XXIV ENANGRAD FIN – Finanças A ANÁLISE DINÂMICA SEGUNDO O MODELO DE MICHEL FLEURIET: O CASO DA EMPRESA CEMIG DISTRIBUIÇÃO S.A. Maiko Albuquerque Paes Almeida Anderson Rocha Valverde Eduardo Duarte Horta Florianópolis, 2013 Área Temática: Finanças (FIN) A ANÁLISE DINÂMICA SEGUNDO O MODELO DE MICHEL FLEURIET: O CASO DA EMPRESA CEMIG DISTRIBUIÇÃO S.A. 1 RESUMO O presente artigo objetivou analisar a estrutura e situação financeira da empresa Cemig Distribuição S.A. de acordo com o Modelo Dinâmico de Michel Fleuriet, método que permite uma análise dinâmica financeira. A partir da reclassificação das contas do Balanço Patrimonial podem-se mensurar as variáveis: necessidade de capital de giro (NCG), capital de giro (CDG), saldo de tesouraria (ST) e o indicador de liquidez. Tendo como fonte de dados as Demonstrações Contábeis nos anos de 2008 a 2012, disponibilizadas na Bovespa, a análise dinâmica do período apresentou uma situação inadequada. Somente no ano de 2010 a situação financeira foi considerada sólida. Devido às peculiaridades do setor de energia elétrica, os resultados obtidos apresentaram concordância com a bibliografia utilizada, em que a empresa revela saldos negativos no capital de giro e principalmente no indicador de liquidez. Por fim, destacaram-se os anos de 2009 e 2012, pelo desequilíbrio financeiro evidenciado pelo efeito tesoura, apresentando o descompasso entre a evolução do CDG e da NCG. Palavras-chave: Modelo Dinâmico, Situação Financeira, Capital de Giro, Liquidez. ABSTRACT This article aims to analyze the structure and financial situation of the company Cemig SA in accordance with the Dynamic Model of Michel Fleuriet, a method that allows dynamic financial analysis. From the reclassification of balance sheet accounts may be measuring the variables need working capital (NCG), working capital (CDG), cash balance (ST) and the indicator of liquidity. Having as a data source the Financial Statements for the years 2008-2012, available at Bovespa, the dynamic analysis of the period presented a difficult situation. Only in 2010 the financial situation was considered sound. Due to the peculiarities of the electricity sector, the results showed agreement with the literature used in the company reveals negative balances in working capital and especially the liquidity indicator. Finally, the highlights were the years 2009 and 2012, the financial imbalance evidenced by the shear effect, reveals a gap between the evolution of CDG and NCG. Key-words: Dynamic Model, Financial Situation, Working Capital, Liquidity. 2 1 INTRODUÇÃO O atual cenário de competitividade e que circunda os ambientes de inserção das organizações contemporâneas exige esforços ainda mais enfáticos e centrados na sua correta gestão financeira e, neste aspecto em particular, a administração financeira tende a assumir um papel de cunho preponderante. Assim, as organizações são obrigadas a programar e efetivamente planificar suas finanças, no intuito de buscar decisões acerca das melhores formas de captação de recursos junto ao mercado e de como investir esses recursos para melhorar a organização, na obtenção de lucro suficiente para seu desenvolvimento e garantia de retorno do capital investido. Segundo Gitman (2010) o objetivo da administração é a maximização da riqueza do acionista. Numa sociedade por ações, a riqueza dos proprietários é medida pelo preço da ação, baseada na distribuição de resultados no tempo, em sua magnitude e em seu risco. O administrador financeiro almeja as alternativas de decisões financeiras e ações possíveis que tendem a aumentar o preço das ações. Outro aspecto fundamental é o processo de planejamento financeiro, que oferece orientação para a direção, a coordenação e o controle das providências tomadas pela organização para que atinja seus objetivos. Conforme Gitman (2010) o processo inicia-se com a elaboração de planos financeiros de longo prazo, ou estratégicos, que por sua vez orientam a formulação de planos e orçamentos de curto prazo, ou operacionais, como a gestão de ativos e passivos circulantes, que em geral, significam a implantação dos objetivos estratégicos de longo prazo. Nesse ambiente constante de mudanças, são de suma importância as informações disponibilizadas pela contabilidade para uma análise dinâmica da organização, como balanços patrimoniais e demonstrativos financeiros que apresentam uma descrição analítica da posição financeira da organização. A partir da reclassificação e tratamento destas informações, pode-se analisar a estrutura e situação financeira de acordo com o modelo dinâmico de Fleuriet, como também construir medidas relativas da eficiência operacional da organização, obtendo índices financeiros que visam analisar e acompanhar o desempenho da organização. Para compor a análise dinâmica financeira proposta por Fleuriet, têm-se três variáveis essenciais, a Necessidade de Capital de Giro (NCG), o Capital de Giro (CDG) e Saldo de Tesouraria (ST). A primeira variável surge quando, no ciclo financeiro, as saídas de caixa ocorrem antes das entradas de caixa, criando uma necessidade de aplicação permanente de fundos. Já o Capital de Giro, corresponde a uma parcela de capital aplicada pela organização em seu ciclo operacional, de curto prazo, exercendo influências sobre a liquidez e rentabilidade. E por fim, o Saldo de Tesouraria, que funciona como uma reserva. Diante do exposto, o objetivo que norteia este artigo, de cunho descritivo e bibliográfico, é analisar a estrutura e situação financeira da Cemig Distribuidora S.A. aplicando o modelo dinâmico de Fleuriet, com base nos dados financeiros obtidos no período de 2008 a 2012. A relevância deste estudo justifica-se pela Cemig Distribuição S.A. ser uma das maiores concessionárias de distribuição de energia elétrica do Brasil, sendo controlada pelo Estado de Minas Gerais e regulada por medidas impostas pelo Governo Federal. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 O Modelo Fleuriet O modelo dinâmico de análise econômico-financeira ou modelo Fleuriet, surge como uma mudança no enfoque da análise contábil tradicional tornando-a mais coerente com a realidade operacional, que anteriormente era centrada numa visão estática da empresa de que não haveria continuidade dos negócios caso todo ativo circulante fosse transformado em dinheiro para honrar compromissos. Essa abordagem propôs uma análise financeira dinâmica, e que permite identificar a necessidade de investimento no giro dos negócios e o volume de recursos de longo prazo que financiam o giro, contribuindo para a tomada rápida de decisões da empresa, exigida pelo ambiente atual e sujeito a rápidas mudanças. Além da reclassificação das contas de acordo com seu ciclo é também essencial a segregação em financeiro e operacional. Contas do grupo circulante, ativo e passivo, se subdividem em ativo circulante financeiro (ACF), ativo circulante operacional (ACO), passivo circulante financeiro (PCF) e passivo circulante operacional (PCO). O ativo circulante financeiro, de natureza errática, é constituído por elementos essencialmente financeiros e o passivo circulante financeiro é formado por passivo de curto prazo 3 que provocam despesas financeiras. Já o ativo circulante operacional é composto pelas contas relacionadas às atividades operacionais da empresa, que giram rapidamente. Enquanto o passivo circulante operacional é constituído pelas obrigações de curto prazo. Assim, segundo Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003), para uma melhor compreensão em relação à realidade dinâmica das empresas, as contas acima devem ser consideradas de acordo com o seu ciclo, ou seja, o tempo que leva para se realizar uma rotação. Desta forma, levando em consideração a velocidade com que as contas se movimentam, têm-se três grupos principais da reclassificação das contas contábeis, que são definidos em consonância com a termologia de Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003): - Permanentes ou não cíclicas: apresentam uma movimentação lenta. (realizável a longo prazo; investimentos; reserva de lucros, e etc.); - Contínuo e cíclico: relacionadas com o ciclo operacional do negócio. (estoques; clientes; fornecedores e etc.); 1 - Descontínuo e errático : contas que não estão diretamente relacionadas com a operação. (disponível; títulos negociáveis; duplicatas descontadas e etc.). A figura 1 ilustra a nova estrutura do Balanço Patrimonial após a reclassificação das contas. Figura 1 - Os Ciclos no Balanço Patrimonial. Fonte: Adaptado de Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p.8). 1 Errático, do latim erraticu. Errante, vadio, erradio, aleatório, andando fora do caminho. Ou seja, implica a não ligação dessas contas ao Ciclo Operacional da empresa. 4 A partir da reclassificação do balanço patrimonial extraem-se três variáveis que compõem o modelo Fleuriet, a necessidade de capital de giro (NCG), o capital de giro (CDG) e o saldo de tesouraria (ST); essa reorganização das contas existentes resultou numa análise dinâmica voltada para a real situação de liquidez da empresa, como também possibilita traçar as diretrizes para o futuro. 2.2 A Necessidade de Capital de Giro (NCG) A necessidade de capital de giro é a diferença entre as contas cíclicas do ativo e as contas cíclicas do passivo, que medem a defasagem de tempo e valor entre as operações que as contas representam. Esse conceito econômico-financeiro é fundamental para avaliar a situação financeira da empresa, pois o seu valor revela o montante necessário para manter o giro do negócio. Segundo Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p. 7), ³TXDQGRno ciclo financeiro, as saídas ocorrem antes das entradas de caixa, a operação da empresa cria uma necessidade de aplicação permanente GH IXQGRV´ Apurado um resultado positivo pela diferença entre as contas mencionadas acima, identifica-se uma necessidade permanente de investimentos em seu giro, ou seja, esta aplicação permanente de fundos (mobilização de recursos) denomina-se de Necessidade de Capital de Giro (NCG). Caso o resultado seja negativo, demonstra que há excesso de recursos em um determinado ciclo financeiro e volume de atividades. Todavia, esta situação não ocorre na prática com grande frequência. Define-se a necessidade de capital de giro pela expressão: NCG = Ativo Cíclico ± Passivo Cíclico É relevante ressaltar que a necessidade de capital de giro (NCG) é diferente do capital circulante líquido (CCL), em virtude da necessidade de capital de giro (NCG) ser composta apenas por uma parte do ativo e passivo circulantes, constituído pelo ativo e passivo cíclicos. 2.3 O Capital de Giro (CDG) Outra variável importante para o modelo Fleuriet é o Capital de Giro (CDG), que normalmente representa uma fonte de recursos de fundos permanente da empresa com o objetivo de financiar a necessidade de capital de giro (NCG). Trata-se da diferença entre o passivo permanente e o ativo permanente, onde ambas são contas não cíclicas. Significa a parcela dos recursos próprios da empresa que se encontra disponível para aplicações. CDG = Passivo Permanente ± Ativo Permanente Para Assaf Neto e Silva (1997, p. 13), ³a definição do montante de capital de giro é uma tarefa com sensíveis repercussões sobre o sucesso dos negócios, exercendo evidentes influências sobre a liquidez e rentabilidade das empresas´. Apesar de apresentarem conceitos diferentes o capital de giro (CDG) possui o mesmo valor que o capital circulante líquido (CCL), conforme a visão clássica da diferença entre ativo e passivo circulante. Segundo Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003), o CDG diminui quando a empresa realiza novos investimentos em ativo imobilizado ou qualquer outro bem não circulante, mas investimentos 2 realizados por autofinanciamento ocasionam o aumento do capital de giro, o que compensa a diminuição proporcionada pelos novos investimentos. Quando o CDG for positivo, mostra que os recursos de longo prazo além de financiar ativo não circulante financiam também ativo circulante. Sendo o CDG negativo, significa que há recursos de curto prazo financiando ativos não circulantes, aumentando o risco de insolvência; porém a empresa pode se desenvolver desde que tenha uma NCG negativa. De acordo com Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p. 13): Empresas que conseguem prever com maior grau de certeza as suas entradas de caixa podem trabalhar com baixa liquidez ou até mesmo com 2 Autofinanciamento exprime o montante dos recursos gerados pela empresa e que são conservados para seu financiamento interno. 5 liquidez negativa. Um caso típico dessa situação é o setor de energia elétrica. Os clientes precisam pagar a conta no prazo estipulado. Caso contrário, o fornecimento de energia é cortado. Isto faz com que as entradas de caixa sejam altamente previsíveis, o que gera um fluxo de caixa adequado mesmo com liquidez negativa. 2.4 O Saldo de Tesouraria (ST) O saldo de tesouraria representa um valor residual decorrente da diferença entre o CDG e a NCG ou, pela diferença entre o ativo e passivo erráticos, sendo determinantes para as decisões operacionais e as políticas de autofinanciamento. Tanto o ativo como o passivo errático representam contas do circulante (ativo circulante financeiro e passivo circulante financeiro) que não estão diretamente ligadas com a operação da empresa e cujos valores não têm uma constância de alterações. 'H DFRUGR FRP $VVDI 1HWR H 6LOYD S HVWH VDOGR UHSUHVHQWD ³XPD UHVHUYD financeira da empresa para fazer frente a eventuais expansões da necessidade de investimento RSHUDFLRQDO HP JLUR SULQFLSDOPHQWH DTXHODV GH QDWXUH]D VD]RQDO´ Para que a empresa esteja em equilíbrio financeiro o saldo de tesouraria deve ser positivo. O saldo de tesouraria é obtido através das seguintes fórmulas: ST = CDG - NCG ST = ACF - PCF ou Verifica-se que se o saldo da tesouraria for negativo, significa que o capital de giro é insuficiente para financiar a necessidade de capital de giro, indica a utilização de recursos de terceiros para financiar as atividades operacionais. E se o resultado for positivo, significa que a empresa dispõe de fundos de curto prazo, indica uma situação financeira folgada. Entretanto, isso demonstra que a empresa não está aproveitando adequadamente suas oportunidades de investimentos. Conforme Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p.14), ³XP6DOGRGH7HVRXUDULDSRVLWLYR H HOHYDGR não significa necessariamente uma condição desejável para as empresas; pelo contrário, pode significar que a empresa não esteja aproveitando as oportunidades de investimentos propiciadas por sua estrutura financeLUD´ É fundamental acompanhar a evolução desse saldo para evitar que permaneça constantemente negativo e crescente, pois caso a empresa não consiga que o seu autofinanciamento (lucros) cresça na mesma proporção do seu crescimento da NCG, esse saldo se tornará mais negativo com o crescimento das vendas, gerando o efeito tesoura. Esse efeito tesoura ocorre quando a empresa financia a maior parte da NCG com recursos de curto prazo. 2.5 Tipos de Estruturas e Situações Financeiras Conforme a reclassificação das contas do Balanço Patrimonial de acordo com o modelo dinâmico, o quadro abaixo retrata não apenas a estrutura financeira, mas também a situação de liquidez e solvência da empresa em determinado período, baseado nos saldos obtidos e na união das três variáveis: CDG, NCG e ST. Tabela 1 - Tipo de Estrutura e Situação Financeira. Tipo CDG NCG ST Situação I + + Excelente II + + + Sólida III + + Insatisfatória IV + Péssima V Muito Ruim VI + Alto Risco Nota: (+) indica valor positivo, e (-) indica valor negativo. Fonte: Adaptado de Marques e Braga (1995). De acordo com Marques e Braga (1995), dentro do modelo dinâmico podem existir diversos tipos de balanços patrimoniais resultantes da combinação dos indicadores: NCG, CDG e ST (saldo de tesouraria). 6 - Tipo I: empresas que possuem situação financeira excelente devido ao elevado nível de liquidez. A NCG negativa significa fonte de recursos, onde o passivo cíclico é superior ao ativo cíclico, ou seja, a empresa recebe antes de pagar seus fornecedores. O ST positivo retrata para empresa uma folga financeira, pois há recursos do ativo errático aplicados no curto prazo. - Tipo II: quando o valor das três variáveis é positivo demonstra que essa estrutura é característica de empresas com situação financeira sólida. Significa que o CDG é suficiente para cobrir o NCG, representando uma folga financeira devido à sobra de recursos para ser investido no curto prazo. - Tipo III: essas empresas apresentam uma situação insatisfatória. O saldo negativo do ST relata que o CDG não é capaz de cobrir a NCG, o que ocasiona procura por financiamento de curto prazo (passivo errático) para garantir a cobertura da parcela do NCG que o CDG não consegue suprir. - Tipo IV: representam essa estrutura empresas com situação financeira péssima. Os saldos negativos do CDG e ST indicam que essas empresas estão aplicando recursos de curto prazo (erráticos) não apenas na NCG, mas também em ativos de longo prazo. Nessas circunstâncias é difícil a recuperação desses fundos em tempo hábil para saldar as dívidas. - Tipo V: essa situação se caracteriza como muito ruim. Mesmo com uma NCG negativa, podendo dispor de uma fonte de recursos cíclicos, essas empresas apresentam uma situação financeira no limite. O CDG negativo demonstra a utilização de fundos de curto prazo para financiar ativo com longo prazo. Uma vez que os ativos cíclicos são totalmente financiados por passivos também cíclicos, conclui-se que os empréstimos de curto prazo são alocados em investimentos de longo prazo. - Tipo VI: a utilização dessa estrutura implica numa situação de alto risco para a empresa, pois o CDG e NCG permanecem negativos, porém o valor da NCG é inferior ao do CDG, essa circunstância permite que o ST seja positivo. A NCG negativa demonstra existência de fontes cíclicas de curto prazo, financiando a empresa, mas como o CDG também apresenta um saldo negativo, a empresa está, provavelmente, utilizando esses fundos de terceiros para financiar seus ativos de longo prazo, ao mesmo tempo em que mantém recursos erráticos investidos no mercado financeiro. 2.6 O Efeito Tesoura Denomina-se efeito tesoura o crescimento negativo do saldo de tesouraria (ST), conforme Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p. 38): O Saldo de Tesouraria tornar-se-á cada vez mais negativo com o crescimento rápido das vendas, se a Necessidade de Capital de Giro aumentar, proporcionalmente mais do que o Autofinanciamento, e a empresa não conseguir aumentar seu Capital de Giro por meio de fontes externas. Para Brasil e Brasil (1999, S R HIHLWR WHVRXUD p ³FRQVHTXrQFLD GR GHVFRQWUROH QR FUHVFLPHQWRGDGHSHQGrQFLDGHHPSUpVWLPRVDFXUWRSUD]R´ O crescimento das vendas nem sempre é sadio, e que nem sempre a queda é prejudicial, pois dependerá da relação entre a variação da NCG sobre as vendas, como também do autofinanciamento. Figura 2 - Efeito Tesoura Fonte: Adaptado de Brasil e Brasil (1999, p. 61). 7 Para Brasil e Brasil (1999, p. 60), o efeito tesoura ocorre das seguintes condições: a) Crescimento das vendas nominais (por inflação ou crescimento real) a taxas muito elevadas; b) Endividamento de perfil de retorno inadequado; c) Imobilização excessiva; d) Prejuízos; e) Distribuição excessiva de dividendos; f) Relação ¨NCG/Vendas crescendo a ritmo maior do que a relação Autofinanciamento/Vendas; g) Altas taxas de juros. 2.7 O Termômetro Financeiro Visando analisar e acompanhar o desempenho da empresa a partir das demonstrações financeiras, utiliza-se o termômetro financeiro ou indicador de liquidez. Gitman (2010, p. 51) esclarece que ³a liquidez diz respeito à solvência da posição financeira geral da empresa ± a facilidade com que pode pagar suas contas em dia´ De acordo com Vieira (2005, p. 119) o indicador de liquidez (ILNCG) é a proporção entre o saldo de tesouraria em relação a necessiade de capital de giro, com objetivo de monitorar a utilização de recursos de curto prazo no financiamento das operações da empresa. ILNCG = ST / |NCG| O índice avalia a intensidade do saldo negativo da tesouraria em relação à necessidade de capital de giro, como também sua tendência ao longo do tempo, uma vez que a permanência deste tipo de financiamento pode conduzir a um desequilíbrio financeiro. 3 ASPECTOS METODOLÓGICOS O método utilizado foi o qualitativo, por ³analisar a interação entre variáveis, compreender e classificar determinados processos´2LIVEIRA, 1997, p. 117). O tipo de pesquisa utilizada neste estudo caracteriza-se como descritiva, quanto aos meios. No que tange aos procedimentos de coleta de dados, foram utilizadas a pesquisa bibliográfica e documental. Assim, a análise documental do presente estudo se baseia nos balanços patrimoniais no período de 2008 a 2012 disponibilizadas no site da BOVESPA. Realizou-se a reclassificação das contas do balanço patrimonial de acordo com o modelo dinâmico de Fleuriet e visando atender os objetivos desta pesquisa, os cálculos realizados a partir dos dados coletados e ajustados resultaram na determinação das seguintes variáveis: NCG, CDG e ST. Com essas variáveis determina-se o tipo de estrutura e situação financeira da empresa e observa-se a evolução das variáveis pela técnica da cronologia. Outro importante instrumento que constitui o modelo para verificar a situação econômicofinanceira da empresa é o cálculo do Indicador de Liquidez (IL), que mostra a capacidade financeira da empresa em cumprir os seus compromissos em relação a terceiros. 4 O CASO EM ESTUDO Segundo informações retiradas do próprio site da Cemig Distribuição S.A., a empresa é responsável pelo atendimento de aproximadamente 19 milhões de habitantes em 774 municípios do Estado de Minas Gerais, e pela gestão da maior rede de distribuição de energia elétrica da América Latina, com mais de 400 mil km de extensão. A Cemig Distribuição S.A. foi constituída em 4 de agosto de 2004, sob a forma de sociedade por ações, como subsidiária integral da CEMIG, como resultado do processo de desverticalização, uma vez que a CEMIG era uma sociedade que atuava de forma integrada, concentrando as atividades de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Em referido processo, a totalidade dos ativos operacionais e não operacionais da CEMIG relacionados às atividades de distribuição de energia elétrica foram transferidos à Cemig Distribuição S.A., juntamente com os demais direitos e obrigações decorrentes da prestação de tais serviços. Segundo dados divulgados pela Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica, a empresa é uma das maiores concessionárias de distribuição de energia elétrica do Brasil, por sua 8 posição estratégica, competência técnica, tamanho de rede e mercado atendido. De acordo com informações da Agência Nacional de Energia Elétrica, a Cemig Distribuição S.A. é atualmente a principal empresa de distribuição de energia elétrica do Estado de Minas Gerais, o terceiro mercado consumidor do País, onde estão instaladas algumas das maiores empresas de siderurgia, mineração, automobilística e metalurgia. A empresa detém concessões para distribuição de eletricidade em uma área que abrange aproximadamente 96,7% do Estado de Minas Gerais. Na qualidade de companhia estatal, a empresa está sujeita a regras e limites aplicados a níveis de endividamento do setor público e a restrições sobre o uso de certos recursos captados, proporcionando dificuldades na obtenção de financiamentos. A legislação brasileira também estabelece que a empresa possa apenas utilizar os recursos decorrentes de operações externas com bancos comerciais (dívidas, incluindo títulos como debêntures) para refinanciar obrigações financeiras. Como resultado dessas regras, a capacidade de endividamento da empresa fica limitada, o que pode afetar negativamente a realização do seu plano de investimento. Figura 3 - Área de Atuação Fonte: Site da Cemig (acesso em 18 de fev. 2013). 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS Os resultados apresentados estão de acordo com as novas normas de contabilidade, dentro do processo de harmonização das normas contábeis brasileiras às normas internacionais (IFRS). Com a reclassificação das contas do Balanço Patrimonial de acordo com o modelo dinâmico de Fleuriet é possível obter as variáveis que afetam a capacidade financeira da empresa, de forma a analisar os resultados sob a ótica do modelo proposto bem como verificar o tipo de estrutura financeira adotada pela empresa. A Tabela 2 apresenta a nova estrutura do balanço patrimonial da Cemig Distribuição S.A. Tabela 2 - Variáveis do Modelo Dinâmico de Fleuriet. (Valores em mil R$) 2008 2009 2010 2011 2012 PNC - Passivo não circulante 5.482.592 4.863.637 6.998.911 7.853.192 5.391.326 ANC - Ativo não circulante Capital de Giro (CDG ou CCL) 5.545.400 -62.808 5.865.269 -1.001.632 6.285.578 713.333 7.524.814 328.378 8.837.566 -3.446.240 ACO - Ativo circulante operacional 2.392.675 2.543.784 2.614.452 2.400.843 2.534.449 PCO - Passivo circulante operacional 2.582.387 2.040.154 1.993.785 1.978.761 2.363.891 Necessidade de Capital de Giro (NCG) -189.712 503.630 620.667 422.082 170.558 ACF - Ativo circulante financeiro 442.421 246.201 503.409 532.296 268.859 PCF - Passivo circulante financeiro 315.517 1.751.463 410.743 626.000 3.885.657 Saldo de Tesouraria (ST) 126.904 -1.505.262 92.666 -93.704 -3.616.798 Indicador de Liquidez (ST/|NCG|) - 66,89 % - 298,88 % 14,93 % - 22,2 % - 2.120,57 % Empréstimos e Financiamentos (CP) 315.517 1.751.563 410.743 626.000 3.885.657 Empréstimos e Financiamentos (LP) 1.675.007 864.956 1.831.199 2.032.642 723.973 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados obtidos dos Balanços Patrimoniais. 9 A análise da Tabela 2 demonstra que nos anos de 2008, 2009 e 2012 o Capital de Giro (CDG) apresentou saldo negativo, o ativo permanente é maior do que o passivo permanente, significando que a empresa financia parte de seu ativo permanente com fundos de curto prazo, apresentando uma inadequação estrutural. Destaca-se que nos anos de 2009, 2011 e 2012 o Saldo de Tesouraria (ST) é negativo, o montante do Capital de Giro (CDG) não foi capaz de cobrir a Necessidade de Capital de Giro (NCG) e a empresa precisou recorrer a empréstimos via fontes onerosas de curto prazo, para assegurar a cobertura da parcela da NCG que o CDG não foi capaz de financiar, aumentando o risco de insolvência. A situação revelada no período analisado permite classificar a estrutura financeira da empresa no tipo IV, III e IV, respectivamente. Conforme a Figura 4, nos anos de 2009 e 2012 observa-se um aumento expressivo dos empréstimos e financiamentos de curto prazo (circulante), afetando diretamente o saldo de tesouraria, indicando que o autofinanciamento não é suficiente para financiar o aumento da Necessidade de Capital de Giro, obrigando a empresa, a recorrer às fontes de recursos de curto prazo. Figura 4 - Evolução dos Empréstimos e Financiamentos (Valores em mil R$) 4.000.000 3.500.000 3.000.000 Empréstimos e Financiamentos (CP) 521% 2.500.000 2.000.000 Empréstimos e Financiamentos (LP) 1.500.000 1.000.000 455% 500.000 0 2008 2009 2010 2011 2012 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos resultados da pesquisa. De acordo com Brasil e Brasil (1999), citados no referencial teórico, quando a Necessidade de Capital de Giro (NCG) cresce mais que proporcionalmente às fontes de Capital de Giro (CDG), tem-se a ocorrência do chamado Efeito Tesoura, conforme se observa na Figura 5. Figura 5 - Efeito Tesoura (Valores em mil R$) 800.000 400.000 0 -‐400.000 -‐800.000 -‐1.200.000 -‐1.600.000 -‐2.000.000 -‐2.400.000 -‐2.800.000 -‐3.200.000 -‐3.600.000 -‐4.000.000 2008 (-‐) T Efeito Tesoura (-‐) T Capital de Giro (CDG ou CCL) Necessidade de Capital de Giro (NCG) Saldo de Tesouraria (T) 2009 2010 2011 2012 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos resultados. 10 Em relação ao Indicador de Liquidez (IL), somente no ano de 2010 a empresa obteve resultado positivo. Nos demais anos a liquidez apresentou um panorama desfavorável, isso pode ser confirmado pela caracterização da situação financeira da empresa. A empresa financia ativos (necessidades) de longo prazo com recursos de curto prazo, a excessiva dependência de empréstimos e financiamentos a curto prazo torna a liquidez da empresa crítica. Abaixo, na Tabela 3, a ilustração da estrutura e situação financeira da empresa nos períodos analisados. Tabela 3 - Estrutura e situação financeira da Cemig Distribuição S.A. 2008 2009 2010 2011 2012 Capital de Giro (CDG) - - + + - Necessidade de Capital de Giro (NCG) - + + + + Saldo de Tesouraria (ST) + - + - - Tipo de Estrutura VI IV II III IV Situação Alto Risco Péssima Sólida Insatisfatória Péssima Fonte: Elaborado pelo autor com base nos resultados A Cemig Distribuição S.A. no ano de 2008 apresentou uma estrutura financeira do Tipo VI, arriscada, pois a CDG e NCG permanecem negativos, porém o valor da NCG é inferior ao do CDG. Essa circunstância permite que o ST seja positivo, e pode sinalizar para o fato de a empresa não está desempenhando suas operações de maneira adequada. Esse tipo de estrutura ainda indica que a empresa estaria desviando sobras de recursos de curto prazo para ativos não circulantes e mantendo um saldo positivo de tesouraria. De acordo com Braga (1991), uma situação como esta, em princípio, não se sustenta por muitos períodos. Somente no ano de 2010 a empresa apresenta um resultado favorável em relação aos demais exercícios analisados, caracteriza-se como sendo do tipo II, com uma situação financeira sólida. O valor positivo encontrado para as três variáveis revelou que o CDG foi mais do que suficiente para cobrir a NCG, sobrando, ainda, recursos que possivelmente foram investidos no curto prazo. Essa folga financeira da empresa proporcionou as condições necessárias para saldar os seus compromissos de curto prazo, apresentando uma liquidez eficiente. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo teve como objetivo analisar a estrutura e situação financeira da Cemig Distribuição S.A. no período de 2008 a 2012, aplicando o Modelo Dinâmico de Fleuriet. Essa análise auxiliou na avaliação da liquidez e solvência da empresa, como também identificou o tipo de estrutura financeira utilizada. O modelo proposto possibilitou uma análise econômico-financeira mediante a utilização das demonstrações financeiras dos períodos em estudo, principalmente do Balanço Patrimonial, que para tanto se ressalta a importância desses dados e a consequente reclassificação das contas, necessária ao cálculo das variáveis utilizadas pelo modelo dinâmico, deixando a cargo do autor a interpretação das contas. Porém, a Cemig Distribuição S.A., por ser uma empresa mista de capital aberto, tem obrigatoriedade em publicar suas demonstrações financeiras, o que reduz os possíveis equívocos na classificação das contas, permitindo uma maior fidedignidade na análise dos dados. Observou-se que a empresa objeto da análise, apresentou conformidades em relação à literatura de Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p. 13), tendo o saldo negativo do Capital de Giro (CDG) nos anos de 2008, 2009 e 2012, e principalmente uma liquidez negativa em quase todos os períodos analisados, que é um caso típico do setor de energia elétrica. Somente no ano de 2010 a situação financeira da empresa foi sólida. Uma das razões para o alto valor dos empréstimos e financiamentos de curto prazo, ou passivo circulante financeiro (passivo errático), no ano de 2009 foi, segundo informações do site da Cemig, devido à adoção das normas internacionais de contabilidade. Infere-se que o principal impacto decorrente dessa adoção é o não reconhecimento dos ativos e passivos regulatórios que resultou em ajustes relevantes nos balanços. Já no ano de 2012, o aumento do passivo circulante de empréstimos e financiamentos devese, de acordo com informações do site da Cemig, a contratos de empréstimos e financiamentos com 11 3 cláusulas restritivas, ou covenants , que em decorrência do descumprimento destas cláusulas e da empresa não conseguir o consentimento dos credores para que não fosse exigido o pagamento imediato ou antecipado dos montantes, essa dívida de longo prazo foi transferida para o curto prazo (passivo circulante). Conclui-se que nos anos de 2009 e 2012, a Necessidade de Capital de Giro (NCG) é superior ao Capital de Giro (CDG), à medida que as necessidades de giro são financiadas por empréstimos e financiamentos de curto prazo, há um aumento na diferença entre a NCG e o CDG. Este comportamento denomina-se efeito tesoura, que é um forte indicativo de que a Cemig Distribuição S.A. está aumentando seu risco de insolvência, o que exige dos gestores financeiros uma rápida intervenção, bem como a renegociação do perfil de vencimento dos empréstimos e financiamentos. No entanto, é importante salientar que além da empresa apresentar um fluxo de caixa regular de receitas operacionais face ao fato de deter concessões em um mercado cuja demanda é inflexível, por ser estatal sua situação econômico-financeira pode ser contornada em virtude das injeções de recursos sucedidos pelo seu acionista majoritário, neste caso o Governo do Estado de Minas Gerais. O Modelo Dinâmico possibilitou uma análise econômico-financeira de uma empresa do setor elétrico, dentro de suas limitações, visto que estudado de forma isolada a Cemig Distribuição S.A. evidencia uma situação financeira inadequada em quase todos os períodos analisados, mas mesmo com uma liquidez negativa é capaz de suportar seu nível de atividade devido às entradas de caixa que são altamente previsíveis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSAF NETO, Alexandre; SILVA; César Augusto Tibúrcio. Administração do capital de giro. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DISTRIBUIDORES DE ENERGIA ELÉTRICA - ABRADEE. Dados divulgados em pesquisa elaborada em 2011. Disponível em <http://www.abradee.org.br/> Acesso em 22 de mar. 2013. BM&FBOVESPA. Relatórios Financeiros. Disponível em<http://www.bmfbovespa.com.br> Acesso em 06 de abr. 2013. BRAGA, Roberto. Análise avançada do capital de giro. Caderno de Estudos nº 3. São Paulo: FIPECAFI, setembro/1991. BRASIL, Haroldo Vinagre; BRASIL, Haroldo Guimarães. Gestão Financeira das empresas: um modelo dinâmico. 4ª ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999. COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS - CEMIG. Relações com Investidores. Informações Financeiras da Cemig Distribuição S.A. - ³&HPLJ'´'LVSRQtYHOHPhttp://cemig.infoinvest.com.br/> Acesso em 18 de fev. 2013. FIPECAFI - Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras. Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações (Aplicável às demais sociedades) Rumo às Normas Internacionais. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2009. FLEURIET, Michel; KEHDY, Ricardo; BLANC, Georges. O Modelo Fleuriet - A dinâmica das empresas brasileiras: Um método de análise, orçamento e planejamento financeiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003 - 11ª reimpressão. GITMAN, Lawrence J. Princípios da Administração Financeira. 12ª ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. MARQUES, José Augusto da Costa; BRAGA; Roberto. Análise Dinâmica do Capital de Giro: O Modelo Fleuriet. Revista de Administração de Empresas (RAE), v.35, n.3, p. 49-63, maio/jun., 1995. MENDONÇA, Ricardo R. S. Apostila de Metodologia Científica do Curso de MBA em Finanças. Juiz de Fora: Faculdade de Administração e Ciências Contábeis - UFJF, 2012. OLIVEIRA, S. L. Tratado de Metodologia Científica: projetos de pesquisas TGI, TCC, monografias, dissertações e teses. São Paulo: Pioneira Thonsom Learning, 1997. VIEIRA, Marcos Vilela. Administração estratégica do capital de giro. 1ª ed. São Paulo: Atlas, 2005. 3 Covenants - Termo que vem do inglês e significa acordo. Trata-se de uma restrição legal imposta nos contratos de emissão de títulos, ou financiamentos, nos quais o tomador de crédito tem suas atividades restritas e cujo objetivo é dar mais segurança ao financiador. 12