FRANCIENY GONÇALVES PINHEIRO
PLANEJAMENTO:
UMA POSTURA CRÍTICA NA DIDÁTICA DO ESPORTE
PICOS - PI
2007
FRANCIENY GONÇALVES PINHEIRO
PLANEJAMENTO:
UMA POSTURA CRÍTICA NA DIDÁTICA DO ESPORTE
Trabalho apresentado ao Curso
de Especialização em Esporte
Escolar do Centro de Educação à
Distância
Brasília
Programa
da
em
Universidade
parceria
de
com
de
o
Capacitação
Continuada em Esporte Escolar
do Ministério do Esporte para
obtenção do título de Especialista
em Esporte Escolar
Orientador:
Profº. Ms. Ahécio Kleber Araújo Brito
PICOS – PI
2007
GONÇALVES PINHEIRO, Francieny
PLANEJAMENTO: UMA POSTURA CRÍTICA NA DIDÁTICA DO ESPORTE.
Picos,2007.
35p.
Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília. Centro de Ensino a
Distância, 2007.
1- Planejamento 2- Postura crítica 3- Didática do esporte
FRANCIENY GONÇALVES PINHEIRO
PLANEJAMENTO:
UMA POSTURA CRÍTICA NA DIDÁTICA DO ESPORTE
Trabalho
apresentado
ao
Curso
de
Especialização em Esporte Escolar do
Centro de Educação à Distância da
Universidade de Brasília em parceria com
o Programa de Capacitação Continuada
em Esporte Escolar do Ministério do
Esporte
para
obtenção
do
título
de
Especialista em Esporte Escolar pela
Comissão formada pelos professores:
Professor mestre Ahécio Kleber Araújo Brito
Universidade de Brasília
Presidente:
Membro:
PICOS – PI
2007
A Deus, autor e consumador de todas as coisas,
sem o qual nada podemos realizar.
Aos meus pais e familiares, meu ponto de apoio
e segurança.
Ao professor Ahécio pela atenção e paciência.
A todos os amigos que até aqui têm contribuído
de forma significativa para o meu desempenho
acadêmico e profissional.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a
elaboração desta monografia e, de modo especial ao professor Ahécio Kleber
Araújo Brito, pelo incentivo constante e pela orientação.
"A reflexão crítica sobre a prática se torna uma
exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a
teoria pode ir virando blábláblá e a prática,
ativismo."
Paulo Freire
RESUMO
O planejamento é uma preparação prévia de como atuar, de forma a
antecipar os resultados do trabalho docente. Garante uma estreita
articulação interna e deve ser realmente utilizado como instrumento
de ação. É um elemento constitutivo de ensino, indispensável ao
trabalho docente coerente e comprometido com a educação. O
presente trabalho de pesquisa bibliográfica pretende refletir sobre o
tema planejamento de ensino numa visão crítica dentro da didática do
esporte inicialmente situando-o no contexto da educação - didática,
na acepção de um uso mais abrangente, para então deslocar o olhar
especificamente sobre o âmbito da educação física escolar. Nossas
considerações ao longo do trabalho partiram de uma revisão
bibliográfica realizada a fornecer um conteúdo que despertasse
interesse acadêmico aos professores de educação física escolar que
ainda não estabeleceram uma discussão sobre o tema. Dentre as
questões em pauta, é evidente que o planejamento auxilia na
construção de uma postura didática crítica, cabendo ao educador
planejar para o sucesso de seu cotidiano e de sua prática pedagógica.
O ato de planejar é portanto, orientado a uma postura crítica dentro
da Didática na medida em que proporciona a adequação e a revisão
dos objetivos, considerando a realidade concreta dos alunos.
PALAVRAS-CHAVE: Planejamento, trabalho docente, criticidade,
didática, educação física escolar.
9
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO--------------------------------------------------------------------------- 10
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA----------------------------------------------------- 12
2.1 Planejamento como prática político-pedagógica----------------------------12
2.2 Plano da escola----------------------------------------------------------------------16
2.3 Orientações didático-pedagógicas para a organização das aulas de
educação física----------------------------------------------------------------------------19
2.3.1 Seqüência e continuidade no ensino -----------------------------------20
2.3.2 Organização dos alunos----------------------------------------------------21
2.3.3 Abordagem teórico-prática-------------------------------------------------22
2.3.4 Metodologia de ensino------------------------------------------------------23
2.3.5 Papel do professor-----------------------------------------------------------23
2.3.6 Objetivos das aulas de educação física--------------------------------24
2.4 O planejamento dos professores de educação física como uma
atribuição “polêmica”--------------------------------------------------------------------25
2.5 Didática em educação física – uma didática especial---------------------26
3 MÉTODO---------------------------------------------------------------------------------- 30
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO----------------------------------------------------- 32
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS-----------------------------------------------------------34
REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS--------------------------------------------------35
10
1 INTRODUÇÃO
O planejamento, de um modo geral, diz respeito a intencionalidade da
ação humana em contrapartida ao agir aleatoriamente, ao "fazer de qualquer
jeito", desconsiderando um fim, um objetivo, e um agir de forma organizada (os
meios) para construir/atingir o resultado desejado. O planejamento de ensino,
portanto, é uma construção orientadora da ação docente, que como processo,
organiza e dá direção a prática coerente com os objetivos a que se propõe.
Tem que responder às seguintes questões: - Como? Com quê? O quê? Para
quê? Para quem? na forma de plano. Para que seja possível a concretização
desta atividade docente, há a necessidade de outra instância de planejamento
que são o projeto político-pedagógico e o projeto curricular, que serão
norteadores da ação docente coerente e responsável, e antecedem ao
planejamento de ensino propriamente dito.
O planejamento constitui-se um tema de extrema importância, pois a
organização faz parte da nossa vida e, muitas vezes, o sucesso depende de um
planejamento eficaz ao passo que a falta dele pode tornar o trabalho docente
angustiante e totalmente desvinculado da realidade do aluno.
Na área de conhecimento da educação física, pelo menos nos
periódicos mais expressivos, são muito poucos os artigos sobre o tema
planejamento de ensino, bem como, são poucos os autores que escrevem livros
sobre a didática da educação física, e conseqüentemente sobre o planejamento
de ensino.
É possível afirmar que o assunto desperta pouco interesse dos
acadêmicos de educação física e que também seria o planejamento uma
questão "polêmica" para os professores da área, principalmente aos que ainda
não estabeleceram uma discussão sobre o tema.
11
Essas e outras questões pautam este trabalho, não no sentido de encontrar
respostas acabadas, mas sim objetivando buscar uma reflexão sobre o tema
proposto, em uma perspectiva dialógica de entendimento desse elemento
constitutivo do trabalho docente, capaz de transformar a realidade do professor
de educação física escolar e dos seus alunos.
12
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Planejamento como prática político-pedagógica
Compreendendo o Planejamento escolar como importante momento de
elaboração teórica das tarefas docentes nas quais a reflexão e a avaliação
sobre o processo de ensino-aprendizagem possuem como marco referencial a
intenção política de intervir na realidade escolar dos alunos, busquei neste, para
ser mais preciso em uma de suas modalidades - o plano de ensino - a forma de
compreender o referencial filosófico-epistemológico, teórico-metodológico e
político da prática pedagógica dos professores.
O plano de ensino configura-se como um roteiro organizado de unidades
didático para um ano ou semestre composto pelos seguintes elementos:
justificativa da disciplina; conteúdos; objetivos gerais e específicos; metodologia
e avaliação, todos estes ligados à concepção que a escola e o professor
carrega sobre a função da educação, da escola, de cada especificidade de
determinada disciplina e sobre seus objetivos sociais e pedagógicos. Tais
elementos visam assegurar a racionalização, organização e coordenação do
trabalho docente, de modo que a previsão das ações docentes possibilite ao
professor a realização de um ensino de qualidade e evite a improvisação e a
rotina. Sobre esses elementos materializam-se os referenciais políticopedagógicos da prática pedagógica dos professores.
Libâneo (1994) observa o planejamento escolar como processo
responsável por racionalizar, organizar e coordenar a ação docente, que deve
articular as atividades escolares ao contexto social, pois a escola, os
professores e os alunos são integrantes da dinâmica das relações sociais e
tudo o que acontece no meio escolar é abarcado por
13
influências econômicas, políticas e culturais características da sociedade de
classes. Essas funções delegadas ao planejamento escolar são determinadas
por uma intencionalidade educativa que envolve objetivos, valores, atitudes,
conhecimentos e formas de agir e interagir dos professores que atuam na
formação humana no contexto escolar, nos quais amplos setores deste espaço
envolver-se-ão na ação de projetar os rumos, de forma democrática, que esta
formação deve tomar compreendendo o planejamento escolar como prática de
elaboração conjunta dos planos, que parta de discussões públicas.
Nesse sentido, o planejamento escolar e seus elementos relacionados
dialeticamente às implicações sociais estão envolvidos de significados políticos,
em que esta é uma atividade de reflexão acerca de nossas opções e ações. A
não reflexão em torno do trabalho docente se conforma em uma atitude de
subserviência
aos
rumos
estabelecidos
pelos
interesses
hegemônicos
(LIBÂNEO, 1992).
Entretanto, historicamente o planejamento escolar tem sido realizado
sob uma perspectiva tecnicista e burocrática, na qual, o preenchimento de
formulários, as reproduções de planos anteriores e a submissão às orientações
e parâmetros curriculares de forma irrefletida, a- crítica e descompromissada,
têm marcado essa prática caracterizando-a como uma ação mecânica,
fragmentária e burocrática dos professores, pouco contribuindo para elevar a
qualidade da ação pedagógica no âmbito escolar.
Por outro lado, o planejamento escolar é apontado como alternativa de
organização coletiva em que diversos segmentos envolvidos (professores das
diversas áreas, alunos, funcionários administrativos e comunidade) discutam e
decidam coletivamente os objetivos, metas, finalidades, valores, atitudes e
solucionem os problemas comuns à escola de uma forma geral e do ensino,
viabilizando assim a materialização de uma escola realmente democrática
(MASETTO, 1997).
14
O planejamento escolar implica então numa forma de ação que busca
organizar coletivamente as comunidades (classe trabalhadora) em torno das
escolas, criando-se a partir daí, espaços de resistência e luta contra o
neoliberalismo, além da própria reivindicação junto ao Estado quanto às
questões da educação: a democratização da educação, estruturação das
escolas públicas, planos de carreira e formação continuada dos professores e
trabalhadores da educação que dentre outras questões fazem-se urgente, a fim
de elevar a educação das maiorias a uma qualidade socialmente referenciada.
A participação coletiva no Planejamento Escolar aliada ao engajamento
dos diversos atores da escola pública e da sociedade consubstancia as lutas
reivindicatórias em torno de uma real democratização, tanto quantitativamente
quanto qualitativamente, da educação. A resistência contra a perspectiva de
mercantilização e privatização da escola pública engendrada pelo projeto
neoliberal deve ser a tônica das lutas da categoria profissional da educação, e
de toda a sociedade, pois a defesa da escola pública significa aliar esta luta às
necessidades da maioria da população brasileira, compreendendo a educação
como direito social, que associada aos direitos político-econômicos contribua
realmente com uma educação para a cidadania (VASCONCELOS, 1991)
Na Educação Física espera-se uma perspectiva de planejamento
escolar na/para a Educação Física Escolar, na/para a ação política,
transformadora, teorizada a partir do concreto, que atuem como base de
sustentação para uma prática pedagógica da área com fins explicitamente
democráticos e qualitativos, cuja ação de planejar torne-se uma prática políticoeducativa.
Contudo, tal qual as propostas progressistas de Educação (Física), as
perspectivas do Planejamento Escolar organizado, materializado e avaliado
coletivamente pouco tem transposto o discurso e se efetivado concretamente
numa práxis pedagógica emancipadora.
15
Segundo Corazza (1997), a regulamentação da profissão da Educação
Física, compreendida como tentáculo da ofensiva neoliberal, e os apologetas da
sociedade de mercado visam substituir a perspectiva do professor de Educação
Física pelo profissional liberal de Educação Física. Esta tendência visa
fragmentar este profissional ainda mais da luta da categoria profissional da
educação e da organização coletiva destes na escola a partir das
determinações
ideológicas
disseminadas
pelo
ideário
neoliberal
que
compreende a educação como ponto estratégico de implementação da
organização econômica, política, social e ideológica sob a gerência da ética do
livre mercado.
Ainda assim, a política de sucateamento e desvalorização da categoria
dos profissionais da Educação, as políticas neoconservadoras e neoliberais que
buscam extirpar do imaginário social a memória coletiva, a sociedade movida
pela luta de classes juntamente com as dificuldades de mobilização da
categoria docente na década de 1990, acaba contribuindo para a formação de
"novos" espaços que favorecem a agregação, sendo a escola um espaço que
oferece aos professores, "a oportunidade de ampliar os vínculos e construir
projetos coletivos para além da militância sindical". Este modo de atuação,
centrado na escola, resgata junto ao professorado a importância do
envolvimento coletivo, instituindo o espaço escolar como lócus decisivo no
processo de recomposição da identidade coletiva docente.
Neste sentido o Planejamento escolar concebido de forma democrática e
participativa desde a sua construção até a sua concretização e avaliação, pode
se conformar num instrumento de organização e ação coletiva, com vistas a
resolver os problemas da escola e desenvolver uma prática pedagógica de
qualidade para as maiorias (GANDIM, 1991).
16
2.2 Plano da escola
O Plano da Escola é um recurso para colocar em prática os objetivos da
educação nacional, adequando-os às situações regionais e locais e às
necessidades específicas de cada escola; um conjunto de objetivos concretos e
realistas; um plano preciso de ações coerentes, articuladas entre si, definidas a
partir de objetivos cujos resultados podem ser avaliados; um programa
plurianual, contendo um cronograma com períodos estabelecidos para cada
fase; um conjunto de atividades propostas pela comunidade escolar, com vistas
a garantir maior eficiência escolar.
O Plano da Escola permite uma abordagem abrangente e integrada de
todos os aspectos da atividade escolar, compreendendo currículo e avaliação,
capacitação de professores, administração e organização da escola, verbas e
recursos.
O Plano da Escola capta a visão da escola a longo prazo. A partir dessa
visão, será possível estabelecer metas viáveis de curto prazo. As novas
legislações como a Emenda 14, a nova LDB (Lei de Diretrizes e Base) entre
outras, também devem ser consideradas para a compreensão da realidade
escolar, pois estas legislações "determinam" a forma de organizar e de fazer a
educação em nosso país.
As políticas implementadas pelos diferentes níveis de governo também
devem ser consideradas uma importante fonte de influência no planejamento,
pois, ao instituir e propor o programa TV Escola e os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs), a esfera federal fez-se presente praticamente em todas as
unidades escolares da nação.
Além dessas influências "externas", a escola é também influenciada por
fatores advindos de sua "realidade particular", exigindo que os agentes sociais
presentes em seu cotidiano façam uma análise desse mesmo cotidiano.
17
Bracht (1992) nos alerta que, os "elementos que integram a vida escolar
são, em parte, transpostos de fora; em parte, redefinidos na passagem, para
ajustar-se às condições grupais; em parte, desenvolvidos internamente e
devidos a estas condições. Longe de serem um reflexo da vida da comunidade,
as escolas têm uma atividade criadora própria, que faz de cada uma delas um
grupo diferente dos demais".
O conhecimento da realidade escolar passa a ser uma exigência no
processo de planejamento. Para Freire (1997), mais do que conhecer um
método de planejamento, aquele que planeja, deve possuir um bom
conhecimento da realidade a ser planejada.
A participação constitui-se o melhor caminho para conhecer a realidade
escolar, pois a escola analisada pelo pai não corresponde necessariamente à
escola vista pelo professor, bem como pode não refletir as análises dos outros
membros presentes no dia-a-dia da escola, funcionários, alunos e especialistas.
Por meio da participação e do debate democrático, somente, será possível o
encontro de pontos comuns aos vários segmentos, das várias "realidades"
presentes na escola, que deverão ser contemplados no processo de
planejamento escolar.
A participação possibilita a incorporação dos vários significados que a
escola possui por parte dos diferentes segmentos que vivenciam a realidade
escolar. A escola deixa de ser do governo, do diretor, do funcionário, do
professor, do pai, do aluno e passa a carregar simbolicamente um pouco de
todos. A participação deve ser entendida como um processo de aprendizagem
que demanda um tempo e um esforço de todos aqueles preocupados com a
formação do cidadão. O planejamento como um processo de organização do
trabalho escolar pode ser visualizado por três momentos no processo de
planejamento – ANTES – DURANTE – DEPOIS das operações, ou seja, a
preparação das operações a serem desenvolvidas; o acompanhamento da
18
execução das operações, e a avaliação de todo o processo após a execução de
todas as operações. O primeiro é o momento de elaboração do Plano Escolar,
ou seja, quando analisamos participativamente a realidade a ser planejada,
levantando as suas principais necessidades (diagnóstico) e dessas passamos a
decidir sobre os objetivos que desejamos alcançar (objetivos), como também
sobre os caminhos que vamos seguir para alcançar esses objetivos
(programação) e o que vamos precisar para seguir nesse caminhar (recursos).
Ainda, nesse momento, teremos de decidir sobre o momento e a forma de
avaliação do planejamento (avaliação). Todas as decisões coletivamente
tomadas, no primeiro momento, devem ser registradas no documento que
chamamos de Plano Escolar (CARRILHO, 1995).
O
segundo
momento
do
planejamento
caracteriza-se
pelo
acompanhamento da execução das operações. Acompanhar significa interagir
com a realidade, ou seja, estar atento para mudar os rumos das operações,
caso elas não satisfaçam os objetivos do planejamento, pois a dinâmica escolar
pode se alterar exigindo certas modificações nas operações inicialmente
pensadas. Devemos estar sempre atentos às necessidades de mudança do
percurso, se realmente estamos interessados em alcançar determinados
objetivos. O terceiro momento do processo de planejamento corresponde à
avaliação de todo o caminhar, ou seja, quando verificamos quais as operações
que levaram a alcançar os objetivos propostos e aquelas que, mesmo
executadas, não tiveram o efeito desejado para o alcance dos objetivos
inicialmente propostos. Nesse momento, ao analisarmos os acertos e erros,
estaremos preparando um novo planejamento, pois, como processo, esse
planejamento carateriza-se por um contínuo planejar, acompanhar, avaliar,
replanejar, etc... (FREIRE,1997).
19
Todo processo de planejamento tem por objetivo alterar uma dada
realidade, ou seja, espera-se com a implementação do planejamento que
ocorram mudanças políticas, pedagógicas e administrativas na realidade
escolar (CORAZZA, 1997). É "óbvia" esta afirmativa e torna-se necessária, ao
passo que ainda está muito presente entre os agentes educacionais a visão de
que o planejamento e, principalmente, o plano escolar, não passam de mera
formalidade legal.
Visão que acaba por impedir ações que garantam a
organização do trabalho coletivo na escola e, conseqüentemente, a
democratização das relações na unidade escolar.
2.3 Orientações didático-pedagógicas para a organização das aulas de
educação física
O planejamento: o plano de trabalho/ensino deve sempre ser
construído, analisado e aprovado em conjunto por professor e alunos/as.
Segundo Paulo Freire, “Não existe docência sem discência. É preciso que
desde o começo do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora
diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é
formado forma-se e forma ao ser formado. É neste sentido que ensinar não é
transferir conhecimentos, conteúdos, nem formar é ação pela qual um sujeito
criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há
docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das
diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto um do outro.
Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”.
O planejamento, para ter significado e validade precisa de uma ação
participativa por parte do aluno. Assim, o plano de ensino/trabalho deve ser
construído, analisado e aprovado em conjunto por professor e alunos. O aluno
precisa ser sujeito do plano de trabalho para que assuma a responsabilidade do
20
trabalho junto com o professor. Mas só essa participação não é suficiente,
porque o aluno é também contraditório. Ele mesmo quebra as regras e
combinados que faz com o professor. Porém, tendo ele participado desse
processo de construção do trabalho, quando ele o desrespeitar estará
descumprindo também consigo mesmo e, então, o professor terá como
questioná-lo a respeito de sua postura. O que pode ser feito são reformulações
no plano de trabalho que é algo flexível e dinâmico. Professor e aluno
constroem juntos uma “Ética da Solidariedade” na qual deve imperar a verdade
e a cooperação.
Os valores humanos: universais e clássicos a serem trabalhados na
formação humana dos alunos e alunas, nas aulas de Educação Física serão:
Verdade, Ação-Correta, Amor, Paz e Não-Violência (MARTINELLI, 1999).
Segundo Marilú Martinelli, “Os valores humanos são fundamentos
morais e espirituais da consciência humana. Todos os seres humanos podem e
devem tomar conhecimento dos valores a eles inerentes. A causa dos conflitos
que afligem a humanidade está na negação dos valores como suporte e
inspiração para o desenvolvimento integral do potencial individual e
conseqüentemente do potencial social. Não é possível encontrar o propósito da
vida sem esses valores que estão registrados em nosso ser profundo, ainda
que adormecidos na mente e latentes na consciência. Os valores são a reserva
moral e espiritual reconhecida da condição humana”.
2.3.1 Seqüência e continuidade no ensino
O ensino de Educação Física se organiza por meio de uma seqüência,
uma continuidade, uma inter-relação entre as aulas. Geralmente, as aulas se
organizarão em três momentos distintos sem quebra de continuidade entre elas:
21
1º momento: O tema da aula é apresentado aos alunos com destaque para os
conteúdos e objetivos pretendidos pela unidade de estudo. Discute-se com eles
as melhores formas de organização para a execução das atividades escolhidas.
Conversa-se com os alunos sobre as formas de exercitar para tentar se
descobrir as possibilidades que cada um tem de executar as atividades que se
está propondo. Prepara-se, junto com os alunos, o material que vai ser usado
na aula.
2º momento: É a fase do desenvolvimento das atividades escolhidas e refere-se
à apreensão do conhecimento. É o momento em que o aluno tenta se apropriar,
incorporar o conhecimento da cultura corporal/movimento. Nessa fase, o
professor observa as atividades realizadas, faz registros sobre a ação dos
alunos,
dá
orientações
individuais
ou
em
grupo,
faz
perguntas
problematizadoras, dá sugestões para a solução das questões que precisam
ser encaminhadas, sem necessariamente parar a atividade que está se
realizando. Mas, se for necessário interrompê-la para uma intervenção
pedagógica mais rigorosa, isto deve ser feito.
3º momento: É a fase da avaliação final da aula. Sabemos que a avaliação não
acontece só ao final da aula, mas a privilegiamos neste momento como forma
de um fechamento da aula ao mesmo tempo em que é uma abertura para a
continuidade das aulas seguintes. É quando o professor e os alunos tiram
conclusões, levantam aspectos negativos e positivos e também perspectivas
para as aulas seguintes. Pode se fazer demonstração daquilo que se tentou
aprender no segundo momento da aula. Alunos e professor recolhem o material
usado.
2.3.2 Organização dos alunos
A turma de alunos/as para a participação na aula pode ser organizada por
grupos de interesse, de acordo com o conteúdo que se deseja aprender. Numa
22
mesma turma podem existir mais de um grupo de interesse. Assim, cada turma
exigirá um tipo próprio de organização para a realização das atividades, de
maneira a contribuir para a aprendizagem e para o alcance dos objetivos
propostos. A turma deve se constituir enquanto grupo de estudo para escolher
os temas de sua preferência.
2.3.3 Abordagem teórico-prática
A disciplina possui uma abordagem teórico-prática que trata-se de um
processo de ensino intencional, sistematizado, que ocorre na escola. E só faz
sentido numa proposta pedagógica que postule uma concepção dialética de
ensino. Por ser dialética, considera que esse ensino lida com as dimensões de
teoria e prática em forma de unidade.
A Educação Física que considera a relação teoria-prática de modo
indissolúvel, e que se manifesta metodologicamente nesta direção, está
presente no ensino fundamental. Nessa fase do ensino, a forma da
operacionalização da teoria e da prática deve estar de acordo com as
características, as necessidades e as possibilidades do aluno atendido, do
professor que dirige o processo ensino-aprendizagem e do tipo de conteúdo a
ser transmitido. Ambas devem ser dispostas numa visão de unidade, sem que
isso signifique uma descaracterização da disciplina, a perda de sua identidade e
de sua legitimidade.
Na prática pedagógica, os professores podem demonstrar aos alunos
que a Educação Física substancialmente lida com os movimentos, mas são
necessários o diálogo, a reflexão e o uso da palavra para que o aluno não só
pratique os temas da cultura corporal, como também saiba “se posicionar
criticamente diante dessa cultura" (BRACHT, 1992). O professor pode fazer isso
pelo movimento e pela palavra, além de outras formas de expressão possíveis.
23
2.3.4 Metodologia de ensino
A metodologia de ensino nas aulas será dinâmica e participativa; os
alunos e professor escolhem em conjunto a maneira como as aulas
acontecerão. Considerar-se-ão tanto as experiências positivas quanto as
negativas que os alunos têm quando realizam suas atividades. Errar faz parte
do processo de aprendizagem. Procurar-se-á atender aos interesses,
necessidades e possibilidades dos alunos individualmente e em grupo. Os
temas de movimento das aulas serão escolhidos em conjunto por alunos e
professor e serão considerados na perspectiva da vivência corporal, e não da
obrigação de ter que se movimentar.
2.3.5 Papel do professor
O professor tem como papel ser um educador-educando: no exercício de
sua tarefa de educar também aprende com seus alunos, pois a finalidade dessa
tarefa o leva a questionar o que já “sabia” quando esse saber não se concretiza
em aprendizagens coletivas. O professor, desafiando-se, interrogando-se e à
sua área de conhecimento, cria novas metodologias, abre espaços para outros
processos educativos em sala de aula, aprendendo novas formas de ensinar.
Nesse movimento, recria situações de aprendizagem dirigidas por uma escuta
atenta dos alunos e uma análise ética do processo educativo.
Nas aulas, o professor é um mediador e um problematizador da aprendizagem,
e não um juiz ou um disciplinário. O professor tenta ensinar aos alunos
metodologias próprias para a aprendizagem das atividades da aula, os ensina a
trabalhar em grupo e ainda os ajuda na avaliação da sua aprendizagem
individual e coletiva.
24
2.3.6 Objetivos das aulas de educação física
O ensino de Educação Física Escolar, na perspectiva da cultura corporal,
tem como objetivo geral, desenvolver a postura crítica dos alunos perante as
atividades da cultura corporal, no sentido da aquisição de autonomia de
conhecimentos/habilidades necessária a uma prática intencional e permanente,
que considere o lúdico e os processos sócio-comunicativos, no sentido do
prazer, da auto-realização e da qualidade coletiva de vida. Tem como objetivos
específicos: 1. Oportunizar aos alunos a vivência da expressão corporal como
linguagem. 2. Enriquecer a vida de movimento dos alunos com possibilidades
de movimentos construídos histórica e culturalmente pela humanidade. 3.
Oportunizar o uso imediato das atividades da cultura corporal ao aluno nas
aulas. 4. Favorecer ao aluno o uso dos temas da cultura corporal em espaços e
tempos extra-escolares. 5. Oportunizar ao aluno a vivência do movimento
humano no contexto escolar, de modo que reelabore, amplie e o utilize como
uma nova prática social. 6. Oportunizar atividades da cultura corporal com
ênfase no prazer e na brincadeira (ludicidade) sem deixar também de abordar
esses temas na perspectiva normalizada e institucionalizada. 7. Oportunizar a
aquisição, o aprimoramento e a combinação de variadas formas de movimento.
8. Possibilitar aos alunos movimentar-se individual e coletivamente, evitando
discriminação em relação a si própria e ao grupo. 9. Possibilitar a relação entre
os temas da cultura corporal, oferecidos pela Educação Física com a vida de
movimento do aluno em seu cotidiano. 10. Oportunizar a vivência e a
organização de atividades de movimento em grupos heterogêneos nos mais
variados aspectos (gênero, raça, desempenho, etc.). 11. Discutir valores éticos,
políticos e sociais da corporeidade humana na realidade brasileira. 12.
Relacionar Educação Física com atividade física, educação, saúde, energia,
consciência corporal, lazer, trabalho, sexualidade, cidadania, consumo, meio
ambiente e cultura (Temas transversais).
25
2.4 O Planejamento dos professores de educação física como uma
atribuição polêmica
O planejamento de ensino, ou planejamento pedagógico – o que está mais
próximo da prática pedagógica e para ela desenvolvido – tem na figura do
professor um agente privilegiado de transformação da realidade, relacionada
ao interesse e a complexidade da ação a ser desenvolvida. Por ser o trabalho
docente exigente – formador – exige planejamento à altura, para evitar o que
alguns autores chamam de "improvisação ou acaso" (Gandin, 1991 – Libâneo,
1994 – Gandin e Cruz, 1995 – Vasconcellos, 1995). Ao mesmo tempo, surge o
questionamento dos professores em geral sobre o por quê do planejamento de
ensino e da sua expressão escrita na forma de planos, o "planejar para quê?",
e "por quê?" (Corazza, 1997), sendo que muitos professores ainda associam o
planejamento e a realização de planos como um trabalho burocrático
desnecessário. Nesse sentido, para Molina Neto (1996), a realização de
planos para os professores de educação física:
"(...) é possivelmente uma das tarefas pelas quais os professores de
educação física divergem da cultura das escolas. De um lado a cultura escolar
opera e da forma a sua estrutura com base na escritura, por outro lado o
coletivo, como já demonstrei, opera com a palavra oral e a linguagem corporal.
O coletivo considera a tarefa de fazer planos escritos pouco necessária e uma
tarefa feminina”
É ressaltado que o trabalho do professor de educação física é baseado no
fazer, desta forma justificando a polêmica em torno do ato de construção do
planejamento e de escrever planos de aula. É considerado importante tal
questionamento, no ponto de vista dos autores que abordam esse tema,
inicialmente, observando-se quais as orientações que os docentes têm
26
recebido sobre o planejamento de ensino especificamente o professor de
educação física durante seu curso de graduação, enquanto ainda estudante,
seja nas disciplinas de metodologia do ensino da educação física, seja na
importante didática da educação física, com suas orientações referidas à uma
teoria didática específica à prática pedagógica da área. Ao passo que ao longo,
ou pelo menos no final do curso de graduação, terá que organizar suas aulas
nas disciplinas de prática de ensino, podendo se defrontar com dificuldades
comuns às aulas improvisadas, o que certamente, não é uma experiência
positiva. Dessa forma, independentemente de ser professor de educação física
formado há pouco ou mais tempo, o planejamento de ensino dos professores
de educação física é considerado um objeto de estudo que deve ser marcado
pela "liberdade” /flexibilidade.
Para que possa haver participação nas tomadas de decisões, é
necessário ter clara a visão de processo, da caminhada para atingir os
objetivos, sendo que estes devem necessariamente ser coerentes com o
projeto político – pedagógico da escola. O coletivo precisa da referência do
projeto para construir a participação de todos, e acima de tudo, vivenciar a
participação nas decisões que estabelecem os pressupostos dessa educação
que a escola ou instituição quer. A partir dessa etapa, o coletivo constrói o seu
planejamento de ensino, quer seja o plano de curso, de unidade ou o plano de
aula, este último individual, e coerente com o projeto político – pedagógico e o
contexto escolar.
2.5 Didática em educação física – uma didática especial
Segundo Masetto (1997) após analisar as concepções de vários
estudiosos, afirmou: que didática é uma reflexão sistemática e acrescenta: (...)
27
que acontece na escola e na aula. É o estudo do processo de ensino
aprendizagem em sala de aula e de seus resultados.
Segundo Libâneo (1994, p. 28) "Didática pode constituir-se em a teoria
do ensino". É interessante acrescentar que o autor afirma "(...) aparece quando
os adultos começam a intervir na atividade de aprendizagem das crianças e
jovens através da direção deliberada e planejada do ensino, ao contrário das
formas de intervenção mais ou menos espontâneas de antes".(ibid. p. 58).
Essa última afirmação é ampla e afirma que o exercício didático não acontece
somente no contexto da unidade escolar, mas no seio da sociedade por meio
das interações sociais dos seus pares. Há um processo de ensino constante na
sociedade em que estamos inseridos.
Morin (2.000, p.28), em seu estudo, diz que: "O imprintingi[ii] cultural
marca os humanos desde o nascimento, primeiro com o selo da cultura familiar,
da escolar em seguida, depois prossegue na universidade ou na vida
profissional”. O imprinting é conseqüência da interação desses dois processos
de ensino.
Podemos nomear o processo de ensino que acontece fora da escola
como ensino informal. Ele acontece no seio da sociedade em que vivemos e
fora da unidade escolar.
Esse processo informal de ensino é empírico, mas organizado, pois o
resultado da evolução humana foi justamente a organização da vida em todos
os seus aspectos.
Ao outro processo de ensino, é denominado de processo de ensino
formal, acontece na instituição escola. Tal processo é embasado em
conhecimentos científicos de muitos cientistas e filósofos educacionais. A
preocupação com o desenvolvimento desse processo científico e filosófico de
ensinar, historicamente, data desde antes da sociedade greco-romana,
organizado e conduzido por outras civilizações antigas tais como egípcios,
28
chineses, etc. Podemos crer que desde a pré-história isso acontece, mas teve
uma ênfase maior no período greco-romano.
Nesta reflexão sobre Didática da Educação Física, em ambos os casos,
ensino informal e formal, a interação entre os dois é essencial para o
desenvolvimento do aprendiz, em qualquer circunstância e em qualquer faixa
etária de sua vida.
A organização do ensino no contexto escolar depende de como esse
ocorre no seio da sociedade em que vive o aprendiz.
A Educação Física acontece no processo de ensino informal. Por meio
das interações sociais há o desenvolvimento de habilidades motoras. Sendo
assim, os resultados devem ser valorizados e estimuladas no processo de
ensino formal, ou seja, na Educação Física Escolar.
Uma característica que difere os profissionais da Educação Física dos
professores das outras disciplinas que compõem o currículo escolar é a sua
atuação fora do contexto escolar, desempenhando ações de ensino semelhante
à escolar em academias, clubes esportivos, personal training, etc.
Os princípios didáticos que orientaram essas outras práticas de ensino
são os mesmos independentemente da faixa etária em que se encontra o
aprendiz.
Libâneo (1992, p. 17) enunciou em sua obra denominada de Didática:
"[...] a educação compreende os processo formativos que ocorrem no meio
social, nos quais os indivíduos estão envolvidos de modo necessário e
inevitável pelo simples fato de existirem socialmente [...] Existe numa grande
variedade de instituições e atividades sociais decorrentes da organização
econômica, política e legal de uma sociedade, da religião, dos costumes, das
formas de convivência humana".
29
Considerando que estamos abordando a questão específica da Educação
Física, o desenvolvimento de atividades físicas, esportivas, de lazer, de
recreação, etc, são conteúdos de um processo de ensino que o profissional
deve considerar essencial, analisando-os, buscando recursos em outros
processos que possam ajudar o seu trabalho e finalmente considerar todo o
aspecto social que envolve o aprendiz, esse é o primeiro passo da didática no
processo de ensino do profissional.
30
3 MÉTODO
Este trabalho monográfico está organizado com base em pesquisa
bibliográfica de autores compromissados como a educação e especificamente
com o tema aqui proposto, a coleta das referências se deu de forma exaustiva.
Procuramos mostrar como um professor de Educação Física pode
construir um trabalho em que as dimensões da teoria e da prática se relacionem
de forma integrada, recíproca e unitária. Princípios e fundamentos para a
prática pedagógica em Educação Física Escolar numa visão crítica e reflexiva
segundo autores como Paulo Freire, Marilu Martinelli, Edgar Morin, Vicente
Molina Neto, José Carlos Libâneo, Sandra Maria Corazza e outros.
O texto elucida funções da escola e da Educação Física e indica uma
concepção para essa disciplina na escola. Apresenta orientações didáticopedagógicas para a organização das aulas bem como objetivos e conteúdos
programáticos, além de estratégias de ensino. Propomos a partir de o exposto
levar acadêmicos, professores e demais interessados pelo assunto, a reflexão
da extrema importância do planejamento escolar, da atuação da didática, além
de mostrar o “poder” de transformação que é dado ao profissional de Educação
Física.
Acreditamos na originalidade deste trabalho nesta região, talvez na
demonstração de como um professor de Educação Física se valeria da
produção acadêmica em Educação e na área em questão, para organizar e
fundamentar um plano de trabalho e sua prática pedagógica, interagindo com
os autores que lhe dão suporte.
31
Temos a convicção que valeria a pena conhecer tal material uma vez que
não é comum o acesso, aos professores à produção teórica da área,
principalmente no interior do Piauí. Além disso, mesmo para os professores que
têm acesso ao conhecimento produzido em Educação e Educação Física,
sempre encontramos aquele tipo de discurso que separa dicotomicamente
teoria e prática, e não consegue ver aplicação prática desta produção teórica.
Nosso trabalho pretende ser uma possível demonstração de como um
professor precisa saber fundamentar sua prática pedagógica, para lhe dar
sustentação diante dos (as) alunos (as), professores (as), e diretores das
escolas nas quais trabalhamos, mostrando como é possível fazer a
aproximação da teoria e da prática em forma de unidade.
Referenciou o
trabalho a bibliografia que se encontra citada no mesmo.
Esta proposta não expressa um produto final, acabado, mas uma
orientação para a prática pedagógica em Educação Física Escolar, que é
vivenciada, avaliada, criticada e, após sua aplicação prática, reelaborada. Isso
porque um Projeto Político Pedagógico, sobretudo o planejamento, é um
processo ininterrupto e continuado que se faz por meio da ação-reflexão-ação.
32
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Precisamos tomar cuidado para que a Educação Física não se
transforme exclusivamente numa aula discursiva sobre o movimento. Assim,
concordamos com Mauro Betti, quando diz que não está “propondo que a
Educação Física Escolar transforme-se num discurso sobre a cultura
corporal de movimento, mas numa ação pedagógica com a cultura corporal
de movimento. [...] A ação pedagógica a que se propõe a Educação Física
estará sempre impregnada da corporeidade do sentir e do relacionar-se. A
dimensão cognitiva do compreender far-se-á sempre sobre este substrato
corporal, mas só é possível através da linguagem; por isso a palavra é
instrumento importante - embora não único- para o profissional de Educação
Física. A linguagem deve auxiliar o aluno a compreender o seu sentir
corporal, o seu relacionar-se com os outros e com as instituições sociais de
práticas corporais [...]. O saber Educação Física é um saber que não pode
ser alcançado pelo puro pensamento; é um saber orgânico, só possível com
atividades corporais, não é um saber que se esgota num discurso sobre o
corpo/movimento. O papel do profissional da área é ajudar a fazer a
mediação deste saber orgânico para a consciência, através da linguagem e
dos signos. É um saber que leva o sujeito à autonomia no usufruto da
cultura corporal “(BETTI, 1994).
O planejamento, para ter significado e validade precisa de uma ação
participativa por parte do aluno, construído, analisado e aprovado em
conjunto. O aluno precisa ser sujeito do plano de trabalho para que assuma
a responsabilidade do trabalho junto com o professor. Tendo ele participado
desse processo de construção do trabalho, de forma flexível e dinâmica,
professor e aluno constroem juntos uma “Ética da Solidariedade” na qual
deve imperar a verdade e a cooperação.
33
Analisando nossa prática como professora de Educação Física quanto ao
planejamento escolar, consideramos uma prática louvável pelo fato de nos
trazer um retorno satisfatório quanto à participação, ao rendimento do aluno e,
sobretudo a organização da aula. É perceptível também no nosso âmbito
escolar que esta tão importante atividade ainda tem se caracterizado como uma
ação reprodutora e descomprometida com a escola e com o educando.
A prática do planejamento em minhas aulas representa um grande
suporte que corriqueiramente me fornece dados importantes sobre os alunos,
sobre a própria escola e até mesmo a cerca da minha ação docente. Quando
questiono junto aos outros professores de Educação Física como eles têm feito
seu planejamento é possível dar-se início ao que podemos chamar de
verdadeiro planejamento, pois o cotidiano é debatido e os desafios e problemas
são colocados partindo então para a busca de uma possível solução e novas
estratégias de trabalho. Embora existam algumas tendências como cópias fiéis
de planejamentos de algumas bibliografias e dos planos de anos anteriores,
uma ausência de momentos de planejamento de alguns “acomodados”, existem
sobremodo aqueles que fazem parte de um grupo, embora na sua minoria, que
procuram realizar os planejamentos coletivos e uma constante avaliação dos
objetivos propostos e os alcançados.
34
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste trabalho procuramos refletir sobre questões que
consideramos importantes sobre o tema planejamento de ensino, mais
especificamente no âmbito da educação física. Esta reflexão é baseada no
olhar de uma professora de educação física preocupada com as questões
didático – metodológicas que envolvem a ação docente deste coletivo, que
entendemos no momento como negligenciadas em detrimento de outros
estudos deste amplo campo de pesquisa.
Não é possível imaginar uma ação pedagógica sem planejamento,
improvisada. O ato de planejar é intrínseco à educação. O professor com
claras idéias de seus objetivos e da sua responsabilidade para concretizá-los,
deve planejar adequadamente suas tarefas. Ter clareza em relação ao
processo de construção do planejamento, dos meios para atingir os fins, da
coerência com o projeto político – pedagógico, do contexto sócio – econômico
– cultural – político e da participação coletiva nas tomadas de decisões.
Por fim, acrescentamos que a relevância do planejamento de ensino
resida no fato de ser necessário à ação docente do professor de educação
física, e como tal ser merecedor de estudos e pesquisas que possibilitem não
somente a reflexão sobre o tema, mas considerar possibilidades de fazê-lo
compromissado com o aprendiz. Esta nova concepção deve necessariamente
afirmar a sua importância no cotidiano, do comprometimento do professor com
a sua ação educativa crítica e reflexiva, e a concretização dos objetivos
existentes nas propostas pedagógicas constitucionais.
Desta forma, esperamos que as considerações aqui colocadas possam
contribuir com o debate sobre questões da prática pedagógica dos professores
de educação física, pois é um assunto pertinente, mas, negligenciado na
produção científica da educação física e na própria escola até este momento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Discorpo:revista do departamento de educação física e desportos da PUC-SP,
São Paulo, n.3, 1994.
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Magister, 1992. 121p.
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Política Cultural. Em: Moreira, A.F.B. (org.) Currículo: Questões Atuais.
Campinas, S.P.: Papirus, p. 103 – 143, 1997.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo, Paz e Terra, 1997. 2ªed.
GANDIN, Danilo. Planejamento como Prática Educativa. São Paulo: Loyola,
1991.
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LIBÂNEO, J.C. Didática. São Paulo: Cortéz, 1994.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo : Cortez, 1992 (Coleção magistério
– 2º grau, Série formação do professor).
MARTINELLI, Marilu. Conversando sobre valores humanos em educação.
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MASETTO, Marcos Tarciso. Didática: a aula como centro. 4ª ed. São Paulo :
FTD, 1997. (Coleção aprender e ensinar)
MOLINA NETO, Vicente. La Cultura Docente Del Professorado de
Educación fisica de Las Escuelas Publicas de Porto Alegre. (Tese de
Doutorado) Barcelona: Universidade de Barcelona, 1996.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad.
Catarina Eleonora F. da Silva e Jeane Sawaya; rev. técnica: Edgard de Assis
Carvalho. 2ª ed. São Paulo: Cortez, DF : UNESCO, 2.000.
VASCONCELLOS,C.S. Planejamento. Plano de Ensino – Aprendizagem e
Projeto Educativo. Em: Cadernos Pedagógicos do Liberdade – 1. 1995.
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