Pronunciamento proferido pelo Deputado Edson Ezequiel (PMDB-RJ). Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, Ocupo a Tribuna, para fazer, mais uma vez, algumas reflexões sobre a grave crise internacional em curso e suas conseqüências no processo de Desenvolvimento Econômico Brasileiro. Para dar uma mínima linha de continuidade ao pronunciamento, considero importante tecer algumas considerações sobre a origem da crise nos Estados Unidos e seu processo evolutivo e contagioso, Como todos sabemos, esta crise tornou-se manchete no mundo inteiro, quando surgiram notícias sobre os sérios problemas em Bancos e Financeiras americanas decorrentes do leviano descontrole havido no sistema de crédito imobiliário, inclusive nos setores responsáveis pela regulação, fiscalização e classificação de risco. 1 4045E1CB42 Brasil. *4045E1CB42* inicialmente na Europa e posteriormente no restante do mundo, inclusive no Crise esta que se alastrou e feriu profundamente o sistema financeiro mundial para posteriormente afetar seriamente o setor produtivo. Hoje, infelizmente, existe um consenso de que estamos atravessando a pior crise desde a grande depressão que abalou o mundo nos anos 30. Hoje, também, não existem mais dúvidas de que o processo que foi denominado, por alguns economistas, como descolamento não é viável. Todos os países estão sendo afetados em diferentes intensidades em função das condições existentes em seus fundamentos econômicos e do grau de conexão ou interdependência de suas economias com os países desenvolvidos que estão no centro da crise, notadamente Estados Unidos e Europa. Na verdade, tratava-se de uma crise anunciada, para qual não faltaram alertas, divulgados por renomados especialistas na mídia especializada em assuntos econômicos. Alguns destes, enfatizando a magnitude da crise que estava por vir e suas conseqüências globais. Cabe destacar o livro de George Soros “O novo paradigma Nesta Obra Soros afirma, textualmente, “vivemos, hoje, a pior crise financeira desde a década de 1930. Sob certos aspectos, ela se parece com outras ocorridas nos últimos 25 (vinte e cinco) anos, mas há uma diferença fundamental: esta crise marca o fim de uma era de expansão do crédito que se baseava no dólar como moeda internacional de reserva. 2 4045E1CB42 também defende a sua teoria da reflexividade. *4045E1CB42* para os mercados financeiros, a crise atual e o que ela significa”, onde Soros As crises periódicas do passado fizeram parte de um processo cíclico mais amplo de expansão e contração; a crise atual é a culminação de um supercrescimento que durou mais de 25 (vinte e cinco) anos”. Adicionalmente, afirma, que para entender o que esta acontecendo, e preciso ter em mãos um novo paradigma, porque o paradigma, hoje dominante, que assegura que os mercados financeiros tendem ao equilíbrio é falso e induz ao erro. Na verdade, nossos problemas atuais, em grande medida, poderiam ser creditados ao fato de que o sistema financeiro internacional se desenvolveu tendo por base esse paradigma não verdadeiro. No livro, Soros comenta, que com sua experiência acumulada, compreendeu que os atores do mercado não tomam decisões com base exclusivamente no conhecimento. Portanto, suas percepções tendenciosas acabam influenciando não só os preços de mercado, mais também os fundamentos que esses preços, supostamente, deveriam refletir. Ao analisar a maneira de pensar e o comportamento dos participantes, verifica que possuem uma dupla função. De um lado, eles tentam compreender a própria situação; é o que chama de função cognitiva. De outro, tentam mudar a própria situação; é na outra. A essa interferência denomina reflexividade. Para tornar, esta conceituação mais clara, vamos registrar, brevemente, como a teoria da reflexividade se aplica à crise. Contrariando o que diz a teoria econômica clássica, que presume a existência do conhecimento perfeito, nem os participantes do 3 4045E1CB42 Estas duas funções, sob certas circunstâncias, interferem uma *4045E1CB42* o que chama de função participativa ou manipulativa. mercado, nem as autoridades monetárias e fiscais, são capazes de tomar suas decisões baseando-se exclusivamente no conhecimento. Os erros de avaliação e os erros conceituais afetam os preços de mercado e, o que é ainda mais relevante, os preços de mercado afetam os chamados fundamentos que supostamente deveriam refletir. Os preços de mercado não se desviam do equilíbrio teórico aleatoriamente, como sustenta o paradigma corrente. As visões dos participantes e dos reguladores nunca correspondem ao verdadeiro estado de coisas. Isto é, os mercados jamais alcançam o equilíbrio postulado pela teoria econômica. Existe uma conexão de mão dupla entre percepção e realidade geradora dos processos de expansão e contração que, inicialmente, se autoalimentam e, depois, se autodestroem; são as bolhas. Toda bolha, consiste de uma tendência e de uma concepção equivocada que interagem de modo reflexivo. Segundo Soros, houve uma bolha no mercado imobiliário americano, mais a crise atual não é meramente o estouro dessa bolha. Essa, é maior que todas as crises financeiras periódicas que experimentamos em nosso tempo. mais ou menos 25 (vinte e cinco) anos. Ela consiste de uma tendência dominante, a expansão do crédito, e de uma concepção equivocada dominante, o fundamentalismo de mercado, que defende que os mercados devem ser livres. 4 4045E1CB42 superbolha, isto é, um processo reflexivo de longo prazo que se desenvolve há *4045E1CB42* Todas essas crises, são partes do que se chama de uma A crise atual, é o ponto de inflexão, a partir do qual a tendência e a concepção equivocada dominantes tornaram-se, ao mesmo tempo, insustentáveis. Este modelo, defendido por Soros, talvez ajude a explicar algumas posições, eventualmente divergentes e até contraditórias defendidas por especialistas renomados, organismos conceituados e autoridades governamentais. Para terminar, sem entrar no mérito da questão, face à exigüidade de tempo, vou citar algumas posições que ilustram a divergência acima exposta. Assim sendo, no livro “A economia política do governo Lula”, publicado pelos renomados economistas Luiz Filgueiras e Reinaldo Gonçalves, é defendida de forma contundente e com ampla sustentação teórica, a posição de que as decantadas melhorias nos índices econômicos no governo Lula, apenas refletem uma boa posição dos indicadores de vulnerabilidade externa conjuntural. Mais ainda, sustentam que, estes mesmos dados, quando confrontados com o desempenho do resto do mundo, revelam nossa falta de competitividade e índices de vulnerabilidade externa comparada seria preocupante nossa posição no advento de uma crise internacional. Por outro lado, segundo avaliação da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico ( OCDE ), o Brasil será o país que sofrerá o menor impacto da crise mundial entre as grandes economias nos próximos 6 (seis) meses. 5 4045E1CB42 forma significante, da onda favorável da economia mundial dos últimos anos, *4045E1CB42* desfavoráveis. Chegam mesmo a afirmar que se não conseguimos usufruir, de Tudo isto, explicaria e daria razão para as posições otimistas do presidente Lula e dos ministros responsáveis pela nossa área econômica. Até porque é uma tradição natural, sendo incoerente e contraprodutiva uma posição duvidosa ou pessimista de autoridades governamentais, em um momento instável da economia, como o que estamos vivenciando. Era o que tinha a dizer, muito obrigado, Senhor Presidente. 4045E1CB42 6 *4045E1CB42* Deputado Edson Ezequiel (PMDB-RJ)