A PROSPEÇÃO de PETRÓLEO e os EFEITOS das ONDAS SÍSMICAS sobre a AUDIÇÃO em PEIXES Existe um interesse crescente sobre os efeitos de sons antropogénicos (gerados por seres humanos) sobre mamíferos marinhos e peixes. A continuidade dos efeitos potenciais sobre tais animais poderia englobar desde a morte imediata a nenhuma resposta. Entre esses dois extremos estão uma variedade de efeitos que poderão incluir lesões de diversos tecidos do corpo que poderão danificar ou em último caso matar o animal, a alteração do nível de audição temporário ou permanente, mudanças comportamentais uma vez que os animais tentam evitar o som, e efeitos comportamentais resultantes da incapacidade auditiva de um animal relativa a sons ambientais biologicamente relevantes ou de sons comunicacionais conespecíficos. Existe, no meio marinho e de água-doce, um largo espectro de fontes sonoras antropogénicas que incluem a navegação, sonares de alta potência. Os níveis ambientais resultantes de tais sons parecem estar a aumentar. Contudo, é muito difícil quantificar este aumento devido à diversidade de fontes sonoras no ambiente meio marinho e à disponibilidade muito limitada de dados sobre os sons subaquáticos na maioria dos locais do mundo. As armas de pressão de ar são largamente utilizadas, na exploração sísmica marinha, pelas indústrias do petróleo e do gás. Esses aparelhos produzem uma bolha de ar comprimido que colapsa sob pressão provocando uma “explosão” bem localizada e enérgica. O máximo de nível de som, das armas de pressão de ar para este efeito, poderão ser tão elevadas quanto 230 dB (re1 µPa) à distância de 1 metro da origem. Grupos de pistolas de pressão de ar, são colocadas na parte posterior de um navio, disparando “tiros” frequentes. Os sons reflectem as formações geológicas abaixo do fundo aquático, sendo detectados por uma longa cadeia de hidrofones arrastados na parte traseira do navio. Através da medição da chegada, e de outras características, do sinal reflectido é possível prever a existência de petróleo ou gás nos fundos oceânicos. Apesar do interesse crescente de cientistas, reguladores e de grupos ambientalistas no que respeita aos sons antropogénicos, existem poucos dados experimentais que refiram directamente como é que essas fontes afectam os animais. Os dados relativos a peixes demonstram que a exposição a sons moderadamente elevados poderá provocar a perda temporária da audição (denominada Desvio Temporário do Limiar = Temporary Threshold Shift, TTS), em algumas espécies como o pimpão (Carassius auratus) e também noutras espécies [McCauley et al., 2003]. Outros três estudos utlizando elevada intensidade de som demonstraram lesões nas células sensoriais do ouvido interno, as quais são responsáveis pela transdução do som em impulsos nervosos. O único estudo publicado, relativo ao exame direto dos efeitos de uma arma de pressão de ar sobre a fisiologia dos peixes, deve-se a McCauley et al. (2003) o qual determinou os efeitos da exposição a uma arma de pressão de ar, sobre a estrutura dos ouvidos dos peixes. Verificou-se então que a exposição a múltiplos tiros da arma de pressão de ar, durante várias horas, produziu lesões sobre o epitélio sensorial do sáculo, o principal órgão final auditivo do ouvido, num grupo de Pagrus auratus enjaulados. Os resultados demonstraram o aparecimento de lesões precoces às 18 horas após a exposição, sendo bastante extensas nos peixes examinados 58 dias mais tarde quando comparados com os respectivos controlos. Contudo o McCauley et al. (2003) não estudou quaisquer efeitos sobre a audição em peixes. Na verdade o efeito de fontes antropogénicas sobre a audição é uma questão importante uma vez que é possível ter TTS sem que existam efeitos permanentes sobre o ouvido. O TTS poderá colocar eventualmente o peixe em perigo, uma vez que poderá não ouvir os predadores, indivíduos da mesma espécie ou o próprio ambiente. Assim, as armas sísmicas de pressão de ar produzem uma quantidade considerável de energia acústica que possui potencial para afectar a vida marinha. Estudos posteriores de Popper et al., [2005] envolveram os efeitos da exposição a um conjunto de armas de pressão de ar sobre a audição de 3 espécies de peixes do delta do rio Mackenzie Esox Lucius, Coregonus nasus, Couesius plumbeus relativamente à resposta do tronco cerebral auditivo (TCA = ABR). Observaram-se desvios do limiar de audição em peixes expostos a 20 tiros Esox Lucius e Couesius plumbeus com recuperação após 24 horas de exposição, não tendo sido identificado qualquer desvio em relação ao Coregonus nasus. Deste modo, concluiu-se que é pouco provável que estas três espécies tenham sido grandemente atingidas pela utilização da arma de pressão de ar no estudo sísmico do rio Mackenzie. Deve-se contudo, estar alerta para as possíveis extrapolações em relação a outras espécies aquáticas e também a peixes expostos a este tipo de equipamento em águas mais profundas, com um maior número de disparos e durante um período de tempo mais dilatado. (Texto Traduzido e Adaptado por Maria Ana Monteiro Santos, a partir das publicações abaixo citadas) BIBLIOGRAFIA McCauley, R. D., Fewtrell, J., and Popper, A. N. (2003). “High intensity anthropogenic sound damages fish ears,” J. Acoust. Soc. Am. 113, 638–642. Popper, A. N. (2003). “Effects of anthropogenic sound on fishes,” Fisheries: 28, 24–31. Popper et al. (2005). “Effects of airguns on fishes”, J. Acoust. Soc. Am., Vol. 117, No. 6, 39583971. Hans Slabbekoorn, Niels Bouton, Ilse van Opzeeland, Aukje Coers, Carel ten Cate and Arthur N. Popper (2010). “A noisy spring: the impact of globally rising underwater sound levels on fish,” Trends in Ecology and Evolution Vol.25 No.7