ID: 32304320
15-10-2010
Tiragem: 20600
Pág: 39
País: Portugal
Cores: Preto e Branco
Period.: Semanal
Área: 28,50 x 17,67 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 1 de 1
Opinião
Se
N
um momento em que Portugal se
prepara para atravessar uma das
maiores crises da sua história recente,
convém recordar que em economia, como na
vida, há sempre a outra face da moeda. Os
“ses” deste artigo são um mero exercício intelectual que vincula apenas o autor. O papel do
Estado é algo que urge discutir sem preconceitos ideológicos. O mesmo se pode dizer do
papel do mercado na afectação de recursos.
Este é apenas um pequeno contributo.
1. Se, anos antes de estalar a crise financeira, o Estado americano não tivesse
inventado uma Fannie Mae ou uma
Freedie Mac, convidando a inovação
financeira a criar dinheiro artificial sem
limites com o objectivo nobre de dar
uma casa a todos, seria mais difícil o insuflamento de uma bolha especulativa
no mercado imobiliário.
2. Se os bancos centrais não tivessem mantido as taxas de juro tão baixas durante
tanto tempo e se tivessem controlado
a expansão monetária em toda a linha,
seria mais difícil criar uma bolha especulativa.
3. Se as agências de rating não tivessem
interesse monetário em classificar com
bom rating títulos que eram lixo, provavelmente teriam feito melhor trabalho
evitando uma crise gravíssima.
4. Se os gestores responsáveis pela crise
estivessem a gerir o dinheiro deles, não
ALEXANDRE MOTA
Director Executivo Golden
Broker
teriam corrido os mesmos riscos que
correram. Se os gestores não fossem pagos para obterem resultados imediatos,
correndo todos os riscos, provavelmente
não haveria crise alguma.
5. Se as instituições públicas tivessem feito
bem o seu trabalho de regulação, a crise
financeira teria sido evitada.
6. Se, há dois anos, após a falência da Lehman Bros, os Estados e bancos centrais
não interviessem para corrigir os erros
dos agentes privados, o sistema capitalista teria ruído como um castelo de cartas.
7. Se os Estados e Bancos centrais não tivessem anunciado e levado à prática,
entre finais de 2008 e todo 2009, uma
política monetária expansionista que
acomodou uma política orçamental
igualmente expansionista à custa do aumento dos deficits públicos, a economia
americana e quase todas as restantes teriam entrado numa depressão profunda,
a destruição de riqueza seria brutal e a
recuperação lenta e agoniante. O ano de
2009 não teria sido o grande ano de bolsa que efectivamente foi.
8. Se a China não tivesse criado a ilusão de
que era possível aos americanos comprar
produtos chineses através da emissão de
dívida subscrita por chineses, seria mais
difícil criar uma bolha especulativa.
9. Se a AIG tivesse caído há dois anos, a
Goldman Sachs teria falido e atrás dela
quase todos os bancos de investimento
americanos. A seguir a banca europeia
credora e finalmente a banca com pouca
exposição sucumbiriam com a secura do
mercado interbancário. Isto esteve perto
de acontecer. Os Estados não permitiram.
Se Warren Buffet disse, em plena crise, que
era preciso uma intervenção do Estado, essa
declaração é provavelmente mais interessada
e informada do que a maioria dos artigos ou
opiniões de especialistas.
1. Se Jim Rogers disse que as ajudas do Estado e Bancos centrais aos bancos pecadores eram “capitalismo para os ricos”,
provavelmente tem razão. Mas se tais
ajudas não acontecessem, Jim Rogers estaria mais pobre. Provavelmente, muito
mais pobre.
2. Se é pedida a intervenção do Estado
para salvar as falhas do mercado através
da emissão de dívida, é ultrajante que
os mesmos que foram ajudados exijam
uma redução da dívida de um momento
para o outro. É o que se está a fazer na
Europa. E não é o que se está a fazer nos
EUA.
Se o Estado se afastasse dos negócios seria muito bom para deixar o mercado funcionar, mas tiraria muitos negócios a uns
poucos, a começar pelos mais barulhentos
que querem “tirar o Estado da economia”.
1. Se não estivesse provado que a mão in-
visível do mercado é, em várias circunstâncias, potenciadora de desequilíbrios,
não haveria necessidade de entidades
reguladoras.
2. Se temos uma economia global mas não
temos um governo global, provavelmente estão a ser semeados os ingredientes
de uma nova guerra comercial ou, na
pior das hipóteses, militar.
3. Se não há limites à expansão monetária,
não há limites à desvalorização monetária e à valorização dos activos reais, ou
seja, das “commodities” em geral.
4. Se não há limites à expansão monetária,
em vez de trazermos quilos de géneros
com um punhado de notas, precisaremos de quilos de notas para trazer um
punhado de géneros.
5. Se o euro é um projecto ameaçado e o
dólar está em risco, qual será a nova moeda de reserva mundial?
RECTIFICAÇÃO­­
Na última edição da “Vida Económica”
foi publicado um artigo de opinião da autoria de Pedro Azevedo, director Executivo
da Golden Assets, mas, por lapso, a fotografia colocada para ilustrar o mesmo era
de outro responsável da empresa, Alexandre Mota. Aos visados, bem como aos nossos leitores, pedimos desculpa pela troca
das imagens.
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