ILHA SOLTEIRA XII Congresso Nacional de Estudantes de Engenharia Mecânica - 22 a 26 de agosto de 2005 - Ilha Solteira - SP Paper CRE05-CM26 ESTIMATIVAS DOS NÍVEIS DE TENSÃO E DEFORMAÇÃO NA RAIZ DE ENTALHES SOB CONDIÇÕES ELASTOPLÁSTICAS Thiago P. Mendonça e Jorge Luiz A. Ferreira. Universidade de Brasília - UnB, Faculdade de Tecnologia, Dept°. de Engenharia Mecânica Campus Universitário Darcy Ribeiro, Asa Norte, Brasília, DF, CEP-70910-900 E-mail para correspondência: [email protected] Introdução Fadiga é um tipo de falha mecânica que ocorre em componentes estruturais quando submetidos a esforço cíclico, e é provocada pela nucleação mais ou menos lenta de trincas (Dowling, 1993). Esta ocorre em componentes com descontinuidades geométricas, tais como furos, entalhes, mudanças bruscas de seção, etc. Iniciando-se nas raízes dessas descontinuidades, região onde as tensões e deformações atingem valores mais altos que aqueles observados nominalmente. Quando os níveis de tensão atingem valores que ultrapassem o limite de escoamento do material, a deformação começa a controlar o fenômeno de iniciação da trinca (Topper et al, 1969). Dessa forma, para avaliar a vida da peça é necessário realizar uma análise elastoplástica para determinar os valores reais de tensão e deformação no entalhe. Poucas formas de se determinar a relação entre a deformação e a tensão sob condições de escoamento local são eficientes. Muitos métodos foram desenvolvidos de forma a obter uma aproximação para os valores de tensão-deformação na raiz de entalhes. Geralmente os métodos mais usados são o de Neuber (1961), Glinka (1985) e Seeger e Heuler (1980). Objetivo Neste trabalho foi utilizado o método de elementos finintos-MEF com o objetivo de verificar a validade das estimativas de tensão/deformação na raiz do entalhe de uma placa plana com furo, levantadas através dos métodos analíticos citados. Metodologia Foi utilizada uma configuração de carregamento com amplitude constante e R=-1, sendo o material submetido ao estado plano de tensões – superfície livre do componente de tensão. Utilizaram-se os aços SAE 4142 e SAE 1045, dois aços de tenacidade bastante diferentes com objetivo de que as curvas tensão/deformação do material influenciassem na distribuição de tensões. Para isso também, as curvas de tensão/deformação do material foram modificadas para análise considerando endurecimento cinemático e regime bilinear, sendo necessário para este último a modificação dos modelos analíticos a fim de atender a esta restrição. O valor do fator teórico de concentração de tensões Kt foi obtido da literatura (Peterson, 1974) e a malha utilizada na análise computacional foi refinada na região da raiz do entalhe a fim de se obter o mesmo Kt. Com intuito de se economizar recursos computacionais foi utilizado apenas ¼ da geometria da placa, aplicando assim as devidas condições de simetria. Analiticamente, associaram-se os métodos analíticos citados à equação constitutiva de Ramberg-Osgood para a obtenção dos valores de tensão e deformação na raiz do entalhe, variando-se a gama de tensões nominais até o limiar do escoamento generalizado da seção da descontinuidade. Para a simulação através do método de elementos finitos, foi usado uma modelagem bidimensional, com elementos triangulares planos com 6 nós e 3 graus de liberdade por nó e a malha usada tem 10043 nós e 4866 elementos. Análise através do método de elementos finitos considerando carregamento no regime elástico nos mostra um valor do fator teórico de concentração de tensões de 2.53, razoável perto do valor de 2.48 indicado por Peterson, 1974. Resultados Na análise de comportamento multilinear com endurecimento cinemático (Figura 1) o modelo de Seeger se mostra extremamente conservativo para ambos os materiais, mostrando assim sua aplicabilidade para grande gama de materiais. Já os métodos de Neuber e Glinka apresentam uma variância devido as propriedades do material, sendo Glinka menos conservativo para o aço com maior rigidez, situação que se inverte em relação a Neuber quando o aço apresenta uma rigidez bem menor do que aquele. Este fato demonstra que não deve haver uma generalidade na aplicação destes métodos analíticos, pois se nota que pra cada tipo de material há um método que se adequa melhor aos resultados pretendidos. Esta mesma variância é estendida em casos bilineares (Figura 2), onde tanto Glinka como Neuber apresentam melhores resultados dependendo do tipo de material usado. 0.018 0.022 Deformação Local (mm/ mm) Deformação Local (m/ mm) 0.019 Neuber 0.017 Glinka Seeger e Heuler 0.014 M.E.F. 0.011 0.008 0.006 SAE 4142 0.015 Neuber Seeger e Heuler 0.008 0.005 0.003 0.000 0.000 450 900 1350 1800 2250 M.E.F. 0.010 0.003 0 Glinka 0.013 SAE 1045 0 2700 250 500 750 1000 Kt versus Tensão Nominal (MPa) Kt versus Tensão Nominal (MPa) Figura 1. Comportamento multilinear. 0.010 Neuber Deformação Local (mm/ mm) Deformação Local (mm/ mm) 0.020 Glinka 0.015 M.E.F. SAE 4142 0.010 0.005 Neuber Glinka 0.008 M.E.F. SAE 1045 0.005 0.003 0.000 0.000 0 1000 2000 Kt versus Tensão Nominal (MPa) 3000 0 250 500 750 1000 Kt versus Tensão Nominal (MPa) Figura 2. Comportamento bilinear. Conclusões Todos os métodos analíticos trabalham a favor da segurança, o que justifica o uso deste em projetos na ausência de um programa de elementos finitos. A utilização de determinado método depende do tipo de material, viu-se que materiais mais frágeis se adequam bem ao método de Glinka, enquanto materiais dúcteis ao de Neuber. Mas sabe-se que uma análise prévia com todos os modelos é necessária para assegurar a segurança do projeto. Referências Bibliográficas Costa, J. D., Ferreira, J. M., “Fatigue crack initiation in notched specimens of 17Mn4 steel”, Internetional Journal of Fatigue, Vol. 15, No. 9, pp 501-507, 1993. Dowling, N. E., “Mechanical Behavior of Materials”, Prentice-Hall International Editions, 1993. Menin, E. C. G., Balthazar, J. C., Ferreira, J. L. A., “Assessment of the stress and strain levels at geometrical discontinuites under elastoplastic conditions: a case study”. Neuber, H., “Theory of Stress Concentration for Shear-Strained Prismatical Bodies With Arbitrary Nonlinear Stress-Strain Law”, J. of Applied Mechanics, Vol. 28, p. 544-550, 1963. Peterson, R. E., “Stress Concentration Design Factors”, Ed. John Wiley & Sons, NY, USA, 1974. Raman, S. G. S., Radhakrishnan, V. M., “On cyclic stress-strain behaviour and low cycle fatigue life”, Materials and Design, Vol. 23, pp. 249-254, 2002.