Aprendizagem sem fronteiras Learning without borders Desenvolvimento Profissional de uma Professora em Comunidade Investigativa Eixo temático 1: Fundamentos e práticas educacionais Vanessa Moreira Crecci1 Dario Fiorentini2 Agências Financiadoras: FAPESP e CNPq A partir de 2000, vimos cada vez mais crescer o número de professores da escola básica que tentam ingressar em programas de pós-graduação stricto sensu, seja em cursos de mestrado profissional, seja em mestrado acadêmico ou doutorado. O ingresso do professor nesses cursos significa participar em comunidades que têm como prática comum o estudo e a investigação de problemáticas relativas à educação. Embora essas problemáticas sejam diversas, estamos interessados naqueles casos em que o professor tem a oportunidade de investigar sua própria prática na escola básica. Nosso interesse de estudo é compreender como essa inserção numa comunidade investigativa, tendo a oportunidade de investigar uma problemática de sua prática escolar, contribui para seu desenvolvimento profissional e à constituição de sua profissionalidade docente. Tomando por base os estudos de Fiorentini (2009) e Cochran-Smith e Lytle (2009), denominamos de comunidades investigativas locais os grupos de estudo e pesquisa que têm como foco de análise temas e problemas relativos à sua prática profissional, podendo utilizar ou desenvolver diferentes modalidades de análise sistemática da prática. 1 2 FE/Unicamp – [email protected] FE/Unicamp – [email protected] Aprendizagem sem fronteiras Learning without borders Em relação ao conceito de desenvolvimento profissional, o concebemos como um processo contínuo que se estende ao longo de toda sua vida pessoal e profissional, tendo início antes de ingressar na licenciatura e que “acontece nos múltiplos espaços e momentos da vida de cada um, envolvendo aspectos pessoais, familiares, institucionais e socioculturais” (Rocha e Fiorentini, 2006, p. 146). Trata-se, portanto, de um processo complexo que envolve o professor como uma totalidade humana permeada de sentimentos, desejos, utopias, saberes, valores e condicionamentos sociais e políticos (Fiorentini e Castro, 2003). Acerca da profissionalidade docente, adotamos, neste trabalho, a concepção de Evans (2009) por entendê-la como postura ideológica, intelectual e epistemológica que um indivíduo assume perante sua prática profissional e que influencia o desenvolvimento e a transformação de sua prática. Embora tenhamos encontrado, em nossos estudos (Crecci e Fiorentini, no prelo), várias tipos de profissionalidade docente, Fiorentini (2009) destaca no âmbito de uma comunidade investigativa local, a emergência de um tipo de profissionalidade que a caracterizou como reflexiva, investigativa e colaborativa. Neste trabalho, pretendemos descrever e analisar o caso de uma professora de Matemática (Adriana) que realizou mestrado acadêmico, tendo participado de um grupo de pesquisa voltado ao estudo de práticas pedagógicas em matemática (PRAPEM). Pretendemos analisar e compreender o desenvolvimento profissional da professora e a constituição de sua profissionalidade docente nesse contexto. Para encontrar indícios desse processo, aplicamos um questionário, com perguntas abertas, e realizamos uma entrevista semiestruturada, e tomamos como material de análise também suas produções escritas, sobretudo sua dissertação de mestrado. Esse material nos permitiu realizar uma análise narrativa do processo formativo e constitutivo da professora da qual trazemos a seguir apenas um pequeno fragmento. Após Adriana concluir a graduação e iniciar a docência, as inquietações e incertezas advindas de sua prática em sala de aula a instigaram a realizar o mestrado com o intuito de compreender melhor sua própria prática. Ao encontrar um grupo de pesquisa aberto a essa possibilidade (Prapem), desenvolveu uma pesquisa que tinha a Aprendizagem sem fronteiras Learning without borders seguinte questão investigativa: “quais reflexões, tensões e aprendizados emergem da tentativa de desenvolver um projeto com abordagem diferenciada de alguns temas de Matemática Financeira numa sala de aula do Ensino Médio de uma escola pública estadual?” (Almeida, p.07, 2004). Em entrevista, Adriana destacou que, depois daquela experiência investigativa, “parece que sempre estou em campo, pois eu não consigo mais fazer aquela coisa ‘nua e crua’ na sala de aula” e revela que a pesquisa “está inerente” em seu cotidiano profissional, destaca que chega a ser algo “não proposital”. No próprio texto da dissertação de mestrado, a professora reconheceu que graças à sua participação no PRAPEM: “minhas percepções sobre o que é ser professora de Ensino Médio da escola pública se alteraram, meu olhar ficou mais diversificado, meus ouvidos mais apurados e minhas falas mais contidas” (Almeida, 2004, p.1). Esse fragmento da análise narrativa traz indícios de que, ao participar de uma comunidade investigativa comprometida em estudar, discutir, avaliar e sistematizar aspectos do ensinar e do aprender matemática na escola, tendo como objeto de estudo a própria prática, Adriana evidencia o desenvolvimento de uma profissionalidade com postura investigativa que a leva a questionar permanentemente sua própria prática. Esses resultados corroboram com os estudos de Cochran-Smith e Lytle (2009), sobretudo quando destacam que os professores, ao desenvolverem uma postura investigativa, tendem a problematizar continuamente sua docência, sendo isso mais importante do que realizar esporadicamente pesquisas. Referências Bibliográficas ALMEIDA, A. C. Trabalhando Matemática Financeira no primeiro ano do Ensino Médio em uma escola pública. Dissertação de Mestrado. FE-Unicamp, 2004. CRECCI, V. M. FIORENTINI, D. A Constituição da Profissionalidade Docente mediante Gestão do Currículo, no prelo. COCHRAN-SMITH, M.; LYTLE, S. L. Inquiry as stance: practitioner research for next generation. New York: Teacher College Press, 2009. Aprendizagem sem fronteiras Learning without borders EVANS, L. Professionalism, professionality and the development of education professionals. British Journal of Educational Studies, London, v. 56, n. 1, p.20-38, mar. 2008. FIORENTINI, D. Quando acadêmicos da universidade e professores da escola básica constituem uma comunidade de prática reflexiva e investigativa. In: Fiorentini, D; Grando, R.C.; Miskulin, R.G.S. (org.). Práticas de formação e de pesquisa de professores que ensinam matemática. Campinas: Mercado de Letras, pp. 233-255, 2009. FIORENTINI, D. Formação de professores a partir da vivência e da análise de práticas exploratório-investigativas e problematizadoras de ensinar e aprender matemática, Recife, 2011. Anais... Recife: UFPE, 2011, p.01-19. FIORENTINI, D.; CASTRO, F. C. de. Tornando-se professor de matemática: o caso de Allan em Prática de Ensino e Estágio Supervisionado. In: DARIO FIORENTINI. (Org.). Formação de Professores de Matemática: Explorando novos caminhos com outros olhares. 1ed.Campinas: Mercado de Letras, 2003, v. 1, p. 121-156. ROCHA, L. P.; FIORENTINI, D. Desenvolvimento profissional do professor de Matemática em início de carreira no Brasil. Quadrante (Lisboa), v. 15, p. 145-168, 2006.