XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 Gestão do conhecimento no ministério do trabalho e emprego: uma volta ao passado. Abelardo da Silva Melo Junior (CT/UFPB) [email protected] Resumo A gestão do conhecimento tem sido um veículo transformador nas organizações que pretendem permanecer à frente do mundo dos negócios. E não poderia ser diferente nos órgãos públicos. Este artigo apresenta a experiência vivenciada no Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, onde, no período entre 1999 e 2002, foi implantada a gestão do conhecimento, decorrente do desenvolvimento do Programa de Transformação do MTE - O Novo Perfil da Fiscalização do Trabalho. Foi uma experiência inovadora em órgãos públicos da administração direta, mas que fracassou, por não haver continuidade na mudança de um governo para outro, fato verificado a partir do ano de 2003. Palavras chave: Gestão do Conhecimento, Organização, Serviço Público. 1. Introdução Desde os primórdios de nossa civilização que o homem vem adquirindo e transmitindo o conhecimento, seja através da tradição na comunicação oral, seja através de sinais, processo largamente utilizado antes do descobrimento da escrita, como se vê nos patriarcas da Bíblia, no Antigo Testamento, ou seja, por meio da comunicação escrita, conforme se verifica nos achados arqueológicos na famosa pedra da Roseta. Na atualidade, evoluiu-se da chamada era industrial, para se vivenciar a era do conhecimento, decorrente do processo evolutivo natural do homem na sua incessante busca por mais conhecimento, com o rolo compressor da inovação tecnológica forçando decisões, provocando desafios cada vez maiores, onde o conhecimento adquire uma importância vital, que passa a ser considerada a maior alavanca de riqueza, em todas as áreas, onde o aprender assume papel fundamental. Não poderia ser diferente em órgãos públicos, havia a necessidade de adequar o potencial humano existente no corpo de auditores-fiscais do trabalho à nova realidade da competição da prestação de serviço na área pública, o que de fato passou a ocorrer, como conseqüência da implantação de uma nova política de gestão de órgão público. Em meados de 1999 o Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, instituiu o Programa de Transformação do MTE - O Novo Perfil da Fiscalização do Trabalho, com o intuito de levar ao debate o papel do auditor fiscal do trabalho e das ações de fiscalização, dotando-os de novos instrumentos e estimulando a ampliação de práticas e experiências bem sucedidas, na busca da regularização das infrações e do atendimento à legislação trabalhista, com eficácia e criatividade. (BRASIL, 1999). Após terem sido definidas as principais linhas de ação, o programa passou a ser implementado entre 2000 e 2002, tendo, dentre outros projetos, a implantação de um projeto de gestão do conhecimento, que tinha o propósito de introduzir, a gestão do conhecimento, no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE e especificamente na Secretaria de Inspeção do Trabalho - SIT e nas Delegacias Regionais do Trabalho, enquanto metodologia para o planejamento e para a administração estratégica e tomada de decisões. (BRASIL, 2002). ENEGEP 2004 ABEPRO 4987 XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 O que este artigo pretende apresentar, é o contexto da aplicação dessa metodologia da gestão do conhecimento, como uma ferramenta que faz parte de um programa de ação que pretende ser um veículo transformador na auditoria fiscal do trabalho, no Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, que se evidenciou como uma experiência inovadora em órgãos públicos da administração direta, mas que sucumbiu pela falta de continuidade desse programa, decorrente da mudança de governo, ocorrido no ano de 2003. 2. O Conhecimento A ciência, com toda a sua evolução, não consegue estabelecer com precisão o momento da história da humanidade em que o homem registrou pela primeira vez, num meio físico, suas idéias, e consequentemente o conhecimento. A arqueologia nos apresenta diversas provas, encontradas em manuscritos, fragmentos de peças de arte ou mesmo porções inteiras de antiguidades, que demonstram que a humanidade vem acumulando, de forma rudimentar, o conhecimento adquirido nessas épocas. Os processos de mudanças ocorridos ao longo da história, desde a idade média até os dias atuais, demonstram que as empresas foram se adequando às necessidades da economia e que atualmente a gestão do conhecimento se apresenta como um processo que vem se consolidando nos últimos anos, como uma ferramenta senão importante, mas, sobretudo vital para sobrevivência destas, inclusive no setor público. De acordo com Xavier, (2000), o conhecimento: “É uma relação entre um sujeito observador pensante e um objeto que ele quer compreender” . Já Davenport, (2000), afirma que: “O conhecimento da organização, também chamado de capital intelectual, competência, habilidade, e inteligência empresarial é reconhecido como um ativo intangível de inestimável valor” . Isto se aplica tanto às organizações empresariais quanto às governamentais, pois é patente na cultura da era do conhecimento, onde, para sobreviverem, as empresas, públicas e privadas, têm que aprender de maneira mais rápida que seu adversário, como forma de se adequar e reagir rapidamente às mudanças. Segundo Drucker, (1997), “Agora estamos entrando no terceiro período de mudanças: a transição da organização de comando e controle, a organização de departamentos e divisões, para a organização baseada na informação, a organização de especialistas do conhecimento”. O domínio dessa ferramenta de gestão não é fácil por se tratar de um recurso extremante poderoso, de difícil classificação, intangível, porém altamente reutilizável, conforme certifica Terra, (2001). Nesse contexto podemos afirmar que o homem moderno recebe milhares de informações diariamente, e que processa apenas aquelas que lhe são de interesse, o que gera um enorme desperdício de conhecimento. Kanitz, (2004), afirma que o conhecimento humano está aumentado explosivamente, dobrando a cada 9 meses. Esse autor refere que há 2.500 anos Aristóteles provavelmente sabia 90% do conhecimento da época. Hoje estaria tão perdido quanto nós. Nessa mesma linha, Geus (2004), afirma que “Durante os últimos 50 anos o mundo dos negócios se transformou, passou da idéia do capital para a do conhecimento.” Tal afirmação pode ser justificativa destacando o interesse atual pela aprendizagem existente nas empresas, onde os gerentes observam o valor da aprendizagem na otimização de seus recursos humanos. ENEGEP 2004 ABEPRO 4988 XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 Como conceito de gestão do conhecimento podemos afirmar que é um processo sistemático, articulado e intencional, apoiado na geração, codificação, disseminação e apropriação de conhecimentos, com o propósito de atingir a excelência empresarial. Esses conceitos perpassaram a necessidade do Estado se adaptar a essa nova realidade, visão essa já compartilhada em 1995, através da Reforma Gerencial, elaborada e implementada visando a regulação das funções de Estado, através de instrumentos que dentre outros, utilizou a gestão da qualidade, no caso em estudo, que seria em parte aplicado à inspeção do trabalho. (BRESSER-PEREIRA, 2001). 3. Metodologia Para desenvolver este artigo foi realizada pesquisa e revisão bibliográfica de textos, em revistas, livros de autores especializados no assunto, relatórios do Sistema Federal da Inspeção do Trabalho – SFIT, do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, documentos-base do desenvolvimento do Programa de Transformação do MTE - O Novo Perfil da Fiscalização do Trabalho, além de sites da internet. Além disso, foi utilizada a experiência pessoal do autor, decorrente de sua atividade durante 21 anos, na função de Auditor-Fiscal do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, como médico do trabalho na área de saúde do trabalhador, e como Consultor Interno desse ministério, sendo um dos co-responsáveis pelo desenvolvimento, no estado da Paraíba, do projeto de Gestão do Conhecimento. 4. A Inspeção do trabalho no Ministério do Trabalho e Emprego - MTE A Inspeção do Trabalho se originou no momento em que o próprio ser humano, na qualidade de trabalhador, começou a perceber-se explorado e iniciou as buscas de formas menos cruéis e sacrificadas nos ambientes de trabalho de então. Nesse contexto, a Inspeção do Trabalho vem desempenhando um papel decisivo nas relações de trabalho no Brasil desde o ano de 1918, quando foi criado o Departamento Nacional do Trabalho, pelo então Presidente da República, Wenceslau Braz P. Gomes, através do Decreto nº 3.550, em 16 de outubro desse ano, a fim de regulamentar a organização do trabalho no Brasil. Segundo Mannrich, (1991), a Inspeção do Trabalho tem suas origens juntamente com o Direito do Trabalho, uma vez que é aquela que assegura a efetivação deste, que surgiu com o advento da Revolução Industrial. Esse autor, afirma que existem outros estudiosos da história do Direito do Trabalho que advogam ter a Inspeção do Trabalho uma origem mais antiga, que remonta à Idade Média, época em que prevaleciam as corporações de artes e ofícios, onde pessoas credenciadas fiscalizavam a produção, com o intuito de garantir bom preço e a boa qualidade para os consumidores. Segundo consta na breve história das relações do trabalho, Brasil, (2003), o modelo atual de relações de trabalho remonta ao ano de 1912, quando foi constituída a Confederação Brasileira do Trabalho - CBT, durante o quarto Congresso Operário Brasileiro, cujo objetivo foi o de promover um longo programa de reivindicações operárias. Em 1918 foi criado o Departamento Nacional do Trabalho, por meio do Decreto nº 3.550, de 16 de outubro, assinado pelo Presidente da República, Wenceslau Braz P. Gomes, a fim de regulamentar a organização do trabalho no Brasil. Ato seguinte ao da criação do Ministério do Trabalho, foi a apresentação do primeiro decreto relativo às modalidades de organização de sindicatos operários, em março de 1931, através do Decreto nº 19.770, substituído em julho de 1934, pelo Decreto nº 24.294. Passado o período conturbado que deflagrou o Estado Novo em 1937, uma nova regulamentação organizou e consolidou toda a vasta legislação relacionada à organização ENEGEP 2004 ABEPRO 4989 XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 sindical, à previdência social, à proteção do trabalhador e à justiça do trabalho, reunida na Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, decretada em 1º de maio de 1943, através do Decreto–lei nº 5.452, entrando em vigor no dia 10 de novembro desse mesmo ano. Desta forma se afirma que a inspeção do trabalho é uma atividade estatal, preventiva ou repressiva, que tem por fim garantir o cumprimento da ordem jurídica trabalhista. Caracterizase como atividade de vigilância. O poder de polícia conferido aos antigos inspetores do trabalho, hoje denominados auditores-fiscais do trabalho, tem por finalidade impor limites ao poder do empregador. Entretanto não se esgota com a função de polícia, pois é também uma forma de integração da lei. (MANNRICH, 1991). Nesse aspecto, as relações de trabalho se desenvolvem no Brasil dentro de um contexto extremamente complexo do qual fazem parte, no campo das relações coletivas, a organização sindical, que é a forma pela qual se estrutura o sindicalismo no país, e as negociações coletivas, sendo essas o modo através do qual são determinadas as condições gerais de trabalho, inclusive salários. Estão também inseridas nesse contexto as formas de solução dos litígios trabalhistas e os meios de pressão exercidos pelos trabalhadores para aprovar suas reivindicações reconhecidas pelo ordenamento jurídico. (GIL, 1991) No campo das relações individuais de trabalho, a característica preponderante é a existência de uma legislação bastante detalhada e rígida, voltada predominantemente para regular o trabalho subordinado, com remuneração fixa e prestado por tempo indeterminado, sendo previstas exceções que se referem a contratos por prazo determinado e com características diferenciadas. Neste cenário marcado por forte competição, interna e externa, as empresas são forçadas a melhorar a qualidade e a reduzir preços do que produzem e, para tanto, têm de diminuir seus custos e melhorar sua produtividade. Elas têm pouca tolerância ao conflito interno. O trabalho tem de ser realizado na base de troca de experiências e da interação constante entre as pessoas. Essa vinha sendo a base do modelo predominante utilizado pela inspeção do trabalho no Brasil, até então. 5. O Programa de transformação do MTE – o novo perfil da fiscalização do trabalho Detectada a necessidade de mudanças, urgia a elaboração de um modelo que se adequasse à realidade da inspeção do trabalho, frente às novas mudanças no mundo do trabalho, onde se verifica que a globalização da economia trouxe novos agravos ao fortalecer a necessidade de redução de custos, aumento de produtividade, melhoria na qualidade, e a aplicação de conceitos que visavam atingir estas metas como Just-in-time, Kambam, reengenharia, downsizing, controle estatístico do processo, qualidade total, etc., criando pressões fortíssimas sobre os trabalhadores, onde por um lado pressionava a inspeção do trabalho, exigindo novos métodos de abordagem na inspeção da relação capital X trabalho. Salienta-se que, desde que a inspeção do trabalho foi instituída no Brasil, tem havido uma mudança lenta, mas gradativa do perfil de seus agentes, por iniciativa própria, premidos e sensibilizados pelas crises econômicas sucessivas, pelas mudanças constantes na legislação, pelas tendências das cláusulas de convenções e acordos coletivos e pela oscilante correlação de forças nas relações de trabalho. Não obstante às alterações ocorridas, o mundo tem passado por tão grandes e rápidas transformações, com problemas tão complexos a demandar formas diferenciadas de solução, que a direção do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE decidiu institucionalizar mudanças ENEGEP 2004 ABEPRO 4990 XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 internas, visando a dotar os auditores fiscais do trabalho de instrumentos facilitadores ao desenvolvimento de suas ações, assegurando-lhes condições necessárias a ganhos de eficiência, agilidade e eficácia no atendimento das sempre crescentes e mutáveis demandas sociais. Antes da elaboração e implementação desse programa, a inspeção do trabalho viveu fases, historicamente importantes, que iniciaram o processo de transformação do Ministério do Trabalho – MTE e do perfil dos agentes de suas áreas finalísticas. Nesse sentido, foi elaborado o Programa de Transformação do MTE - O Novo Perfil da Fiscalização do Trabalho, iniciado em 1999, cujo foco principal é o auditor fiscal do trabalho no exercício de seu papel junto a sociedade. Esse é o contexto necessário para mudanças em que se situa o Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, que vislumbra nesse programa a possibilidade de se adequar à realidade mundial, conforme preconiza Geus, (1998): “Portanto, para enfrentar um mundo em constante mudança, qualquer entidade precisa desenvolver a capacidade de migrar e mudar, de desenvolver novas habilidades e atitudes: em resumo, a capacidade de aprender”. Esse programa foi concebido com o objetivo de levar ao debate o papel do auditor fiscal do trabalho e das ações de fiscalização, dotando-os de novos instrumentos e estimulando a ampliação de práticas e experiências bem sucedidas, na busca da regularização das infrações e do atendimento à legislação trabalhista, com eficácia e criatividade. (BRASIL, 1999) Para a operacionalização do processo de transformação, entendeu-se que seria necessária a participação de uma consultoria externa que colaborasse com o Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, na concepção do programa, na capacitação de seus agentes de transformação e no acompanhamento e avaliação da sua implantação. Em consonância com esta diretiva, uma estrutura organizacional flexível e horizontalizada foi a opção aprovada para coordenar o processo, com o seguinte perfil: a) Um Grupo Estratégico formado por representantes do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE e pela Consultoria Externa; b) Um Grupo de Sustentação composto por auditores-fiscais do trabalho e representantes dessa Consultoria; c) Um Grupo de Consultores Internos composto por auditores-fiscais do trabalho com perfil específico e treinados para o desempenho do papel, alguns dos quais também comporão o Grupo de Sustentação. O Programa de Transformação previa o desenvolvimento de etapas de sensibilização e mobilização, caracterizadas essencialmente por eventos de preparação do Grupo de Sustentação, formação dos Consultores Internos e mobilização do corpo de auditores-fiscais do trabalho. Dentro desta visão, o projeto não se baseava numa sucessão de eventos programados, mas sim num conjunto de ações coordenadas e concatenadas entre si que auxiliariam na alavancagem da mudança cultural do MTE e que teria como sujeito ativo o auditor-fiscal do trabalho, no exercício da sua capacidade plena de criar, disseminar e utilizar o conhecimento gerado nas suas experiências individuais, o que permitiria transformar o seu conhecimento individual em conhecimento corporativo. Após várias reuniões do grupo estratégico, chegou-se a conclusão da viabilidade técnica e financeira da implantação do programa, já no ano de 2000, onde, nesse período foram realizadas as etapas de sensibilização dos Auditores-Fiscais do Trabalho, com o curso “Desenvolvimento de Auditores Fiscais do Trabalho”, que faz parte da estratégia ENEGEP 2004 ABEPRO 4991 XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 “Sensibilização e Capacitação dos Auditores Fiscais e Gerentes” do Programa de Transformação do MTE - O Novo Perfil da Fiscalização do Trabalho. Dava-se, portanto o início do desenvolvimento do processo de aprendizagem decorrente da implantação do referido programa. A primeira fase do curso de sensibilização, em 2000, passaram cerca de 1705 auditoresfiscais do trabalho, mais de 75% da população alvo do Programa nos 10 Estados previstos. Com o prosseguimento do programa em 2001, o MTE atendeu mais 17 Estados na perspectiva de disseminar o Programa de Transformação do MTE por todo país. Em paralelo, foi desenvolvido o Curso de Formação de Consultores Internos, em 2 módulos, nos anos de 2000 e 2001, que habilitou ao todo cerca de 65 consultores, representados por todos os estados da federação. A partir daí, com vistas à consecução dos objetivos do programa, foram previstos o desenvolvimento dos seguintes projetos: Gestão do Conhecimento, Planejamento Estratégico, Capacitação e Gestão de Cenários. Quanto à Gestão do Conhecimento, o programa tinha por objetivo geral a seguinte premissa, conforme estabelecia o Documento – Projeto Gestão do Conhecimento, Brasil, (2002): O projeto Gestão do Conhecimento tem por objetivo identificar e mapear os ativos intelectuais ligados ao MTE e gerar novos conhecimentos tornando acessível grandes quantidades de informações corporativas, compartilhando as melhores práticas e tecnologias, facilitando assim a tomada de decisões. Como objetivos específicos, o projeto de Gestão do Conhecimento, Brasil (2002), defendia os seguintes aspectos: a) mapear o conhecimento, isto é, as competências individuais existentes no MTE e, especificamente, nas delegacias regionais do trabalho; b) identificar as experiências e habilidades essenciais às ações de auditoria relacionadas às competências; c) estimular a explicitação do conhecimento tácito dos auditores fiscais do trabalho, ou seja, tornar explícito aquele conhecimento pessoal incorporado à experiência individual de cada Auditor; d) estimular o trabalho em equipe e o trabalho multidisciplinar; e) utilizar a informática e a tecnologia de comunicação para aumentar o conhecimento do MTE e não apenas acelerar o fluxo de informações; f) implementar processos incentivadores da criatividade e do aprendizado coletivo; g) incentivar e premiar o compartilhamento de conhecimento e desencorajar que os auditores guardem o conhecimento para si próprios; h) tornar o MTE permeável ao conhecimento externo, ou seja, capaz de capturar os conhecimentos e idéias provenientes dos administrados e parceiros. No ano de 2002, ocorreram seminários nacionais, específicos para cada projeto, com a participação dos consultores internos, chefias da fiscalização de legislação, segurança e medicina do trabalho, com a intenção de sedimentar a cultura da mudança e estabelecer diretrizes para a implementação do restante do Programa de Transformação do MTE - O Novo Perfil da Fiscalização do Trabalho, para o ano de 2003. Ocorreu que, com a virada do ano, o início de um novo governo, posse dos novos ministros de estado, alteração dos dirigentes das diretorias desses ministérios, novas diretrizes foram estabelecidas, comprometendo todo o trabalho da implantação do Programa de Transformação do MTE - O Novo Perfil da Fiscalização do Trabalho, iniciado em 1999, foi desprezado e ENEGEP 2004 ABEPRO 4992 XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 esquecido, trazendo desolação e desmotivando todo um corpo de auditores-fiscais do trabalho que estavam envolvidos nesse processo. 6. Considerações finais O processo de implementação do Programa de Transformação do MTE - O Novo Perfil da Fiscalização do Trabalho foi uma experiência em que se vivencia ao mesmo tempo, dois tipos de situações, uma enriquecedora e a outra frustrante. Foi enriquecedora, porque serviu como desafio de acreditar que se poderia ter um corpo de auditores-fiscais do trabalho pró-ativos, capacitados, conhecedores das possibilidades de mudanças no mundo das relações do trabalho, através da implantação do projeto de gestão do conhecimento, parte de um programa maior que visava mudar o perfil desses auditores. Foi frustrante, pois se acreditava que, com a chegada do novo governo, haveria a continuidade de toda uma estratégia que foi desenvolvida desde 1999 até 2002, ou seja, ao longo de 4 anos. Parecia inacreditável, que, havia sido enterrado todo um esforço hercúleo, de recursos humanos, financeiros, de sacrifícios pessoais, e, sobretudo, de uma visão que foi compartilhada por toda uma categoria funcional, que por um período de tempo, vislumbrou a esperança de melhoria na qualidade da prestação de serviço na inspeção do trabalho, através da auditoria-fiscal do trabalho, na formação qualificada desses auditores, investidos como agentes transformadores da realidade social. Dessa inquietação vem a inspiração do título desse artigo, Gestão do Conhecimento no Ministério do Trabalho e Emprego – Uma Volta ao Passado. Ao iniciar o novo governo, em janeiro do ano de 2003, tudo voltou aos status quo do que era antes, só que de uma forma pior do que já existia. Dentre outras situações experimentadas, o corte linear de cerca de 43% no orçamento geral da união, nesse primeiro ano, com o fito de gerar superávit primário para pagamento do serviço da dívida pública para os credores externos, afundou de vez o desenvolvimento dos projetos do Programa de Transformação do MTE - O Novo Perfil da Fiscalização do Trabalho. Foi implantada, uma visão no mínimo poderia ser classificada como inquietante, pois despreza todo o conhecimento gerado entre 1999 e 2002, conhecimento esse desenvolvido através de um planejamento sério, competente, baseado em critérios sólidos, voltados para a adequação do corpo de auditores fiscais do trabalho à nova realidade do mundo do trabalho, cruel, frio e que vem utilizando cada vez mais inovações tecnológicas que aparecem num ritmo alucinante, inovações essas que eliminam postos de trabalho e marginalizam o trabalhador com baixo nível de escolaridade. Concluimos que, estamos com a inspeção do trabalho de VOLTA AO PASSADO, vivenciando uma situação onde, o Estado brasileiro vem sendo cada vez mais vilipendiado, reduzido a um estado tão mínimo, que não está longe de acontecer o que refere Castor, (2000): “Pelo jeito, diante da atual redução do tamanho e importância do Estado brasileiro, e em vista de sua situação de penúria financeira e operacional, no Brasil está se indo bem longe, através da criação do Estado anêmico”. 7. Referências BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. - A História do Ministério do Trabalho e Emprego. Brasília: 2003, disponível no site: http://mte.gov.br/ menu/institucional/ historico.asp ENEGEP 2004 ABEPRO 4993 XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 BRASIL. 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