FRANCIENY GONÇALVES PINHEIRO PLANEJAMENTO: UMA POSTURA CRÍTICA NA DIDÁTICA DO ESPORTE PICOS - PI 2007 FRANCIENY GONÇALVES PINHEIRO PLANEJAMENTO: UMA POSTURA CRÍTICA NA DIDÁTICA DO ESPORTE Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância Brasília Programa da em Universidade parceria de com de o Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar Orientador: Profº. Ms. Ahécio Kleber Araújo Brito PICOS – PI 2007 GONÇALVES PINHEIRO, Francieny PLANEJAMENTO: UMA POSTURA CRÍTICA NA DIDÁTICA DO ESPORTE. Picos,2007. 35p. Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília. Centro de Ensino a Distância, 2007. 1- Planejamento 2- Postura crítica 3- Didática do esporte FRANCIENY GONÇALVES PINHEIRO PLANEJAMENTO: UMA POSTURA CRÍTICA NA DIDÁTICA DO ESPORTE Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela Comissão formada pelos professores: Professor mestre Ahécio Kleber Araújo Brito Universidade de Brasília Presidente: Membro: PICOS – PI 2007 A Deus, autor e consumador de todas as coisas, sem o qual nada podemos realizar. Aos meus pais e familiares, meu ponto de apoio e segurança. Ao professor Ahécio pela atenção e paciência. A todos os amigos que até aqui têm contribuído de forma significativa para o meu desempenho acadêmico e profissional. AGRADECIMENTOS Agradecemos a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a elaboração desta monografia e, de modo especial ao professor Ahécio Kleber Araújo Brito, pelo incentivo constante e pela orientação. "A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo." Paulo Freire RESUMO O planejamento é uma preparação prévia de como atuar, de forma a antecipar os resultados do trabalho docente. Garante uma estreita articulação interna e deve ser realmente utilizado como instrumento de ação. É um elemento constitutivo de ensino, indispensável ao trabalho docente coerente e comprometido com a educação. O presente trabalho de pesquisa bibliográfica pretende refletir sobre o tema planejamento de ensino numa visão crítica dentro da didática do esporte inicialmente situando-o no contexto da educação - didática, na acepção de um uso mais abrangente, para então deslocar o olhar especificamente sobre o âmbito da educação física escolar. Nossas considerações ao longo do trabalho partiram de uma revisão bibliográfica realizada a fornecer um conteúdo que despertasse interesse acadêmico aos professores de educação física escolar que ainda não estabeleceram uma discussão sobre o tema. Dentre as questões em pauta, é evidente que o planejamento auxilia na construção de uma postura didática crítica, cabendo ao educador planejar para o sucesso de seu cotidiano e de sua prática pedagógica. O ato de planejar é portanto, orientado a uma postura crítica dentro da Didática na medida em que proporciona a adequação e a revisão dos objetivos, considerando a realidade concreta dos alunos. PALAVRAS-CHAVE: Planejamento, trabalho docente, criticidade, didática, educação física escolar. 9 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO--------------------------------------------------------------------------- 10 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA----------------------------------------------------- 12 2.1 Planejamento como prática político-pedagógica----------------------------12 2.2 Plano da escola----------------------------------------------------------------------16 2.3 Orientações didático-pedagógicas para a organização das aulas de educação física----------------------------------------------------------------------------19 2.3.1 Seqüência e continuidade no ensino -----------------------------------20 2.3.2 Organização dos alunos----------------------------------------------------21 2.3.3 Abordagem teórico-prática-------------------------------------------------22 2.3.4 Metodologia de ensino------------------------------------------------------23 2.3.5 Papel do professor-----------------------------------------------------------23 2.3.6 Objetivos das aulas de educação física--------------------------------24 2.4 O planejamento dos professores de educação física como uma atribuição “polêmica”--------------------------------------------------------------------25 2.5 Didática em educação física – uma didática especial---------------------26 3 MÉTODO---------------------------------------------------------------------------------- 30 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO----------------------------------------------------- 32 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS-----------------------------------------------------------34 REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS--------------------------------------------------35 10 1 INTRODUÇÃO O planejamento, de um modo geral, diz respeito a intencionalidade da ação humana em contrapartida ao agir aleatoriamente, ao "fazer de qualquer jeito", desconsiderando um fim, um objetivo, e um agir de forma organizada (os meios) para construir/atingir o resultado desejado. O planejamento de ensino, portanto, é uma construção orientadora da ação docente, que como processo, organiza e dá direção a prática coerente com os objetivos a que se propõe. Tem que responder às seguintes questões: - Como? Com quê? O quê? Para quê? Para quem? na forma de plano. Para que seja possível a concretização desta atividade docente, há a necessidade de outra instância de planejamento que são o projeto político-pedagógico e o projeto curricular, que serão norteadores da ação docente coerente e responsável, e antecedem ao planejamento de ensino propriamente dito. O planejamento constitui-se um tema de extrema importância, pois a organização faz parte da nossa vida e, muitas vezes, o sucesso depende de um planejamento eficaz ao passo que a falta dele pode tornar o trabalho docente angustiante e totalmente desvinculado da realidade do aluno. Na área de conhecimento da educação física, pelo menos nos periódicos mais expressivos, são muito poucos os artigos sobre o tema planejamento de ensino, bem como, são poucos os autores que escrevem livros sobre a didática da educação física, e conseqüentemente sobre o planejamento de ensino. É possível afirmar que o assunto desperta pouco interesse dos acadêmicos de educação física e que também seria o planejamento uma questão "polêmica" para os professores da área, principalmente aos que ainda não estabeleceram uma discussão sobre o tema. 11 Essas e outras questões pautam este trabalho, não no sentido de encontrar respostas acabadas, mas sim objetivando buscar uma reflexão sobre o tema proposto, em uma perspectiva dialógica de entendimento desse elemento constitutivo do trabalho docente, capaz de transformar a realidade do professor de educação física escolar e dos seus alunos. 12 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Planejamento como prática político-pedagógica Compreendendo o Planejamento escolar como importante momento de elaboração teórica das tarefas docentes nas quais a reflexão e a avaliação sobre o processo de ensino-aprendizagem possuem como marco referencial a intenção política de intervir na realidade escolar dos alunos, busquei neste, para ser mais preciso em uma de suas modalidades - o plano de ensino - a forma de compreender o referencial filosófico-epistemológico, teórico-metodológico e político da prática pedagógica dos professores. O plano de ensino configura-se como um roteiro organizado de unidades didático para um ano ou semestre composto pelos seguintes elementos: justificativa da disciplina; conteúdos; objetivos gerais e específicos; metodologia e avaliação, todos estes ligados à concepção que a escola e o professor carrega sobre a função da educação, da escola, de cada especificidade de determinada disciplina e sobre seus objetivos sociais e pedagógicos. Tais elementos visam assegurar a racionalização, organização e coordenação do trabalho docente, de modo que a previsão das ações docentes possibilite ao professor a realização de um ensino de qualidade e evite a improvisação e a rotina. Sobre esses elementos materializam-se os referenciais políticopedagógicos da prática pedagógica dos professores. Libâneo (1994) observa o planejamento escolar como processo responsável por racionalizar, organizar e coordenar a ação docente, que deve articular as atividades escolares ao contexto social, pois a escola, os professores e os alunos são integrantes da dinâmica das relações sociais e tudo o que acontece no meio escolar é abarcado por 13 influências econômicas, políticas e culturais características da sociedade de classes. Essas funções delegadas ao planejamento escolar são determinadas por uma intencionalidade educativa que envolve objetivos, valores, atitudes, conhecimentos e formas de agir e interagir dos professores que atuam na formação humana no contexto escolar, nos quais amplos setores deste espaço envolver-se-ão na ação de projetar os rumos, de forma democrática, que esta formação deve tomar compreendendo o planejamento escolar como prática de elaboração conjunta dos planos, que parta de discussões públicas. Nesse sentido, o planejamento escolar e seus elementos relacionados dialeticamente às implicações sociais estão envolvidos de significados políticos, em que esta é uma atividade de reflexão acerca de nossas opções e ações. A não reflexão em torno do trabalho docente se conforma em uma atitude de subserviência aos rumos estabelecidos pelos interesses hegemônicos (LIBÂNEO, 1992). Entretanto, historicamente o planejamento escolar tem sido realizado sob uma perspectiva tecnicista e burocrática, na qual, o preenchimento de formulários, as reproduções de planos anteriores e a submissão às orientações e parâmetros curriculares de forma irrefletida, a- crítica e descompromissada, têm marcado essa prática caracterizando-a como uma ação mecânica, fragmentária e burocrática dos professores, pouco contribuindo para elevar a qualidade da ação pedagógica no âmbito escolar. Por outro lado, o planejamento escolar é apontado como alternativa de organização coletiva em que diversos segmentos envolvidos (professores das diversas áreas, alunos, funcionários administrativos e comunidade) discutam e decidam coletivamente os objetivos, metas, finalidades, valores, atitudes e solucionem os problemas comuns à escola de uma forma geral e do ensino, viabilizando assim a materialização de uma escola realmente democrática (MASETTO, 1997). 14 O planejamento escolar implica então numa forma de ação que busca organizar coletivamente as comunidades (classe trabalhadora) em torno das escolas, criando-se a partir daí, espaços de resistência e luta contra o neoliberalismo, além da própria reivindicação junto ao Estado quanto às questões da educação: a democratização da educação, estruturação das escolas públicas, planos de carreira e formação continuada dos professores e trabalhadores da educação que dentre outras questões fazem-se urgente, a fim de elevar a educação das maiorias a uma qualidade socialmente referenciada. A participação coletiva no Planejamento Escolar aliada ao engajamento dos diversos atores da escola pública e da sociedade consubstancia as lutas reivindicatórias em torno de uma real democratização, tanto quantitativamente quanto qualitativamente, da educação. A resistência contra a perspectiva de mercantilização e privatização da escola pública engendrada pelo projeto neoliberal deve ser a tônica das lutas da categoria profissional da educação, e de toda a sociedade, pois a defesa da escola pública significa aliar esta luta às necessidades da maioria da população brasileira, compreendendo a educação como direito social, que associada aos direitos político-econômicos contribua realmente com uma educação para a cidadania (VASCONCELOS, 1991) Na Educação Física espera-se uma perspectiva de planejamento escolar na/para a Educação Física Escolar, na/para a ação política, transformadora, teorizada a partir do concreto, que atuem como base de sustentação para uma prática pedagógica da área com fins explicitamente democráticos e qualitativos, cuja ação de planejar torne-se uma prática políticoeducativa. Contudo, tal qual as propostas progressistas de Educação (Física), as perspectivas do Planejamento Escolar organizado, materializado e avaliado coletivamente pouco tem transposto o discurso e se efetivado concretamente numa práxis pedagógica emancipadora. 15 Segundo Corazza (1997), a regulamentação da profissão da Educação Física, compreendida como tentáculo da ofensiva neoliberal, e os apologetas da sociedade de mercado visam substituir a perspectiva do professor de Educação Física pelo profissional liberal de Educação Física. Esta tendência visa fragmentar este profissional ainda mais da luta da categoria profissional da educação e da organização coletiva destes na escola a partir das determinações ideológicas disseminadas pelo ideário neoliberal que compreende a educação como ponto estratégico de implementação da organização econômica, política, social e ideológica sob a gerência da ética do livre mercado. Ainda assim, a política de sucateamento e desvalorização da categoria dos profissionais da Educação, as políticas neoconservadoras e neoliberais que buscam extirpar do imaginário social a memória coletiva, a sociedade movida pela luta de classes juntamente com as dificuldades de mobilização da categoria docente na década de 1990, acaba contribuindo para a formação de "novos" espaços que favorecem a agregação, sendo a escola um espaço que oferece aos professores, "a oportunidade de ampliar os vínculos e construir projetos coletivos para além da militância sindical". Este modo de atuação, centrado na escola, resgata junto ao professorado a importância do envolvimento coletivo, instituindo o espaço escolar como lócus decisivo no processo de recomposição da identidade coletiva docente. Neste sentido o Planejamento escolar concebido de forma democrática e participativa desde a sua construção até a sua concretização e avaliação, pode se conformar num instrumento de organização e ação coletiva, com vistas a resolver os problemas da escola e desenvolver uma prática pedagógica de qualidade para as maiorias (GANDIM, 1991). 16 2.2 Plano da escola O Plano da Escola é um recurso para colocar em prática os objetivos da educação nacional, adequando-os às situações regionais e locais e às necessidades específicas de cada escola; um conjunto de objetivos concretos e realistas; um plano preciso de ações coerentes, articuladas entre si, definidas a partir de objetivos cujos resultados podem ser avaliados; um programa plurianual, contendo um cronograma com períodos estabelecidos para cada fase; um conjunto de atividades propostas pela comunidade escolar, com vistas a garantir maior eficiência escolar. O Plano da Escola permite uma abordagem abrangente e integrada de todos os aspectos da atividade escolar, compreendendo currículo e avaliação, capacitação de professores, administração e organização da escola, verbas e recursos. O Plano da Escola capta a visão da escola a longo prazo. A partir dessa visão, será possível estabelecer metas viáveis de curto prazo. As novas legislações como a Emenda 14, a nova LDB (Lei de Diretrizes e Base) entre outras, também devem ser consideradas para a compreensão da realidade escolar, pois estas legislações "determinam" a forma de organizar e de fazer a educação em nosso país. As políticas implementadas pelos diferentes níveis de governo também devem ser consideradas uma importante fonte de influência no planejamento, pois, ao instituir e propor o programa TV Escola e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a esfera federal fez-se presente praticamente em todas as unidades escolares da nação. Além dessas influências "externas", a escola é também influenciada por fatores advindos de sua "realidade particular", exigindo que os agentes sociais presentes em seu cotidiano façam uma análise desse mesmo cotidiano. 17 Bracht (1992) nos alerta que, os "elementos que integram a vida escolar são, em parte, transpostos de fora; em parte, redefinidos na passagem, para ajustar-se às condições grupais; em parte, desenvolvidos internamente e devidos a estas condições. Longe de serem um reflexo da vida da comunidade, as escolas têm uma atividade criadora própria, que faz de cada uma delas um grupo diferente dos demais". O conhecimento da realidade escolar passa a ser uma exigência no processo de planejamento. Para Freire (1997), mais do que conhecer um método de planejamento, aquele que planeja, deve possuir um bom conhecimento da realidade a ser planejada. A participação constitui-se o melhor caminho para conhecer a realidade escolar, pois a escola analisada pelo pai não corresponde necessariamente à escola vista pelo professor, bem como pode não refletir as análises dos outros membros presentes no dia-a-dia da escola, funcionários, alunos e especialistas. Por meio da participação e do debate democrático, somente, será possível o encontro de pontos comuns aos vários segmentos, das várias "realidades" presentes na escola, que deverão ser contemplados no processo de planejamento escolar. A participação possibilita a incorporação dos vários significados que a escola possui por parte dos diferentes segmentos que vivenciam a realidade escolar. A escola deixa de ser do governo, do diretor, do funcionário, do professor, do pai, do aluno e passa a carregar simbolicamente um pouco de todos. A participação deve ser entendida como um processo de aprendizagem que demanda um tempo e um esforço de todos aqueles preocupados com a formação do cidadão. O planejamento como um processo de organização do trabalho escolar pode ser visualizado por três momentos no processo de planejamento – ANTES – DURANTE – DEPOIS das operações, ou seja, a preparação das operações a serem desenvolvidas; o acompanhamento da 18 execução das operações, e a avaliação de todo o processo após a execução de todas as operações. O primeiro é o momento de elaboração do Plano Escolar, ou seja, quando analisamos participativamente a realidade a ser planejada, levantando as suas principais necessidades (diagnóstico) e dessas passamos a decidir sobre os objetivos que desejamos alcançar (objetivos), como também sobre os caminhos que vamos seguir para alcançar esses objetivos (programação) e o que vamos precisar para seguir nesse caminhar (recursos). Ainda, nesse momento, teremos de decidir sobre o momento e a forma de avaliação do planejamento (avaliação). Todas as decisões coletivamente tomadas, no primeiro momento, devem ser registradas no documento que chamamos de Plano Escolar (CARRILHO, 1995). O segundo momento do planejamento caracteriza-se pelo acompanhamento da execução das operações. Acompanhar significa interagir com a realidade, ou seja, estar atento para mudar os rumos das operações, caso elas não satisfaçam os objetivos do planejamento, pois a dinâmica escolar pode se alterar exigindo certas modificações nas operações inicialmente pensadas. Devemos estar sempre atentos às necessidades de mudança do percurso, se realmente estamos interessados em alcançar determinados objetivos. O terceiro momento do processo de planejamento corresponde à avaliação de todo o caminhar, ou seja, quando verificamos quais as operações que levaram a alcançar os objetivos propostos e aquelas que, mesmo executadas, não tiveram o efeito desejado para o alcance dos objetivos inicialmente propostos. Nesse momento, ao analisarmos os acertos e erros, estaremos preparando um novo planejamento, pois, como processo, esse planejamento carateriza-se por um contínuo planejar, acompanhar, avaliar, replanejar, etc... (FREIRE,1997). 19 Todo processo de planejamento tem por objetivo alterar uma dada realidade, ou seja, espera-se com a implementação do planejamento que ocorram mudanças políticas, pedagógicas e administrativas na realidade escolar (CORAZZA, 1997). É "óbvia" esta afirmativa e torna-se necessária, ao passo que ainda está muito presente entre os agentes educacionais a visão de que o planejamento e, principalmente, o plano escolar, não passam de mera formalidade legal. Visão que acaba por impedir ações que garantam a organização do trabalho coletivo na escola e, conseqüentemente, a democratização das relações na unidade escolar. 2.3 Orientações didático-pedagógicas para a organização das aulas de educação física O planejamento: o plano de trabalho/ensino deve sempre ser construído, analisado e aprovado em conjunto por professor e alunos/as. Segundo Paulo Freire, “Não existe docência sem discência. É preciso que desde o começo do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É neste sentido que ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos, nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. O planejamento, para ter significado e validade precisa de uma ação participativa por parte do aluno. Assim, o plano de ensino/trabalho deve ser construído, analisado e aprovado em conjunto por professor e alunos. O aluno precisa ser sujeito do plano de trabalho para que assuma a responsabilidade do 20 trabalho junto com o professor. Mas só essa participação não é suficiente, porque o aluno é também contraditório. Ele mesmo quebra as regras e combinados que faz com o professor. Porém, tendo ele participado desse processo de construção do trabalho, quando ele o desrespeitar estará descumprindo também consigo mesmo e, então, o professor terá como questioná-lo a respeito de sua postura. O que pode ser feito são reformulações no plano de trabalho que é algo flexível e dinâmico. Professor e aluno constroem juntos uma “Ética da Solidariedade” na qual deve imperar a verdade e a cooperação. Os valores humanos: universais e clássicos a serem trabalhados na formação humana dos alunos e alunas, nas aulas de Educação Física serão: Verdade, Ação-Correta, Amor, Paz e Não-Violência (MARTINELLI, 1999). Segundo Marilú Martinelli, “Os valores humanos são fundamentos morais e espirituais da consciência humana. Todos os seres humanos podem e devem tomar conhecimento dos valores a eles inerentes. A causa dos conflitos que afligem a humanidade está na negação dos valores como suporte e inspiração para o desenvolvimento integral do potencial individual e conseqüentemente do potencial social. Não é possível encontrar o propósito da vida sem esses valores que estão registrados em nosso ser profundo, ainda que adormecidos na mente e latentes na consciência. Os valores são a reserva moral e espiritual reconhecida da condição humana”. 2.3.1 Seqüência e continuidade no ensino O ensino de Educação Física se organiza por meio de uma seqüência, uma continuidade, uma inter-relação entre as aulas. Geralmente, as aulas se organizarão em três momentos distintos sem quebra de continuidade entre elas: 21 1º momento: O tema da aula é apresentado aos alunos com destaque para os conteúdos e objetivos pretendidos pela unidade de estudo. Discute-se com eles as melhores formas de organização para a execução das atividades escolhidas. Conversa-se com os alunos sobre as formas de exercitar para tentar se descobrir as possibilidades que cada um tem de executar as atividades que se está propondo. Prepara-se, junto com os alunos, o material que vai ser usado na aula. 2º momento: É a fase do desenvolvimento das atividades escolhidas e refere-se à apreensão do conhecimento. É o momento em que o aluno tenta se apropriar, incorporar o conhecimento da cultura corporal/movimento. Nessa fase, o professor observa as atividades realizadas, faz registros sobre a ação dos alunos, dá orientações individuais ou em grupo, faz perguntas problematizadoras, dá sugestões para a solução das questões que precisam ser encaminhadas, sem necessariamente parar a atividade que está se realizando. Mas, se for necessário interrompê-la para uma intervenção pedagógica mais rigorosa, isto deve ser feito. 3º momento: É a fase da avaliação final da aula. Sabemos que a avaliação não acontece só ao final da aula, mas a privilegiamos neste momento como forma de um fechamento da aula ao mesmo tempo em que é uma abertura para a continuidade das aulas seguintes. É quando o professor e os alunos tiram conclusões, levantam aspectos negativos e positivos e também perspectivas para as aulas seguintes. Pode se fazer demonstração daquilo que se tentou aprender no segundo momento da aula. Alunos e professor recolhem o material usado. 2.3.2 Organização dos alunos A turma de alunos/as para a participação na aula pode ser organizada por grupos de interesse, de acordo com o conteúdo que se deseja aprender. Numa 22 mesma turma podem existir mais de um grupo de interesse. Assim, cada turma exigirá um tipo próprio de organização para a realização das atividades, de maneira a contribuir para a aprendizagem e para o alcance dos objetivos propostos. A turma deve se constituir enquanto grupo de estudo para escolher os temas de sua preferência. 2.3.3 Abordagem teórico-prática A disciplina possui uma abordagem teórico-prática que trata-se de um processo de ensino intencional, sistematizado, que ocorre na escola. E só faz sentido numa proposta pedagógica que postule uma concepção dialética de ensino. Por ser dialética, considera que esse ensino lida com as dimensões de teoria e prática em forma de unidade. A Educação Física que considera a relação teoria-prática de modo indissolúvel, e que se manifesta metodologicamente nesta direção, está presente no ensino fundamental. Nessa fase do ensino, a forma da operacionalização da teoria e da prática deve estar de acordo com as características, as necessidades e as possibilidades do aluno atendido, do professor que dirige o processo ensino-aprendizagem e do tipo de conteúdo a ser transmitido. Ambas devem ser dispostas numa visão de unidade, sem que isso signifique uma descaracterização da disciplina, a perda de sua identidade e de sua legitimidade. Na prática pedagógica, os professores podem demonstrar aos alunos que a Educação Física substancialmente lida com os movimentos, mas são necessários o diálogo, a reflexão e o uso da palavra para que o aluno não só pratique os temas da cultura corporal, como também saiba “se posicionar criticamente diante dessa cultura" (BRACHT, 1992). O professor pode fazer isso pelo movimento e pela palavra, além de outras formas de expressão possíveis. 23 2.3.4 Metodologia de ensino A metodologia de ensino nas aulas será dinâmica e participativa; os alunos e professor escolhem em conjunto a maneira como as aulas acontecerão. Considerar-se-ão tanto as experiências positivas quanto as negativas que os alunos têm quando realizam suas atividades. Errar faz parte do processo de aprendizagem. Procurar-se-á atender aos interesses, necessidades e possibilidades dos alunos individualmente e em grupo. Os temas de movimento das aulas serão escolhidos em conjunto por alunos e professor e serão considerados na perspectiva da vivência corporal, e não da obrigação de ter que se movimentar. 2.3.5 Papel do professor O professor tem como papel ser um educador-educando: no exercício de sua tarefa de educar também aprende com seus alunos, pois a finalidade dessa tarefa o leva a questionar o que já “sabia” quando esse saber não se concretiza em aprendizagens coletivas. O professor, desafiando-se, interrogando-se e à sua área de conhecimento, cria novas metodologias, abre espaços para outros processos educativos em sala de aula, aprendendo novas formas de ensinar. Nesse movimento, recria situações de aprendizagem dirigidas por uma escuta atenta dos alunos e uma análise ética do processo educativo. Nas aulas, o professor é um mediador e um problematizador da aprendizagem, e não um juiz ou um disciplinário. O professor tenta ensinar aos alunos metodologias próprias para a aprendizagem das atividades da aula, os ensina a trabalhar em grupo e ainda os ajuda na avaliação da sua aprendizagem individual e coletiva. 24 2.3.6 Objetivos das aulas de educação física O ensino de Educação Física Escolar, na perspectiva da cultura corporal, tem como objetivo geral, desenvolver a postura crítica dos alunos perante as atividades da cultura corporal, no sentido da aquisição de autonomia de conhecimentos/habilidades necessária a uma prática intencional e permanente, que considere o lúdico e os processos sócio-comunicativos, no sentido do prazer, da auto-realização e da qualidade coletiva de vida. Tem como objetivos específicos: 1. Oportunizar aos alunos a vivência da expressão corporal como linguagem. 2. Enriquecer a vida de movimento dos alunos com possibilidades de movimentos construídos histórica e culturalmente pela humanidade. 3. Oportunizar o uso imediato das atividades da cultura corporal ao aluno nas aulas. 4. Favorecer ao aluno o uso dos temas da cultura corporal em espaços e tempos extra-escolares. 5. Oportunizar ao aluno a vivência do movimento humano no contexto escolar, de modo que reelabore, amplie e o utilize como uma nova prática social. 6. Oportunizar atividades da cultura corporal com ênfase no prazer e na brincadeira (ludicidade) sem deixar também de abordar esses temas na perspectiva normalizada e institucionalizada. 7. Oportunizar a aquisição, o aprimoramento e a combinação de variadas formas de movimento. 8. Possibilitar aos alunos movimentar-se individual e coletivamente, evitando discriminação em relação a si própria e ao grupo. 9. Possibilitar a relação entre os temas da cultura corporal, oferecidos pela Educação Física com a vida de movimento do aluno em seu cotidiano. 10. Oportunizar a vivência e a organização de atividades de movimento em grupos heterogêneos nos mais variados aspectos (gênero, raça, desempenho, etc.). 11. Discutir valores éticos, políticos e sociais da corporeidade humana na realidade brasileira. 12. Relacionar Educação Física com atividade física, educação, saúde, energia, consciência corporal, lazer, trabalho, sexualidade, cidadania, consumo, meio ambiente e cultura (Temas transversais). 25 2.4 O Planejamento dos professores de educação física como uma atribuição polêmica O planejamento de ensino, ou planejamento pedagógico – o que está mais próximo da prática pedagógica e para ela desenvolvido – tem na figura do professor um agente privilegiado de transformação da realidade, relacionada ao interesse e a complexidade da ação a ser desenvolvida. Por ser o trabalho docente exigente – formador – exige planejamento à altura, para evitar o que alguns autores chamam de "improvisação ou acaso" (Gandin, 1991 – Libâneo, 1994 – Gandin e Cruz, 1995 – Vasconcellos, 1995). Ao mesmo tempo, surge o questionamento dos professores em geral sobre o por quê do planejamento de ensino e da sua expressão escrita na forma de planos, o "planejar para quê?", e "por quê?" (Corazza, 1997), sendo que muitos professores ainda associam o planejamento e a realização de planos como um trabalho burocrático desnecessário. Nesse sentido, para Molina Neto (1996), a realização de planos para os professores de educação física: "(...) é possivelmente uma das tarefas pelas quais os professores de educação física divergem da cultura das escolas. De um lado a cultura escolar opera e da forma a sua estrutura com base na escritura, por outro lado o coletivo, como já demonstrei, opera com a palavra oral e a linguagem corporal. O coletivo considera a tarefa de fazer planos escritos pouco necessária e uma tarefa feminina” É ressaltado que o trabalho do professor de educação física é baseado no fazer, desta forma justificando a polêmica em torno do ato de construção do planejamento e de escrever planos de aula. É considerado importante tal questionamento, no ponto de vista dos autores que abordam esse tema, inicialmente, observando-se quais as orientações que os docentes têm 26 recebido sobre o planejamento de ensino especificamente o professor de educação física durante seu curso de graduação, enquanto ainda estudante, seja nas disciplinas de metodologia do ensino da educação física, seja na importante didática da educação física, com suas orientações referidas à uma teoria didática específica à prática pedagógica da área. Ao passo que ao longo, ou pelo menos no final do curso de graduação, terá que organizar suas aulas nas disciplinas de prática de ensino, podendo se defrontar com dificuldades comuns às aulas improvisadas, o que certamente, não é uma experiência positiva. Dessa forma, independentemente de ser professor de educação física formado há pouco ou mais tempo, o planejamento de ensino dos professores de educação física é considerado um objeto de estudo que deve ser marcado pela "liberdade” /flexibilidade. Para que possa haver participação nas tomadas de decisões, é necessário ter clara a visão de processo, da caminhada para atingir os objetivos, sendo que estes devem necessariamente ser coerentes com o projeto político – pedagógico da escola. O coletivo precisa da referência do projeto para construir a participação de todos, e acima de tudo, vivenciar a participação nas decisões que estabelecem os pressupostos dessa educação que a escola ou instituição quer. A partir dessa etapa, o coletivo constrói o seu planejamento de ensino, quer seja o plano de curso, de unidade ou o plano de aula, este último individual, e coerente com o projeto político – pedagógico e o contexto escolar. 2.5 Didática em educação física – uma didática especial Segundo Masetto (1997) após analisar as concepções de vários estudiosos, afirmou: que didática é uma reflexão sistemática e acrescenta: (...) 27 que acontece na escola e na aula. É o estudo do processo de ensino aprendizagem em sala de aula e de seus resultados. Segundo Libâneo (1994, p. 28) "Didática pode constituir-se em a teoria do ensino". É interessante acrescentar que o autor afirma "(...) aparece quando os adultos começam a intervir na atividade de aprendizagem das crianças e jovens através da direção deliberada e planejada do ensino, ao contrário das formas de intervenção mais ou menos espontâneas de antes".(ibid. p. 58). Essa última afirmação é ampla e afirma que o exercício didático não acontece somente no contexto da unidade escolar, mas no seio da sociedade por meio das interações sociais dos seus pares. Há um processo de ensino constante na sociedade em que estamos inseridos. Morin (2.000, p.28), em seu estudo, diz que: "O imprintingi[ii] cultural marca os humanos desde o nascimento, primeiro com o selo da cultura familiar, da escolar em seguida, depois prossegue na universidade ou na vida profissional”. O imprinting é conseqüência da interação desses dois processos de ensino. Podemos nomear o processo de ensino que acontece fora da escola como ensino informal. Ele acontece no seio da sociedade em que vivemos e fora da unidade escolar. Esse processo informal de ensino é empírico, mas organizado, pois o resultado da evolução humana foi justamente a organização da vida em todos os seus aspectos. Ao outro processo de ensino, é denominado de processo de ensino formal, acontece na instituição escola. Tal processo é embasado em conhecimentos científicos de muitos cientistas e filósofos educacionais. A preocupação com o desenvolvimento desse processo científico e filosófico de ensinar, historicamente, data desde antes da sociedade greco-romana, organizado e conduzido por outras civilizações antigas tais como egípcios, 28 chineses, etc. Podemos crer que desde a pré-história isso acontece, mas teve uma ênfase maior no período greco-romano. Nesta reflexão sobre Didática da Educação Física, em ambos os casos, ensino informal e formal, a interação entre os dois é essencial para o desenvolvimento do aprendiz, em qualquer circunstância e em qualquer faixa etária de sua vida. A organização do ensino no contexto escolar depende de como esse ocorre no seio da sociedade em que vive o aprendiz. A Educação Física acontece no processo de ensino informal. Por meio das interações sociais há o desenvolvimento de habilidades motoras. Sendo assim, os resultados devem ser valorizados e estimuladas no processo de ensino formal, ou seja, na Educação Física Escolar. Uma característica que difere os profissionais da Educação Física dos professores das outras disciplinas que compõem o currículo escolar é a sua atuação fora do contexto escolar, desempenhando ações de ensino semelhante à escolar em academias, clubes esportivos, personal training, etc. Os princípios didáticos que orientaram essas outras práticas de ensino são os mesmos independentemente da faixa etária em que se encontra o aprendiz. Libâneo (1992, p. 17) enunciou em sua obra denominada de Didática: "[...] a educação compreende os processo formativos que ocorrem no meio social, nos quais os indivíduos estão envolvidos de modo necessário e inevitável pelo simples fato de existirem socialmente [...] Existe numa grande variedade de instituições e atividades sociais decorrentes da organização econômica, política e legal de uma sociedade, da religião, dos costumes, das formas de convivência humana". 29 Considerando que estamos abordando a questão específica da Educação Física, o desenvolvimento de atividades físicas, esportivas, de lazer, de recreação, etc, são conteúdos de um processo de ensino que o profissional deve considerar essencial, analisando-os, buscando recursos em outros processos que possam ajudar o seu trabalho e finalmente considerar todo o aspecto social que envolve o aprendiz, esse é o primeiro passo da didática no processo de ensino do profissional. 30 3 MÉTODO Este trabalho monográfico está organizado com base em pesquisa bibliográfica de autores compromissados como a educação e especificamente com o tema aqui proposto, a coleta das referências se deu de forma exaustiva. Procuramos mostrar como um professor de Educação Física pode construir um trabalho em que as dimensões da teoria e da prática se relacionem de forma integrada, recíproca e unitária. Princípios e fundamentos para a prática pedagógica em Educação Física Escolar numa visão crítica e reflexiva segundo autores como Paulo Freire, Marilu Martinelli, Edgar Morin, Vicente Molina Neto, José Carlos Libâneo, Sandra Maria Corazza e outros. O texto elucida funções da escola e da Educação Física e indica uma concepção para essa disciplina na escola. Apresenta orientações didáticopedagógicas para a organização das aulas bem como objetivos e conteúdos programáticos, além de estratégias de ensino. Propomos a partir de o exposto levar acadêmicos, professores e demais interessados pelo assunto, a reflexão da extrema importância do planejamento escolar, da atuação da didática, além de mostrar o “poder” de transformação que é dado ao profissional de Educação Física. Acreditamos na originalidade deste trabalho nesta região, talvez na demonstração de como um professor de Educação Física se valeria da produção acadêmica em Educação e na área em questão, para organizar e fundamentar um plano de trabalho e sua prática pedagógica, interagindo com os autores que lhe dão suporte. 31 Temos a convicção que valeria a pena conhecer tal material uma vez que não é comum o acesso, aos professores à produção teórica da área, principalmente no interior do Piauí. Além disso, mesmo para os professores que têm acesso ao conhecimento produzido em Educação e Educação Física, sempre encontramos aquele tipo de discurso que separa dicotomicamente teoria e prática, e não consegue ver aplicação prática desta produção teórica. Nosso trabalho pretende ser uma possível demonstração de como um professor precisa saber fundamentar sua prática pedagógica, para lhe dar sustentação diante dos (as) alunos (as), professores (as), e diretores das escolas nas quais trabalhamos, mostrando como é possível fazer a aproximação da teoria e da prática em forma de unidade. Referenciou o trabalho a bibliografia que se encontra citada no mesmo. Esta proposta não expressa um produto final, acabado, mas uma orientação para a prática pedagógica em Educação Física Escolar, que é vivenciada, avaliada, criticada e, após sua aplicação prática, reelaborada. Isso porque um Projeto Político Pedagógico, sobretudo o planejamento, é um processo ininterrupto e continuado que se faz por meio da ação-reflexão-ação. 32 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Precisamos tomar cuidado para que a Educação Física não se transforme exclusivamente numa aula discursiva sobre o movimento. Assim, concordamos com Mauro Betti, quando diz que não está “propondo que a Educação Física Escolar transforme-se num discurso sobre a cultura corporal de movimento, mas numa ação pedagógica com a cultura corporal de movimento. [...] A ação pedagógica a que se propõe a Educação Física estará sempre impregnada da corporeidade do sentir e do relacionar-se. A dimensão cognitiva do compreender far-se-á sempre sobre este substrato corporal, mas só é possível através da linguagem; por isso a palavra é instrumento importante - embora não único- para o profissional de Educação Física. A linguagem deve auxiliar o aluno a compreender o seu sentir corporal, o seu relacionar-se com os outros e com as instituições sociais de práticas corporais [...]. O saber Educação Física é um saber que não pode ser alcançado pelo puro pensamento; é um saber orgânico, só possível com atividades corporais, não é um saber que se esgota num discurso sobre o corpo/movimento. O papel do profissional da área é ajudar a fazer a mediação deste saber orgânico para a consciência, através da linguagem e dos signos. É um saber que leva o sujeito à autonomia no usufruto da cultura corporal “(BETTI, 1994). O planejamento, para ter significado e validade precisa de uma ação participativa por parte do aluno, construído, analisado e aprovado em conjunto. O aluno precisa ser sujeito do plano de trabalho para que assuma a responsabilidade do trabalho junto com o professor. Tendo ele participado desse processo de construção do trabalho, de forma flexível e dinâmica, professor e aluno constroem juntos uma “Ética da Solidariedade” na qual deve imperar a verdade e a cooperação. 33 Analisando nossa prática como professora de Educação Física quanto ao planejamento escolar, consideramos uma prática louvável pelo fato de nos trazer um retorno satisfatório quanto à participação, ao rendimento do aluno e, sobretudo a organização da aula. É perceptível também no nosso âmbito escolar que esta tão importante atividade ainda tem se caracterizado como uma ação reprodutora e descomprometida com a escola e com o educando. A prática do planejamento em minhas aulas representa um grande suporte que corriqueiramente me fornece dados importantes sobre os alunos, sobre a própria escola e até mesmo a cerca da minha ação docente. Quando questiono junto aos outros professores de Educação Física como eles têm feito seu planejamento é possível dar-se início ao que podemos chamar de verdadeiro planejamento, pois o cotidiano é debatido e os desafios e problemas são colocados partindo então para a busca de uma possível solução e novas estratégias de trabalho. Embora existam algumas tendências como cópias fiéis de planejamentos de algumas bibliografias e dos planos de anos anteriores, uma ausência de momentos de planejamento de alguns “acomodados”, existem sobremodo aqueles que fazem parte de um grupo, embora na sua minoria, que procuram realizar os planejamentos coletivos e uma constante avaliação dos objetivos propostos e os alcançados. 34 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo deste trabalho procuramos refletir sobre questões que consideramos importantes sobre o tema planejamento de ensino, mais especificamente no âmbito da educação física. Esta reflexão é baseada no olhar de uma professora de educação física preocupada com as questões didático – metodológicas que envolvem a ação docente deste coletivo, que entendemos no momento como negligenciadas em detrimento de outros estudos deste amplo campo de pesquisa. Não é possível imaginar uma ação pedagógica sem planejamento, improvisada. O ato de planejar é intrínseco à educação. O professor com claras idéias de seus objetivos e da sua responsabilidade para concretizá-los, deve planejar adequadamente suas tarefas. Ter clareza em relação ao processo de construção do planejamento, dos meios para atingir os fins, da coerência com o projeto político – pedagógico, do contexto sócio – econômico – cultural – político e da participação coletiva nas tomadas de decisões. Por fim, acrescentamos que a relevância do planejamento de ensino resida no fato de ser necessário à ação docente do professor de educação física, e como tal ser merecedor de estudos e pesquisas que possibilitem não somente a reflexão sobre o tema, mas considerar possibilidades de fazê-lo compromissado com o aprendiz. Esta nova concepção deve necessariamente afirmar a sua importância no cotidiano, do comprometimento do professor com a sua ação educativa crítica e reflexiva, e a concretização dos objetivos existentes nas propostas pedagógicas constitucionais. Desta forma, esperamos que as considerações aqui colocadas possam contribuir com o debate sobre questões da prática pedagógica dos professores de educação física, pois é um assunto pertinente, mas, negligenciado na produção científica da educação física e na própria escola até este momento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BETTI, Mauro. O que a semiótica inspira ao ensino de educação Física. Discorpo:revista do departamento de educação física e desportos da PUC-SP, São Paulo, n.3, 1994. BRACHT, Valter. Educação física e aprendizagem social. Porto Alegre: Magister, 1992. 121p. CORAZZA, Sandra Mara. Planejamento de Ensino como Estratégia de Política Cultural. Em: Moreira, A.F.B. (org.) Currículo: Questões Atuais. Campinas, S.P.: Papirus, p. 103 – 143, 1997. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo, Paz e Terra, 1997. 2ªed. GANDIN, Danilo. Planejamento como Prática Educativa. São Paulo: Loyola, 1991. ______, e CARRILHO CRUZ, Carlos H. Planejamento na Sala de Aula. Porto alegre: La Salle, 1995. LIBÂNEO, J.C. Didática. São Paulo: Cortéz, 1994. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo : Cortez, 1992 (Coleção magistério – 2º grau, Série formação do professor). MARTINELLI, Marilu. Conversando sobre valores humanos em educação. São Paulo: Peirópolis, 1999 MASETTO, Marcos Tarciso. Didática: a aula como centro. 4ª ed. São Paulo : FTD, 1997. (Coleção aprender e ensinar) MOLINA NETO, Vicente. La Cultura Docente Del Professorado de Educación fisica de Las Escuelas Publicas de Porto Alegre. (Tese de Doutorado) Barcelona: Universidade de Barcelona, 1996. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad. Catarina Eleonora F. da Silva e Jeane Sawaya; rev. técnica: Edgard de Assis Carvalho. 2ª ed. São Paulo: Cortez, DF : UNESCO, 2.000. VASCONCELLOS,C.S. Planejamento. Plano de Ensino – Aprendizagem e Projeto Educativo. Em: Cadernos Pedagógicos do Liberdade – 1. 1995.