Utilização Do Conhecimento Sobre Recursos Hídricos e Matas Ciliares Para a Conscientização e Educação Ambiental. Ricardo Murakami Pinheiro da Silva. Graduando em engenharia agronômica. Universidade Federal de Lavras – MG. Endereço: av. doutor Silvio Menicucci 1618 E-mail: [email protected] Orientadora Rosângela Alves Tristão Borém Doutorado em Produção Vegetal. Graduação em Engenharia Florestal. Endereço: UFLA - DBI - Caixa Postal 3037 Universidade Federal de Lavras – MG. E-mail: [email protected] Objetivo O presente trabalho tem como objetivo obter a percepção ambiental das comunidades residentes no município de Lavras – MG e seu entorno para uma preservação das matas ciliares e do uso racional da água, assim como de outros recursos naturais, criando-se também um canal de comunicação mais próximo entre estas comunidades e o técnico extensionista, para que se possa dar seguimento a futuros trabalhos envolvendo o uso sustentável dos recursos naturais. É esperado também uma conscientização do tema poluição ambiental, suas causas, impactos e medidas preventivas para que não se torne um problema maior. Referencial teórico Água tem muitos significados. Para o ambientalista, significa vida para flora e fauna, para a religião, tem o poder de purificar a alma, para empreendedores é um recurso de grande utilidade que pode servir como meio de transporte e diluição de efluentes, produzir alimento, gerar energia, abastecer populações e industrias, e certamente cada cidadão comum tem sua visão particular acerca desse importante recurso natural. Portanto a água é um recurso natural essencial à vida do planeta terra e tem sofrido constantemente nestas últimas décadas com as ações decorrentes dos processos de industrialização e agropecuária dos países e com a falta de zelo e/ou informação de seu correto uso pela maior parte da população. Segundo Cunha et al, 2006, “o termo - água - refere-se , regra geral, ao elemento natural, desvinculado de qualquer uso ou utilização. Por sua vez, o termo – recurso hídrico – é a consideração da água como bem econômico, passível de utilização com tal fim.” Após nosso planeta ter sido observado e fotografado em missões espaciais, foi dito que ao invés de se chamar Terra, deveria ser chamado de planeta Água, pois a água ocupa a maior área da extensão do planeta, além do fato de que o planeta Terra é o único planeta do sistema solar onde a água ocorre na forma líquida. 1 “Só para termos uma idéia da quantidade total de água existente no planeta (Segundo Cunha et al, 2006), 97,2% da água existente é salgada, sendo o restante 2,5% da água doce divididos nas seguintes proporções: 68,9% formas as calotas polares e geleiras, 29,9% são águas subterrâneas, 0,3% formam os rios e lagos e 0,9% estão presentes em outros tipos de reservatórios”. “Pelo menos 8% da reserva mundial de água doce esta no Brasil, sendo que 80% destes encontram-se na região amazônica e os restantes 20% concentram-se nas regiões onde vivem 95% da população brasileira” Mancuso et al, 2003. Como recurso renovável, a água ocorre na terra sendo filtrada e reciclada através de seu ciclo na natureza chamado de ciclo hidrológico. O ciclo hidrológico compreende uma série de transformações nos estados físicos (sólido, líquido e gasoso) da água. Em cada etapa do ciclo a água é transformada e não é possível determinar onde termina ou inicia o ciclo. Segundo Macedo, 2004 “o ciclo hidrológico compreende o movimento da água em suas várias formas, mantém um fluxo permanente com o volume inalterado desde o nascimento da Terra, porém a disponibilidade da água tornou-se limitada pelo comprometimento de sua qualidade”. Para se ter idéia do ciclo hidrológico, resumidamente podemos tomar como ponto de partida os oceanos rios e lagos. A água que se evapora é levada ao continente com as nuvens pelos ventos, estas nuvens ao se condensarem dão origem às chuvas que irão cair na terra, onde parte da água irá abastecer diretamente os rios e lagos e a maior parte irá infiltrar nos solos em direção aos lençóis freáticos, abastecendo-os. Os lençóis freáticos por sua vez abastecem e ajudam a manter os níveis dos rios, lagos e oceanos através da ligação com o ambiente na forma de nascentes e por meios subterrâneos. A água influenciou a humanidade desde seus primórdios, pois ao se procurar um local para estabelecimento de uma vila ou grupo de pessoas, um fator de grande relevância era a disponibilidade de água nas proximidades. Por isso a água sempre foi utilizada pelos seres humanos como recurso, sendo como consumo e/ou fonte de alimento e posteriormente como fonte de energia para o movimento de máquinas, pois o avanço da tecnologia possibilitou a utilização da água, em grande quantidade, para a produção de energia elétrica nas usinas hidrelétricas e irrigação. “A qualidade e a composição química das águas superficiais são afetadas pelo próprio ambiente natural – configuração, tipo de ambiente circundante, etc. – mas os impactos causados pela atividade humana merecem especial destaque, sendo caudados por emissões diretas – esgotos sanitários, excedentes de fertilizantes, efluentes industriais e derramamento de óleo - e emissões indiretas – incidência de contaminantes atmosféricos nas águas, chuvas acidas” (Asher et al, 2002). Devido a algumas propriedades da água como solvente e possuir características de transporte de substancias, a água tem sido utilizada também para lançamento de resíduos. Na maioria das cidades brasileiras não há tratamento de esgoto, sendo os resíduos lançados diretamente nos corpos d'água como rios ou no mar, contaminando assim estes ambientes. Em grandes cidades a quantidade de esgoto lançada é tão alta que os rios tornam-se poluídos e praticamente sem vida. A água contaminada industrialmente contém compostos químicos, geralmente resíduos, que são transportados e podem se transformar em produtos danosos à saúde não só de seres humanos, mas de outros organismos. Na agricultura usa-se água principalmente na irrigação, mas também para lavar locais onde ficam os animais e embalagens de pesticidas, geralmente tóxicos. A atividade agrícola, 2 portanto também pode causar poluição da água, através do escoamento de água contaminada para um rio ou infiltrando-se até atingir lençóis de água subterrâneos. Por tanto, o ciclo hidrológico realizado pela natureza tem a capacidade de filtrar a água, reciclando-a, porem com a quantidade cada vez maior de resíduos poluentes na água, a concentração de água potável esta se tornando cada vez menor, pois estes resíduos permanecem por longos períodos nos copos d`água, sendo de difícil e demorada decomposição pela natureza. Devemos tomar atitudes de conscientização e uso racional deste recurso (“em 1990 a disponibilidade social de água em 18 paises no mundo era inferior a mil m³per capita/ ano, em 2025 essa situação pode atingir 30 paises” Cunha et al, 2006), dando extrema importância ás áreas de mananciais, pois as matas ciliares – massa de vegetação que se forma naturalmente as margens dos rios e corpos d água - exercem um papel de filtro para o curso d`água, ajudando na infiltração do solo, retendo agroquímicos e materiais erosivos arrastados pelas chuvas e conservando a fauna e flora destes cursos d`água e suas respectivas matas. “Portanto trata-se de proteção extremamente eficaz, tanto dos corpos ďágua, quanto do solo, de suas margens e dos lençóis freáticos. Também atua no amortecimento do impacto da erosão em áreas mais altas, quando nelas se desenvolve a agricultura. A retirada da mata ciliar também facilita o transporte de solo fértil para dentro dos rios e represas, a deformação dos solos – com o surgimento de regos, grotas e voçorocas – e o desbarrancamento e a deformação das margens dos corpos dágua. Alem disso elimina os refúgios da fauna, assim, vai escasseando. O conjunto desses efeitos gera uma acentuada degradação da paisagem e prejudica o uso dos corpos dágua para recreação e lazer” (Vidgal Lopes et al, 1996). Cunha et al, 2006 afirma que “o que mais falta no Brasil não é água, mas determinado padrão cultural que agregue ética e melhore a eficiência de desempenho político dos governos, da sociedade organizada loto sensu, das ações publicas e privadas, promotoras do desenvolvimento econômico, em geral, e da sua água doce, em particular”. Para ajudar, devemos “construir uma proposta de Educação Ambiental emancipatória, solidária e comprometida com o exercício da cidadania” (Oliveira et al, 2004). Metodologia O trabalho foi direcionado aos moradores - homens, mulheres e crianças - residentes no município de Lavras e algumas cidades de seu entorno. Primeiramente foi elaborado de um relatório com as causas dos impactos ambientais gerados e suas respectivas sugestões de solução, para que pudéssemos formular um bom material didático a ser apresentado e trabalhado. Assim com a elaboração de um modelo de cartilha auto-explicativa para distribuição em colégios e comunidades contendo o assunto relacionado ao tema abordado, como questões de preservação dos recursos hídricos e matas ciliares, além de como lidar corretamente com o lixo produzido, buscou-se financiamentos e patrocínios para a efetivação e produção do material didático. Foram encontradas grandes dificuldades para obtenção de recursos financeiros, buscados junto a prefeitura do município e a empresas privadas instaladas na região de atuação do projeto. Inúmeros pedidos foram negados, porém somente dois dos pedidos de patrocínio foram aceitos e apoiados pela Sexta Companhia da Polícia Militar Ambiental da região de Lavras – MG e pela Fundação Abraham Kasinski (Parque Ecológico Quedas do Rio Bonito). Com a obtenção dos recursos financeiros, pode-se dar continuidade ao projeto, obtendo-se o material didático necessário a ministração das palestras. 3 Palestras estas onde nos meses seguintes foram colocadas em prática à educação e conscientização ambiental, em relação ao tema abordado, nos estabelecimentos de ensino do município, no anfiteatro da Polícia Ambiental (Ecolandia) e no Parque Ecológico Quedas do Rio Bonito com caminhadas na trilha que beira o corpo d água do parque, sendo os assuntos abordados transmitidos de acordo com a faixa etária do grupo envolvido, desta forma o tema foi discutido desde colégios de ensino fundamental a proprietários e trabalhadores rurais. Principais resultados O planejamento e execução do trabalho, iniciado em abril do ano de 2007 teria como prazo para execução 8 meses (dois semestres letivos), porém diante as dificuldades encontradas para agariar recursos financeiro e pelo bom resultado e apoio encontrado, o prazo e término do trabalho foi estendido e hoje encontra-se num patamar sem expectativas de final, pois passados 2 anos do início do projeto, o tema e as palestras ainda são discutidos e apresentados a novos grupos, obtendo sucesso e interesse entre os expectadores. Foram obtidos patrocínios importantes no decorrer dos últimos dois anos, além da disponibilização de recursos (físicos e financeiros) para ministração de palestras, foi obtido uma inclusão de um segundo trabalho (voltado ao tema: reciclagem) nos colégios públicos do município, onde com o patrocínio da Polícia Ambiental e da COPASA, em parceria com o Setor de Ecologia da UFLA, estão sendo instalados kits para coleta seletiva do lixo nos colégios, sendo as palestras ministradas atualizadas com a inclusão do novo assunto. Desta forma percebe-se a mudança no comportamento dos alunos envolvidos no que tange desde a limpeza do colégio a preocupação com o ambiente. Bibliografia: Águas doces no Brasil: capital ecológico, uso e conservação / organizadores Aldo da Cunha Rebouças, Benedito Braga, José Galizia Tundisi. – 3.ed. – São Paulo: Escrituras Editora, 2006. Águas & Águas / Jorge Antonio Barros de Macedo – Belo horizonte-MG: CRQ-MG, 2004. Conservação do meio ambiente: ecologia / Marco Iniold Bueno e Silva. – Porto Alegre: Sagra, 1998. Dilemas sócio-ambientais e desenvolvimento sustentável / Daniel Josef Hogan, Paulo Freire Vieira. – 2.ed. – Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1995. Gestão ambiental no Brasil: experiência e sucesso / organizadores Ignez Vidgal Lopes et al. – Rio de Janeiro: Editora Fundação Getulio Vargas, 1996. Prevenção da poluição / Kiperstok, Asher et al. – Brasília: SENAI/DN, 2002. Programa de educação ambiental do estado de Minas Gerais: uma construção coletiva / Gisele Brandão Machado de Oliveira et al. Belo Horizonte: COMFEA. 2004. Reuso da água / Pedro Caetano Sanches Mancuso, Hilton Felício dos Santos, editores. – Barueri, SP: Manole,2003. 4