A influência empresarial na formação sustentáveis – as consequências para a sociedade de consumidores Nos últimos anos o consumo tem se tornado alvo de discussões tanto práticas quanto acadêmicas. A questão ambiental vinculada aos problemas do aquecimento global e à idéia de sustentabilidade fez com que não só empresas e governo voltassem sua atenção para tal questão como também entidades não governamentais e consumidores, que ganharam espaço de atuação tanto coletiva – através de sua vinculação a movimentos institucionalizados, quanto individual, através de uma conscientização de seu papel no processo produção-consumo, adquirindo uma postura mais politizada. Tal como Portilho (2009) afirma, a incorporação de valores como responsabilidade às escolhas, práticas e discursos de consumo, dão a esta prática um caráter de ação política e participação na esfera pública. No entanto, uma nova atitude tem chamado a atenção neste contexto de incentivo à sustentabilidade empresarial e ao consumo responsável: empresas tem se voltado cada vez mais para o incentivo de seus consumidores para tais práticas e muito nos tem instigado sobre os motivos que levam empresas a adotarem este tipo de postura. Seria uma ação interessada, visando ‘lucrar’ com os benefícios desta atitude, mesmo tendo que se adequar a algumas exigências para não encontrar problemas na relação com os consumidores? Ou seria o verdadeiro reconhecimento de que ser sustentável e incentivar as práticas responsáveis é o certo - reconhecendo a o interesse e a necessidade de cuidar daquilo que é de ‘todos’, meio ambiente e sociedade? Quais as consequências desse novo comportamento para a sociedade? São estes os questionamentos que o presente artigo visa responder, partindo de uma discussão que tanto se apóia numa Sociologia Econômica para entender as ações empresariais/de mercado frente a questão da sustentabilidade, quanto em uma Sociologia do Consumo para discutir as consequências de tal postura na formação de novos consumidores conscientes e a visão que terão sobre a sustentabilidade empresarial. Partindo da idéia de que os mercados são estruturas sociais, a Sociologia Econômica procura explicar os fenômenos econômicos utilizando instrumentos e abordagens sociológicos – conceitos como interação e estrutura sociais, campos, etc., (SWEEDBERG, 2003). A partir desse entendimento, o estudo dos mercados exige ter como base as suas particularidades históricas, sociais e políticas, as quais regem o seu funcionamento. Considerando-se que as relações econômicas não estão dissociadas de seu contexto social e que as ‘regras’ obedecidas não seguem apenas determinações econômicas (STEINER, 2006), a contribuição de Pierre Bourdieu (1976) é grande: ao considerarmos sua teoria dos campos, e a relação destes entre si, conseguimos notar a relevância das ações e parcerias que são adotadas em favor do cumprimento de interesses da empresa e, por conseguinte da melhoria da sociedade e do meio ambiente. Desse modo, esta relação entre campos pode exigir das empresas determinados comportamentos e promover diferentes conseqüências. Ainda adotaremos como base para este artigo os resultados obtidos em um projeto de pesquisa em que se pretendeu discutir a responsabilidade social e a sustentabilidade em uma empresa de cosméticos de origem norteamericana atuante no Brasil através do sistema de venda direta. Os programas de responsabilidades social e de sustentabilidade da empresa estudada são marcados pela participação de revendedoras e consumidoras, e em todos eles o processo só é considerado eficaz quando tanto empresa quanto os demais envolvidos (revendedoras e clientes) participam, o que de certo modo acaba diminuindo a responsabilidade empresarial frente a ação. Em meio a este contexto notamos os esforços da empresa para a inclusão destes novos atores no contexto da responsabilidade social e do consumo responsável/sustentável/consciente através de um discurso em prol de uma atitude concreta dos outros envolvidos. Tal fato chama a atenção pelas consequências de uma ação que é incentiva pela empresa. Quem controlaria a ação empresarial e de que maneira, se a empresa está cada vez mais envolvida no processo de formação de consumidores conscientes? Quais as conseqüências deste fato para a sociedade? Os resultados deste trabalho apontaram que nem sempre a conscientização se dá de maneira completa, sendo os consumidores muitas vezes ‘iludidos’ por esta postura interessada (para o bem da sociedade) da empresa. A inserção de novos atores no quadro da responsabilidade e comprometimento, também acaba culminando na divisão de deveres entre empresa, consumidores e intermediários, divisão na qual se apóia o discurso empresarial de que seus programas de sustentabilidade e/ou responsabilidade social acaba não tendo sentido se não há forte participação destes outros agentes. BOURDIEU, P. Algumas Propriedades dos Campos. Exposição feita na Ecole Normale Supérieure, Novembro, 1976. PORTILHO, F. Novos Atores no Mercado: Movimentos Sociais Econômicos e Consumidores Politizados. In: Política e Sociedade. V.08, N.15, Outubro de 2009. STEINER, P. A Sociologia Econômica. Trad. Maria Helena C.V. Trylinski. São Paulo: Atlas, 2006. SWEDBERG, R. Prefácio. In: Peixoto, J.; Marques, R. (org.). A Nova Sociologia Econômica. Portugal: Ed. Celta, 2003.