Evolução do cenário energético no meio rural e avaliação do potencial
eólico energético para o suprimento energético brasileiro
Evolution of the energy scenario in rural areas and assessment of
potential wind energy to the Brazilian energy supply
Karen Yumi Sato, Luís Roberto Almeida Gabriel Filho, Camila Pires
Cremasco, Fernando Ferrari Putti, Odivaldo José Seraphim
UNESP - Universidade Estadual Paulista – Campus de Tupã e Botucatu
Resumo
O acesso a energia elétrica no Brasil vem crescendo fortemente nos últimos anos,
principalmente tratando-se das populações rurais das regiões Norte e Nordeste do
país. Este crescimento deu-se pelo crescente desenvolvimento de pesquisas nas
áreas de fontes limpas e renováveis. Desta forma, a energia eólica vem sendo uma
das grandes alternativas na geração da eletricidade, permitindo assim que populações
sem acesso a esta sejam beneficiadas. Programa públicos como “Luz Para Todos”
são um dos precursores para a socialização da energia elétrica. Deste a sua
implantação muitos domicílios já foram beneficiados, principalmente a região Norte e
Nordeste do país. Este trabalho tem como objetivo demonstrar a evolução de
domicílios que passaram a ter acesso a energia elétrica, tendo como base de dados o
ano de 2003 – ano da implantação do programa- e 2011, bem como demonstrar qual o
potencial eólico que as regiões possuem e se estas são o suficiente para atender
aqueles que ainda não possuem energia.
Palavras-chave: luz para todos, energia eólica, energia renovável.
Abstract
Access to electricity in Brazil has grown strongly in recent years, especially in the case
of rural populations in the North and Northeast. This growth was due to the increasing
development of research in the areas of clean, renewable sources. Thus, wind power
has been one of the major alternatives in the generation of electricity, allowing people
are without access to this benefit. Public programs such as "Light for All" is a precursor
to the socialization of electricity. Its deployment of this many households have
benefited mainly the North and Northeast. This paper aims to demonstrate the
evolution of households now have access to electricity, based on data from the year
2003 - year of implementation of the program and 2011, and which demonstrate the
potential of wind and the regions have if these are enough to cater for those who do not
have energy.
Keywords: light to all, wind power, renewable energy.
1. Introdução
O acesso a energia elétrica, é um dos fatores que, permite que, objetivos
econômicos, sociais e ambientais sejam atingidos de modo que estes se interrelacionam para um desenvolvimento mais sustentável. Este desenvolvimento está
atrelado para a utilização de recursos naturais e renováveis, como forma de preservar
o meio ambiente e permitir que a diferença de níveis sociais entre a população se
minimize.
Uma fonte de energia elétrica inesgotável e que vem sendo fortemente
pautada atualmente é a energia eólica. Trata-se de uma energia cinética do ar em
movimento (ventos) que pode ser aproveitado pelo homem para realizar trabalho útil.
A utilização da energia eólica, inicialmente, é vista em sistemas de bombeamento de
água e moagens de grãos (GABRIEL FILH0, 2007).
A utilização da energia eólica no mundo como geradora de energia elétrica
tem crescido muito nos últimos anos devido à forte disseminação da tecnologia,
melhoria das máquinas, custos crescentes de investimento e, em particular, pela
procura de fontes energéticas mais limpas, com baixos impactos ambientais. O Brasil
mesmo com seu potencial hidrelétrico, não deixou de acompanhar a tendência
mundial para o uso de energia eólica.
Dentre tais fontes, já a partir do século XX, a energia eólica foi objeto de
várias pesquisas voltadas para seu aproveitamento em geração de grandes blocos de
energia (partes eólicos), isto em virtude do avanço de sistemas de rede elétrica.
O Brasil mesmo com seu potencial hidrelétrico, não deixou de acompanhar a
tendência mundial para o uso de energia eólica. Segundo a GWEC (Global Wind
Energy Council) os Estados Unidos e a Alemanha, hoje, são os grandes potencias em
utilização deste tipo de energia, seguida por China, Espanha. Índia, Itália, França,
Reino Unido, Portugal e seguidamente pelo Brasil. A tabela a seguir retrata da
capacidade que esses países têm em utilizar a energia eólica.
Tabela 1: Utilização internacional da energia eólica.
PAÍS
Estados Unidos
Capacidade instalada de
produção no final de 2009 (mW)
25.777
Alemanha
35.159
China
25.104
Espanha
19.149
Índia
10.926
Itália
4.850
França
4.492
Reino Unido
4.051
Portugal
3.535
Brasil
744
Fonte: GWEC, 2009.
Os primeiros projetos em energia solar e eólica foram implementados tanto
nos estados nordestinos como também nos estados da Região Norte onde a carência
de abastecimento elétrico é uma das mais acentuadas e graves no Brasil. Por
apresentar várias comunidades carentes, isoladas e sem o fornecimento das fontes
convencionais de energia, vários projetos foram ali implementados com instalações de
sistemas fotovoltaicos e eólicos para geração descentralizada de energia elétrica.
Programas de incentivos às fontes alternativas de energia elétrica, como o
PROINFA (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica) buscam
aumentar a participação das fontes de energias renováveis no cenário energético
brasileiro. Tal programa institui a figura dos “Produtores Independentes Autônomos”
como agentes implementadores dos empreendimentos concebidos com base em
fontes eólicas, pequenas centrais hidrelétricas e biomassa.
O objetivo deste trabalho é relacionar as estratégias para o desenvolvimento
da tecnologia eólica nacional e como esta implica em regiões rurais sem acesso a
energia elétrica, bem como observar o desempenho de programas públicos que visa
acessar a população à energia elétrica.
2.
Materiais e métodos
A Lei 10.438/02 institui um marco histórico no setor elétrico nacional na busca
da diversificação da sua matriz de geração. Tal lei estabelece a criação do PROINFA,
promovendo assim a difusão de novas tecnologias de geração, inclusive a energia
eólica. Esta Lei traz consigo uma combinação de duas claras estratégias de fomento
às energias renováveis: fixação de metas nacionais e uso de procedimento licitatórios
para a fase inicial, o que leva a entrada mais rápida no mercado dos melhores arranjos
tecnologia / fonte de energia.
A partir dessa Lei espera-se a ampliação da base técnico / científica nacional
pela possibilidade de experimentação de sistemas baseados em novas renováveis
com projetos inéditos que sedimentem a trajetória histórica brasileira na expansão da
oferta de energia com fonte limpas. A utilização de energia renovável já é realidade no
Brasil, mesmo para aquelas tecnologias ditas modernas (Tabela 1).
Tabela 2: Contribuição de cada uma das fontes renováveis para a geração de eletricidade
no país, comparadas com as fontes tradicionais.
Fontes
Grandes Hidrelétricas
Termoelétricas a gás
Termoelétricas a petróleo
Termoelétricas a carvão
Nuclear
Eólica
PCHs
Biomassa
Total
Capacidade Instalada
65.128
6.361
5.652
1.461
2.007
22
2.027
2.410
85.068
Fonte: Tolmasquim, 2003.
Além de contribuir para uma matriz energética limpa e diversificada e criar
empregos e renda, as fontes renováveis de energia podem ter um papel significativo
na universalização do serviço de energia elétrica dentro do programa “Luz para
Todos”, recém instituído em 11 de novembro de 2003. A capacidade dos modelos e
tecnologias é limitada quando o assunto é atingir consumidores isolados e dispersos,
principalmente nas regiões Norte e Nordeste do país.
O programa visa auxiliar famílias de baixa renda a ter acesso a energia
elétrica, bem como desenvolver socialmente e economicamente estas, como forma de
contribuir para a redução da pobreza e o aumento da renda familiar (Programa Luz
Para Todos, 2003).
Atualmente, mais de 300 mil de domicílios brasileiros não têm acesso a
nenhuma alternativa de suprimento de energia elétrica, sendo 230 mil na área rural;
seja acesso à rede de distribuição local, seja geração própria através de pequenos
geradores a diesel ou painéis fotovoltaicos.
Segundo IBGE (2010), no Norte do país, 33,28% do domicílio rural (cerca de
77 mil dos domicílios) não tem acesso a energia elétrica. No Nordeste, 47,29% dos
domicílios da área rural (cerca de 110 mil de domicílios) não tem luz. No Centro Oeste,
somam 6,71% (cerca de 15 mil domicílios); no Sudeste, 8,83% (cerca de 20
domicílios); enquanto que no Sul 3,89% (cerca de 9 mil domicílios).
2.1. Cenário de disponibilidade eólica
O Brasil se enquadra entre os dez maiores países como capacidade
produtora de energia limpa. Segundo a International Energy Agency (IEA), o país é o
maior produtor de eletricidade a partir de fontes de energia limpa e renovável, como
hidrelétricas, usinas de biomassa e eólicas. Do total da eletricidade fornecida no país,
85,9% provém deste tipo de matriz energética.
A utilização energia eólica no Brasil vem sendo cada vez mais difundida, já
que o tamanho e o posicionamento territorial do país favorecem a exploração deste
tipo de energia. A ampla zona costeira brasileira permite que estados mais próximos
sofram maiores interferências de ventos, o que acaba favorecendo a implantação de
turbinas nessas regiões.
3.
O
Resultado e discussões
acesso
a
energia
elétrica
pela
população
rural
tem
crescido
significativamente nos últimos anos. O desenvolvimento de novas fontes de energia
somada ao programa publico “luz Para Todos” tem beneficiado muito às populações
carentes. Com base no ano de 2003 -ano em que foi instituído o programa- as regiões
Norte e Nordeste foram os grandes destaques de “urbanização elétrica”. Motivo este
dado pela maior número de populações rurais e, sendo o Nordeste brasileiro, uma
região propícia para a instalação de turbinas eólicas.
Em meio de comparação, no ano de 2003, o Brasil apresentava cerca de 2
milhões de domicílios sem acesso a nenhum tipo de energia elétrica sendo a maior
parte deste concentrada no meio rural. Atualmente, segundo o IBGE (2010), são 300
mil domicílios brasileiros sem acesso a nenhuma alternativa de suprimento de energia
elétrica, sendo 230 mil na área rural.
Os gráficos abaixo faz um comparativo do ano de 2003 e de 2010 e revela
resultado do programa com o desenvolvimento de energias renováveis. Vale enfatizar
na comparação destes gráficos, que houve uma grande diminuição dos urbanos e
rurais sem eletricidade
Acesso à iluminacao Elétrica nas Regioes Urbanas e
Rurais em número de domicílios (2003)
40000000
34,5milhoes
34,8milhoes
35000000
urbanos com eletricidade
30000000
urbanos sem eletricidade
25000000
urbanos
20000000
rurais com eletricidade
15000000
6milhoes
10000000
rurais sem eletricidade
rurais
5000000
0
8 milhoes
300mil
2 milhoes
Figura 1: Acesso à Iluminação Elétrica nas Regiões Urbanas e Rurais (domicílios).
Figura 2: Acesso à Iluminação Elétrica nas Regiões Urbanas e Rurais (domicílios).
Porém, o não acesso a energia elétrica é mais agravante nas regiões Norte e
Nordeste, conforme as Figuras 3 e 4, caracterizando as grandes disparidades de
consumo que ocorrem entre as regiões do país.
População Rural sem Acesso à Energia Elétrica /
por Regiões (em Milhares de Pessoas)
103
126
228
Norte
743
Nordeste
Centro-Oeste
1657
Sudeste
Sul
Figura 3: População rural sem acesso à energia elétrica (2003).
Domicílios Rurais sem Acesso à Energia Elétrica
/ por Regiões (em Mil de domicílios)
20
9
15
Norte
77
Nordeste
Centro-Oeste
110
Sudeste
Sul
Figura 4: Domicílios Rurais por região sem Acesso à Energia Elétrica (IBGE, 2011).
Verifica-se que o Nordeste, em 2003, o consumo rural de energia elétrica era
cerca de 13 vezes menor em comparação a região Sul, sendo em 2010, esta
comparação diminui para cerca de 5 vezes, apesar de ambos os anos a quantidade
de propriedade rurais da região Nordeste ser maior de todo o país. Razões políticas,
geográficas e econômicas explicam mais facilmente o fato de existir um grande
contingente da população rural do Brasil sem acesso aos benefícios advindos da
energia elétrica.
O país apresenta condições técnicas para atender esse contingente
populacional não assistido, bastando verificar a produção cientifica da academia e dos
centros de pesquisa que apresentam as mais variadas e originais soluções para o
problema.
O Nordeste, grande concentrador de propriedades rurais, por exemplo,
apresenta escassez de recursos ao compará-lo com outras regiões do País. Por outro
lado, o grande potencial eólico desta região poderia alterar fortemente esta realidade.
Neste sentido, a Tabela 3 ilustra este fenômeno.
Tabela 3: Correlação do potencial elétrico-eólico (para ventos acima de 6 m/s) e
domicílios rurais sem acesso a energia elétrica por região.
Potencial elétricoeólico (mWh)
Domicílios rurais sem acesso
a energia elétrica (em
milhares)
Nordeste
197,03
110
Norte
25,49
77
Sudeste
29,74
20
Centro- oeste
3,08
15
Sul
CORRELAÇÃO
99,34
9
Região
Brasileira
0,62
Fonte: IBGE e CRESESB (2011).
Pela Tabela 3 o coeficiente de correlação de Pearson deste fenômeno é 0,62
o que representa uma correlação razoável deste comportamento, o que comprova a
contribuição também deste trabalho para que políticas públicas visando a
implementação de partes eólicos voltados ao meio rural das regiões Norte e Nordeste
sejam efetivadas.
Por fim, com a realização do PROINFA acredita-se que os “Produtores
Independentes Autônomos” sejam incentivados a realizar aplicações eólicas em
regiões menos favorecidas pelas redes de transmissão convencionais (e também as
regiões rurais), mas extremamente ricas em fontes de energia limpa e renovável, o
que justamente reflete nos casos nas regiões Norte e Nordeste conforme o estudo
realizado (Tabela 3).
4. Conclusões
Diante dos resultados comparativos do acesso à eletricidade nos anos de
2003 e 2010 verificou-se que houve maior acesso da energia elétrica a populações
rurais de todo o Brasil, destacando-se principalmente as regiões Norte e Nordeste do
país. O desenvolvimento de energias renováveis pode ser dado como um dos grandes
impulsionadores deste acesso, já que a região Nordeste, principalmente, apresenta
um grande potencial eólico. A utilização da eletricidade com fonte eólica ainda poderá
impulsionar a economia do país, já que esta proporciona pesquisas nesta área, bem
como o desenvolvimento de novas tecnologias para a geração da eletricidade. O
programa público instituído pelo governo –Luz Para Todos- foi outro fator que
beneficiou a “inclusão energética” e embora não tenha finalizado a sua execução,
apresentou resultados eficazes.
5. Agradecimentos
Os autores agradecem o Programa de Pós-Graduação em Agronomia /
Energia na Agricultura da FCA/UNESP/Botucatu pelo suporte científico e estrutural
disponibilizado.
6. Referências bibliográficas
CRESESB.
Atlas
do
potencial
eólico.
Disponível
em:
<
http://www.cresesb.cepel.br/index.php?link=/atlas_eolico_brasil/atlas.htm >. Data de
acesso: 8 ago. 2011.
IBGE. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/home/download/estatistica.shtm >. Data
de acesso: 6 ago. 2011.
INTERNATIONAL ENERGY AGENCY. Perspectivas em tecnologias energéticas. <
http://www.iea.org/techno/etp/etp10/Portuguese_Executive_Summary.pdf>.
Data
de
em:
<
acesso: 03 set. 2011.
PROGRAMA
LUZ
PARA
TODOS.
O
programa.
.
Disponível
http://luzparatodos.mme.gov.br/luzparatodos/Asp/o_programa.asp>. Data de acesso:
22 ago. 2011.
PULLEN, A. Global installed wind power capacity 2008/2009 (MW). Disponível em:
<http://www.gwec.net/fileadmin/documents/PressReleases/PR_2010/Annex%20stats%
20PR%202009.pdf >. Data de acesso: 4 ago. 2011.
TOLMASQUIM, M.T. (organizador). et al. Fontes Renováveis de Energia no Brasil.
CENERGIA. Rio de Janeiro, 2003.
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