GUIA COMPLEMENTAR Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime Fadylla Maron João Vitor Martins Luana Carasek Rafaela Torres I. O Comitê O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) é referência global na luta contra drogas ilícitas e crime internacional. Fundado em 1997 com a fusão entre o Programa de Controle de Drogas das Nações Unidas e do Centro Internacional para Prevenção de Crime, atua no mundo todo através de uma extensa rede de escritórios locais. O trabalho do UNODC está baseado em três grandes áreas: saúde, justiça e segurança pública. Dessa base tripla, desdobram-se temas como drogas, crime organizado, tráfico de seres humanos, corrupção, lavagem de dinheiro e terrorismo, além de desenvolvimento alternativo e de prevenção ao HIV entre usuários de drogas e pessoas em privação de liberdade. O UNODC também ajuda os países a reforçar o Estado de Direito e a promover a estabilidade dos sistemas de justiça criminal. O Comitê apresenta três pilares: o trabalho normativo, ajudando os EstadosMembros na ratificação e implementação de tratados e no desenvolvimento de legislações; a pesquisa e análise, para ampliar o conhecimento acerca do tema e embasar políticas e estratégias em evidência; e a assistência técnica, que capacita os Estados para oferecerem uma resposta eficaz em casos relacionados às drogas ilícitas, ao crime organizado e ao terrorismo. As medidas implementadas refletem as três convenções 1 internacionais de controle de drogas e as convenções contra o crime organizado transnacional e contra a corrupção. Por ser formatado pela ONU, o comitê segue os moldes de debate da mesma, sendo recomendatório e com cadeiras rotativas, contando com, ao todo 150 representações. Quanto à dinâmica dos debates, cada delegação é representada por um diplomata, as discussões são organizadas a partir de uma lista de oradores e os votos de cada país têm mesmo peso, havendo assim igualdade entre os seus membros. II. Heroína e saúde pública A heroína é um derivado da papoula do oriente (Papaver somniferum), obtida a partir de modificações químicas em substâncias naturais. Pode ser consumida por inalação (heroína em pó) ou injetada por via endovenosa. A heroína tem um alto efeito psíquico, além de produzir dependência física, sendo essa dependência de difícil tratamento. Além disso, a heroína injetável é um dos grandes fatores de risco da transmissão do HIV em usuários, devido a reutilização das seringas. III. Política de Redução de Danos Em seu conceito mais estrito, podemos dizer que redução de danos é uma “política de saúde que se propõe a reduzir os prejuízos de natureza biológica, social e econômica do uso de drogas, pautada no respeito ao indivíduo e no seu direito de consumir drogas” (ANDRADE, 2001). Para a International Harm Reduction Association (2010), "redução de danos se refere a políticas, programas e práticas que visam primeiramente reduzir as consequências adversas para a saúde, sociais e econômicas do uso de drogas lícitas e ilícitas, sem necessariamente reduzir o seu consumo. Redução de danos beneficia pessoas que usam drogas, suas famílias e a comunidade". A redução dos danos relacionada ao uso de drogas tem origem no Comitê Rolleston, de 1926, que concluía que a manutenção de usuários por meio do emprego de opiáceos era o tratamento mais adequado para 2 determinados usuários. Com a AIDS, nova rede conceitual se desenvolveu em relação ao uso de drogas. Um problema médico (a contaminação pelo vírus da AIDS - o HIV) associado a um comportamento específico, o compartilhamento de seringas e agulhas, tornou-se o foco das atenções, em lugar do problema da dependência. Como a transmissão do vírus ocorre somente em função do compartilhamento do equipamento de injeção e não por simples uso da droga, é possível evitar o contágio do HIV sem que haja obrigatoriamente a interrupção desse uso. A partir de então, para muitos, por causa desta necessidade urgente de se prevenir a infecção pelo HIV entre UDIs (usuários de drogas injetáveis), surge um movimento de prevenção chamado de "redução de danos", cuja a idéia central poderia ser descrita assim: "Não sendo sempre possível interromper o uso de drogas, que ao menos se tente minimizar o dano ao usuário e à sociedade". Embora a Redução de Danos (RD) tenha inicialmente se destacado a partir da distribuição de agulhas e seringas para UDIs, como estratégia para prevenir a transmissão do vírus da AIDS, hoje é equivocado limitá-la a isso. Um exemplo para a expansão desse conceito é atualmente aplicado na Suíça, alguns estados da Alemanha, e Portugal. IV. Posição dos Países 1. Afeganistão Por ser o principal produtor de opiáceos, o narcotráfico mundial de ópio e heroína se organiza em torno do Afeganistão. A questão das drogas é um dos principais problemas para o governo afegão, por isso a colaboração da Comunidade Internacional é de suma importância. A situação vem ficando mais instável; a missão da OTAN que teve 13 anos de duração acabou no início do ano ao passo que os índices de plantação de papoula crescem e mais dinheiro escoa para grupos terroristas (Talibã e Estado Islâmico). A República Islâmica do Afeganistão tem colaborado com as medidas da Comunidade Internacional e atualmente está em uma situação instável, sendo as discussões em âmbito internacional de extrema importância para os próximos passos que o país tomará em relação ao tráfico. 3 Leia mais em: http://www.bbc.com/news/world-south-asia-12011352 http://www.unodc.org/unodc/en/publications-by-date.html 2. África do Sul A África do Sul é o país que recebe a maior parte da heroína afegã contrabandeada para o continente africano. As drogas chegam ao país principalmente através dos correios e encomendas postais e, mesmo sendo signatário das 3 convenções de controle de drogas, o país tornou-se um importante mercado secundário de tráfico no continente africano, sendo um centro de distribuição de drogas subordinado a organizações criminosas do Oeste Africano, que enviam parte dessas drogas para a Europa, Ásia e demais países africanos. Já para a população, uma das principais consequências tem sido a transmissão do vírus HIV através do uso indevido de seringas para injeção de heroína. Assim, o governo sul-africano, juntamente com seu Ministério de Justiça, vem investindo esforços para auxiliar a polícia judiciária a lutar contra o tráfico de drogas. Leia mais em: http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf 3. Alemanha Atualmente, 11% da heroína afegã que chega à Europa Ocidental tem por destino a Alemanha. Apesar do baixo número de usuários de heroína, quando comparados com os de usuários de drogas consideradas, para efeitos de políticas públicas estatais, mais “leves”, o governo afirma que parte considerável dos crimes cometidos em território Alemão estão relacionados à droga de origem afegã. A heroína chega ao país principalmente pela Holanda e pela Polônia. Quanto a política de drogas, em relação aos demais países da União Europeia, o Estado alemão assume uma política mais rigorosa, ainda que uma pequena parte de seus estados adotem medidas baseadas na redução de danos. No que tange a adoção de medidas diretamente ligadas ao Afeganistão, a Alemanha foi responsável por grande parte das tropas em missões da OTAN e da ISAF, auxiliando o Estado afegão na manutenção da paz e na guerra contra o narcotráfico. Leia mais em: http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf www.emcdda.europa.eu/attachements.cfm/att_33491_PT_Dif05pt.pdf 4 4. Anistia Internacional A Anistia Internacional é um movimento global que realiza ações e campanhas para que os direitos humanos internacionalmente reconhecidos sejam respeitados e protegidos. Para a Anistia Internacional, com exceção de Cabul, a situação dos direitos humanos no Afeganistão continua sendo muito precária. Com a retirada das tropas da OTAN quase completa, o Afeganistão passa a enfrentar agora um futuro incerto. “O Afeganistão (...) está no momento mais crítico de sua história recente. Agora não é o momento para os governos internacionais irem embora. A comunidade internacional deve intensificar seu envolvimento contínuo e o governo afegão não pode continuar a ignorar suas obrigações com os direitos humanos”, disse Salil Shetty, ativista e Secretário Geral da Anistia Internacional”. Outra questão a ser destacada são as constantes condenações feitas aos países que recentemente executaram homens condenados por tráfico de drogas. Leia mais em: http://www.dm.com.br/mundo/2015/04/anistia-internacional-se-posiciona-contra-execucoes-na-indonesia-e-ressalta-caso-brasileirorodrigo-gularte.html# https://anistia.org.br/direitos-humanos/publicacoes/afeganistao-deixados-escuro/ 5. Arábia Saudita Apesar da punição para tráfico de drogas ser a pena de morte, a Arábia Saudita enfrenta problemas sérios com o tráfico de narcóticos. Em 2012, por exemplo, das 45 execuções que ocorreram, 16 foram por tráfico de drogas. A questão relacionada a narcóticos mais conturbada é a quantidade de anfetamina que entra no país, que apresenta índices altos de apreensão da droga. Já relacionado ao tráfico de opiáceos em si, o país também faz parte de rotas tráfico de heroína, principalmente as que atuam no oriente médio. Portanto, a Arábia Saudita tem uma política extremamente severa em relação ao tráfico e ainda assim, enfrenta problemas com a entrada de drogas. Leia mais em: http://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/frontpage/2009/06/24-unodc-lanca-relatorio-mundial-sobre-drogas-2009.html http://www.bbc.com/news/world-middle-east-14702705 5 6. Austrália Com 80% do consumo do continente, a Austrália é o principal destino dos opiáceos afegãos que chegam à Oceania através do sudoeste asiático e da África. O país é considerado como o mercado de heroína mais lucrativo do mundo, já que o preço de venda da droga é cerca de duas vezes maior do que nos Estados Unidos e até nove vezes maior do que na Europa Central e Ocidental. A resposta australiana para o tráfico de drogas tem sido na forma de uma Estratégia Nacional de Drogas, que desde 1985 tem utilizado o princípio da minimização de danos. Leia mais em: http://www.unaa.org.au/unodc-reports-on-drug-use-in-asia-and-the-pacific.html http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf 7. Azerbaijão O Azerbaijão é um país pequeno do Cáucaso, que faz fronteira com quatro países, entre eles Irã e Russia, que são dois países intimamente relacionados à problemática do tráfico de opiáceos provenientes do Afeganistão. Sendo assim, o país também sofre impactos do tráfico de drogas, mais especificamente da heroína. Ainda que em menor escala, o país também é uma rota da droga, assim como os demais países da região. A criação do Centro para combate ao tráfico de heroína pela UNODC na Ásia em 2009, mesmo não sanando o problema, auxiliou o país na redução do fluxo de opiáceos em seu território. Leia mais em: http://www.bbc.com/news/world-europe-17043424 http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Illicit_DT_through_SEE_REPORT_2014_web.pdf 8. Brasil O Brasil enfrenta sérios problemas relacionados ao tráfico de drogas, mais especificamente o crack e cocaína. Sendo um grande distribuidor dessas drogas e tendo um alto nível de usuários, o Brasil tem cerca de 370 mil usuários de crack nas capitais. Entretanto, os opiáceos em si, comparados com as outras drogas, não apresentam índices elevados no país, pelo menos não são apontados em pesquisas da sociedade civil e do Estado, também não sendo considerado uma rota importante para articulação 6 internacional que ocorre atualmente. A atuação estatal, entretanto, é baseada na visão repressiva de combate incisivo contra o tráfico de drogas, fortalecido pelas raízes patrimonialistas do histórico racista e colonial estrutural do país. Essa visão é compartilhada por diversas instituições estatais, pela visão militarizada pela criação de um inimigo em comum que a polícia, o ordenamento jurídico e a mídia possuem, balizando completamente a visão social proibicionista que temos do uso de drogas Leia mais em: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2013/09/brasil-tem-370-mil-usuarios-regulares-de-crack-nas-capitais-apontafiocruz.html http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/country_profiles/1227110.stm 9. Cazaquistão O Cazaquistão, assim como os demais países da Ásia Central, apresenta altos índices de tráfico de opiáceos devido à problemas econômicos e defasagem em sua segurança pública. Além disso, os traficantes utilizam o país como rota para levar as drogas afegãs até a Rússia, uma vez que existe um acordo de comércio entre os dois países, facilitando a circulação das drogas. Em 2009, foi criado O Centro Regional de Informação e Coordenação da Ásia Central (CARICC), que tem como objetivo fortalecer a cooperação em matéria legal entre os países mais afetados pelo tráfico de drogas proveniente do Afeganistão. Leia mais em: http://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/frontpage/2009/12/10-centro-regional-de-inteligencia-e-inaugurado-nocazaquistao.html http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf 10. China Para inibir o tráfico de drogas, reduzir suas consequências e evitar o aumento do número de consumidores, o governo chinês iniciou em 2005 uma guerra popular contra as drogas. Apesar disso, a China é responsável por cerca de um terço do consumo de heroína no continente Asiático. Por décadas a droga contrabandeada para o país era proveniente apenas do Myanmar, um dos grandes produtores de heroína do mundo. Porém, desde os anos 1990 – quando o Afeganistão emergiu como principal produtor de opiáceos do mundo – novas rotas de tráfico foram criadas. Atualmente, a maior parte da heroína encontrada em território chinês é afegã e chega ao país através do Paquistão. 7 Leia mais em: http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf http://www.unodc.org/documents/wdr/WDR_2010/1.2_The_global_heroin_market.pdf 11. Colômbia Mesmo sendo melhor conhecida pela cocaína, a Colômbia também possui uma considerável produção de opiáceos. Apesar da heroína colombiana ter um grau de pureza maior do que a afegã, a produção é insuficiente para atender a demanda da América do Sul, sendo tal demanda atendida pelos opiáceos afegãos. Em 2014, o governo colombiano, em uma ação com enfoque na de redução de danos, distribuiu cerca de 100 mil kits com seringa, álcool, ataduras, e até camisinhas, para usuários de drogas injetáveis. A intenção foi reduzir danos secundários vindos do uso incorreto, do compartilhamento e reutilização de seringas, que podem acarretar uma epidemia de doenças como a Aids e Hepatite B. Leia mais em: http://www.globalcommissionondrugs.org/wp-content/themes/gcdp_v1/pdf/Global_Commission_Report_Portuguese.pdf http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf 12. Espanha Cerca de 4% da heroína que chega na Europa Ocidental, proveniente do Afeganistão, tem como destino a Espanha. A política de drogas na Espanha é marcada pela distinção entre usuários de drogas, para quem existe o sistema de tratamento, e o traficante/criminoso, para quem o rigor da lei penal é dirigido. No caso da atenção ao usuário, existe um sistema descentralizado de serviços que inclui a estratégia de redução de danos em regiões e cidades autônomas – que possuem independência de organização. No que diz respeito à política interna, a Espanha apresenta simultaneamente uma política heterodoxa e resultados animadores sobre taxas de consumo de entorpecentes. O país produz bienalmente um levantamento sobre consumo de drogas da população entre 15 e 64 anos. Nos relatórios de 2005 e 2007 observa-se queda no consumo de ecstasy, anfetaminas e alucinógenos. As taxas de consumo de cocaína e heroína se mantiveram estáveis após anos de tendência ao aumento. Leia mais em: http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf http://www.bancodeinjusticas.org.br/wp-content/uploads/2011/11/Pol%C3%ADtica-de-drogas-novas-pr%C3%A1ticas-pelo- 8 mundo.pdf 13. Estados Unidos A maior parte da heroína que chega em território estadunidense não é provenientes do Afeganistão. Entretanto, os Estados Unidos possuem uma forte ligação com a problemática afegã. Desde a ocupação militar norte-americana, em 2001 – considerando a área de 2002, pela falta de condições de medição naquele ano, a área plantada cresceu 200%. Com o território destruído e a falta de safras alternativas, os agricultores Afegãos tiveram como única saída o cultivo das plantações de papoula, atividade que vem crescendo ano a ano. Além do investimento de 7 bilhões de dólares, os Estados Unidos, através da USAID, OTAN E ISAF, vêm ajudando o Governo afegão na luta contra a corrupção, e enfraquecimento a ligação entre a insurgência e o tráfico de drogas no país. Quanto à política antidrogas desenvolvida nos Estados Unidos, após anos de uma política rigorosa, medidas mais flexíveis podem ser percebidas durante a última década, com o afastamento do enfoque estritamente policial para incentivar a prevenção e o tratamento. Assim, os Estados Unidos procuram integrar o tratamento dos drogados no sistema básico de saúde, através de medidas como a formação de equipes médicas para tramitar casos de overdose ou a expansão dos serviços relacionados com a dependência em centros de atendimento primário. Leia mais em: http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf http://www.globalcommissionondrugs.org/wp-content/themes/gcdp_v1/pdf/Global_Commission_Report_Portuguese.pdf 14. França Em 2009, o governo francês estimou entre 130.000 e 160.000 o número de usuários de heroína no país. Segundo a UNODC (2011) Cerca de 14% da droga afegã que chega à Europa Ocidental tem como destino final a França, tendo como rota principal a Holanda. O aumento preocupante no número de usuários teve início em 2006, quando o Afeganistão aumentou em 40% as plantações de papoula - a matéria prima da heroína. Esse aumento acarretou na queda do preço para o consumidor francês. A consequência foi a mais temida pelas autoridades: o produto ficou mais acessível aos mais jovens. Apesar do apoio de parte do governo francês quanto à abertura de centros monitorados para o consumo de drogas, parcela da população condena a política de redução de danos, o que torna a política antidrogas na França mais rigorosa quando comparada aos demais 9 países da União Europeia. Leia mais em: http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf www.emcdda.europa.eu/attachements.cfm/att_33491_PT_Dif05pt.pdf 15. Holanda A Holanda é um dos principais destinos de todo o opiáceo afegão que chega à Europa a partir da rota dos Balcãs. Apesar disso, a Holanda tem o menor percentual de dependentes de heroína dentre os países da União Europeia. Em 2001, o número estimado de pessoas dependentes de heroína na Holanda oscilava entre 28.000 e 30.000. Em 2008, o número caiu para 18.000. A concepção do modelo da Holanda leva em consideração que o problema das drogas não tem uma só solução. Então, é melhor controlá-lo e reduzir danos em vez de continuar uma política de repressão com resultados questionáveis. O país trata a questão das drogas como de saúde pública, em que tratamento e recuperação são oferecidos para todos que buscam ajuda. As junkiebonds (associações de usuários de droga injetáveis) buscam melhorar as condições de vida dos usuários, evitando o contágio por hepatite B e HIV/Aids, distribuindo agulhas e seringas descartáveis. Leia mais em: http://www.globalcommissionondrugs.org/wp-content/themes/gcdp_v1/pdf/Global_Commission_Report_Portuguese.pdf http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf 16. Humans Right Watch A Human Rights Watch é uma organização internacional independente que funciona como parte de um movimento que busca defender a dignidade humana e promover a causa dos direitos humanos para todos. No que tange a questão do tráfico de opiáceos provenientes do Afeganistão, a organização se mostra muito preocupada. A associação do tráfico, que por si só já é uma atividade ilegal, com grupos insurgentes que não apresentam comprometimento algum com os direitos humanos; chama atenção e preocupa a HRW. Outro ponto é a maneira que alguns países tratam os crimes relacionados ao tráfico de drogas, como Irã e Arábia Saudita, que punem com pena de morte; essa postura também é condenada pela organização. Leia mais em: http://www.hrw.org/world-report/2014/essays/human-rights-case-for-drug-reform http://www.hrw.org/news/2006/10/29/afghanistan-nato-should-do-more-protect-civilians 10 http://www.hrw.org/news/2012/08/21/iran-donors-should-reassess-anti-drug-funding https://www.hrw.org/asia/afghanistan 17. Índia A Índia está situada entre as duas maiores áreas de produção de ópio ilícito do mundo, o Crescente Dourado e o Triângulo Dourado. Tal proximidade tem feito do território indiano tanto um destino como uma das principais vias de trânsito para os opiáceos produzidos nestas regiões, principalmente no Afeganistão. Em 2004, o Ministério de Justiça Social da Índia e o UNODC, através de um estudo, chamaram a atenção do mundo para a incidência de heroína procedente do Afeganistão e da Birmânia. As autoridades indianas destacaram a atuação conjunta de vários organismos públicos e outras instituições para abordar o problema. Atualmente, a Índia conta algumas medidas no viés da redução de danos. Entretanto, tais medidas estão longe de se tornarem um princípio na política de drogas na índia e são introduzidas apenas no contexto de prevenção ao HIV. Apesar dos esforços do Governo indiano, segundo o estudo, estimase que existam aproximadamente 200,000 usuários de drogas injetáveis (‘IDUs’) na Índia, dos quais 7 por cento são portadores de HIV. Leia mais em: http://www.unodc.org/pdf/india/publications/south_Asia_Regional_Profile_Sept_2005/10_india.pdf 18. Irã Os desertos e montanhas do Irã constituem uma rota de tráfico de opiáceos afegãos com destino à Europa. Parte da droga permanece em território iraniano e é cada vez mais comum cidadãos Iranianos fumarem ópio, mesmo sendo estritamente proibido. De acordo com a ONG Iran Human Rights, cerca de 70% das penas de morte no país estão relacionadas a crimes pelo consumo e distribuição de drogas. A fim de aperfeiçoar o intercâmbio de informações e a ação conjunta de operações contra narcóticos, o UNODC desenvolveu uma iniciativa triangular entre Irã, Afeganistão e Paquistão. Leia mais em: http://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/frontpage/2009/06/24-unodc-lanca-relatorio-mundial-sobre-drogas-2009.html http://iranhr.net/2015/03/2052-executions-for-drug-offences-in-the-last-five-years-in-iran/ http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf 19. México 11 O México assume o papel de protagonista quando se trata da distribuição de heroína para os mercados dos Estados Unidos e Canadá, responsáveis por 6% do consumo mundial. Segundo análises feitas pelo UNODC, as rotas da heroína levam a confirmação de que o México, apesar de possuir algumas áreas destinadas à plantação de papoula, também tem como principal fornecedor o Afeganistão. Atualmente, o México vive uma guerra contra o narcotráfico. Apesar do constante apoio financeiro dos Estados Unidos, a situação do México é crítica em termos de consumo e produção de drogas, além da grande violência. Leia mais em: http://spanish.mexico.usembassy.gov/es/temas-bilaterales/mexico-y-eu-de-un-vistazo/iniciativa-merida.html http://www.unodc.org/documents/crop-monitoring/Afghanistan/Afghanistan_Opium_Survey_Socioeconomic_analysis_2014_web.pdf 20. Myanmar Assim como o Afeganistão, o Myanmar é um dos grandes produtores de opiáceos do mundo. O país – maior produtor de opiáceos até os anos 1980 – abastecia toda a demanda do sudoeste asiático e da China, até que sua produção entrou em declínio nos anos 1990, abrindo mercado para os opiáceos afegãos. Programas de incentivo a culturas alternativas como trigo e cana-de-açúcar, apoiados pelo UNODC, não tiveram sucesso na erradicação das plantações de papoula. Desde 2006 o cultivo quase triplicou no país e, em 2015, novamente a UNODC tenta a implantação de uma cultura alternativa, sendo agora o café. Leia mais em: http://www.nytimes.com/2015/01/04/world/myanmar-returns-to-what-sells-heroin.html?_r=0 http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf 21. Nigéria Assim como a África do Sul, a Nigéria é um grande centro de distribuição de heroína afegã. Essa heroína chega à Nigéria através de países como Etiópia, Somália, Quênia, República Unida da Tanzânia e Moçambique por via aérea ou terrestre. Organizações criminosas nigerianas são responsáveis não só pelas drogas que passam pelo seu país, mas também administram o tráfico organizado de heroína afegã para a China a partir do Cazaquistão, além de possuírem grande influência em rotas que levam a droga até a Europa. Como signatário da Convenção Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de Substâncias Psicotrópicas, o país tenta reverter tal cenário através de 12 ações da Agência Nacional de Combate às Drogas. Leia mais em: http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf 22. Paquistão Grande parte da produção de opiáceos em território afegão é contrabandeada a partir do Paquistão devido à pouca fiscalização na fronteira entre os dois países. Uma vez que parte desses opiáceos permanece no país, o consumo de drogas no Paquistão vem aumentando consideravelmente ao longo da última década. Por ser um dos países mais afetados pelo flagelo, o UNODC desenvolveu uma iniciativa triangular entre Paquistão, Afeganistão e Irã, a fim de aperfeiçoar o intercâmbio de informações e a ação conjunta de operações contra narcóticos. Leia mais em: http://www.unodc.org/documents/wdr/WDR_2010/1.2_The_global_heroin_market.pdf http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf 23. Polônia Indicativos de dados provenientes de pesquisas e dos sistemas de saúde e policial vêm mostrando um aumento significativo de usuários de entorpecentes desde os anos 1960 na Polônia, sendo o uso de heroína e a inalação de solventes voláteis os tipos de adicção mais comuns. Esse contexto fez com que autoridades locais se voltassem com veemência ao tema, adotando nova legislação sobre controle de drogas, como o Ato de Prevenção de Vício Narcótico, em janeiro de 1985. O Ato consistia em medidas mais efetivas que davam enfoque no tratamento voluntário de usuários, assim como punição mais severa nos casos de envolvimento em tráfico ilícito. Leia mais: http://aliciapatterson.org/stories/crisis-polish-drug-abuse http://www.unodc.org/unodc/en/data-and-analysis/bulletin/bulletin_1978-01-01_1_page006.html 24. Portugal Apesar de não apresentar consequências diretas da produção de opiáceos no Afeganistão, Portugal, durante a última década, tem desenvolvido diversas políticas no viés do combate às drogas. Na década de 1990, o país chegou a ter 150 mil viciados em heroína (quase 1,5% da população). Em julho de 2001, Portugal se tornou o primeiro país 13 da Europa a descriminalizar o uso de drogas. O Ministério da Saúde de Portugal coordena as ações de prevenção e tratamento às drogas, que são articuladas com diversas áreas do governo. Houve grande expansão da rede de tratamento e a meta é ter leitos de internação disponíveis para todos os dependentes que necessitarem. Outro foco da legislação de Portugal é a redução de danos, que permite, por exemplo, o fornecimento de seringas descartáveis a usuários de drogas injetáveis, com redução de 71% no diagnóstico de HIV entre usuários de drogas. Leia mais em: www.emcdda.europa.eu/attachements.cfm/att_33491_PT_Dif05pt.pdf http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf 25. Reino Unido O Reino Unido está entre os cinco países com maior consumo de heroína do mundo. A maior parte dessa heroína é de origem afegã e chega ao país através da França pelo eurotúnel e da Holanda por navios cargueiros. Traficantes turcos controlam a distribuição da droga no país a partir de Londres. Mesmo com o alto consumo, as estratégias de redução de danos aplicadas no Reno Unido obtiverem resultados positivos. O nível de transmissão de HIV através de seringas infectadas é considerado baixo, e a substituição da pena de prisão por programas de tratamento para usuários levou a uma redução de crimes depois da intervenção pelo tratamento. Leia mais em: http://www.globalcommissionondrugs.org/wp-content/themes/gcdp_v1/pdf/Global_Commission_Report_Portuguese.pdf http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf 26. Rússia A Rússia é, atualmente, uma das maiores vítimas da intensa produção de ópio no Afeganistão, absorvendo 21% da heroína produzida. Além da proximidade com o território afegão, outra contribuição para o atual cenário são as intensas crises políticas das últimas décadas, que reduzem a fiscalização das fronteiras. Segundo o general Viktor Ivanov, chefe do serviço de combate às drogas, todo ano, 30 mil pessoas morrem vítimas do consumo de heroína. Além disso, a Rússia também é uma das principais rotas utilizadas pelos traficantes, servindo como entrada para a droga na Europa. Inicialmente, 14 as políticas russas de combate às drogas se restringiam aos centros de tratamento de dependentes e nas campanhas antidrogas. Com o constante aumento do número de usuários, principalmente de heroína, a estratégia de combate às drogas na Rússia passou por modificações. O governo Russo tem investido anualmente em uma política de “tolerância zero” às drogas. Em janeiro de 2011 a Rússia contribuiu com sete milhões de dólares para o UNODC no sentido de promover o trabalho realizado contra as drogas e crimes. Leia mais em: http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/10/091021_opio_onu_afeganistao_np.shtml 27. Suíça A experiência com as drogas na Suíça se destaca, sobretudo, no tratamento de usuários de heroína, maior problema do país na área das drogas nos anos 1980. Atualmente, 4% da heroína Afegã que chega na Europa Ocidental tem como destino a Suíça. Apesar dos progressos de políticas baseadas na redução de danos, a heroína ainda é uma das maiores preocupações da saúde pública na suíça. Cerca de 3 mil usuários recebem a droga gratuitamente na suíça através de um tratamento por administração de heroína em salas para injeção supervisionada. O principal objetivo de tal estratégia é de reduzir a oferta, reduzindo por consequência o tráfico de drogas, as operações financeiras ilegais relacionadas com o tráfico (por exemplo, a lavagem de dinheiro) e ao crime organizado. Assim, os usuários não são o alvo principal das operações policiais na Suíça. Leia mais em: http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf 28. Turcomenistão O Turcomenistão, apesar de fazer parte da rota da Ásia Central, vem conseguindo dificultar a entrada de opiáceos provenientes do Afeganistão em seu território. Patrulhas regulares na fronteira entre os dois países resultaram em uma queda significativa nos índices de tráfico no país. Com isso, os opiáceos são normalmente contrabandeados em quantidades entre 5 e 20 kg, em sua maioria a pé entre pontos de passagem de fronteira. O UNODC tem trabalhado também na análise e na captação reforçada de inteligência, com unidades móveis que complementam os escritórios de conexão fronteiriça situados 15 nas alfândegas. Ademais, o Turcomenistão também faz parte do Centro Regional de Informação e Coordenação da Ásia Central (CARICC), que tem como objetivo fortalecer a cooperação em matéria legal entre os países mais afetados pelo tráfico de drogas proveniente do Afeganistão. Leia mais em: http://www.unodc.org/centralasia/en/news/caricc-agreements-enters-into-force.html http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf 29. Turquia A Turquia serve como país de trânsito para as drogas produzidas no Afeganistão. Os opiáceos afegãos, principalmente a heroína, com destino à Rota dos Balcãs chegam ao país pela fronteira com o Irã. As drogas, então, chegam a Istambul e, em seguida, partem para a fronteira com a Bulgária. Como signatário de todos os acordos da ONU relacionados ao controle do tráfico de drogas, o país, através de ações de desmantelamento de tráfico, obteve grandes índices de apreensão de heroína. Leia mais em: http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf 30. Ucrânia A Ucrânia é vista como uma importante consumidora de opiáceos na Europa Oriental, e, embora dados sejam insuficientes, é estimado que uma ou duas toneladas de heroína chegaram ao país entre 2000 e 2008, majoritariamente por meio da rota do Mar Negro (Irã-Azerbaijão-Geórgia) advindos da Rússia ou da Turquia. Em 2009, somente, estima-se que 1,5 tonelada de heroína foi consumida no país, o uso de opiáceos no país, portanto, é um dos grandes problemas do governo e alvo necessário de medidas energéticas por meio de políticas públicas locais. Além disso, há o problema de caráter urgente de saúde pública pelo alto número de usuários dependentes estarem infectados pelo vírus HIV, porcentagem acreditada em estar entre 38,5 e 50,3%. Uma das medidas mais efetuadas pelo governo ucraniano é a realização de patrulhas e apreensões nas fronteiras, com a inspeção rigorosa das cargas vindas de outros países da rota do Mar Negro e a atuação da polícia e de agências de investigação para combater laboratórios de transformação de opiáceos. Leia mais em: http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf 16 31. Uruguai O Uruguai se tornou referência internacional com a adoção de uma política de drogas antiproibicionista em relação à cannabis, colocando-se como um modelo a ser seguido de combate efetivo ao tráfico, sem a criminalização de usuários ou uma atitude policial e estatal ofensiva como na guerra às drogas empreendida em diversos países, como no caso brasileiro. A ideia empregada no país se baseou em que o mal estava no combate ostensivo ao tráfico, que acaba por nutrir a própria atividade criminosa, por ser uma atitude repressiva e seletiva sustentada por diversas instituições, desde a polícia ao ordenamento jurídico, desde o processo legislativo à aplicação penal. Embora a medida tenha sido vista pela Comunidade Internacional de maneira dúbia e controversa, por ser algo que prejudica os esforços internacionais e as comunidades e países que lucram com a guerra às drogas, o Uruguai vem sendo analisado de diversas maneiras, para entendermos melhor as consequências práticas adotadas no país. Leia mais: http://www.unodc.org/unodc/en/frontpage/2013/November/unodc-stresses-the-health-dimension-of-drug-use-as-uruguayparliament-passes-legislation-to-legalize-cannabis.html http://undrugcontrol.info/en/home/tag/10-uruguay 32. Uzbequistão Grande parte da heroína afegã que chega ao Uzbequistão é contrabandeada através do Tajiquistão, uma vez que a fronteira Uzbequistão-Afeganistão é menos extensa e, consequentemente, melhor monitorada. Os opiáceos que chegam ao país, em sua maioria, são levados diretamente à Rússia. Além disso, o Uzbequistão faz parte da rota de contrabando de precursores químicos utilizados na fabricação de heroína no Afeganistão. Operações internacionais como a TARCET focaram na identificação e na interceptação de carregamentos deste tipo de substâncias que seriam distribuídos no Afeganistão para produção de heroína. Leia mais em: http://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/frontpage/2009/06/01-acao-internacional-busca-prevenir-trafico-de-precursores-quimicos-noafeganistao.html http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf 17 ANEXO I Consumo de Ópio por País, 2009 (UNODC, 2011). 18 ANEXO II Distribuição Geográfica de Usuários de Heroína, 2009 (UNODC, 2011). 19 ANEXO III Fluxo do Tráfico de Heroína na Ásia, 2009 (UNODC, 2011). Fonte: UNODC. The Global Afghan Opium Trade, a Threat Assessment. 2011. Disponível em: http://www.unodc.org/documents/data-andanalysis/Studies/Global_Afghan_Opium_Trade_2011-web.pdf 20 ANEXO IV Cultivo da Papoula Opiáca no Afeganistão, UNODC 21