REFEIÇÕES DE CASA PARA O TRABALHO
De fato e lancheira na mão
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04.11.2011Por Mauro Gonçalves
Muitos portugueses já optam por levar diariamente o almoço para o trabalho, outros nem por
isso. Existem vantagens e inconvenientes, a verdade é que o motivo "poupança" é, a cada dia
que passa, um prato que ganha peso na balança. Para adeptos ou não, existem alternativas
cool para contornar a "velha" marmita, ou o tupperware "quadrado".
Para Paulo Amaral, empresário de 27 anos, é, sobretudo, uma questão de poupança, mas não
só. Há cerca de um ano e meio foi o primeiro na empresa a começar a trazer comida de casa.
As ementas repetitivas e pouco saudáveis do restaurante cansaram-no. Ao mesmo tempo,
precisou de rentabilizar a hora de almoço que via cada vez mais encolhida por voltas e mais
voltas no pandemónio de Guimarães, uma pequena cidade já com o espectro de futura capital
da cultura. À estreia com os tupperwares seguiu-se a tarefa de persuadir os outros e, assim,
procurou incutir nos sete colegas o hábito de fazer a refeição sem terem de sair do escritório.
"Ao início, encararam [a ideia] com algumas reservas, mas neste momento já todos trazem de
vez em quando", conta. Diz que não é nenhum expert na cozinha, mas, pelo menos, passou a
escolher o que quer comer. Entre os despojos do jantar do dia anterior e um ou outro prato prépreparado, desde que "sem muitos molhos", Paulo já criou um hábito, por sinal, contagioso.
Sugestões do chef
"A cozinha está na moda" - é o que diz o chef José Alexandre, autor do livro Pronto a Comer,
um inventário de ideias para quem não sabe o que de transportável pode preparar para uma
das refeições mais importantes do dia. Confessa não ter sido por acaso que o conceito
"receitas para levar para o trabalho" tenha surgido numa altura "menos positiva". A ideia veio
da Matéria-prima Edições e.. voilá! - o compêndio com mais de 100 receitas foi lançado a 16 de
Setembro, quando já muitos recorriam à lancheira para gastar menos, mas também para
"começar a melhorar a alimentação", ressalva o chef.
A tarefa não ficou por mãos alheias e o chef tem sugestões para todos os gostos, rotinas e
labores. Desde a sanduíche com a carne assada que sobrou do jantar à salada que, da forma
mais caprichosa, exige os ingredientes mais frescos. Para quem almoça a contra-relógio ou
durante deslocações, o chef recomenda uma baguete de sardinha. Para quem passa grande
parte do tempo sentado a uma secretária, aconselha uma salada colorida de salmão fumado,
por exemplo. Já para aqueles cuja profissão implica um esforço físico considerável, um rancho
ou um bacalhau com grão são algumas soluções.
Levar ou não levar?
Gustavo Pereira é um fã declarado dos dotes culinários da esposa. A qualidade da comida foi,
para o gestor de 40 anos, a motivação para no ano passado começar a levar almoço para o
trabalho com alguma frequência. "Sempre que a minha mulher faz pratos mais interessantes e
em maior quantidade, aproveito para levar no dia seguinte", afirma. Os pratos não são
especialmente preparados com o intuito de levar para o trabalho, mas uma continuação do
deleite caseiro.
Na empresa onde trabalha, o hábito veio para ficar: "Aqui sempre houve quem trouxesse
almoço, mas noto que, de há dois anos para cá, tem-se tornado mais comum". Por já se tratar
de um cenário normal, mesmo nos dias em que a imagem precisa de estar mais cuidada,
Gustavo não vê razões para deixar o almoço em casa. "Carrego uma lancheira diariamente
mesmo que vá de fato e, normalmente, até são bastante infantis porque são dos meus filhos",
confessa. E a "animada" lancheira acompanha-o sempre, se não com o almoço, pelo menos
com um lanche.
"Há muito o preconceito de se ver o levar comida para o trabalho como sinal de pobreza.",
refere o chef, que delega aos mais jovens a tarefa de contrariar esta ideia . "Têm uma mente
mais aberta. Aproveitam a oportunidade para socializar. Muitas vezes começa por piada, mas
depois pega e fazem disso um hábito".
Levar ou não levar almoço para o trabalho? A resposta estará algures na equação de
economia (de tempo e dinheiro), pragmatismo e bem-estar. No recém-editado Pronto a Comer,
o chef enaltece a importância dos alimentos frescos, que podem ser encontrados num
supermercado comum, na confecção dos pratos que, para todos os efeitos, são caseiros. Além
da vertente "saber o que se está a comer", existe ainda o impacto na carteira, que a partir de
Janeiro de 2012 será maior com a subida do IVA na restauração para 23%. O tempo também é
um ganho (países como os Estados Unidos sabem-no bem), uma vez que comer algo fast no
trabalho é uma forma de não quebrar o ritmo, tornando o dia mais produtivo. Não menos
verdade é que preparar uma refeição quando se chega do emprego e carregá-la no dia
seguinte é tarefa com os seus inconvenientes, nomeadamente, o cansaço - e algum défice de
paciência.
O facto de morar perto do trabalho faz com que João Cunha, administrador de uma empresa
em Lisboa, nunca tenha ponderado realmente a hipótese de levar almoço para o trabalho, uma
opção que não considera viável. Contudo, lembra-se de antigos colegas do norte da Europa
"que têm muito mais esse hábito" do que os portugueses. "Quando estou em reuniões no
escritório, encomendamos comida para todos. Outras vezes, almoço num restaurante próximo
e aproveito a ocasião para me reunir com parceiros", afirma. A casa ali a dois passinhos, é uma
alternativa cómoda, mas a que raramente recorre.
Marmitas e termos
"Meia hora basta-me para preparar a refeição para o dia seguinte. Já é automático", conta
Tânia Fernandes, responsável pela comunicação e marketing numa empresa do norte do país.
Sempre preparou o almoço para o marido levar para o trabalho e desde que começou a
trabalhar mais longe de casa passou a arranjar um segundo farnel para si. Além disso, o novo
local de trabalho tem uma cozinha com frigorífico, microondas e forno, o que, reconhece,
facilita bastante as coisas. "Normalmente faço a comida na noite anterior. Não aproveito restos
porque assim a comida é mais fresca e não se está a repetir o prato", afirma. A sua ementa
típica privilegia saladas e carnes brancas, no fundo, prato mais leves. Já no menu do marido
figuram opções mais pesadas com destaque para as batatas e o feijão para compensar o
esforço físico que a profissão de canalizador exige.
O chef sublinha a importância da forma como a comida é transportada até ao local de trabalho,
já que muitas pessoas acordam às seis ou sete horas da manhã e só almoçam por volta da
uma. Tânia Fernandes começou por usar um termo para manter a comida quente e depressa
juntou-lhe os tupperwares. Mais recentemente, rendeu-se à eficiência dos recipientes em pirex.
As alternativas de transporte de refeições são várias, desde as adaptações do centenário bento
ao design trendy de algumas lancheiras. Resumindo: levar o almoço para o trabalho pode ser
um hábito com mais opções do que se pensaria - e menos aborrecido também.
Para quem queira aperfeiçoar o processo, a Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal
desenvolverá um workshop dedicado ao tema "Take Away feito em Casa", onde para além de
algumas boas dicas poderá preparar in loco o almoço para levar para o trabalho no dia
seguinte. O workshop vai realizar-se no próximo dia 19 de Novembro, às 18h30m e a inscrição
tem o custo de €15.
Mais informações no site da Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal.
http://lifestyle.publico.pt/artigos/296331_de-fato-e-lancheira-na-mao/-1
04.11.2011Por Mauro Gonçalves
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