 m/dia (Antunes et al., 2011a). Tabela 6 - Valores de permeabilidade reportados na literatura e definidos no projeto Referência k (m/dia) Sayão (1980) 8,64 x 10-5 a 3,02 x 10-3 Gerscovich (1983) 8,64 x 10-5 a 5,36 x 10-3 DNER / IPR (1998) 3,83 x 10-5 a 1,15 x 10-3 Projeto Executivo - Arco Metropolitano – Lote 1 1,70 x 10-4 a 1,70 x 10-3 Coutinho (1976) e Duarte (1977) 1,728 x 10-4 a 4,32 x 10-4 Feijó (1991) 4,32 x 10-6 a 1,73 x 10-3 Os valores obtidos na literatura para a razão de compressão (CR) para a região da Baixada Fluminense estão apresentados na Figura 18. Os valores determinados na fase de projeto do Arco Metropolitano situaram-se entre 0,2 a 0,3. De um modo geral, os valores definidos por outros autores mostraram-se superiores, com um valor médio da ordem de 0,4. Figura 18 – Faixas de valores de CR (Adaptado de Lima, 2007) 61 1.5 Considerações Finais O presente capítulo introduziu elementos teóricos e práticos referentes ao tema objeto do trabalho em tela. Tais abordagens são fundamentais para a compreensão do estudo do comportamento de aterros instrumentados, bem como para a adequada avaliação da magnitude dos recalques ao longo do tempo. Diversas pesquisas e estudos realizados por pesquisadores em campos experimentais no Brasil, além de investigações e experiências ocorridas no quotidiano da engenharia geotécnica têm contribuído, constantemente, no conhecimento de diferentes perfis geológico-geotécnicos das mais diversas regiões. A boa qualidade de uma amostragem se torna fundamental na obtenção de parâmetros que representem com maior fidelidade as condições reais de campo, minimizando as incertezas, antes e durante a fase de execução de obras e intervenções geotécnicas. Sendo assim, se faz necessário evitar o fenômeno de amolgamento das amostras, como mencionado no item 1.2. 22020 2 ARCO METROPOLITANO DO RIO DE JANEIRO – CARACTERIZAÇÃO DOS ASPECTOS DE INTERESSE DA ÁREA EM ESTUDO O presente capítulo tem como objetivo apresentar um panorama global dos aterros que compõem as obras do Arco Metropolitano do Estado do Rio de Janeiro. Serão relatados, de forma objetiva, aspectos gerais referentes ao empreendimento, aos aterros instrumentados, à delimitação da área de estudo e às soluções de projeto geotécnico. Dada a magnitude da obra e a presença de espessas camadas de solo de fundação bastante compressíveis e com baixa resistência, os aterros foram instrumentados com medidores de recalques tipo placa e inclinômetros, instalados em diferentes estações de monitoramento, com o objetivo de acompanhar e avaliar a evolução dos recalques e os deslocamentos horizontais dos aterros durante o processo construtivo. 2.1 Caracterização e Delimitação da Área de Estudo 2.1.1 Considerações Gerais O Arco Metropolitano do Rio de Janeiro constitui uma das principais obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Trata-se da construção de uma rodovia (BR 493/RJ) de aproximadamente 145 km de extensão, que interligará 8 (oito) municípios do Estado do Rio de Janeiro, sendo eles: Itaboraí, Guapimirim, Magé, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Japeri, Seropédica e Itaguaí. O Arco Metropolitano possibilitará o surgimento de melhorias para todo o entorno, tais como a desobstrução no tráfego das principais vias e rodovias adjacentes, além de permitir o economicamente pouco expressivas. crescimento de regiões que ainda são 63 A rodovia encontra-se em fase de execução e engloba diversas atividades. Dentre elas, contemplam-se a execução de intervenções e obras de drenagem, terraplanagem, obras de arte especiais e correntes. Trata-se de um empreendimento de grande porte, que abrange diversos segmentos da engenharia. Segundo informações pesquisadas, as intervenções e obras destinadas à realização do Arco Rodoviário foram divididas em 4 (quatro) segmentos, como mostra a Figura 19: • Segmento A: consiste no segmento da BR - 493 (Rodovia de Contorno da Baía de Guanabara) e possui a extensão aproximada de 25 km; • Segmento B: consiste no segmento da BR - 101 (Sul) – Rodovia Rio – Santos e possui a extensão aproximada de 22 km; • Segmento C: consiste no segmento da BR - 493 / RJ 109 e possui a extensão total de 70,9 km. (Responsável: Governo do Estado do Rio de Janeiro); • Segmento D: consiste no segmento da BR - 116 (Norte) – Rodovia Rio – Teresópolis e possui a extensão aproximada de 22 km. Figura 19 – Traçado do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro (Adaptado de material da Secretaria de Obras – Governo do Estado do Rio de Janeiro) 64 A obra do segmento C foi dividida em 4 (quatro) lotes e está sendo executada por um Consórcio que envolve 8 (oito) Construtoras, sendo elas: Odebrecht, Andrade Gutierrez, Carioca, Queiroz Galvão, OAS, Camargo Corrêa, Delta e Oriente. Segundo informações de Projeto, as extensões de cada lote e seus referidos pontos (iniciais e finais) são: • Lote 1: km 48,5 ao km 63. Extensão: 14,5 km; • Lote 2: km 63,0 ao km 82,6. Extensão: 19,6 km; • Lote 3: km 82,6 ao km 99,5. Extensão: 16,9 km; • Lote 4: km 99,5 ao km 119,4. Extensão: 19,9 km. O traçado do empreendimento corta uma série de trechos que apresentam a presença de camadas expressivas de argila orgânica mole. Ressalta-se que a construção em terrenos constituídos de solos compressíveis apresenta situações bastante complexas que demandam soluções criteriosas e uma série de dificuldades relacionadas à previsão da magnitude dos recalques. Sendo assim, os aterros que compõem o Arco Metropolitano foram monitorados constantemente, com o auxílio de placas de recalque e inclinômetros, de forma a acompanhar a evolução gradual dos recalques e movimentos horizontais ao longo do tempo, bem como o lançamento das camadas de aterro, durante o período construtivo. O presente trabalho tem como foco o estudo dos aterros instrumentados do Lote 1 (inserido no Segmento C) do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro. A Figura 20 mostra o traçado do empreendimento, elucidando o trecho do lote supracitado. Tal região foi escolhida, em função da presença mais relevante de depósitos de argila mole, além da possibilidade de realização dos estudos para este segmento ter sido subsidiada pela Portaria Conjunta DER-RJ/UERJ Nº01 de 01 de Maio de 2010, na qual a mestranda autora do presente trabalho realizou extensão universitária. Vale ressaltar que o traçado do SETOR C se inicia na interseção entre a BR040 (Rio – Juiz de Fora) e o ramo norte da BR-116 (para Magé), no município de Duque de Caxias, finalizando no município de Itaguaí. 65 Figura 20 – Traçado do Segmento C – Lote 1 - Arco Metropolitano do Rio de Janeiro 2.1.2 Localização do Segmento em Estudo O traçado do segmento C, que compreende os Lotes de 1 a 4, tem início na interseção entre a BR-040 e o ramo norte da BR-116 (sentido Magé), no município de Duque de Caxias. A partir daí, o traçado prossegue, até interceptar a RJ-111 ao sul da Vila de Cava. O traçado prossegue na direção oeste, paralelo ao ramal de Japeri do Trem Metropolitano da Supervia, cruzando as rodovias RJ-119 e RJ-093, entre o centro de Japeri e Engenheiro Pedreira. Desse ponto em diante, atravessa o Rio Guandu, adentrando o município de Seropédica, seguindo até a interseção com a BR-116 (Sul). Em seguida cruza a BR-465, antiga Rio – São Paulo, nas proximidades da Floresta Nacional Mário Xavier. Deste ponto, o traçado se desenvolve na direção sudoeste, atravessando, pela parte oeste, o Município de Seropédica e transpondo o Rio Piranema. Prosseguindo na mesma direção atravessando a região de Chapecó, já na divisa com o município de Itaguaí, o traçado transpõe o Córrego Eufrásia e o Rio Mazomba, infletindo para sul. Corre paralelo à encosta da Serra da Mazomba, em seu trecho final, atravessando o Canal Santo Antônio e o Rio Mazomba e cruzando a rodovia BR-101 já na altura do acesso ao Porto de Itaguaí. 66 2.2 Concepções do Projeto Geotécnico para os Trechos Instrumentados com a Presença de Solos Compressíveis O projeto geotécnico da região em estudo foi desenvolvido pelo Consórcio CONCREMAT Engenharia e Tecnologia S/A – TECNOSOLO Engenharia S/A, segundo Normas, Especificações e Instruções de Serviço em vigor no DNIT e FUNDERJ. Diversos estudos, que consistiam em investigações geotécnicas, análises e interpretação de resultados, análises de recalque e estabilidade dos aterros e de taludes de corte, subsidiaram a especificação do processo construtivo e a concepção de soluções para os taludes de cortes e aterros, fundações, obras de arte especiais e correntes, entre outros. As soluções indicadas no Projeto Geotécnico para a execução dos aterros sobre solos moles consistiram basicamente em 3 tipos: trechos com remoção de solos moles, trecho de aterro reforçado com bermas e trecho de aterro reforçado sobre drenos, construído em etapas e bermas. Para os trechos onde as sondagens de projeto não identificaram a presença de solos moles, foram previstas soluções de aterros convencionais e/ou trechos sem a necessidade de intervenção. As soluções para aterros executados sobre solos compressíveis são brevemente descritas a seguir. • Trechos com remoção de solos moles Nos trechos onde as investigações geotécnicas identificaram a ocorrência de camadas argilosas muito moles, com espessuras menores ou iguais a 3,0 m, a solução indicada foi a remoção da camada compressível e posterior substituição com material arenoso ou pó de pedra, como mostra a Figura 21. 67 Figura 21 - Aterros com Remoção de Solos Moles (Projeto Arco Metropolitano do Rio de Janeiro) • Trechos de aterro reforçado sobre drenos, construído em etapas e associado a bermas Nos trechos onde as investigações de campo revelaram camadas de argila siltosa muito mole a mole, compressível, com espessuras acima de 4,0 m, a solução proposta foi a utilização de geodrenos para aceleração dos recalques, associados à construção de bermas para garantir o equilíbrio e reforço com geogrelha de 400 kN/m. A Figura 22 apresenta detalhes desta solução. 68 Figura 22 - Aterros sobre Drenos, construídos em Etapas e Bermas (Projeto Arco Metropolitano do Rio de Janeiro) • Trechos de aterro reforçado com bermas Esta solução foi adotada nos trechos onde as investigações indicaram camadas de argila siltosa ou arenosa, mole a média, compressível a pouco compressível, com alturas de aterros variáveis. As bermas são construídas com o objetivo de garantir a estabilidade dos aterros, e o reforço restringe os deslocamentos horizontais. A solução proposta está apresentada na Figura 23. Conforme preconizado em projeto, a geogrelha utilizada na execução do reforço do solo deve possuir resistência à tração longitudinal de 400 kN/m. 69 Figura 23 - Aterros Reforçados com Bermas (Projeto Arco Metropolitano do Rio de Janeiro) Na execução de obras de terraplenagem, considerou-se a execução de um espalhamento inicial de um aterro de trabalho (aterro de conquista) de 50 cm de espessura mínima, nos trechos de afloramento de camadas compressíveis, a fim de garantir uma capacidade de suporte mínima para as máquinas e os equipamentos. Cabe ressaltar que, em alguns trechos, não houve necessidade de intervenção, uma vez que não foi detectada a presença de argila mole. 2.3 Instrumentação de Campo - Definições A instrumentação de campo permite o monitoramento do desempenho dos aterros sobre solos compressíveis. Quando realizada com os devidos cuidados na instalação dos instrumentos e na coleta de dados, a instrumentação fornece leituras bastante representativas e possibilita: • Monitorar as poropressões geradas durante as etapas de construção, e a velocidade de dissipação; 70 • Acompanhar e avaliar os deslocamentos horizontais e a evolução dos recalques que ocorrerão durante e após a execução dos aterros sobre solos moles; • Monitorar a estabilidade da obra em casos críticos; • Verificar a acurácia de métodos de projeto e realizar determinação e/ou aferição dos parâmetros representativos do subsolo, possibilitando ainda estabelecer recomendações para obras futuras (Nacci e Schnaid, 2001); • Verificar a adequação do método construtivo, com possibilidade de ajuste dos parâmetros geotécnicos adotados na elaboração do projeto. Vale lembrar que a eficácia de um programa de instrumentação de campo está diretamente relacionada com o cuidado durante a instalação dos instrumentos e com o acompanhamento constante das leituras, que permite detectar eventuais problemas com a instrumentação. De posse das informações obtidas através das leituras de instrumentação, é possível verificar se as previsões de projeto e os parâmetros adotados estão compatíveis com as observações de campo, permitindo a previsão da evolução dos recalques, do processo de dissipação das poropressões, do ganho de resistência do solo de fundação com o tempo, e da consequente estabilidade dos aterros. Nacci e Schnaid (2001) ressaltam também a importância da instrumentação nas obras, sugerindo o monitoramento do processo de adensamento, devido às incertezas quanto à estimativa de parâmetros e dos riscos, oriundos da baixa resistência e alta compressibilidade dos depósitos de argilas moles. A retroanálise das leituras permite a estimativa do valor final de recalque e a determinação dos parâmetros de adensamento in situ, que refletem o desempenho da obra geotécnica (velocidade de deformação). No intuito de realizar o adequado monitoramento das etapas construtivas dos aterros que compõem a obra do Arco Metropolitano, a fim de acompanhar o desempenho e a evolução do processo de adensamento, foi adotada a instalação de inclinômetros, placas de recalques e bench marks, em determinados trechos onde as sondagens e demais estudos de projeto indicaram a presença de solos compressíveis. A finalidade básica dos instrumentos aplicados aos aterros da obra do Arco Metropolitano será descrita, de forma sucinta, a seguir. 71 • Bench Mark (Referência Profunda) O Bench Mark (Referência Profunda) é um instrumento utilizado para servir de referência de cotas no controle dos recalques (Figura 24). No empreendimento em questão, estes instrumentos foram instalados em furos de sondagem abertos, até o ponto indeslocável do solo, onde foram introduzidas hastes de ferro galvanizado e revestimento de tubos de PVC rígido. O Bench Mark recebe uma cabeça de leitura feita de bronze, similar à da placa de recalque. Figura 24 – Bench Mark (Adaptado do Projeto do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro) • Inclinômetro O inclinômetro é um instrumento utilizado para a medição dos deslocamentos horizontais (Figura 25). Realiza-se uma perfuração no maciço e instala-se o tubo de acesso do equipamento, contendo ranhuras ortogonais para direcionar o sensor 72 inclinométrico deslizante, segundo procedimentos preconizados em normas técnicas. O tubo de acesso deve ser de alumínio ou material plástico com, aproximadamente, 80 mm de diâmetro, contendo 4 ranhuras diametralmente opostas. Após sua instalação, são realizadas leituras constantes nas duas direções ortogonais. Ressalta-se que os tubos dos inclinômetros devem ser instalados ao longo de toda a profundidade de solo mole existente, mantendo o equipamento cravado com, no mínimo, 3 (três) metros abaixo da interface solo mole/solo resistente. Segundo informações dos Relatórios de Instrumentação fornecidos pelo Consórcio, o inclinômetro utilizado na medição dos deslocamentos horizontais é do tipo DIGITILT e a aquisição dos dados utiliza o DIGITILT DataMate com coletor automático de dados. Figura 25 – Inclinômetro (Adaptado do Projeto do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro) 73 Cuidados devem ser tomados durante a instalação dos tubos e realização das leituras. Tubos danificados, interna e externamente, devem ser descartados. O correto posicionamento das ranhuras e a verticalidade dos tubos do inclinômetro devem ser sempre verificados durante a instalação. A certificação do eixo em que se está fazendo a leitura, a espera do tempo para equalização das medidas e a correta inserção da sonda no furo devem ser observados constantemente. A Figura 26 mostra um dos inclinômetros instalados em campo, fotografado durante a realização das leituras de rotina. A Figura 27 ilustra a fase de instalação de inclinômetros. Figura 26 – Inclinômetro instalado no Lote 1 - Arco Metropolitano do Rio de Janeiro 74 Figura 27 – Instalação de Inclinômetros - Arco Metropolitano do Rio de Janeiro • Placa de Recalque A placa de recalque permite a observação dos deslocamentos verticais do solo de fundação, em função do alteamento dos aterros. Tal instrumento é instalado na interface fundação-aterro, antes das etapas de lançamento dos aterros e consiste em uma placa de aço com dimensões de 0,50 m x 0,50m (ou 1,00 m x 1,00 m), com espessura de 3,0 mm aproximadamente, adequadamente nivelada, possuindo uma haste central (Figura 28). São acopladas novas hastes às existentes, conforme o crescimento das cotas de aterro. Deve-se manter constantemente uma rotina de leituras dos valores de altura de aterro em campo, para se ter um efetivo monitoramento do maciço e evitar o surgimento de futuros problemas geotécnicos. Através das leituras e análises dos dados fornecidos pelas placas de recalque, pode-se avaliar o processo de adensamento dos aterros ao longo do tempo. A pintura dos tubos é recomendada, pois permite que se faça um monitoramento visual durante a execução da obra (Figura 29). 75 Figura 28 – Placa de Recalque (Adaptado do Projeto do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro) Figura 29 – Placa de Recalque instalada no Lote 1 - Arco Metropolitano do Rio de Janeiro Segundo recomendações de projeto, as leituras dos recalques devem ser realizadas de acordo com o andamento da obra, sendo definidas durante os trabalhos pela fiscalização. Recomenda-se que, durante as fases iniciais da obra, 76 sejam feitas três leituras semanais, sendo os deslocamentos comparados com os recalques previstos durante o projeto executivo. Com base no resultado da análise comparativa, devem ser feitos ajustes nos projetos e, consequentemente, alterações no tempo de execução dos aterros podem vir a ser necessárias. Sugere-se, ainda, a implantação de dois marcos topográficos para a referência do nível das placas. Em substituição à instalação dos marcos topográficos, pode-se instalar Bench Marks, que devem ser colocados em locais estratégicos, no material resistente da base do solo mole. Destaca-se que os instrumentos devem ser convenientemente protegidos contra eventuais danos que possam ocorrer durante as etapas de lançamento dos aterros, uma vez que esses instrumentos são instalados em etapa anterior ao fim dos trabalhos de terraplenagem. Durante a vida útil dos instrumentos, a proteção contra a ação de animais e de possíveis atos de vandalismos também deve ser realizada (Figura 30). Figura 30 – Animais próximos à área das Placas de Recalque 77 2.4 Aterros Instrumentados O Lote 1 compreende 11 (onze) aterros instrumentados, que receberam as seguintes denominações: • Aterro 1; • Aterro 2; • Aterro 3; • Aterro 4; • Aterro 4A; • Aterro 5; • Aterro 6; • Aterro 6A; • Aterro 6B; • Aterro 6C; • Aterro 7. O traçado da rodovia apresenta trechos nos quais as pistas são contíguas e trechos onde as pistas se apresentam separadas por canteiro central ou muretas divisórias. Cada pista apresenta 2 faixas de tráfego. No projeto foram considerados 3 eixos, sendo eles: central, o da pista esquerda e o da pista direita. Considerando que os instrumentos foram instalados em trechos de construção de pistas distintas, as placas e inclinômetros receberam as seguintes nomenclaturas: • PRPD: Placa de Recalque da Pista Direita; • PRPE: Placa de Recalque da Pista Esquerda; • INPD: Inclinômetro da Pista Direita; • INPE: Inclinômetro da Pista Esquerda; Considerando os levantamentos de Campo e, de posse das informações contidas nos Relatórios de Acompanhamento da Instrumentação Geotécnica – Lote 1 (de Junho de 2010 a Novembro de 2011), foram instalados 287 instrumentos, no total, sendo 272 placas de recalque e 15 inclinômetros, distribuídos da forma 78 apresentada na Figura 31 a Figura 48. Ressalta-se que a distância entre estacas definida em projeto foi de 20 metros. Figura 31. Localização das Placas no Aterro 1 79 Figura 32. Localização das Placas no Aterro 2 80 Figura 33. Localização das Placas no Aterro 3 - Pista Esquerda 81 Figura 34. Localização das Placas no Aterro 3 - Pista Direita 82 Figura 35. Localização das Placas no Aterro 4 - Pista Esquerda 83 Figura 36. Localização das Placas no Aterro 4 - Pista Direita 84 Figura 37. Localização das Placas no Aterro 4A - Pista Esquerda 85 Figura 38. Localização das Placas no Aterro 4A - Pista Direita 86 Figura 39. Localização das Placas no Aterro 5 - Pista Esquerda 87 Figura 40. Localização das Placas no Aterro 5 - Pista Direita 88 Figura 41. Localização das Placas nos Aterros 6 e 6A - Pista Esquerda 89 Figura 42. Localização das Placas nos Aterros 6 e 6A - Pista Direita 90 Figura 43. Localização das Placas no Aterro 6B - Pista Esquerda 91 Figura 44. Localização das Placas no Aterro 6B - Pista Direita 92 Figura 45. Localização das Placas no Aterro 6C - Pista Esquerda 93 Figura 46. Localização das Placas no Aterro 6C - Pista Direita 94 Figura 47. Localização das Placas no Aterro 7 - Pista Esquerda 95 Figura 48. Localização das Placas no Aterro 7 - Pista Direita 96 A Figura 49 apresenta uma foto da execução das atividades de terraplenagem e construção dos aterros. Figura 49 – Execução das atividades de terraplenagem e lançamento dos aterros – Arco Metropolitano do Rio de Janeiro 2.5 Considerações Finais Este capítulo teve por finalidade caracterizar e delimitar a área em estudo do presente trabalho, buscando apresentar ainda, em linhas gerais, os aspectos necessários à compreensão da instrumentação de campo instalada no empreendimento. A partir das leituras frequentes das placas de recalque, é possível realizar a análise do comportamento dos aterros durante o processo construtivo. Os capítulos subsequentes apresentam as análises da instrumentação de campo, e a simulação numérica do processo construtivo dos aterros, buscando-se estabelecer parâmetros representativos do solo compressível. 22020 3 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DA INSTRUMENTAÇÃO DE CAMPO O presente capítulo visa apresentar a análise global das leituras fornecidas pela instrumentação de campo (entre os meses de junho de 2010 e novembro de 2011) dos aterros do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro. Tendo em vista a magnitude da obra, a extensão dos aterros instrumentados e a grande quantidade de instrumentos instalados em campo, foram escolhidas as seções mais representativas do comportamento dos aterros para serem avaliadas analítica e numericamente. As seções escolhidas foram aquelas que apresentaram os deslocamentos verticais mais expressivos. Neste capítulo, os valores dos recalques reais de campo destas seções foram confrontados com os obtidos segundo o método de Asaoka (1978). Foram obtidos ainda valores para os parâmetros razão de compressão (CR) e coeficiente de adensamento (cv), a partir de retroanálises dos recalques reais e estimativas pelo método de Asaoka, respectivamente. 3.1 Análise Global dos Aterros Instrumentados O Arco Metropolitano do Rio de Janeiro possui 11 (onze) aterros instrumentados, conforme visto no item 2.4. Dada a extensão dos aterros, diferentes soluções geotécnicas foram propostas para estabilização dos recalques, como apresentado no item 2.2. A Tabela 7 a Tabela 17, apresentadas na sequência do texto, reúnem as soluções propostas para os diferentes trechos. É importante relembrar que o acompanhamento da evolução dos aterros foi possível a partir do fornecimento dos Relatórios de Acompanhamento da Instrumentação Geotécnica – Lote 1 pelo Consórcio Executor da obra. Nestes relatórios, foram fornecidos os registros de recalques e de cota de aterro ao longo do tempo, obtidos através das placas de recalque. Ressalta-se que, de acordo com informações de campo, alguns equipamentos de instrumentação geotécnica foram danificados durante a construção dos aterros, ocasionando alguns erros nas leituras, podendo comprometer a 98 qualidade da instrumentação. Estes danos podem ocorrer devido ao alto tráfego de máquinas, descuido na proteção dos instrumentos, entre outros. Durante as atividades acadêmicas de análise das leituras de instrumentação, alimentação do banco de dados e acompanhamento da rotina de campo, foi possível minimizar estas influências e melhorar a qualidade das informações a serem utilizadas no presente trabalho. Vale lembrar que houveram interrupções/paralisações nas atividades de lançamento de camadas de aterro em função de períodos prolongados de chuvas, entre outros fatores. A seguir será apresentada, de uma forma abrangente, a avaliação do comportamento dos aterros instrumentados do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro, após as análises dos resultados fornecidos pelas placas de recalque. • Análise do Comportamento dos Aterros 1 e 2 Nos Aterros 1 e 2, foram registrados deslocamentos verticais pouco expressivos (máximo de 8,0 cm), com registros de altura de aterro entre 0 (inexistência de lançamento de aterro) e 4,0 m. Estes resultados indicam a possível inexistência de solo mole compressível nesta região, ou a presença de camadas de pequena espessura. Na fase de projeto, a solução proposta para a região do Aterro 1 foi de aterro reforçado com bermas. No Aterro 2, as soluções propostas foram: aterro reforçado com bermas e aterro reforçado sobre drenos, construídos em etapas e bermas (Tabela 7 e Tabela 8). As sondagens executadas na fase de projeto indicaram espessuras de solo compressível variáveis em torno de 1 m e 2 m para a região do Aterro 1. Algumas sondagens também apontaram a inexistência de argila mole. Para a região do Aterro 2, boletins de sondagem mostram a presença de camadas compressíveis em torno de 4 m de espessura. 99 Tabela 7. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 1 Pista Direita (PRPD) Estaca Pista Esquerda (PRPE) Estaca 72E 87 52E 87 73E 88+05 53E 88+05 74E 89+10 54E 89+10 75E 90+15 55E 90+15 76E 92 56E 92 77E 93+05 57E 93+05 58E 94+10 59E 95+15 60E 97 Data de instalação Solução Trecho de aterro Agosto/2011 reforçado com bermas 78E 94+10 79E 95+15 80E 97 81E 98+05 61E 98+05 82E 99+10 62E 99+10 83E 100+15 63E 100+15 84E 102 64E 102 85E 103+05 65E 103+05 Data de instalação Solução Trecho de aterro Agosto/2011 reforçado com bermas Tabela 8. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 2 Pista Direita (PRPD) Estaca 86E 134 87E 135+05 88E 136+10 89E 137+15 90E 139 91E 140 92E 141+10 93E 142+15 94E 144 95E 145+05 Data de instalação Solução Trecho de aterro reforçado com bermas Trecho de aterro reforçado sobre drenos, Agosto/2011 construído em etapas e bermas Trecho de aterro reforçado com bermas Pista Esquerda (PRPE) Estaca 66E 134 67E 135+05 68E 136+10 69E 137+15 70E 139 71E 140 72E 141+10 73E 142+15 74E 144 75E 145+05 Data de instalação Solução Trecho de aterro reforçado com bermas Trecho de aterro reforçado sobre drenos, Agosto/2011 construído em etapas e bermas Trecho de aterro reforçado com bermas 100 • Análise do Comportamento do Aterro 3 Dentre os aterros instrumentados, o Aterro 3 foi um dos primeiros a ser monitorado e a fornecer registros de recalques significativos. Na pista direita, foram medidos recalques máximos de 1,24 m na placa PRPD-11. Na pista esquerda, a placa PRPE-06 forneceu recalques elevados, da ordem de 1,30 m. De um modo geral, os recalques mostraram-se estáveis 4 meses após o lançamento de camadas de aterro. As sondagens complementares e de projeto executadas no local indicaram a presença de espessuras de solo mole variando na faixa de 4 a 7,5 m. Na fase de projeto, as soluções propostas para a região do Aterro 3 foram de aterro reforçado com bermas e aterro reforçado sobre drenos, construídos em etapas e bermas (Tabela 9). Os resultados detalhadamente no das placas presente PRPD-11 trabalho, e PRPE-06 buscando-se foram definir analisados parâmetros representativos da argila mole. • Análise do Comportamento do Aterro 4 Neste aterro, as placas também apresentaram recalques expressivos: na pista direita, foram medidos recalques máximos de 1,37 m na PRPD-29; e na pista esquerda, a placa PRPE-25 forneceu recalques elevados, de 1,33 m. Observou-se que o tempo para estabilização dos recalques foi da ordem de 3 meses, aproximadamente. As espessuras de solo mole definidas a partir das sondagens executadas na fase de projeto variam entre 1,5 m e 8,5 m, aproximadamente. Os resultados fornecidos pelas placas PRPD-29 e PRPE-25 serão analisados nos itens subsequentes. Na região do Aterro 4 foi proposta a solução de aterro reforçado sobre drenos, construídos em etapas e bermas (Tabela 10). 101 Tabela 9. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 3 PLACAS DE RECALQUE Pista Direita (PRPD) Estaca Pista Esquerda (PRPE) Estaca 05 253 01 255 06 254 02 256 07 255 03 257 08 256 04 258 09 257 05 259 10 258 06 260 11 259 07 261 12 260 08 262 13 261 09 264 14 262 11 270 15 263 12 273 16 264 13 276 17 266 14 280 19 270 - - - - 20 272 - - - - 21 274 - - - - - - - - - - - - - - - - 22 276 23 278 24 280 Data de instalação Solução Julho/2010 Trecho de aterro reforçado sobre drenos, Junho/2010 construído em etapas e bermas Julho/2010 Trecho de aterro reforçado com bermas Data de instalação Solução Trecho de aterro Junho/2010 reforçado sobre drenos, construído em etapas e bermas Agosto/2010 Trecho de aterro reforçado com bermas 102 Tabela 10. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 4 PLACAS DE RECALQUE Pista Direita (PRPD) Estaca 26 297 27 298 28 299 Data de instalação da placa Julho/2010 Solução Trecho de aterro reforçado sobre drenos, construído em etapas e bermas Pista Esquerda Estaca (PRPE) 16 290 17 291 18 292 19 293 20 294 21 295 29 300 30 301 31 302 - - - - 22 296 - - - - 23 297 - - - - 24 298 - - - - 25 299 - - - - 26 300 08 300 - - 07 295 Data de instalação da placa Julho/2010 Solução Trecho de aterro reforçado sobre drenos, construído em etapas e bermas Agosto/2010 - - - - 08 298 • Análise do Comportamento do Aterro 4A O Aterro 4A situa-se no trecho do Rio D’Ouro. A instrumentação indica recalques máximos da ordem de 0,46 m. Durante o período em questão, os recalques mostraram-se estáveis. As espessuras de solo mole definidas a partir das sondagens mais próximas executadas na fase de projeto para a região são da ordem de 4 m, aproximadamente. Os valores medidos de recalque foram pouco expressivos para espessuras de solo mole desta magnitude, o que, de certa forma, contraria as premissas de projeto. Na fase de projeto, as soluções propostas para a região do Aterro 4A foi de aterro reforçado com bermas (Tabela 11). 103 Tabela 11. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 4A ATERRO 4A PLACAS DE RECALQUE Pista Direita (PRPD) Estaca Data de Pista instalação Solução Esquerda da placa (PRPE) 27E 400 28E 405 29E 409+10 - - - - - - Trecho de aterro Maio/2011 reforçado com bermas Estaca 16E 397 17E 400 18E 403 - 19E 405 - 20E 407 Data de instalação Solução da placa Trecho de aterro Maio/2011 reforçado com bermas • Análise do Comportamento do Aterro 5 Neste aterro, de acordo com as informações do relatório de instrumentação geotécnica fornecido pelo Consórcio, houve um lançamento de 2,0 m de sobrecarga temporária. Observou-se uma estabilização rápida dos recalques, sendo este fato um indicativo de que o solo de fundação pode não ser composto por argila mole. Ressalta-se que, de acordo com a última leitura fornecida pelo Consórcio executor da obra, o trecho foi liberado para os serviços de terraplenagem, a instrumentação já foi retirada e o aterro encontra-se concluído. As espessuras de solo mole definidas a partir das sondagens disponíveis executadas na fase de projeto são da ordem de 2 m. No entanto, os valores de recalques obtidos através dos registros das placas instaladas neste aterro foram inexpressivos, entre 1,5 cm a 10 cm. Na fase de projeto, as soluções propostas para a região do Aterro 5 foi de aterro reforçado com bermas (Tabela 12). 104 Tabela 12. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 5 PLACAS DE RECALQUE Pista Direita (PRPD) Estaca Data de instalação da placa Pista Solução Esquerda (PRPE) 36 438 21A 434 37 439 22A 435 38 440 23A 436 39 441 24A 437 40 442 25A 438 41 443 26A 439 42 444 - - - - 43 445 - - - - 44 446 - - - - 45 447 - - - - 46 448 - - - - 47 449 - - - - Trecho de aterro Outubro/2010 reforçado com bermas Estaca Data de instalação da placa Solução Trecho de aterro Outubro/2010 reforçado com bermas • Análise de Comportamento do Aterro 6 O Aterro 6 apresentou registros de recalques entre 2 cm a 68 cm. Esta grande variação dos valores de recalque se deve ao fato de que algumas placas inseridas neste aterro situam-se em trechos onde há ausência de solos compressíveis, registrando valores inexpressivos de recalque. As sondagens indicaram espessuras de solo mole bastante variáveis, entre 1,5 m e 6,8 m. Na fase de projeto, as soluções propostas para a região do Aterro 6 foram de aterro reforçado com bermas; aterro reforçado sobre drenos, construídos em etapas e bermas; aterro convencional e trecho com remoção de solos moles (Tabela 13). 105 Tabela 13. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 6 PLACAS DE RECALQUE Pista Direita Estaca (PRPD) 48 499 49 500 50 501 51 502 52 503 53 512 54 513 55 514 Data de instalação da placa Pista Solução Esquerda Estaca (PRPE) Trecho de aterro Novembro/2010 reforçado com bermas Julho/2011 Trecho de remoção de solos moles 27 496 28 497 29 498 30 499 31 500 32 501 33 502 34 505 Data de instalação da placa Trecho de aterro reforçado com bermas Novembro/2010 Julho/2011 - - - - 35 506 Solução Trecho de aterro reforçado sobre drenos, construído em etapas e bermas Aterro Convencional • Análise do Comportamento do Aterro 6A e 6B Estes aterros apresentaram faixas de recalques situadas entre 0 cm e 42 cm, para alturas de aterro entre 1,1 m e 3,7 m. Nesta região, as espessuras de solo mole compressível são da ordem de 1 m a 6 m, aproximadamente. As soluções propostas para o Aterro 6A foram: aterro reforçado sobre drenos, construídos em etapas e bermas; trecho com remoção de solos moles; aterro convencional e trechos sem a necessidade de intervenção (Tabela 14). Para o Aterro 6B, as soluções de projeto adotadas foram de aterro convencional e de aterro reforçado com bermas, como indica a Tabela 15. 106 Tabela 14. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 6A PLACAS DE RECALQUE Pista Direita (PRPD) Estaca 48E 525 49E Data de instalação da placa Trecho de aterro reforçado sobre drenos, construído em etapas e bermas 530 50E 535 51E 540 52E Solução Abril/2011 Pista Esquerda (PRPE) Estaca 27E 520 28E 530 30E 535 545 31E 540 53E 550 32E 545 - - 33E 549 - - Solução Trecho de remoção de solos moles 525 29E Aterro Convencional Data de instalação da placa Trecho de aterro reforçado sobre drenos, Abril/2011 construído em etapas e bermas Aterro Convencional s/ necessidade de intervenção Tabela 15. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 6B PLACAS DE RECALQUE Pista Direita (PRPD) Estaca 55E Data de instalação da placa Pista Esquerda (PRPE) Estaca 560 35E 556 56E 561 36E 557 57E 562 37E 558 58E 563 38E 559 39E 560 Junho/2011 Solução Aterro Convencional 59E 565 60E 568 40E 562 61E 570 41E 565 62E 572 42E 567 Data de instalação da placa Solução Trecho de aterro Junho/2011 reforçado com bermas 107 • Análise do Comportamento dos Aterros 6C e 7 Os Aterros 6C e 7 apresentaram recalques acumulados máximos de pequena magnitude, da ordem de 7 cm na PRPE-45E, para aterros de 2,0 m de altura. Estes aterros são os mais recentes e não serão analisados na presente dissertação, uma vez que foram lançadas poucas camadas de aterro até a presente data. Ressalta-se que, de acordo com a última leitura fornecida pelo Consórcio executor da obra, o trecho foi liberado para os serviços de terraplenagem, a instrumentação já foi retirada e o aterro encontra-se concluído. As soluções propostas para o Aterro 6C foram: aterro reforçado com bermas e aterro convencional (Tabela 16). Para o Aterro 7, as soluções de projeto adotadas foram: aterro convencional; aterro reforçado com bermas; trecho de remoção de solos moles; trechos sem a necessidade de intervenção; aterro reforçado sobre drenos, construído em etapas e bermas (Tabela 17). Tabela 16. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 6C PLACAS DE RECALQUE Pista Direita (PRPD) Estaca 63E Data de instalação da placa Pista Esquerda (PRPE) Estaca 626 43E 646 64E 631 44E 647 65E 636 45E 648+10 66E 641 46E 650 67E 646 47E 651 68E 651 48E 652 69E 656 49E 653+10 70E 661 50E 655 71E 666 51E 656 Solução Trecho de aterro reforçado Agosto/2011 com bermas Aterro Convencional Data de instalação da placa Solução Agosto/2011 Aterro Convencional 108 Tabela 17. Soluções de estabilização adotadas no Aterro 7 ATERRO 7 PLACAS DE RECALQUE Pista Direita Estaca (PRPD) 96E 686 Data de instalação da placa Solução Pista Data de Esquerda Estaca instalação (PRPE) da placa 76E 682 97E 687 77E 683 98E 688 78E 684 99E 689 79E 685 101E 691 80E 686 102E 692 83E 690 103E 693 84E 691 104E 694 85E 692 105E 695 86E 693 107E 698 89E 698 108E 699 90E 699 109E 700 91E 700 110E 701 92E 701 111E 702 93E 702 112E 703 94E 703 113E 704 95E 704 114E 705 96E 705 115E 706 97E 706 116E 707 98E 707 Setembro/ 2011 Trecho de aterro reforçado com bermas Agosto/ 2011 trecho de remoção de solos moles 117E 708 99E 708 118E 709 100E 709 119E 710 101E 710 120E 711 102E 711 121E 712 103E 712 126E 730 104E 713 127E 731 Trecho de aterro reforçado com bermas 105E 714 128E 732 s/ necessidade de intervenção 106E 715 129E 733 107E 716 130E 734 108E 717 131E 735 109E 718 132E 736 110E 719 133E 737 111E 720 134E 738 112E 721 135E 739 113E 722 136E 740 114E 723 137E 741 115E 724 138E 742 aterro convencional 116E 725 - - - - 117E 726 - - - - 118E 727 - - - - 119E 728 - - - - 120E 729 - - - - 121E 730 - - - - 124E 734 - - - - 125E 735 - - - - 126E 736 - - - - 127E 737 - - - - 128E 738 - - - - 129E 739 Setembro/ 2011 Trecho de aterro reforçado com bermas Solução Trecho de aterro reforçado com bermas Setembro/ 2011 Trecho de aterro reforçado sobre drenos, construído em etapas e bermas Agosto/ 2011 Trecho de aterro reforçado com bermas Setembro/ 2011 aterro convencional 109 3.2 Definição das Seções Representativas do Estudo A análise detalhada dos resultados registrados em todas as placas de recalques instaladas ao longo dos 11 aterros instrumentados permitiu a definição das seções que apresentaram os resultados mais expressivos e representativos. A escolha levou em consideração fatores como: • Apresentação de recalques significativos; • Controle da altura das camadas de aterro lançadas durante a fase de execução; • Qualidade dos dados fornecidos pela instrumentação; • Confiabilidade nos instrumentos. As seções adotadas para o presente estudo contemplaram placas inseridas em trechos com e sem a presença de geodrenos verticais para a aceleração de recalques, e estão reunidas na Tabela 18. Tabela 18 – Seções analisadas no presente estudo com as respectivas placas de recalque Descrição do trecho Trecho com a presença de geodrenos verticais Trecho sem a presença de geodrenos verticais Placa Aterro PRPD-11 3 PRPD-29 4 PRPD-49E 6A PRPE-06 3 PRPE-25 4 PRPE-32 6 PRPD-21 3 PRPD 49 6 PRPD-50 6 PRPD-28E 4A PRPD-29E 4A PRPE-18E 4A PRPE-19E 4A PRPE-20E 4A Neste capítulo, serão realizadas análises distintas para trechos com a presença de geodrenos e sem a presença de geodrenos: 110 1. As placas inseridas em trechos com a presença de geodrenos verticais terão os valores de recalques finais reais confrontados com as previsões de recalques segundo o método de Asaoka (1978). Para estas seções, serão obtidos, também, os valores da Razão de Compressão (CR), a partir de retroanálises, segundo a equação de cálculo de recalques para a fase de adensamento primário (Eq. 6). 2. As placas inseridas em trechos sem a presença de geodrenos verticais também terão os valores de recalques finais reais confrontados com as previsões de recalques segundo o método de Asaoka (1978). Adicionalmente, foi determinado o coeficiente de adensamento vertical (cv), segundo o método de Asaoka (1978). 3.3 Previsão dos Recalques Finais para as Seções Representativas do Estudo: Método de Asaoka (1978) Os resultados de recalques reais finais de campo obtidos pelos registros das placas de recalque das seções representativas do estudo foram confrontados com os valores dos recalques finais obtidos a partir do método de Asaoka (1978). Conforme pode ser observado na Tabela 19, a magnitude dos recalques finais primários estimados através do método de Asaoka foram compatíveis com os valores finais de campo, com erro máximo de 7,14%. Isto demonstra que este método é válido e bastante útil nas estimativas de recalques finais, apresentando resultados satisfatórios, principalmente quando os registros das placas de recalque atingem 60% do adensamento. Ressalta-se que o valor do erro, apresentado na Tabela 19, foi definido como: 111 Erro = ρ Asaoka − ρreal ρreal (16) Onde: ρAsaoka = recalque estimado pelo método de Asaoka; ρreal = recalque final medido pela placa de recalque. Tabela 19 – Valores dos recalques finais de campo: registros da instrumentação versus Método de Asaoka (1978) Recalque Final (cm) Placa Seções com Drenos Seções sem Drenos Estaca Erro (%) Instrumentação Asaoka PRPD-11 259 124 125 + 0,80 PRPD-29 300 137 138 + 0,72 PRPD-49E 530 42 43 + 2,38 PRPE-06 260 128 129 + 0,78 PRPE-25 299 133 134 + 0,75 PRPE-32 501 58 59 + 1,72 PRPD-21 274 82 83 + 1,21 PRPD-49 500 68 70 + 2,94 PRPD-50 501 58 60 + 3,44 PRPD-28E 405 42 45 + 7,14 PRPD-29E 409+10 40 40 0 PRPE-18E 403 46 47,5 + 3.26 PRPE-19E 405 45 45,5 + 1,11 PRPE-20E 407 44 44,5 + 1,14 3.4 Análise das Seções Representativas Inseridas em Trechos com a Presença de Geodrenos 112 3.4.1 Discussão dos Resultados da Instrumentação de Campo: Seções com Geodrenos A Figura 50 a Figura 55 apresentam os resultados fornecidos pelas diferentes placas de recalque analisadas no estudo das seções que apresentam geodrenos (PRPD-11, PRPD-29, PRPD-49E, PRPE-06, PRPE-25 e PRPE-32). Os dados de instrumentação da placa PRPD-11 (Figura 50), localizada no Aterro 3, mostram que as cotas inicial e final do aterro foram de 6,15 m e 11,0 m, respectivamente, o que representa 4,85 m de aterro. Para esta altura de aterro lançada, o recalque máximo obtido foi de 1,24 m. Observa-se que os valores de recalque apresentam uma rápida tendência à estabilização, em função da presença de geodrenos. Vale ressaltar ainda que o gráfico da placa PRPD-11 apresentou descontinuidade nas leituras finais de recalques. Tal fato se deve à ocorrência de intervalos maiores na coleta de dados de campo, ou melhor, dos registros das placas de recalques. Os dados de instrumentação da placa PRPD-29 (Figura 51), localizada no Aterro 4, indicam uma altura final de aterro igual a 4,35 m, com cota inicial de 6,35 m e cota final igual a 10,7 m. O recalque máximo, medido para esta altura de aterro, e já estabilizado, foi de 1,37 m. Novamente, observa-se que os recalques estabilizam rapidamente (cerca de 2 meses), tendo em vista a presença dos geodrenos. Ressalta-se ainda que o gráfico da placa PRPD-29 também apresentou descontinuidade nas leituras finais de recalques. 113 Figura 50 – Recalque e cota de aterro versus tempo:Placa de Recalque PRPD-11 Figura 51 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPD-29 114 A Figura 52 apresenta a evolução dos recalques ao longo do tempo, juntamente com o processo de alteamento do aterro, fornecidos pela placa PRPD49E (Aterro 6A). A instrumentação indica recalque máximo de 0,42 m, para uma altura final de aterro de 2,7 m (cota inicial do aterro igual a 3,8 m e cota final igual a 6,5 m). Vale lembrar que o aterro 6A é um dos aterros com lançamento de camadas mais recente. Figura 52 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPD-49E Na Figura 53, são apresentados os registros de recalques e cotas de aterro em função do tempo, fornecidos pela placa PRPE-06, localizada no Aterro 3. Observa-se que aterro apresentava cota inicial de 6,1 m, atingindo a cota 10,7 m. Para uma altura de aterro lançada de 4,6 m, a placa de recalque registrou recalques de 1,28 m. ` Os registros da placa de recalque PRPE-25, localizada no Aterro 4, estão apresentados na Figura 54. Os resultados mostram que o aterro atinge a altura de 5,2 m, provocando recalques máximos de 1,33 m, já estabilizados em função da presença dos geodrenos. O gráfico da placa PRPE-25 apresentou descontinuidade nas leituras finais de recalques, a partir do registro de recalque de 43 cm. Isso se 115 deve à ocorrência de intervalos maiores na coleta de dados de campo, como já salientado. Figura 53 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPE-06 Figura 54 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPE-25 116 Os dados de instrumentação da placa PRPE-32 (Figura 55), localizada no Aterro 6, mostram que o aterro apresentava cota inicial igual a 4,0 m atingindo a cota final de 9,0 m após o alteamento. O recalque máximo obtido foi de 0,58 m, para uma altura de aterro lançada de 5,0 m. Observa-se que todos os gráficos apresentam descontinuidades nas leituras finais de recalques, em função de maiores intervalos entre as leituras. Figura 55 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPE-32 Tendo em vista que todas as seções que apresentam geodrenos mostram recalques estabilizados, é possível determinar a razão de compressão (CR), a partir do conhecimento do estado inicial de tensões in situ. 3.4.2 Retroanálise dos Recalques Finais de Campo para a Obtenção de CR Como elucidado anteriormente, no presente subitem, discute-se a obtenção do parâmetro denominado Relação de Compressão (CR), através de retroanálises 117 realizadas a partir dos registros dos valores de recalques finais das placas adotadas no presente estudo, situadas em trechos dos aterros contendo drenos verticais (item 3.2). Para a obtenção da relação de compressão CR = Cc , foi utilizada a 1 + eo seguinte equação para cálculos de recalques na fase de adensamento primário: ρ = Ho . σ' Cc . log vf 1 + eo σ'vo (18) Substituindo na equação anteriormente citada, os valores das tensões inicial e final, espessura da camada compressível, e o valor do recalque final estabilizado registrado pela placa, obtém-se o valor da Relação de Compressão (CR). Os valores de espessuras de camada de argila mole (Ho) foram obtidos a partir da interpretação das sondagens de projeto e sondagens complementares disponíveis. Vale ressaltar que a adoção do valor de Ho = 3,65 m para a placa PRPD 49E (estaca 530) foi obtido através da média de valores de espessuras de argila mole para as estacas disponíveis mais próximas (sondagem da estaca 528+05-Pista Esquerda e sondagem da estaca 533+10-Pista Direita). A Tabela 20 mostra os resultados das retroanálises realizadas, com os valores obtidos para o parâmetro CR. Tabela 20 - Obtenção de CR a partir de retroanálises em trechos com a presença de geodrenos Placa de Recalque Estaca Recalque Final (cm) Sondagem Ho (m) Altura Final de Aterro lançada (m) Tensões CR σ'vi σ'vf PRPD 11 259 124 4,60 6,10 15,90 125,70 0,30 PRPD 29 300 137 7,90 5,70 20,85 123,45 0,22 PRPD 49E 530 42 3,65 3,15 14,47 71,17 0,17 PRPE 6 260 128 7,50 5,90 20,25 126,45 0,21 PRPE 25 299 133 8,90 6,50 22,35 139,35 0,19 PRPE 32 501 58 4,00 5,60 15,00 115,80 0,16 118 Observa-se que os valores obtidos situaram-se em uma faixa de 0,16 a 0,22. Existe apenas um único resultado fora desta faixa, sendo de 0,30. A Figura 56 confronta a faixa de valores de CR obtida a partir das retroanálises, com os valores encontrados na literatura. De um modo geral, a retroanálise forneceu valores inferiores de compressibilidade, quando comparado com os valores encontrados na literatura para a Baixada Fluminense. Também observa-se que a faixa retroanalisada para a região do empreendimento não compreende a maioria dos valores de CR obtidos nos ensaios de projeto do Arco Metropolitano – Lote 1. Figura 56 – Confronto entre os valores de CR obtidos por retroanálise e dados da literatura 3.5 Análise das Seções Representativas Inseridas em Trechos sem a Presença de Geodrenos 119 3.5.1 Discussão dos Resultados da Instrumentação de Campo: Seções sem Geodrenos A Figura 57 a Figura 64 apresentam os resultados das placas de recalque instaladas nas seções sem geodrenos (PRPD-21, PRPD-49, PRPD-50, PRPD-28E, PRPD-29E, PRPE-18E, PRPE-19E e PRPE-20E), que serão analisadas no presente item. Os dados de instrumentação da placa PRPD-21 (Figura 57), instalada no Aterro 3, mostram que a cota do aterro se iniciou em torno de 5,9 m, atingindo o valor de 10 m. O recalque máximo obtido para esta altura de aterro (4,1 m) foi de 0,82 m. Como observado para outras placas, o gráfico da placa PRPD-21 também apresentou descontinuidade nas leituras finais de recalques, o que mostra uma menor frequência nas leituras de recalques. Figura 57 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPD-21 120 A Figura 58 apresenta os registros de recalques e cotas de altura de aterro em função do tempo para a placa PRPD-49, instalada no Aterro 6. Os resultados mostram que as cotas inicial e final de aterro eram de 3,7 m e 7,8 m, respectivamente, correspondendo a uma altura final de 4,1 m. O recalque máximo obtido foi de 0,68 m. Figura 58 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPD-49 Os dados de instrumentação da placa PRPD-50 (Figura 59), instalada no Aterro 6 indicam recalque máximo de 0,58 m para uma altura final de aterro de 4,3 m. As descontinuidades nas leituras finais de recalques são também observadas para esta placa. As leituras fornecidas pela placa PRPD-28E (Aterro 4A) mostram que o aterro atingiu a altura de 6,5 m, com cotas inicial e final de 5 m e 11,5 m, respectivamente. O recalque máximo medido foi de cerca de 0,42 m (Figura 60). Ressalta-se que a 121 variabilidade observada nos valores de recalque máximo das diferentes placas são decorrentes das diferentes espessuras de aterro dos trechos analisados. Figura 59 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPD-50 122 Figura 60 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPD-28E A Figura 61 apresenta os registros de recalques e cotas de altura de aterro em função do tempo da placa PRPD-29E (Aterro 4A). O aterro atingiu uma altura final de 4,5 m, provocando recalque máximo de 0,40 m. 123 Figura 61 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPD-29E Os dados de instrumentação da placa PRPE-18E (Aterro 4A) mostram que a cota do aterro se iniciou em torno de 5 m, atingindo o valor de 13,2 m. O recalque máximo correspondente obtido foi de 0,46 m (Figura 62). Finalmente, a Figura 63 e a Figura 64 apresentam os registros das placas PRPE-19E e PRPE-20E, respectivamente. Observa-se que a placa PRPE-19E (Figura 63) registra recalque máximo de 0,45 m para uma altura final de aterro de 7,1 m. Já a placa PRPE-20E (Figura 64) indica valores semelhantes de recalque final para uma altura de aterro de 6,1 m. 124 Figura 62 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPE-18E Figura 63 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPE-19E 125 Figura 64 – Recalque e cota de aterro versus tempo: Placa de Recalque PRPE-20E 3.5.2 Determinação de cv pelo Método de Asaoka O método de Asaoka (1978) é utilizado não somente para a estimativa de recalques finais, mas também é muito útil na estimativa do valor do coeficiente de adensamento (cv). Obtém-se, graficamente, o valor do ângulo β1 e, em seguida, por formulação numérica, tem-se o valor de cv (conforme a equação 11). A Tabela 21 apresenta os valores de cv obtidos através dos registros de recalque das placas localizadas em trechos sem a presença de drenos. Tal escolha se deve ao fato de que as seções que não contém geodrenos possuem a evolução de recalques primários condicionada à permeabilidade real do solo compressível. Nas seções com geodrenos, o adensamento é acelerado por drenagem radial. 126 Tabela 21 – Coeficiente de Adensamento (cv) Recalque Final (cm) Sondagem Ho (m) (⁰) 274 82 4,5 PRPD49 500 68 PRPD 50 501 PRPD 28E 405 β1 (rad) ∆t (ano) cv (m²/s) 14 0,244 0,055 1,72x10 4,9 30 0,524 0,055 9,36x10 58 4,9 30 0,524 0,055 9,36x10 42 1,7 30 0,524 0,041 1,50x10 PRPD 29E 409+10 40 6,7 9 0,157 0,041 6,68x10 PRPE 18E 403 46 7,8 36 0,628 0,041 2,27x10 PRPE 19E 405 45 2,0 27 0,471 0,041 2,41x10 PRPE 20E 407 44 5,9 24 0,419 0,041 2,43x10 Placa de Recalque Estaca PRPD 21 -6 -7 -7 -7 -6 -6 -7 -6 Figura 65 exemplifica a obtenção gráfica de cv pelo método de Asaoka, a partir dos registros de deslocamentos verticais em função do tempo, da placa de recalque PRPD-50. Figura 65 – Método gráfico de Asaoka para a placa de recalque PRPD-50 127 3.6 Considerações Finais Este Capítulo teve por finalidade apresentar uma análise global dos aterros instrumentados do Lote 1. Foram definidas como seções típicas do estudo aquelas nas quais se inserem as placas de recalque que apresentaram valores mais expressivos e confiáveis, reproduzindo com fidelidade as condições reais de campo. As previsões de recalques finais pelo método de Asaoka (1978) se mostraram bastante satisfatórias, quando confrontadas com os valores de recalques reais finais medidos em campo. O erro percentual obtido também foi baixo, com o valor mais expressivo de + 7,14 somente para uma das amostras. Os parâmetros cv e CR foram obtidos pelo método gráfico de Asaoka e por retroanálise dos recalques medidos, respectivamente. Observou-se que a faixa de valores de CR obtida através das retroanálises se apresentou baixa, quando comparado com as demais faixas pesquisadas na literatura para a região da Baixada Fluminense. No Capítulo 4, serão definidos os parâmetros geotécnicos do solo compressível, e apresentadas as análises e simulações numéricas para duas seções inseridas em trechos sem a presença de geodrenos. 22020 4 ANÁLISE NUMÉRICA DOS ATERROS INSTRUMENTADOS Este capítulo apresenta a simulação numérica de duas seções representativas dos aterros instrumentados, inseridas em trechos sem a presença de geodrenos. O objetivo consiste em avaliar a importância da escolha adequada dos parâmetros de compressibilidade na previsão do comportamento de aterros sobre solos compressíveis. Estas seções estão situadas em diferentes estações de monitoramento e apresentam espessuras de solo compressível e alturas de aterro distintas. A sequência construtiva dos aterros, representadas pelos perfis analisados destas duas seções, será reproduzida com o auxílio do programa computacional PLAXIS, de elementos finitos. Os resultados das análises numéricas serão confrontados com as medidas de campo e com os resultados analíticos previstos pela Teoria de Terzaghi (1943). Para a realização das análises numéricas e analíticas, é imprescindível a seleção de parâmetros geotécnicos confiáveis para a região na qual se insere o empreendimento em tela, a fim de se obter resultados mais próximos das condições reais de campo. A avaliação da qualidade das amostras utilizadas durante a fase de projeto foi efetuada, segundo os critérios de Lunne et al. (1997a), Coutinho et al.(2001) e Oliveira (2002). 4.1 Programa PLAXIS O software PLAXIS consiste em um programa que utiliza o Método de Elementos Finitos (MEF) e foi desenvolvido, especificamente, para a realização de análises de deformações e estabilidade de obras geotécnicas. As análises podem considerar a condição de axissimetria ou de deformação plana (Brinkgreve, 2002). 129 As aproximações baseadas no método dos deslocamentos, método de equilíbrio e método misto são usualmente utilizadas na resolução de um problema pelo MEF. No método dos deslocamentos, as incógnitas principais do problema são os deslocamentos, enquanto que no método de equilíbrio as incógnitas são as tensões. Já o método misto apresenta tanto os deslocamentos quanto as tensões como incógnitas. Assim como na prática da Engenharia, o programa PLAXIS permite a simulação de carregamentos e descarregamentos imediatos, ou em tempos préestabelecidos e a introdução de períodos de adensamento. A rotina de cálculo pode ser dividida em etapas, de forma a reproduzir fielmente o processo construtivo no campo. O programa PLAXIS possui sua estrutura computacional dividida, basicamente, em 4 (quatro) sub-programas, sendo eles: • INPUT: consiste em uma sub-rotina de entrada de dados; • CALCULATION: consiste na etapa de cálculos, a partir dos dados de entrada fornecidos na etapa de INPUT; • OUTPUT: fase de saída de resultados, já calculados; • CURVES: fase de obtenção de saídas gráficas (curvas de deslocamento, tensões ou poropressões ao longo do tempo), obtidas a partir de ponto(s) prédefinido(s) na malha de elementos finitos. Ressalta-se que, nesta fase, há a opção de se obter as saídas de dados em forma de tabelas. A utilização do PLAXIS é bastante prática, onde são definidas, inicialmente, as condições iniciais do problema, tais como a geometria/perfil a ser modelado, a inserção dos modelos constitutivos e parâmetros representativos dos solos, condições de contorno, etapas construtivas, levando-se em consideração, a presença ou ausência de água. No PLAXIS, a malha de elementos finitos é gerada automaticamente, com elementos de 6 ou 15 nós, podendo ser refinada local ou globalmente, de forma a atender aos interesses da modelagem. Malhas mais refinadas fornecem, em geral, resultados mais acurados. Segundo Lima (2007), nas etapas de construção, inseridas no sub-programa CALCULATE, pode-se utilizar as opções de atualização das poropressões e da 130 malha de elementos finitos. Recomenda-se a atualização das malhas em casos nos quais se prevê a ocorrência de grandes deformações, que, em geral, ocorrem em aterros convencionais sobre solos compressíveis. A matriz de rigidez é atualizada com base na geometria deformada da etapa. A opção de atualização das poropressões é utilizada no intuito de se introduzir o efeito da submersão dos materiais, o que resulta, normalmente, em uma redução da tensão efetiva atuante nas camadas compressíveis. No presente trabalho, o programa PLAXIS foi utilizado com a finalidade de reproduzir o comportamento dos aterros durante seu processo construtivo, através das análises de seções típicas, mais representativas da região em estudo. Ressaltase que, para a realização das simulações do mesmo, foram definidas malhas de elementos finitos com elementos de 15 (quinze) nós. A seguir, serão abordados os modelos constitutivos disponíveis no software PLAXIS, para que o usuário do programa faça a escolha dos mesmos para cada tipo de material presente na geometria dos problema geotécnico. A adoção de cada modelo é fundamental para a realização das modelagens numéricas e obtenção de bons resultados. 4.2 Modelos Constitutivos A qualidade de uma simulação numérica está diretamente relacionada à escolha do modelo constitutivo adotado para a representação dos materiais envolvidos. Sendo assim, se faz necessária a adoção correta do modelo constitutivo que melhor represente as condições reais dos solos a serem modelados no PLAXIS. O software PLAXIS dispõe de 6 (seis) modelos constitutivos, sendo eles: Linear Elastic (Elástico-Linear), Mohr Coulomb, Hardening Soil, Soft Soil, Soft Soil Creep e Jointed Rock. Vale lembrar que a adoção de um determinado modelo constitutivo para a realização das simulações no PLAXIS acarretará na adoção de diferentes parâmetros geotécnicos. 131 A seguir serão comentados, basicamente, os modelos constitutivos utilizados nas modelagens PLAXIS das seções representativas do estudo, bem como os parâmetros necessários (dados de entrada de cada modelo) para a realização dos mesmos. 1) Modelo Soft Soil (MSS) Nas simulações numéricas realizadas no presente estudo, utilizando o programa PLAXIS, a argila mole foi representada pelo modelo Soft Soil (MSS). Este modelo permite a reprodução das deformações sofridas por solos de alta compressibilidade e baixa permeabilidade, e considera o tempo de adensamento. Ressalta-se que o modelo Soft Soil não incorpora a fase de adensamento secundária (compressão secundária, parâmetro geotécnico Cα) A adoção deste modelo requer a definição do peso específico (γ), parâmetros de resistência (ɸ’, c’), permeabilidade (k), índices de compressibilidade (Cc, Cr) e índice de vazios inicial (eo). 2) Modelo Mohr Coulomb (MMC) O modelo Mohr Coulomb (MMC) integra a categoria dos modelos elastoplásticos perfeitos, ou seja, modelos nos quais as deformações são decompostas em 2 (duas) parcelas: plástica e elástica. Este modelo também incorpora o critério de ruptura de Mohr Coulomb. Segundo Ferreira (2009), o modelo Mohr-Coulomb é um modelo elástico perfeitamente plástico, empregado para representar a ruptura por cisalhamento de solos e rochas. Este modelo é assim designado, devido à hipótese de que o material se comporta como linear elástico até atingir a ruptura, definida pela envoltória de Mohr-Coulomb; ou seja, o material apresenta um comportamento linear elástico até atingir uma determinada tensão de escoamento, que se mantém constante com o acréscimo de deformações plásticas Este modelo foi adotado para realizar as simulações dos materiais de aterros lançados em campo, bem como dos solos arenosos (camada drenante) localizados abaixo das camadas de solos compressíveis. 132 Para a representação dos solos a partir do modelo Mohr Coulomb, faz-se necessário o conhecimento dos seguintes parâmetros: peso específico (γ), parâmetros de deformabilidade (E e ν), parâmetros de resistência (ɸ’, c’), e permeabilidade (k). 4.3 Parâmetros Representativos A definição dos parâmetros representativos dos materiais envolvidos na análise do comportamento dos aterros que compõem o Arco Metropolitano do Rio de Janeiro foi feita com base nos ensaios apresentados no projeto, nas informações disponíveis na literatura para a região do empreendimento e da interpretação das leituras fornecidas pelas placas de recalque, apresentadas no Capítulo 3, que permitiram a definição da razão de compressibilidade (CR) e do coeficiente de adensamento (cv) por retroanálise. 4.3.1 Avaliação da Qualidade das Amostras utilizadas nos Ensaios de Projeto Em fase inicial à definição de parâmetros geotécnicos, procedeu-se à avaliação da qualidade das amostras ensaiadas na ocasião de projeto. Os ensaios de adensamento, realizados nos pontos mais críticos contendo argila orgânica (argila mole), apresentaram resultados de índices de compressão (Cc) variando de 0,17 a 0,38 para tensões efetivas (σ’vo) entre 3,4 kPa e 21 kPa. Na média, o índice de compressão (Cc) apresentou o valor de 0,27. Estes resultados realizados em amostras coletadas em campo, em diferentes estacas, durante a fase de projeto, estão reunidos na Tabela 22. 133 Tabela 22 – Resultado dos Ensaios de Adensamento de Projeto: Lote 1 Profundidade σ' v o (m) (kPa) Cc Cc Cc/(1+eo) CR = σ' v o< 100 kPa 1 + eo − (evo − eo ) eo wo (%) eo ev o 14 124,9 3,2 0,807 1,17 0,28 0,748 4,20 - 4,80 12,5 88,3 2,26 0,894 0,66 0,2 0,604 287+00 5,00 - 5,60 9,5 93,3 2,42 0,886 0,7 0,21 0,634 SP-06C 286+00 5,00 - 5,60 21 80 2,32 0,845 0,86 0,26 0,636 SN1AM1 259 1,20 - 1,80 10 504,4 8,33 1,714 3,36 0,36 0,794 SN1AM2 259 2,20 - 2,80 9 186,5 2,23 1,069 0,55 0,17 0,521 SN2AM1 273 3,20 - 3,80 12,7 289,1 7,31 1,926 2,75 0,33 0,737 SN2AM2 273 5,20 - 5,80 9 184,9 4,91 1,369 1,66 0,28 0,721 SN3AM1 291+16 5,20 - 5,80 3,4 121,8 3,32 0,876 0,94 0,22 0,736 SN3AM2 291+16 7,20 - 7,80 10,2 122,9 3,17 0,997 1,02 0,25 0,685 SN4AM1 297 3,20 - 3,80 10,7 100,2 2,66 0,863 0,99 0,27 0,676 SN4AM2 297 6,20 - 6,80 10,2 118,2 3,08 0,956 1,06 0,38 0,69 Amostra Estaca SP-05 284+15 4,20 - 4,80 SP-05C 285+00 SP-06 Legenda: σ’vo = Tensão efetiva vertical inicial; eo = índice de vazios inicial da amostra; evo = índice de vazios correspondente à tensão efetiva de campo; Cc = índice de compressão; wo = umidade inicial. A partir das análises das curvas de índice de vazios (eo) versus tensão efetiva (σ’v), fornecidas pelos ensaios de adensamento edométrico de projeto, foi possível obter os valores de OCR das amostras estudadas (Tabela 23). Observa-se que as argilas ensaiadas apresentam valores de OCR próximos a 1,0, ou seja, tratam-se de argilas normalmente adensadas. No relatório de projeto do Arco Metropolitano, comentou-se que as amostras colhidas em campo apresentaram um elevado grau de amolgamento por conta da extração do corpo de prova, vindo a influenciar os resultados dos índices de vazios e índices de compressão. Tendo em vista esta informação, e baseando-se nos resultados dos ensaios de adensamento de projeto, foi realizada a avaliação da qualidade das amostras. A avaliação foi realizada, segundo os critérios de Lunne et al. (1997a), Coutinho et al (2001) e Oliveira (2002), expostos no Capítulo 1. O resultado da avaliação da qualidade das amostras de projeto está apresentado na Tabela 24. Os resultados confirmam um elevado grau de amolgamento das amostras. 134 Tabela 23 – Valores de OCR: Ensaios de Adensamento de Projeto do Lote 1 Amostra Estaca Profundidade (m) σ' vo (Kpa) σ' vm (Kpa) OCR Classificação do Solo SP-05 284+15 4,20 - 4,80 14,0 14,0 1,00 NA SP-05C 285+00 4,20 - 4,80 12,5 13,0 1,04 NA SP-06 287+00 5,00 - 5,60 9,5 10,0 1,05 NA SP-06C 286+00 5,00 - 5,60 21,0 21,0 1,00 NA SN1AM1 259 1,20 - 1,80 10,0 10,0 1,00 NA SN1AM2 259 2,20 - 2,80 9,0 9,0 1,00 NA SN2AM1 273 3,20 - 3,80 12,7 12,5 0,98 NA SN2AM2 273 5,20 - 5,80 9,0 9,2 1,02 NA SN3AM1 291+16 5,20 - 5,80 3,4 3,5 1,03 NA SN3AM2 291+16 7,20 - 7,80 10,2 10,5 1,03 NA SN4AM1 297 3,20 - 3,80 10,7 11,0 1,03 NA SN4AM2 297 6,20 - 6,80 10,2 10,5 1,03 NA Tabela 24 - Qualidade das Amostras de Projeto - Lote 1 Amostra Profundidade OCR (m) e0 ∆e ∆e/eo Lunne et al. (1997a) Coutinho et al. (2001) Oliveira (2002) SN1AM1 1,20 - 1,80 1 8,33 2,77 0,332 muito ruim muito pobre muito pobre SN1AM2 2,20 - 2,80 1 2,23 0,50 0,223 muito ruim muito pobre muito pobre SN2AM1 3,20 - 3,80 1 7,31 2,48 0,340 muito ruim muito pobre muito pobre SN2AM2 5,20 - 5,80 1 4,91 1,50 0,306 muito ruim muito pobre muito pobre SN3AM1 5,20 - 5,80 1 3,32 0,85 0,257 muito ruim muito pobre muito pobre SN3AM2 7,00 - 7,80 1 3,17 0,93 0,292 muito ruim muito pobre muito pobre SN4AM1 3,20 - 3,80 1 2,66 0,59 0,223 muito ruim muito pobre muito pobre SN4AM2 6,20 - 6,80 1 3,08 0,64 0,206 muito ruim muito pobre muito pobre SP-05 4,20 - 4,80 1 3,20 1,05 0,329 muito ruim muito pobre muito pobre SP-05C 4,20 - 4,80 1 2,26 0,40 0,176 muito ruim muito pobre muito pobre SP-06 5,00 - 5,60 1 2,42 0,64 0,262 muito ruim muito pobre muito pobre SP-06C 5,00 - 5,60 1 2,32 0,78 0,335 muito ruim muito pobre muito pobre 135 4.3.2 Seleção dos Parâmetros Geotécnicos para a Região do Empreendimento O presente item aborda a seleção dos parâmetros geotécnicos para a região na qual se inserem as obras do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro. Serão definidas as faixas de valores dos parâmetros a serem utilizadas tanto nas análises numéricas quanto nas previsões analíticas, segundo a teoria de Terzaghi. Nesta fase do trabalho, pretende-se avaliar a importância de uma seleção criteriosa de parâmetros para que as previsões reproduzam, de fato, o comportamento real da obra. Em projetos de aterros sobre solos compressíveis, as incertezas quanto à evolução do processo de adensamento são muitas, implicando em dúvidas quanto à magnitude das deformações e estabilidade dos aterros. A definição dos parâmetros geotécnicos dos solos foi subsidiada pelas informações de campo, de laboratório e por valores de parâmetros anteriormente definidos por outros pesquisadores para a região do empreendimento. Vale lembrar que, segundo informações de projeto do Arco Metropolitano, a adoção dos parâmetros geotécnicos foi baseada nas investigações de campo, nos ensaios de laboratório e considerando-se, também, a experiência da equipe técnica envolvida no projeto e a bibliografia disponível sobre a região em estudo. As investigações geotécnicas da fase de projeto constaram, primeiramente, de incursões a campo para reconhecimento das litologias aflorantes ao longo do eixo e adjacências. Com o auxílio do mapeamento geológico da região e do levantamento topográfico efetuado, balizou-se a programação das investigações de sub superfície e das áreas potenciais à exploração de materiais de construção. Essas investigações permitiram a avaliação dos estratos de solos sondados, bem como a definição dos parâmetros geotécnicos adotados nas análises de projeto efetuadas. Ressalta-se que para a realização dos ensaios de laboratório foram retiradas amostras deformadas e indeformadas. Para a coleta de amostras de argilas moles, foram utilizados amostradores de parede fina tipo “Shelby”. No presente trabalho, os parâmetros geotécnicos obtidos nos ensaios de projeto foram confrontados com os parâmetros reportados na literatura, de forma a estabelecer faixas de valores mais representativas da argila mole da região do Arco Metropolitano. 136 Os ensaios de caracterização de projeto, executados em amostras extraídas do local de estudo, indicaram valores de peso específico da argila orgânica (γ) na faixa de 12 kN/m³ a 14 kN/m³ (Tabela 25) e valor médio de densidade dos grãos (Gs) de 2,60. No item 1.4 do presente trabalho, foram apresentados os estudos de Almeida et al. (2005), que indicaram um valor de peso específico (γ) variável entre 12,5 a 14,5 kN/m³. Desta forma, para as análises e simulações numéricas, optou-se pela adoção de um valor médio de peso específico da argila orgânica igual a 13 kN/m³. Tabela 25 – Parâmetros de Projeto: Lote 1 PARÂMETROS DE PROJETO Tipo de Solo γ (kN/m3) c' (kPa) φ'(°) Aterro Compactado 18 10 28 Argila Orgânica 12 - 14 0 24 Solo Arenoso (de maior resistência, abaixo da argila orgânica) 18 12 33 A Figura 14 e a Figura 15, inseridas no Item 1.4, apresentaram as faixas de valores de índice de vazios inicial (eo) e índice de compressão (Cc), obtidas a partir de dados pesquisados na literatura e de dados de projeto para a região da Baixada Fluminense. Os valores de índice de vazios inicial (eo) e índice de compressão (Cc) situaram-se, em sua maioria, nas faixas de 2,5 a 5,0, e 1,5 a 2,5, respectivamente. Com relação ao parâmetro razão de compressão (CR) das argilas moles, os valores de CR obtidos na literatura (adaptados de Lima, 2007) situaram-se numa faixa de 0,24 a 0,48. Valores de projeto do Arco Metropolitano situaram-se, em sua maioria, numa faixa de 0,20 a 0,30. Valores de CR retroanalisados (Item 3.4.2) apresentaram-se, em sua maioria, em uma faixa de 0,16 a 0,22. Nas previsões numéricas e analíticas, foi adotado um valor de CR = 0,22. Os valores de coeficiente de adensamento (cv) obtidos através do processo gráfico de Asaoka (item 3.5.2) situaram-se em uma faixa de 1,5 x 10-7 m²/s a 6,6 x 10-6 m²/s. Na literatura, são apresentados valores de cv entre 1,0 x 10-8 e 2,0 x 10-7 137 m²/s (Figura 16) para a região em estudo. As análises pela teoria clássica consideraram cv = 3,0 x 10-7 m2/s. Para o coeficiente de permeabilidade, a literatura apresenta uma faixa de valores entre 4,32 x 10-6 e 5,36 x 10-3 m/dia (Tabela 6, Item 1.4). Cabe ressaltar que nas análises teóricas, faz-se necessário o valor do coeficiente de adensamento para a previsão da evolução do recalques ao longo do tempo. O programa PLAXIS, no entanto, requer a permeabilidade ao invés de cv. Desta forma, as análises numéricas consideraram um valor de k igual a 3x10-4 m/dia, dentro da faixa da literatura. Quanto aos parâmetros efetivos de resistência, foi adotado um valor de ângulo de atrito efetivo (ɸ’) igual a 24º, e intercepto coesivo nulo. Ressalta-se que, segundo informações de projeto, estes parâmetros de resistência foram definidos com base em ensaios de cisalhamento direto. A Tabela 26 reúne a seleção de parâmetros γ, Cc, eo, ɸ’, c’ e k adotados nas análises com o PLAXIS e com a teoria clássica, considerada representativa da argila mole para a região em estudo. Tabela 26 - Parâmetros Geotécnicos Representativos da Argila Mole da Região γ (kN/m3) Cc eo cv (m /s) 13,0 1,0 3,5 3,0x10 2 -7 k (m/dia) -4 3,0x10 CR 0,22 4.4 Confronto entre as Previsões Analíticas e Numéricas As análises numéricas foram executadas para duas seções, denominadas S1 e S2, localizadas nos Aterros 3 e 4A, respectivamente. Como comentado anteriormente, estas seções localizam-se em regiões onde não foram instalados drenos verticais. 138 4.4.1 Seção S1 Na região desta seção, denominada S1, foi instalada a placa de recalque PRPD-21. A solução de projeto para esta seção consistiu em aterros reforçados com bermas para a garantia da estabilidade. A análise dos boletins de sondagens de projeto e complementares permitiu a obtenção de um perfil geológico-geotécnico representativo da região, possibilitando o traçado da estratigrafia do subsolo. A sondagem mais próxima à seção S1 indicou a presença de uma camada de argila siltosa com espessura de 2,0 m e NSPT igual a 7 golpes, assente sobre uma camada de argila mole de 4,5 m de espessura. O nível d'água foi detectado na superfície do terreno. A Figura 66 apresenta a geometria adotada nas análises numéricas. Ressalta-se que as análises consideraram aterros infinitos. Sendo assim, a geometria não apresenta os taludes do aterro, desprezando-se o efeito bidimensional. As condições de contorno consistiram em apoios do 2º gênero na base da malha para impedimentos dos deslocamentos horizontais e verticais, e apoios do 1º gênero nas laterais da malha para a restrição dos deslocamentos horizontais. A Figura 67 apresenta a malha de elementos finitos, composta por 904 elementos triangulares de 15 nós. Figura 66 – Geometria adotada nas análises numéricas: Seção S1 – PRPD-21 139 Figura 67 – Malha de Elementos Finitos Seção S1 – PRPD-21 O aterro foi subdividido em diferentes camadas, de forma a reproduzir a sequência construtiva de campo. Os tempos de lançamento e consolidação das diferentes camadas foram obedecidos fielmente nas análises, e estão indicados na Tabela 27. A Figura 68 apresenta as diferentes etapas de carregamento introduzidas nas análises numéricas. Tabela 27 – Sequência de carregamento: Seção S1 Etapa Lançamento da 1ª camada de aterro Consolidação Lançamento da 2ª camada de aterro Consolidação Lançamento da 3ª camada de aterro Consolidação Altura de Aterro (m) Tempo (dias) 1,50 25 --- 255 2,50 15 --- 40 4,90 20 --- 500 A Figura 69 compara a evolução dos recalques com o tempo prevista numericamente (PLAXIS) com os valores medidos na placa de recalque PRPD-21 e os recalques estimados pela teoria clássica. Observa-se, para os parâmetros adotados, um ajuste satisfatório entre os resultados experimentais e as previsões numéricas e teóricas. O programa PLAXIS forneceu um valor de recalque final de 0,815 m, levemente inferior ao estimado pela teoria clássica (0,84 m). Este resultado 140 é coerente, tendo em vista que as análises numéricas consideram o efeito da submersão do aterro, reduzindo o valor da sobrecarga e, consequentemente, os valores de recalque final quando comparado com a previsão teórica. (a) Lançamento da 1ª camada de aterro (b) Lançamento da 2ª camada de aterro (c) Lançamento da 2ª camada de aterro Figura 68 – Simulação da sequência de carregamento: Seção S1 – PRPD-21 141 ) m ( 20 ro r e t A 10 e d a t o C 0 PRPD 21 Tempo (dias) 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 650 -10 ) m c ( -20 e u q l a -30 c e R Instrumentação Plaxis -40 Terzaghi -50 -60 -70 -80 -90 -100 Figura 69 – Resultado das análises numéricas: Seção S1 – PRPD-21 A partir do método de Asaoka, foi obtido um valor de recalque de 0,83 m (Tabela 28), indicando que as leituras apresentadas já estão praticamente estabilizadas. Neste caso, o tempo total para estabilização dos recalques, desde o início da execução do aterro, seria de 460 dias. Considerando-se que o método de Asaoka é o que melhor reproduz o comportamento da obra, uma vez que é baseado nos dados de instrumentação de campo, pode-se dizer que as análises numéricas subestimaram os recalques em 1,8%. A teoria clássica, por sua vez, forneceu valores de recalques 1,2% superiores. Estes valores de erro podem ser considerados desprezíveis, o que mostra a importância da boa seleção de parâmetros para a obtenção de resultados satisfatórios. 142 Tabela 28 – Recalques totais: Seção S1 Método Recalque final (m) Erro * (%) Tempo de adensamento (dias) Asaoka 0,830 --- 460 Teoria Clássica 0,840 + 1,2 600 Análise Numérica 0,815 - 1,8 470 * Erro calculado com base no valor fornecido pelo Método de Asaoka Com relação ao tempo de estabilização de recalques, nota-se que as análises numéricas fornecem um tempo de estabilização (igual a 470 dias), inferior ao estimado pela teoria clássica (600 dias). Cabe ressaltar que a teoria clássica pressupõe deformações infinitesimais, que não reproduzem a situação real de campo. O adensamento de pequenas deformações pressupõe que a distância de drenagem Hd seja constante durante a evolução dos recalques, conduzindo a tempos de final de adensamento superiores aos reais. Olson e Ladd (1979) afirmam que os erros cometidos com o uso da teoria clássica podem ser minorados usandose um valor médio constante para a distância de drenagem. Os resultados de campo, em termos de estabilização de recalques, foram semelhantes aos obtidos numericamente. Tendo em vista a coerência observada entre os tempos de consolidação reais e os previstos numericamente, optou-se por discutir os ganhos de resistência obtidos ao longo das etapas construtivas, uma vez que este é o objetivo da construção por etapas. As análises numéricas mostraram que, para o lançamento da 1ª camada de aterro, de 1,50 m, os recalques finais previstos são da ordem de 0,402 m. Os resultados apresentados na Figura 69 mostram que antes do lançamento da 2ª camada de aterro, os recalques medidos eram de 0,375 m, o que representa uma porcentagem de adensamento média de 93%. Este ganho de resistência, decorrente da dissipação dos excessos de poropressão, pode ser visualizado a partir da distribuição dos excessos de poropressão previstos numericamente imediatamente após o lançamento da 1ª camada de aterro, e imediatamente após o início do lançamento da 2ª camada (Figura 70). Estes resultados comprovam valores de cv de 3x10-7 m2/s para a argila mole da região do Arco Metropolitano. 143 Figura 70 – Dissipação dos excessos de poropressão, antes do lançamento da 2ª camada de aterro: Seção S1 – PRPD-21 Na Figura 71, apresenta-se a evolução dos excessos de poropressão e das tensões efetivas com o tempo para um elemento localizado no centro da camada de solo compressível. É interessante notar que, coerentemente, as tensões efetivas aumentam com a dissipação dos excessos de poropressão. A estabilização ocorre 470 dias após o início da construção do aterro. Após o lançamento de cada camada de aterro, o tempo para dissipação das poropressões é de cerca de 200 dias (≈ 7 meses). 144 140 120 Excessos de poropressão 100 Tensões (kPa) Tensão efetiva 80 a 3 camada 60 40 a 1 camada a 2 camada 20 0 0 100 200 300 400 500 Tempo (dias) Figura 71 – Distribuição dos excessos de poropressão e das tensões efetivas ao longo do processo executivo: Seção S1 4.4.2 Seção S2 Na região da seção S2, foi instalada a placa de recalque PRPE-19E. A solução de projeto para esta seção foi a mesma da seção S1, que consistiu em aterros reforçados com bermas para a garantia da estabilidade. A sondagem mais próxima à seção S2 indicou a presença de uma camada superficial de argila mole de 2 m de espessura, com o nível d'água na superfície do terreno natural. A Figura 72 apresenta a geometria adotada nas análises numéricas. As análises consideraram as mesmas condições de contorno comentadas para a seção S1. A Figura 73 apresenta a malha de elementos finitos, composta por 672 elementos triangulares de 15 nós. 145 Na fase de cálculo, o aterro foi subdividido em diferentes camadas e os tempos de lançamento e consolidação reproduziram a situação real de campo, como indica a Tabela 29. Figura 72 – Geometria Adotada nas Análises Numéricas Seção S2 Figura 73– Malha de Elementos Finitos Seção S2 – PRPE-19E Tabela 29 – Sequência de carregamento: Seção S2 Etapa Lançamento da 1ª camada de aterro Consolidação Lançamento da 2ª camada de aterro Consolidação Altura de Aterro (m) Tempo (dias) 5,50 50 --- 15 2,00 25 --- 500 146 Na Figura 74, a evolução dos recalques com o tempo prevista numericamente (PLAXIS) é confrontada com os valores medidos na placa de recalque PRPE-19E e com os recalques estimados pela teoria clássica. Observa-se, novamente, um ajuste adequado entre os resultados experimentais e as previsões numéricas e teóricas. O programa PLAXIS forneceu um valor de recalque final da ordem de 0,43 m, igual ao estimado pela teoria clássica de adensamento. Cabe ressaltar que, nesta seção, os recalques foram menos expressivos, sendo menor o efeito da submersão do aterro. Com relação ao tempo de estabilização dos recalques, nota-se que as análises numéricas fornecem um tempo de estabilização igual a 100 dias, novamente inferior ao fornecido pela teoria clássica, que mostra uma estabilização em 120 dias. ) 20 m ( o rr e t A 10 e d a t o 0 C ) -10 m c ( e u q l -20 a c e R -30 Tempo (dias) 0 50 100 150 PLAXIS Instrumentação Terzaghi -40 -50 Figura 74 – Resultado das Análises Numéricas: Seção S2 200 147 A partir do método de Asaoka, foi obtido um valor de recalque de 0,455 m (Tabela 30), indicando que as leituras apresentadas já estão praticamente estabilizadas. Neste caso, o tempo total para estabilização dos recalques, desde o início da execução do aterro, seria de 130 dias. Considerando-se que o método de Asaoka é o que melhor reproduz o comportamento da obra, uma vez que é baseado nos dados de instrumentação de campo, pode-se dizer que as análises numéricas e teóricas subestimaram os recalques em 5,4%. Tabela 30 – Recalques totais: Seção S2 Método Recalque final (m) Erro * (%) Tempo de adensamento (dias) Asaoka 0,455 --- --- Teoria Clássica 0,430 - 5,4 120 Análise Numérica 0,430 - 5,4 100 * Erro calculado com base no valor fornecido pelo Método de Asaoka 4.4.3 Discussão entre os Parâmetros Adotados no Projeto Executivo e os Parâmetros Reavaliados É interessante comentar sobre a qualidade das amostras e a definição dos parâmetros de projeto. As previsões do comportamento dos aterros, na ocasião do projeto, consideraram os parâmetros listados na Tabela 31. A partir destes parâmetros, foram obtidos os valores de recalques e tempos de adensamento primário listados na Tabela 32. Observa-se uma superestimativa no valor do recalque final de 12% para ambas as seções. Com relação aos tempos de consolidação, as previsões de projeto mostraram-se extremamente conservadoras, com um tempo para final do adensamento primário de 50 meses e 11 meses, para as seções S1 e S2, respectivamente. Cabe ressaltar que na região do Arco Metropolitano foram instalados geodrenos em diversas seções, o que de alguma forma, pode ter contribuído para a aceleração dos recalques nas seções sem drenos. 148 Tabela 31 - Parâmetros de Compressibilidade da Argila Mole Definidos no Projeto γ (kN/m3) cv (m /s) 13,0 4,0x10 2 -8 CR 0,25 Tabela 32 – Recalques previstos com os parâmetros de projeto Seção ρ (m) Tempo para U = 95% (meses) S1 0,930 55 S2 0,510 11 Em projetos de aterros sobre solos moles, as premissas e previsões de projeto devem ser constantemente reavaliadas a partir da instrumentação de campo, pois as incertezas quanto aos parâmetros geotécnicos é sempre uma questão relevante. Os resultados mostram a influência dos parâmetros de compressibilidade e velocidade de dissipação das poropressões em projetos de argila mole. A definição de parâmetros representativos, com base em ensaios executados em amostras de boa qualidade, é o primeiro passo para a previsão coerente da evolução dos recalques com o tempo. No entanto, ressalta-se que projetos de aterros sobre solos compressíveis sempre representam um desafio geotécnico, tendo em vista as incertezas e surpresas que podem ocorrer durante a execução dos aterros. Desta forma, é fundamental o constante monitoramento dos recalques para permitir a avaliação das premissas de projeto. 22020 5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES 5.1 Conclusões O presente trabalho apresentou a análise do comportamento dos aterros instrumentados que compõem a obra do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro. Os resultados da instrumentação de campo foram discutidos e retroanalisados, juntamente com dados disponíveis na literatura, buscando-se a definição de parâmetros confiáveis, representativos do comportamento da argila compressível da região em estudo. De posse de parâmetros confiáveis, procedeu-se à simulação numérica do processo construtivo de um dos aterros, a partir do programa PLAXIS, de elementos finitos. Os resultados numéricos foram confrontados com a instrumentação de campo (fornecida por placas de recalque) e com os resultados de previsões teóricas (teoria de adensamento unidimensional). Em projetos de aterros sobre solos compressíveis, a instrumentação geotécnica é de grande importância, pois permite acompanhar o desenvolvimento de todo o processo construtivo, e as deformações decorrentes da sobrecarga imposta pelo lançamento de camadas de aterro. É possível também, avaliar o fenômeno de consolidação do solo compressível. Vale ressaltar a importância de uma rotina contínua de obtenção/ coleta de dados de instrumentação de campo, com intervalos mais curtos, para a garantia de um monitoramento mais eficaz e seguro. Diante do exposto, são listadas as principais conclusões do presente trabalho: • A modelagem numérica mostrou-se uma ferramenta adequada para a previsão dos recalques totais e tempos de adensamento; • A definição de parâmetros representativos, com base em ensaios executados em amostras de boa qualidade, é o primeiro passo para a previsão coerente da evolução dos recalques com o tempo; • O método de Asaoka é válido na previsão dos recalques finais, além de ser uma ferramenta simples e de fácil utilização. Os valores de coeficiente de 150 consolidação (cv) obtidos por este método também se apresentaram bastante satisfatórios; • A teoria clássica de adensamento forneceu valores de recalques finais próximos aos obtidos nas análises numéricas, o que pode ser atribuído ao cuidado na seleção dos parâmetros do solo compressível; • A teoria clássica de adensamento forneceu tempos de adensamento superiores aos fornecidos pelas análises numéricas, o que pode ser atribuído ao efeito da submersão dos aterros considerado nas análises numéricas; • A faixa de valores obtida para o parâmetro razão de compressão (CR) através de retroanálises dos valores de recalques finais de campo também foi satisfatória; • Comparando-se os resultados obtidos com os parâmetros definidos em projeto, com os parâmetros retroanalisados e definidos com base em uma pesquisa detalhada das informações da literatura, observou-se que os parâmetros de projeto superestimaram os recalques finais e os tempos de adensamento primário; • Em projetos de aterros sobre solos moles, as premissas e previsões de projeto devem ser constantemente reavaliadas a partir da instrumentação de campo, uma vez que as incertezas quanto aos parâmetros geotécnicos é sempre uma questão relevante. 5.2 Recomendações para Trabalhos Futuros Como sugestões para pesquisas futuras, recomenda-se a consideração do efeito bidimensional dos aterros na análise dos recalques e deslocamentos horizontais, além da incorporação de drenos verticais nas análises numéricas. 22020 REFERÊNCIAS [1] ALMEIDA, M. 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