Dar a volta ao mundo pode ser um sonho! Ou uma realização. Camboja – Gabi e monges noviços Gabriella Morena, 31 anos, de coração mineiro e carioca, viajante, psicóloga, deixou, há um ano, sua família, amigos, empregos, estabilidade e o pão de queijo mineiro para realizar um sonho: dar uma volta ao mundo. Em julho de 2014 o avião deixou o Brasil, rumo a Madri, na Espanha, e tudo o que ela tinha eram grandes expectativas e muita vontade de aprender. Depois de dez meses fora de casa, trocando o guarda-roupa pela mochila, saltos por chinelo, conforto e estabilidade por divertidos (alguns nem tanto) perrengues, ela nos conta, um pouco do que viveu neste período que valeu a pena. Em poesia, como, segundo ela, a vida deve ser. Último voo dessa viagem Pra casa vou retornar Ir é muito bom Melhor é ter pra onde voltar O que te marcou mais? Você pode me perguntar O tempo passou rápido Eu diria Um dia desses estava a sonhar Cara, já foi! 10 meses não demoraram a passar Hoje meu afilhado dormiu no meu colo Quando fui ele nem existia Na verdade já estava na barriga da mamãe Mas na época ninguém sabia O tempo se contou de outro jeito Sem pressa, sem CBN, sem hora Eu vivendo um sonho intensamente “Je suis Charlie” lá fora Ebola Copa, fim de novela, eleição Boko Haran, balde de gelo Na Malásia, desaparecido o avião Medo Queridos que chegaram Amados que se foram O mundo se recusou a parar Outras coisas não saíram do lugar A vida coube numa mochila Inclusive a próxima será mais leve Pequeno ficava o coração Disse mais “adeus” que “até breve” Aprendi a partir enquanto está bom Dosar é sempre difícil Fácil é perder o tom Claro que tenho tanto a contar Teremos muito café e bolo Tempo pra prosear Mas aproveitando já vou adiantar O que a gente acha que só tem aqui Na verdade se vê no mundo inteiro E, ah, sim! Dá pra viver com menos dinheiro Ser brasileira abriu portas Papos de horas, coisas de graça Muito mais o Brasil me rendeu Só interesse em mulher e futebol? Se pensa isso é engano seu Alicate de cutícula foi inútil Canivete, chinelo e canga o oposto Adaptador universal salvou a vida Protetor ao menos pro rosto “Fui porque estava infeliz” De jeito nenhum Exatamente o contrário Parti pra reformar a vida A começar pelo armário Roupas leves e sem salto Pavor de barata continua Me sinto mais leve e desapegada Como mais coisa crua Valores, convicções e fé Várias vezes testados Muita coisa muda mesmo Estão mais enraizados Perto de mim estava o diferente O que nunca vi sempre a frente O melhor veio da minha paixão: Nada mais lindo que gente! Ensinei inglês no Laos Andei de bike em Amsterdan No Camboja fui garçonete Vi meus preferidos de Frida e Rembrandt Dizer tchau foi difícil em Bangkok e Vietnã Voei de balão na Turquia Ajudei uma amiga a gostar de abacate Gelato e massa na Itália dia a dia Gente, aquilo que é tomate! Ensinei gringo sambar Aprendi a cozinhar mais Troquei leite por chá Falei tanto de Minas Gerais Do Rio nem vou comentar Senti saudade de feijão De um marroquino fui a preferida Me impressionei com Vernazza e Essaouira Não saberia eleger a melhor comida Me apaixonei pela Espanha e Laosianos Passei maus bocados na ilha Lugares favoritos? Quase sempre os praianos Teve gente que me tratou como filha Tomei banho com crianças no Mekong Meu joelho reclamou em Coimbra Portugal hoje faz mais sentido E lá escolhi ficar mais comigo Trinquei o pulso em San Francisco Me encantei com Sintra e Bruges Em Paris tenho agora um querido Devo muito ao olhar de um amigo Itália de reencontros, família e despedidas Viagem de irmãs na Tailândia Manhãs francesas de amizade e ZAZ Na minha terra fui staff no hostel Custei a deixar Koh Rong pra trás Noite especial no Sahara Por do sol e seu nascer dezenas de vezes Mar do Caribe, que aguá clara! Me impressionei com a educação dos japoneses San Giminignano, Guanajuato e Hoi An são lindas O abraço de um Tuareg me marcou Tiraram fotos de mim por me acharem diferente Um africano comigo dançou Trinquei o pulso em San Francisco Por um tempão papo com um pescador A voz que me aconchegou Em Savannakhet estive em família Todo o tempo Deus me abençoou E imagina! Recordo que não queria sair de Madrid Achava que lá tinha sido o ápice Mal sabia que o melhor estava por vir O mundo é tão grande E ao mesmo tempo tão pequeno Dei uma volta nele Quero dar outras Continuar aprendendo Melhor é o final Disse o sábio Salomão Será que é porque podemos de novo sonhar? Cheio de planos está meu coração De Deus busco respostas A paz deixo arbitrar Cheia de gratidão retorno Pra outros caminhos caminhar Nota do Tio Flávio: a Gabi foi inspirada por muitas pessoas a dar a volta ao mundo,mas numa palestra do Circuito Aberto, do Tio Flávio Cultural, ela conheceu o André Fran, palestrante, jornalista e um dos apresentadores do programa “Não conta lá em casa”, da Multishow. Esse dia foi, também, muito importante para que ela desse alguns rumos à sua vida. Vientã – Com mulheres Hmong na provincia de Tavan Tailândia – o maior templo branco do mundo Marrocos – pintura de henna nas mãos – tradição das mulheres marroquinas