[ ENTREVISTA ||||||||||||||||||||||||| por Julia Ramos Moreira Leite “O AQUI E AGORA É O DIVULGAÇÃO BRASIL” 8 | invista | janeiro fevereiro | 2011 THOMAS MCDONALD, DA EQUITY INTERNATIONAL – QUE TEM METADE DOS SEUS INVESTIMENTOS DE US$ 1,5 BILHÃO ALOCADA NO BRASIL – EXPLICA POR QUE O MERCADO IMOBILIÁRIO DO PAÍS AINDA TEM POTENCIAL E DEVE RECEBER MAIS INVESTIMENTOS DA EI EM BREVE “O AQUI E AGORA É O BRASIL”. A FRASE REsume o interesse da Equity International, empresa privada de investimentos fundada pelo bilionário norte-americano Sam Zell, no País. A companhia é focada em emergentes e investe no setor imobiliário, com negócios em construção civil, shopping centers e logística – cinco delas brasileiras. Thomas J. McDonald, Chief Strategic Officer da EI, fala sobre as perspectivas para o mercado imobiliário brasileiro, apontando gargalos e oportunidades – e diz que é preciso paciência para não fechar negócios a qualquer preço. Esse último tem um efeito nos preços e na cabeça das pessoas, que pensam que os preços atuais refletem a realidade de longo prazo, e não o curto prazo imaterial. Ouvimos muito isso: “o Brasil está muito caro?”, “O case do Brasil já acabou?” – não pensamos assim, de modo algum. Vemos fundamentos macro muito sólidos, especialmente para crescimento da classe média, consumo e residências. Mas sabemos que é preciso ter paciência e fazer as coisas na hora certa e no preço certo, sem pressão para fechar negócios. O Sr. poderia quantificar os retornos que a Equity International obteve no mercado imobiliário brasileiro até hoje? Nossas expectativas são altas. Elas foram atendidas e, em muitos casos, superadas, nos investimentos no Brasil. Acho que isso é resultado de termos escolhido as empresas certas, nos setores certos e na hora certa, e então ajudar a construir grandes companhias, aproveitando as oportunidades. O Sr. vê uma bolha se formando nos mercados imobiliários de Brasil ou China? Não. No caso do Brasil, eu vejo muito dinheiro novo entrando, mas uma bolha sugere uma questão de maior escala, e acho que isso está limitado a alguns lugares. Não acho que é um risco geral para o mercado. Na China, o governo controla o financia- “OUVIMOS MUITO: ‘O BRASIL ESTÁ MUITO CARO?’, ‘O CASE DO BRASIL JÁ ACABOU?’ – NÃO PENSAMOS ISSO DE MODO ALGUM” Como é feita a escolha dos investimentos? Nosso negócio é fazer parcerias. Procuramos setores interessantes e, dentro deles, empresas que tenham uma reputação excelente, histórico comprovado e que queiram crescer. Quando encontramos alguém assim, que tenha a mesma visão das coisas que nós e que esteja aberto a dividir o guidance estratégico conosco, há interesse. Há negócios atraentes da perspectiva financeira. Contudo, se eles forem gerenciados por pessoas que não compartilham de nossas noções em termos como governança corporativa e transparência, não participamos. Não só no Brasil, mas em todo o mundo, nós desistiremos de diversas oportunidades, como já o fizemos, porque o perfil do parceiro não está correto. mento e as terras, que são dois componentes fundamentais do setor. Eles não vão permitir a existência de uma bolha. Mas é preciso entender que, com esses controles, o Estado tem um braço forte na indústria de construção civil. A pergunta então é: você quer entrar em um mercado em que o governo tem um braço forte? O Brasil é hoje a melhor opção no setor imobiliário? Acho que é uma das melhores oportunidades. Entretanto, como o Brasil está na mira de todo o mundo, está atraindo muito capital – algum capital inteligente e outro que está sendo alocado de forma descuidada. Quais são outras oportunidades no mercado imobiliário global? Nós estamos olhando para o Oriente Médio e a Ásia – Indonésia, Vietnã - e já estamos na China. Na América Latina, estamos atentos à Colômbia - ainda é muito cedo por lá, mas acreditamos que é um mercado interes2011 | janeiro fevereiro | invista | 9 sante. Mantemos os olhos abertos, mas também nos focamos no aqui e no agora, e para nós isso é o Brasil. Não só empresas em que já investimos, mas também novas opções. Podemos esperar novos investimentos da EI no País em breve? Continuamos acreditando nos setores nos quais investimos e também em outros segmentos, e continuamos a encontrar bons parceiros no País. E, sim, esperamos fazer mais investimentos no curto e médio prazos. Quais são os gargalos e catalisadores do mercado imobiliário brasileiro? Em termos de moradia, o financiamento é um potencial gargalo. Melhoras podem e devem ser feitas em questões de execução de hipotecas, especialmente na baixa renda. Se a Caixa conseguir gerenciar o crescimento do setor, será positivo – mas se a instituição não conseguir acompanhar esse “AS OLIMPÍADAS E A COPA DO MUNDO TRAZEM O ÍMPETO PARA QUE AS COISAS SEJAM FEITAS RAPIDAMENTE” avanço, será um problema. Outro gargalo é a infraestrutura, que já limita o crescimento do País, e que tem tido progressos lentos. A inflação sob controle também é importante, e isso ainda não está claro. Do lado positivo, continuamos a ver uma baixa penetração de hipotecas no País. Se o governo souber gerenciar o seu papel, os bancos seguirão interessados em fornecer hipotecas e aumentar os empréstimos ao consumidor, ainda nascente em termos globais – e isso representa potencial. Além disso, temos milhões de pessoas entrando no mercado de trabalho formal no Brasil no ano, que estão recebendo o 13º salário pela primeira vez. A maior parte disso se traduzirá em consumo. 10 | invista | janeiro fevereiro | 2011 As Olimpíadas e a Copa do Mundo receberam críticas de que investimentos serão desperdiçados em estruturas necessárias apenas para esses eventos. Qual a sua visão sobre isso? A modernização dos aeroportos, a melhora das estradas e a criação de hotéis são coisas altamente necessárias no Brasil. Esqueça os eventos – qualquer um que viaje pelo interior do País pode dizer que não há hotéis de padrão internacional e que a maioria dos grandes aeroportos precisa de reparos. Esses eventos são uma bênção porque trazem o ímpeto para que as coisas sejam feitas rapidamente. E o futebol é o esporte nacional do Brasil, então acho que reformar os estádios é apropriado, não me parece abusivo. Quanto às Olimpíadas, elas foram feitas com sucesso em outros locais, e espera-se que o País aprenda com eles e não tente recriar a roda. As condições de crédito no País são suficientes para atender a demanda? Há áreas nas quais melhoras já foram feitas, e outras em que há muito a evoluir – e vemos oportunidades nessas ineficiências. O crédito ao consumidor está começando; já empréstimos para o mercado imobiliário – para construção de edifícios comerciais e armazéns, por exemplo – ainda estão na era das trevas, e para hotéis também. Nessas áreas, por que o Brasil está tão atrasado? Parte é devido ao fato de que os bancos não eram motivados a inovar até pouco tempo atrás, já que podiam investir em títulos públicos e obter bons resultados. Nos últimos anos, com as exigências da poupança, os bancos devem ter 65% da poupança no mercado imobiliário, e a maior parte disso vai para hipotecas – é uma evolução natural os bancos passarem a se focar em hipotecas e em crédito ao consumidor. Acreditamos que as instituições que concedem empréstimos entenderão que há valor além do crédito do inquilino; há um valor intrínseco no imóvel. E quando os bancos chegarem lá, isso vai acontecer no Brasil. Queremos ser catalisadores dessa mudança, que está sendo mais lenta do que gostaríamos. A EI vendeu parte de suas fatias na Gafisa e BrMalls em 2010. Por quê? Nosso negócio é gerenciar capital. Fizemos investimentos nessas companhias quando ambas eram empresas privadas – então, geramos valor significativo vis-à-vis nosso custo de entrada. E nosso capital não é permanente. Nós monetizamos nossos investimentos, e idealmente deixamos as empresas bem posicionadas para continuar evoluindo – esse será o caso da Gafisa e BrMalls quando sairmos delas. EQUITY INTERNATIONAL Fundada pelo bilionário norte-americano Sam Zell e por Gary Garrabrant em 1999, a EI tem atualmente cerca de US$ 1,5 bilhão sob sua gestão – mais da metade desse montante no mercado brasileiro, dividido entre cinco empresas: AGV LOGÍSTICA BRACOR BRAZILIAN FINANCE & REAL ESTATE BR MALLS GAFISA O Brasil se tornou o “lugar para se estar”. Isso é sustentável no longo prazo ou é uma “moda”? Eu acho que o risco para o Brasil é que esse processo não seja conduzido de forma correta. O risco, para todos os mercados, é que o capital é global, e vai onde acredita que pode obter um retorno apropriado para o risco. Hoje, o Brasil é atraente devido ao cenário macro, que o coloca em uma posição melhor do que outros países. Apostamos que o País continuará no rumo certo, mas não ficaríamos surpresos com momentos turbulentos. O Brasil ainda é um mercado emergente, e se você não prevê volatilidade, não devia investir em emergentes. FOTOS: DIVULGAÇÃO Como o Sr. avalia os controles de capital implementados na China para investimento estrangeiro no mercado imobiliário? É negativo, sem dúvida, assim como os controles de capital no Brasil. Os impactos são sentidos rapidamente – há agora um imposto de 6% sobre o capital que entra no País, e isso conta na avaliação dos investidores globais. No caso brasileiro, o impacto pode ser positivo no câmbio, mas é negativo – e é visto como negativo – para os estrangeiros. Como investidores, acreditamos que o mercado determinará os movimentos cambiais, e colocar taxas para combatê-los não é a solução ideal. 2011 | janeiro fevereiro | invista | 11