SEXTA-FEIRA, 10 DE OUTUBRO DE 2014 ● DIÁRIO COMÉRCIO INDÚSTRIA & SERVIÇOS
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Negócios
Não basta ter um bom projeto e dinheiro em caixa: o planejamento envolve assessoria altamente
especializada, o que acaba custando altas cifras e exige tempo que os investidores não dispõem
Avaliação de riscos é primordial para
a construção de fábricas no Brasil
DIVULGAÇÃO
AUTOMOTIVO
Juliana Estigarríbia
São Paulo
[email protected]
● Não basta ter um bom projeto e dinheiro para tocar a obra
de uma fábrica. O planejamento envolve assessoria altamente especializada nas áreas
ambiental, contábil e jurídica
(o que acaba custando muito),
sob pena de colocar em risco a
rentabilidade das operações.
Foi o que aconteceu com a
JAC Motors do Brasil. O início
da construção de sua primeira fábrica no País atrasou cerca de um ano. Apesar de não
atribuir “culpa” ao governo, a
montadora admite que todo
o transtorno começou com
um atraso de quase quatro
meses na obtenção de licenças ambientais.
Após este período, a companhia chinesa registrou
outros problemas, como mudança na constituição acionária, o que atrasou também
a obtenção do financiamento
que faltava para dar inicio
ao empreendimento.
“Devemos começar a obra
em meados de novembro”,
informou a montadora ao
DCI. Enquanto isso, a cota de
veículos que podem ser vendidos sem o aumento de 30
pontos percentuais do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) foi suspensa
pelo governo federal.
“Como nossa projeção de
vendas para o ano está abaixo da nossa cota, isso não nos
preocupa”, informa a JAC.
Para o sócio fundador do
escritório Lobo e de Rizzo, José Orlando A. Arrochela Lo-
A fabricante de componentes automotivos japonesa está preparando uma unidade no interior paulista
“É um trabalho
imenso atender a
todos os órgãos
envolvidos”
JOSÉ LOBO, SÓCIO FUNDADOR DO
ESCRITÓRIO LOBO E DE RIZZO
FOTO: DIVULGAÇÃO
bo, construir uma fábrica no
Brasil é uma verdadeira corrida de obstáculos.
“Cada etapa demanda uma
avaliação minuciosa dos riscos. É um trabalho imenso
atender a todos os órgãos envolvidos”, afirma o advogado.
Com experiência na assessoria jurídica das plantas da Mercedes-Benz, de motores da
Volkswagen e de caminhões de
sua subsidiária MAN Latin
America, entre outros empreendimentos no País, Lobo afirma que existe uma enorme
teia de requisitos que precisam
ser cumpridos.
“Muitas vezes, os conflitos
ocorrem até mesmo entre órgãos da mesma esfera”, destaca. “Para executar projetos
desse porte, no Brasil, não é
permitido errar na contratação
de pessoal especializado”, diz.
Lobo pondera que a legislação ambiental é um dos aspectos mais importantes no projeto de uma fábrica. “Trata-se de
um processo muito demorado
para obter todas as licenças e,
nesse meio tempo, existe uma
enorme pressão dos investidores”, acrescenta o advogado.
Ele ressalta que a legislação
ambiental brasileira é sofisticada. “Porém, nem sempre é
aplicada com a celeridade
compatível com o mundo empresarial”, complementa.
A japonesa Aisin, que está
construindo uma fábrica de
componentes automotivos em
Itu (SP), está sentindo as dificuldades de se construir uma
planta industrial no País.
Japonesa Aisin investe R$ 140 mi no País
DIVULGAÇÃO
R$ 28
AUTOPEÇAS
Juliana Estigarríbia
São Paulo
[email protected]
A fabricante japonesa de
componentes para o setor automotivo Aisin está confiante
no Brasil. A empresa está investindo R$ 140 milhões na
construção de uma fábrica em
Itu (SP), com meta de alcançar
entre 25% e 30% de participação de mercado.
“O Brasil é um dos principais mercados globais do setor automotivo e queremos
que a nossa marca seja amplamente reconhecida por
aqui”, afirmou em entrevista
ao DCI o diretor presidente
da Aisin Automotive Brasil,
Takeshi Osada.
A Aisin, que projeta faturar
US$ 28 bilhões no mundo todo em 2014, fabrica dezenas
● Bilhões
é a estimativa de
faturamento da Aisin no
mundo todo em 2014
●
30%
●É
a meta de participação de
mercado que a multinacional
japonesa tem para o Brasil
O diretor presidente, Takeshi Osada, aposta no mercado brasileiro
de componentes automotivos
e, no Brasil, fornece apenas para Honda, Nissan, General Motors (GM) e Toyota (que possui
40% de participação no grupo
Aisin global).
“Estamos dialogando com
todas as montadoras, pois
queremos ampliar a nossa carteira de clientes”, diz Osada.
A fábrica escoará componentes para motores, freios e
transmissão com tecnologia de
alumínio patenteada pela Aisin, chamada die casting – que
reduz o peso da peça sem
comprometer o desempenho e
a segurança.
Somente no negócio de
bombas para água e óleo, a capacidade de produção será de
200 mil unidades anuais.
“Os motores dos novos veículos terão que ser mais efi-
“Em comparação ao Japão,
os custos acabam sendo maiores, pois precisamos contratar
assessoria especializada”, afirma o diretor presidente da Aisin Automotive do Brasil, Takeshi Osada.
Segundo o executivo, não é
possível que uma empresa
consiga enfrentar todo o procedimento burocrático para
obter as licenças necessárias
sozinha. “Além do custo financeiro, existe a questão da demora, o que onera muito a
operação”, destaca Osada.
De acordo com o executivo,
os processos de fundição de
alumínio da nova planta irão
gerar efluentes e a legislação
exige o seu tratamento. “As exigências são bastante duras,
mas estamos atendendo a todos os requisitos”, garante.
Estrutura onerosa
Para o sócio do Lobo e de Rizzo, outros custos oneram ainda mais o início das operações
industriais no País, assim como ao longo de sua vida útil.
“A lógica do Brasil é perversa. Tudo custa muito caro e, às
vezes, as empresas perdem
competitividade
internacionalmente”, destaca.
“É diferente ter apenas uma
operação comercial e abrir
uma fábrica por aqui”, diz o
advogado. “É preciso levar em
conta todos os custos, mesmo
com incentivos fiscais, porque
a estrutura brasileira é cara como um todo, assim como a logística”, complementa.
Lobo ressalta que, ainda assim, o mercado brasileiro deve
continuar a atrair investidores.
“Com muito cuidado na avaliação dos riscos, as empresas
conseguem levar seus projetos
à frente”, opina.
cientes. Acreditamos que a tecnologia que a Aisin detém
pode contribuir muito para
atingir as metas do Inovar-Auto”, destaca Osada.
Nova geração
Com as exigências do novo regime automotivo, as montadoras terão que atender especificações
de
eficiência
energética. E a primeira medida a ser adotada será a redução do peso dos veículos.
“Há uma nova geração de
automóveis por vir e nós estamos preparados para atender
essa demanda”, garante Osada.
O executivo afirma estar
ciente do momento difícil que
a indústria automotiva brasileira atravessa, além da perspectiva de um excesso de capacidade ociosa no País.
“Olhando para o futuro, pelo
menos nos próximos 20 anos,
o ritmo de crescimento do
mercado brasileiro vai ser bem
mais moderado”, avalia Osada.
Porém, o executivo está bastante otimista. “Acreditamos
que, certamente, a demanda
vai crescer gradativamente no
Brasil”, acrescenta.
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