Trilema Energético Mundial Tempo de ser realista – argumentos para uma política energética sustentável Sumário Executivo Trilema Energético Mundial Project Partner OLIVER WYMAN Tempo de ser realista – argumentos para uma política energética sustentável Dirigentes do World Energy Council Pierre Gadonneix Presidente Abubakar Sambo Vice-Presidente, África Tempo de ser realista – argumentos para uma política energética sustentável Em parceria com: OLIVER WYMAN Liu Tie’nan Vice-Presidente, Ásia Copyright © 2012 World Energy Council Arup Roy Choudhury Vice-Presidente, Ásia Pacifico & Sul da Ásia Todos os direitos reservados. Esta publicação pode ser utilizada em parte ou na sua totalidade desde que seja utilizada a citação “Utilizada com autorização do World Energy Council, Londres, www.worldenergy.org Leonhard Birnbaum Vice-Presidente, Europa José Antonio Vargas Lleras Vice-Presidente, América Latina/Caribe Publicado em 2011 por: Taha Mohammed Zatari Vice-Presidente, Responsabilidade Especial pelo Médio Oriente e Golfo Pérsico World Energy Council Regency House 1-4 Warwick Street London W1B 5LT United Kingdom Kevin Meyers Vice-Presidente, America do Norte ISBN: 978 0 946121 18 2 Joong-Kyum Kim Vice-Presidente, Congresso de Daegu 2013 Marie-José Nadeau Presidente, Comité de Comunicação e Relações Externas Graham Ward, CBE Presidente, Comité Financeiro Michael Morris Presidente, Comité de Programas Brian Statham Presidente, Comité de Estudos Christoph Frei Secretário Geral Tradução para Português Associação Portuguesa de Energia – APE (Comité Português do World Energy Council) Av. da República, 45 – 5º Esq. 1050-187 LISBOA T.: + 351 21 797 23 54 E: [email protected] www.apenergia.pt Tempo de ser realista – argumentos para uma política energética sustentável Trilema Energético Mundial 2 Sumário Executivo “Temos de aceitar que há que fazer escolhas difíceis durante a geração actual para conseguir obter mudanças efectivas para as gerações futuras e para o planeta. Políticos e indústria têm de ser realistas.” Podemos vê-lo nas expressões dos 670 milhões de pessoas que, recentemente, sofreram os apagões na Índia, ou senti-lo na frustração expressa por 3 milhões de americanos obrigados a viver sem electricidade no meio de uma onda de calor record: Após décadas de trabalho a promover soluções energéticas sustentáveis, em todo o mundo vão crescendo os problemas no financiamento de energia, com os sistemas a cederem ao serem submetidos a solicitações extremas. Os responsáveis políticos e a indústria necessitam trabalhar em conjunto para corrigir este desajustamento, tomando decisões difíceis, mas necessárias, para conseguir sistemas energéticos sustentáveis numa escala mais alargada. Se o fornecimento sustentável de energia continuar a não acompanhar o rápido aumento da procura global, biliões de pessoas poderão ser forçadas a viver sem a garantia de um abastecimento de electricidade seguro e o crescimento económico pode ser posto em causa. Actualmente 1.3 biliões de pessoas vivem sem acesso a electricidade. Este número poderá aumentar se a procura continuar a crescer na ordem dos 30% nas próximas duas décadas. Os objectivos apresentados na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), em Junho de 2012 poderão também ser postos em causa. A menos que sejam tomadas medidas imediatas, será difícil duplicar a taxa de melhoria da eficiência energética, ou assegurar o acesso universal a serviços energéticos modernos, ou duplicar a contribuição das energias renováveis para o mix energético global até 2030. Para auxiliar os decisores políticos e o sector da energia a promoverem sistemas energéticos sustentáveis, o World Energy Council, em colaboração com a empresa de consultoria de gestão Oliver Wyman, preparou o relatório “Trilema Energético Mundial: Tempo de agir - argumentos para políticas energéticas sustentáveis”. Este primeiro relatório, de um conjunto de dois, examina os incentivos e os riscos que dificultam o desenvolvimento de sistemas energéticos sustentáveis. Em seguida, faz recomendações quanto às acções necessárias para mitigar esses riscos e para acelerar a transição global para um futuro de baixo carbono, que trará novas oportunidades para o crescimento económico. O relatório de 2012 descreve o que os gestores seniores do sector da energia crêem precisar dos decisores políticos para poderem desenvolver sistemas energéticos sustentáveis. Baseia-se em entrevistas a mais de 40 CEOs e executivos seniores e no Índice de Sustentabilidade Energética de 2012, elaborado com base na análise de 22 indicadores dos 93 países membros do World Energy Council. Em 2013 o relatório abordará o que os decisores políticos consideram necessitar, por parte do sector energético. Tempo de ser realista – argumentos para uma política energética sustentável Trilema Energético Mundial 3 Três dimensões da sustentabilidade energética A definição de sustentabilidade energética do Conselho Mundial de Energia baseia-se em três dimensões principais – segurança energética, equidade social e mitigação dos impactes ambientais. O desenvolvimento de sistemas energéticos estáveis, a preços acessíveis e ambientalmente responsáveis, desafia as soluções simples. Estes três objectivos constituem um “trilema”, que implica complexas interligações entre os agentes públicos e privados, governos e reguladores, factores económicos e sociais, recursos nacionais, preocupações ambientais e comportamentos individuais. Dimensões da sustentabilidade energética: Segurança energética: tanto para os importadores como para os exportadores de energia, este factor refere-se à gestão eficaz do aprovisionamento de energia primária de origem endógena e externa, à fiabilidade da infra-estrutura energética e à capacidade das empresas de energia satisfazerem as necessidades de energia actuais e futuras. Para os países que são exportadores de energia, este factor respeita também à capacidade de conservar as receitas de venda nos mercados externos. Equidade social: refere-se à acessibilidade e razoabilidade de custo do fornecimento de energia à população. Mitigação dos impactes ambientais: engloba o nível de eficiências na oferta e na procura e o desenvolvimento do aprovisionamento de energia a partir das renováveis e de outras fontes de baixo carbono. Recomendações do Sector da Energia Os CEO e gestores seniores das grandes empresas energéticas fazem três recomendações principais sobre a forma como os decisores políticos devem agilizar o desenvolvimento de sistemas energéticos sustentáveis: 1) Conceber políticas energéticas coerentes e previsíveis, 2) Favorecer condições de mercado que atraiam investimentos de longo prazo, e 3) Encorajar iniciativas que apoiem a investigação e desenvolvimento em todas as áreas das tecnologias energéticas. Recomendação 1: Conceber políticas energéticas coerentes e previsíveis Os decisores devem estabelecer políticas de longo prazo coerentes, acessíveis, previsíveis e transparentes, que estejam acima dos interesses restritos, para fazer face às necessidades do sector da energia de forma holística. Políticas contraditórias e ad-hoc, desenvolvidas em “silos” isolados,prejudicam os investimentos em energia. Políticas consistentes e coerentes, orientadas mais para os resultados do que para as formas de energia ou tecnologias para os alcançar, podem – e devem – habilitar o mundo a alcançar a sustentabilidade energética. Tempo de ser realista – argumentos para uma política energética sustentável Trilema Energético Mundial 4 Deve ser desenvolvido um plano director que combine as políticas energéticas em duas frentes. Em primeiro lugar, as políticas energéticas nacionais devem complementar e interligar os objectivos das políticas industriais, financeiras, ambientais, agrícolas e de transportes. Em segundo lugar, as políticas relativas aos recursos energéticos, infra-estruturas, ambiente e regulação devem ser coordenadas ao nível regional. Partilhar recursos possibilita aos países aumentar a segurança energética regional, reduzir os custos da energia e atrair investimento, através da criação de mercados com maior escala, que interessem os investidores, optimizem os recursos naturais e desenvolvam infra-estruturas comuns. Para garantir que estas políticas são previsíveis, os governos devem desenvolver regulamentação que seja consistente, clara e simples, apesar das complexidades das questões a que respeita. É igualmente importante a separação que os decisores políticos devem fazer entre as políticas energéticas e o ciclo político de curto prazo, para garantir que elas reflectem uma visão bem definida e de longo prazo. Um obstáculo significativo à longevidade das políticas, percepcionado pelas empresas do sector, é o conflito entre a natureza de longo prazo dos investimentos energéticos e o comparativamente curto prazo do ciclo político. A sensibilização e educação do público são, também, cruciais. Para promover a eficiência energética, por exemplo, os governos não devem, apenas, estabelecer padrões de construção e produção ambientalmente responsáveis, mas podem, também, estabelecer regimes de tarifas de energia progressivas para sensibilizar os consumidores para a eficiência energética como forma de reduzir os custos energéticos nacionais, implementar benefícios fiscais para os equipamentos energeticamente eficientes (no IVA ou nos direitos de importação) ou nos investimentos em eficiência energética (redução da taxa do IVA). Recomendação 2: Apoiar condições de mercado que atraiam investimentos de longo prazo Os decisores políticos devem encorajar o desenvolvimento de mercados atractivos, com abordagens regulamentares consistentes e focalizadas, para estimular o investimento privado de longo prazo em infra-estruturas e tecnologias energéticas. Simultaneamente, devem apoiar o desenvolvimento de novos mecanismos de investimento, capazes de reduzir o risco e estimular mais investimento privado no sector da energia. Estes mecanismos podem incluir “green banks”, mercados de “acções verdes” e parcerias público privadas. Estes esforços devem ser apoiados por um preço do carbono estável e previsível, indispensável para promover a transição para um sistema energético de baixo carbono. São necessários investimentos avultados para melhorar o acesso à energia a nível mundial, desenvolver novas tecnologias, construir e substituir infra-estruturas envelhecidas. Governos com falta de liquidez têm poucos recursos para apoiar a transição para um futuro de baixo carbono. Infelizmente, o capital do sector privado e dos fundos de investimento permanece, maioritariamente, à margem do sector. Por exemplo, menos de 1% dos fundos de investimentos de pensões, a nível mundial, é Tempo de ser realista – argumentos para uma política energética sustentável Trilema Energético Mundial 5 investido em projectos de infra-estruturas destinadas a melhorar o fornecimento de electricidade. A utilização de subsídios deveria ser minimizada, dado que aumenta a incerteza política e regulamentar. Isto distorce a concorrência e diminui a confiança dos investidores. Quando utilizados, os subsídios devem ter um objectivo específico determinado, e ter um período de aplicação claramente definido desde o início. Recomendação 3: Encorajar iniciativas para apoiar I&D em todas as áreas das tecnologias energéticas Para fomentar mais a inovação em todas as áreas das tecnologias energéticas, os decisores políticos deveriam implementar politicas orientadas para objectivos, ao invés de políticas prescritivas. As novas tecnologias de energias renováveis e de combustíveis fósseis podem contribuir para alcançar sistemas de energia sustentáveis e potenciar o crescimento económico. Para isso acontecer, contudo, os decisores políticos devem permitir que seja o mercado a escolher que tipos de tecnologias podem sobreviver, para que permaneçam competitivas no longo prazo. Políticas de investigação e inovação “tecnologicamente neutras” devem ser apoiadas por incentivos económicos e responsabilização apropriada. Os direitos de propriedade intelectual devem ser, também, firmemente protegidos, para que o sector privado invista em tecnologias ambientalmente responsáveis e energeticamente eficientes. Finalmente, os governos devem apoiar a ID&D de novas tecnologias, para aumentar a confiança dos investidores. Os decisores políticos poderão encorajar as empresas a investir no desenvolvimento de novas tecnologias se estabelecerem um ambiente fortemente orientado para a investigação que promova a colaboração nacional e internacional e apoiarem financeiramente projectos de demonstração de grande escala, que apoiem os esforços das empresas para colocarem as suas tecnologias no mercado. Índice de sustentabilidade energética O Índice de Sustentabilidade Energética de 2012 mostra que os países desenvolvidos, como a Suécia, a Suíça e o Canadá, se encontram mais próximos de alcançar sistemas de energia sustentáveis. Isto acontece, em grande parte, porque uma percentagem elevada do seu mix energético resulta de fontes de energia de baixo carbono, como a hídrica ou a nuclear. Estes países lideram em termos de segurança energética, principalmente graças à diversificação dos seus mix energéticos. Os três países primeiros classificados têm, também, vantagens significativas no que respeita à Tempo de ser realista – argumentos para uma política energética sustentável Trilema Energético Mundial 6 Figura 1 Semelhanças e diferenças entre os países 10 primeiros classificados no Índice de 2012 mitigação dos efeitos ambientais dos seus sistemas energéticos, por terem programas de longo prazo em vigor. A Suécia, por exemplo, reduziu significativamente as suas emissões de gases de efeito de estufa, apesar do seu PIB continuar a crescer, por ter implementado políticas energéticas e climáticas sustentáveis de longo prazo e fixado objectivos para 2020. Contudo, desenvolver globalmente sistemas de energia sustentáveis permanece um desafio. Países em todos os estados de desenvolvimento ainda têm dificuldades em equilibrar os compromissos necessários para fornecer energia de forma segura, a preços comportáveis e ambientalmente responsável. Os países em desenvolvimento, por exemplo, têm de fazer um grande esforço para utilizarem combustíveis mais limpos ao mesmo tempo que se industrializam. A definição de políticas robustas determina até que ponto um país será capaz de desenvolver um sistema energético sustentável. A indústria da energia e os decisores políticos devem auxiliar os países a estabelecer alternativas para o desenvolvimento energético. Como mostra a Figura 1, os 10 primeiros classificados no Índice têm elevados PIB per capita. São países membros da OCDE com enquadramentos políticos, sociais e económicos previsíveis. Contudo, existem também diferenças consideráveis entre eles, o que demonstra não haver uma solução única. A França é uma utilizadora significativa da energia nuclear. O Canadá é exportador de energia. Em contraste, o Japão é importador. Tempo de ser realista – argumentos para uma política energética sustentável Trilema Energético Mundial 7 Conclusão Os sistemas energéticos no mundo encontram-se em estádios de desenvolvimento muito distintos. Mas os países enfrentam um problema comum: todos estão longe de alcançar sistemas energéticos sustentáveis. Para que sistemas energéticos com preços acessíveis, seguros e ambientalmente responsáveis se tornem realidade, os decisores políticos necessitam de desenvolver com urgência políticas energéticas coerentes, interligadas e de longo prazo. Os decisores políticos e os responsáveis do sector da energia têm de alcançar um entendimento sobre o que é a sustentabilidade energética, a sua importância para o crescimento económico e os passos necessários para a atingir. Só então será possível trabalharem em conjunto para desenvolver, a partir de objectivos de sustentabilidade bem definidos, que irão encorajar a inclusão de todas as formas de energia no mix energético de todos os países, através de uma abordagem tecnologicamente neutra. Com políticas energéticas coerentes, interligadas e de longo prazo, o sector da energia terá capacidade para mobilizar os recursos naturais, humanos, financeiros e tecnológicos necessários para implementar sistemas energéticos sustentáveis. Sem eles, biliões de pessoas irão continuar a viver sem energia segura, com preços comportáveis e ambientalmente responsável. A prosperidade global poderá, também, ser ameaçada. Não há tempo a perder. Comités Membro do World Energy Council África do Sul Albânia Alemanha Arábia Saudita Argélia Argentina Áustria Bélgica Bolívia Botswana Brasil Bulgária Camarões Canadá Chade China Colômbia Congo (República Democrática) Costa do Marfim Coreia (República) Croácia Chipre Dinamarca Egipto (República Árabe) Emirados Árabes Unidos Eslováquia Eslovénia Espanha Estados Unidos da América Estónia Etiópia Federação Russa Filipinas Finlândia França Gabão Gana Grécia Holanda Hong Kong, China Hungria Índia Indonésia Irão (República Islâmica) Irlanda Islândia Israel Itália Japão Jordânia Kazaquistão Kuwait Letónia Líbano Líbia/GSPLAJ Lituânia Luxemburgo Macedónia (República) Marrocos México Mónaco Mongólia Namíbia Nepal Nova Zelândia Níger Nigéria Paquistão Paraguai Peru Polónia Portugal Qatar Quénia Reino Unido Republica Checa Roménia Senegal Sérvia Síria (República) Sri Lanka Suazilândia Suécia Suíça Tailândia Taiwan, China Tajiquistão Tanzânia Trinidad & Tobago Tunísia Turquia Ucrânia Uruguai World Energy Council Regency House 1-4 Warwick Street London W1B 5LT United Kingdom T (+44) 20 7734 5996 F (+44) 20 7734 5926 E [email protected] www.worldenergy.org Por uma energia sustentável]