A PEDAGOGIA VIVENCIAL NA AUTOFORMAÇÃO HUMANESCENTE: O SER DA TERRA COMO CONDIÇÃO HUMANA NA IDENTIDADE TERRENA Narla Sathler Musse de Oliveira IFRN/RN-UFRN/PPGED/BACOR RESUMO A autoformação de educadores como seres humanescentes e ludopoiéticos que vivenciam sua corporeidade em suas interações no ensinar e aprender é singular e bela. Este projeto de extensão foi desenvolvido no ano de 2009 com um grupo de 20 alunos da Licenciatura em Geografia do IFRN. Teve como objetivo compreender e interpretar as vivências ludopoiéticas no Jogo de Areia e seu impacto para a autoformação humanescente, com base nos sete saberes para a educação do futuro e nos pilares da educação. As vivências centraram-se na tatilidade como sentipensar o corpo em sua inteireza levando o sujeito a experienciar sua identidade terrena no processo da autoecorreferencialidade, cuja perspectiva é a autoformação humanescente. Palavras-chave: Corporeidade, Pedagogia Vivencial, Autoformação Humanescente, Ludopoiese, Identidade Terrena INTRODUÇÃO Este projeto de extensão foi desenvolvido no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte - IFRN, campus Natal Central, que é uma instituição centenária voltada para a formação de técnicos de nível médio. Atualmente atua também na graduação tecnológica, licenciaturas e pós-graduação. O referido projeto foi realizado com o envolvimento de 20 alunos do curso de Licenciatura em Geografia, entre fevereiro e dezembro de 2009. Teve como ponto de partida os sete saberes para a educação do futuro (MORIN, 2000) e os pilares da educação (DELORS, 1999) permeando o diálogo entre os conteúdos de Informática, Língua Portuguesa, Geografia, Artes, Sociologia, e os temas transversais: meio ambiente, ética e pluralidade cultural. As vivências centraram-se na tatilidade como sentipensar o corpo em sua inteireza. Entendendo a tatilidade como fenômeno de apreensão do mundo pelo ser humano que permite sua interação sensitiva e cinestésica com todos os seres da natureza. Está intimamente relacionado com sua corporeidade e, portanto, é responsável pela qualidade e quantidade das emoções que se revela e se vivencia no mundo. (MONTAGU, 1988; FINNEGAN, 2005). O despertar deste fenômeno levou os participantes a vivenciarem sua condição humana como processo da autoeco- humanescencialidade e experienciarem sua identidade terrena como processo da autoecorreferencialidade que perspectivam a autoformação humanescente (CAVALCANTI, 2010). O objetivo deste projeto foi compreender e interpretar as vivências ludopoieticas no Jogo de Areia mediadas pela tatilidade e seu impacto para a autoformação humanescente. Assim foram realizadas três vivências, intituladas: O Ser-Estar no mundo; Metamorfoses das Representações de Si; As Lembranças Mediadas pela Tatilidade. Durante as vivências, o entrelaçamento dos saberes necessários à educação do futuro com os pilares da educação evidenciou a existência de diferentes processos de autoformação ludopoiética humanescente. As vivências centraram-se na tatilidade como sentipensar o corpo em sua inteireza. O SER-ESTAR NO MUNDO Na primeira vivência os participantes usaram o correio eletrônico para falar de seu momento presente e as diferentes formas como estavam vivenciando o seu Ser-Estar no mundo, como seres humanescentes capazes de irradiar energia luminescente quando vivem e vivenciam situações e emoções que possibilitam a liberação de um fluxo energético multidirecional e multifocal para si, os outros e o entorno (CAVALCANTI, 2006). Para muitos, as interações virtuais são destituídas de afetividade e, os contatos pelo correio eletrônico podem significar distanciamento do sujeito com o outro, porém, esta vivência mostrou que essa forma de interação criou um campo energético de aproximação e de preparação para os contatos com mais proximidade corporal. Os alunos reagiram positivamente a essas interações e se sentiram confortáveis e abertos para o fluxo de informações e também para dar continuidade ao canal comunicacional aberto, vivenciando sua tatilidade virtual. METAMORFOSES DAS REPRESENTAÇÕES DE SI Nesta vivência de caráter presencial os participantes receberam uma caixa com vários materiais: canetas, papel colorido, tecidos e miniaturas diversas e, um texto escrito do educador Rubem Alves (2009). Após a leitura e discussão do texto, que tratou sobre a caixa de brinquedos e a caixa de ferramentas, os participantes foram levados a refletir sobre a importância de ver as “caixas” em suas vidas de forma diferenciada, priorizando a ludicidade e a alegria de ser e estar no mundo, vivenciando sua condição humana. Em seguida, foi solicitado que cada participante se apropriasse daquela caixa na forma que lhe conviesse, como ferramenta ou como brinquedo e realizasse uma representação de si próprio no mundo, usando o Jogo de Areia. A sistematização do Jogo de Areia como estratégia metodológica vivencial vem sendo realizada pela Linha de Pesquisa Corporeidade e Educação no PPGED/UFRN. O Jogo de Areia tem caráter transdisciplinar, que possibilita o fluir da imaginação, ludicidade, criatividade e reflexividade (CAVALCANTI, 2008), mediados pela tatilidade. O Jogo de areia tem sido usado sistematicamente em diferentes abordagens pedagógicas tais como na discussão de conceitos como inclusão, escala, espaço geográfico; na avaliação e nas representações tridimensionais para o trabalho com pessoas cegas. E sua aplicação tem revelado resultados surpreendentes na produção de conhecimento, na exploração da ludicidade e na capacidade criativo-simbólica dos alunos que, ao construir seus cenários, criam e, criando, brincam e, brincando, constroem conhecimentos (MUSSE,2007; 2008a,b). É no momento de descrição dos cenários que se necessita de um ouvinte sensível, capaz de perceber o que o outro diz e compreender o imaginário que se desenha. É onde emerge a reflexibilidade vivencial numa dimensão transdisciplinar. Depois da construção dos cenários os participantes refletiram sobre sua condição humana no processo singular da autoeco-humanescencialidade, como seres capazes de irradiar alegria, sensibilidade e criatividade para si, para os outros e o seu entorno, evidenciando sua dimensão ontológica, reconhecendo sua complexidade vivencial e entendendo sua identidade terrena no processo subjetivo de implicabilidade da sua autoecorreferencialidade. Para tal, foi primordial, o enfrentamento das incertezas, a compreensão e a ética permeando a construção do conhecimento como um processo vivencial de múltiplos atores e diferentes interações, com momentos de incertezas, bifurcações e flutuações (MORAES, 2008). AS LEMBRANÇAS MEDIADAS PELA TATILIDADE Nesta vivência foram disponibilizadas bandejas com areias com texturas e cores diferentes conferidas pela granulometria e composição química. Foi solicitado que cada um colocasse uma luva de látex e entrasse em contato com a areia. Eles deveriam fechar os olhos e se entregarem ao fluxo emocional e as sensações táteis proporcionadas pela tatilidade. Posteriormente foi solicitado que eles retirassem as luvas e de novo entrassem em contato com a areia, para experienciar o contato direto com a terra e a pele nua. Após a vivência, os depoimentos das sensações diante as possibilidades sensoriais da tatilidade como mediadora das emoções e fluxo de lembranças, evidenciaram que nossos sentidos dialogam e permitem que possamos ser remetidos a outros espaços e tempo da memória. As mãos sentem a areia, mas é a corporeidade que se encarrega de remeter os pensamentos, as sensações e as emoções a um espaço tempo muito diferente daquele presente. O corpo existe, está definido e desenhado como característica genética de cada ser no mundo, mas a corporeidade é que possibilita o envolvimento e movimento dos seres por meio de suas emoções e sentimentos (ASSMANN, 1995). AVALIANDO AS VIVÊNCIAS As vivências foram avaliadas principalmente através do Jogo de Areia que foi utilizada como vivência ludopoiética e também como ferramenta de avaliação. Foi possível observar a formação de uma rede de conhecimentos e processos reflexivos que permearam a autoformação dos participantes. Ao montar seus cenários, descrevê-los e falar de si, os participantes se reconheceram como filhos da terra, capazes de cuidar do planeta, preservando-o para vivenciá-lo de forma livre e brincante. Reconheceram também a importância de estarem abertos e aceitarem as novas tecnologias como estratégia pedagógica para a construção de conhecimento e como novo instrumento da educação. Nas vivências os participantes refletiram sobre os diferentes conhecimentos que participaram do processo dialógico, epistemológico e ontológico na autoformação humanescente. Foram necessários os conhecimentos de Informática, Língua portuguesa, Geologia, Estética, Meio ambiente, Ética e pluralidade cultural mediados pelo Fazer e Ser na Teia da Corporeidade, permeados pela ludicidade, criatividade, sensibilidade e reflexividade. A autoformação humanescente como processo transdisciplinar envolve a transformação inter e transpessoal, vivenciada recursivamente ao longo da vida, revelando a cada instante uma capacidade única de auto-organização e de autoregulação dos próprios processos vitais (MATURANA CAVALCANTI, 2006). e VARELA 2001; Assim, diante das revelações do Jogo de Areia, das emoções vividas e expressadas nos depoimentos dos participantes, reconhecemos a necessidade de se desenvolver metodologias centradas na tatilidade como sentipensar o corpo em sua inteireza levando o sujeito a viver sua corporeidade e experienciar sua identidade terrena vivenciando a sua condição humana no processo da autoeco- humanescencialidade. REFERÊNCIAS ALVES, Rubem. A caixa de brinquedos. Disponível em: http://www.rubemalves.com.br/acaixadebrinquedos.htm> Acesso em 02 mar. 2009. < ASSMANN, Hugo. Paradigmas educacionais e corporeidade. 3ªed. Piracicaba: Unimep, 1995. CAVALCANTI, Katia Brandão. Para abraçar a humanescência na pedagogia vivencial. Trabalho apresentado no XIII Endipe. Recife, 2006. _____O Sandplay na Memória e no Projeto do Lazer: Para a Autoformação Humanescente de Educadores-Pesquisadores. In: IX Seminário Lazer em Debate, 2008, São Paulo: CELAR- UFMG/USP Leste, 2008. v. I. p. 1-8. ____ Comunicação verbal, 2010. DELORS, Jacques. (Org) Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: Unesco, 1999. FINNEGAN, Ruth. Tactile: communication. In: CLASSEN, Constance (Ed). The book of touch. New York: Berg, 2005. MATURANA, Humberto; VARELA, Francisco. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. Palas Athena, 2001. MONTAGU, Ashley. Tocar: O significado humano da pele. 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As vivências centraram-se na tatilidade como sentipensar o corpo em sua inteireza levando o sujeito a experienciar sua identidade terrena no processo da autoecorreferencialidade, cuja perspectiva é a autoformação humanescente O SER-ESTAR NO METAMORFOSES AS LEMBRANÇAS MUNDO DAS MEDIADAS PELA REPRESENTAÇÕES TATILIDADE DE SI imagens imagens imagens A partir das revelações do Jogo de Areia e das emoções vividas e expressadas nos depoimentos dos participantes, reconhecemos a necessidade de se desenvolver metodologias centradas na tatilidade como sentipensar o corpo em sua inteireza levando o sujeito a viver sua corporeidade e experienciar sua identidade terrena vivenciando a sua condição humana no processo da autoeco-humanescencialidade.