aproxima da costa: sobre ele há uma pequena ponte de madeira bastantemente arruinada. A estrada, depois de atravessar um terreno baixo, arenoso e arborizado, lança-se na costa; e por aí caminha-se duas léguas até à Ponta da Fruta, a mais notável naquelas paragens. Desse lugar segue ela pelo terreno que fica de permeio entre o mar e várias lagoas, que tem por margem do lado do ocidente uma lomba extensa de terras altas sobre o que se divisam algumas casas habitadas por lavradores do distrito, e que, segundo é fama, servem também de coito a desertores e criminosos. Esse terreno prende-se a outro que guarda o mesmo plaino, e que compreende campestres, matas, brejos, várzeas e um rolo todo areiento, denunciando esterilidade, pobreza de força vegetativa, por qualidade natural ou por exausto e cansado. Às 4 horas da tarde, cheguei ao lado meridional da barra do Rio Jecu, onde há uma pequena povoação de 20 a 30 casas de pescadores, abrigada do mar por um morro alto, que ao longe designa a foz daquele grande rio e invade o mar a pequena distância. A povoação é a cargo de um juiz de paz, cuja jurisdição estende-se até a Ponta da Fruta e depende do município da Vila do Espírito Santo (Vila Velha); e dista 8 léguas de Guarapari. Sendo já tarde, e estando a maré cheia, o que dificultava a passagem em um rio que se espraia na sua foz, aí pernoitei. O Rio Jecu (como já tenho escrito em outra obra) procede da Serra-Geral, donde sai já volumoso e arrebatado; e depois de atravessar imenso território com vários rodeios e sinuosidades, desemboca no mar, no lugar que acabamos de descrever; e o grande volume de suas águas não pode contrastar a força que o mar emprega naquele ponto saliente da costa, o que faz com que a barra seja de pouco fundo e dê somente entrada a lanchas, e seja mesmo quase interceptada por uma corda de grandes pedras que se prende à sua margem austral. Por meio de um canal aberto no distrito de Viana, comunica-se esse rio com o Marinho, que deságua na margem direita da baía do Espírito Santo, em frente ao lado ocidental da cidade; e assim formou-se em ilha esse grande território que medeia entre esses dois rios. Na manhã do dia 13, passado o rio prossegui na viagem tomando o caminho da mata, visto que projetei ir à Pedra d’Água. Esse caminho é por uma planície, no princípio coberta de arvoredo, e ao depois através de brejos e várzeas descortinadas, que a esse tempo estavam enxutas. Cheguei à Pedra d’Água pelas 10 horas da manhã. Esse sítio é formado por uma elevada bafa do Espírito Santo, e no seu flanco esquerdo um esteiro como um braço da mesma baía. A origem do seu nome provém de haver na baía, em frente da colina, uma grande pedra isolada e fora d’água. Esse sítio dista meia légua de Vila Velha. Às 11 horas, chegou àquele lugar o presidente Couto, e meia hora depois desembarquei na capital. – Machado de Oliveira. 75