CATÁLOGO N. 53 Éditions du Festival Sete Sóis Sete Luas 1) El puerto de las Maravillas – Los navios antiguos de Pisa, 2001. T. Stefano Bruni e Mario Iozzo. Ed. PT, ES 2) Maya Kokocinsky, Translusion II, 2002. T. Pinto Teixeira. Introduction de Oliviero Toscani. Ed. PT, ES. 3) Oliviero Toscani, Hardware+Software=Burros, 2002. Ed. IT, PT. 4) As personagens de José Saramago nas artes, 2002. Introduction de José Saramago. Ed. PT. 5) Stefano Tonelli, Nelle pagine del tempo è dolce naufragare (2002). Ed. IT, PT. 6) Luca Alinari, Côr que pensa, 2003. Ed. PT, ES. 7) Riccardo Benvenuti, Fado, Rostos e Paisagens, 2003. Ed. IT, PT. 8) Antonio Possenti, Homo Ludens, 2003. T. John Russel Taylor et Massimo Bertozzi. Introduction de José Saramago. Ed. IT, PT. 9) Metropolismo – Communication painting, 2004. T. Achille Bonito Oliva. Ed. IT, PT. 10) Massimo Bertolini, Através de portas intrasponíves, 2004. Ed. IT, PT. 11) Juan Mar, Viaje a ninguna parte, 2004. Introduction de José Saramago. Ed. IT, PT. 12) Paolo Grimaldi, De-cuor-azioni, 2005. T. de Luciana Buseghin. Ed. IT, PT. 13) Roberto Barni, Passos e Paisagens, 2005. T. Luís Serpa. Ed. IT, PT. 14) Simposio SSSL: Bonilla, Chafer, Ghirelli, J.Grau, P.Grau, Grigò, Morais, Pulidori, Riotto, Rufino, Steardo, Tonelli, 2005. Ed.: ES, IT, PT. 15) Fabrizio Pizzanelli, Mediterrânes Quotidianas Paisagens, 2006. Ed. IT, PT. 16) La Vespa: un mito verso il futuro, 2006. T. Tommaso Fanfani. Ed. ES, VAL. 17) Gianni Amelio, O cinema de Gianni Amelio: a atenção e a paixão, 2006. T. Lorenzo Cuccu. Ed. PT. 18) Dario Fo e Franca Rame, Muñecos con rabia y sentimento – La vida y el arte de Dario Fo y Franca Rame (2007). Ed. ES. 19) Giuliano Ghelli, La fantasia rivelata, 2008. T. Riccardo Ferrucci. Ed. ES, PT. 20) Giampaolo Talani, Ritorno a Finisterre, 2009. T. Vittorio Sgarbi et Riccardo Ferrucci. Ed. ES, PT. 21) Cacau Brasil, SÓS, 2009. Ed. PT. 22) César Molina, La Spirale dei Sensi, Cicli e Ricicli, 2010. Ed. IT, PT. 23) Dario Fo e Franca Rame, Pupazzi con rabbia e sentimento. La vita e l’arte di Dario Fo e Franca Rame, 2010. Ed. IT. 24) Francesco Nesi, Amami ancora!, 2010. T. Riccardo Ferrucci. Ed. PT, ES. 25) Giorgio Dal Canto, Pinocchi, 2010. T. Riccardo Ferrucci e Ilario Luperini. Ed. PT. 26) Roberto Barni, Passos e Paisagens, 2010. T. Giovanni Biagioni e Luís Serpa. Ed. PT. 27) Zezito - As Pequenas Memórias. Homenagem a José Saramago, 2010. T. Riccardo Ferrucci. Ed. PT. 28) Tchalê Figueira, Universo da Ilha, 2010. T. João Laurentino Neves et Roger P. Turine. Ed. IT, PT. 29) Luis Morera, Arte Naturaleza, 2010. T. Silvia Orozco. Ed. IT, PT. 30) Paolo Grigò, Il Volo... Viaggiatore, 2010. T. Pina Melai. Ed. IT, PT. 31) Salvatore Ligios, Mitologia Contemporanea, 2011. T. Sonia Borsato. Ed. IT, PT. 32) Raymond Attanasio, Silence des Yeux, 2011. T. Jean-Paul Gavard-Perret. Ed. IT, PT. 33) Simon Benetton, Ferro e Vetro - oltre l’orizzonte, 2011. T. Giorgio Bonomi. Ed. IT, PT. 34) Noé Sendas, Parallel, 2011. T. Paulo Cunha e Silva & Noé Sendas. Ed. IT, PT, ENG. 35) Abdelkrim Ouazzani, Le Cercle de la Vie, 2011. T. Gilbert Lascault. Ed. IT, PT. 36) Eugenio Riotto, Chant d’Automne, 2011. T. Maurizio Vanni. Ed. IT, PT. 37) Bento Oliveira, Do Reinado da Lua, 2011. T. Tchalê Figueira e João Branco. Ed. IT, PT. 38) Vando Figueiredo, AAAldeota, 2011. T. Ritelza Cabral, Carlos Macedo e Dimas Macedo. Ed. IT, PT. 39) Diego Segura, Pulsos, 2011. T. Abdelhadi Guenoun e José Manuel Hita Ruiz. Ed. IT, PT. 40) Ciro Palumbo, Al di là della realtà del nostro tempo, 2011. T. A. D’Atanasio e R. Ferrucci. Ed. PT, FR. 41) Yael Balaban / Ashraf Fawakhry, Signature, 2011. T. Yeala Hazut. Ed. PT, IT, FR. 42) Juan Mar, “Caín”, duelo en el paraíso, 2012. T. José Saramago e Paco Cano. Ed. PT, IT 43) Carlos Macêdo / Dornelles / Zediolavo, Caleidoscópio, 2012. T. Paulo Klein e C. Macêdo. Ed. PT, IT. 44) Mohamed Bouzoubaâ, “L’Homme” dans tous ses états, 2012. T. Rachid Amahjou e A. M’Rabet. Ed. PT, IT, FR. 45) Moss, Retour aux Origines, 2012. T. Christine Calligaro e Christophe Corp. Ed. PT, IT. 46) José Maria Barreto, Triunfo da Independência Nacional, 2012. T. Daniel Spínola. Ed. PT, IT. 47) Giuliano Ghelli, La festa della pittura, 2012. T. Riccardo Ferrucci. Ed. PT, FR. 48) Francesco Cubeddu e Marco Pili, Terre di Vernaccia, 2012. T. Tonino Cau. Ed. PT, FR. 49) Rui Macedo, De Pictura, 2012. T. Maria João Gamito. Ed. IT, FR. 50) Angiolo Volpe, Passaggi pedonali per l’ infinito, 2012. T. Riccardo Ferrucci. Ed. PT, IT. 51) Djosa, Criôlo, 2012. T. Jesus Pães Loureiro e Sebastião Ramalho. Ed. PT, IT, FR. 52) Marjorie Sonnenschein, Trajetória, 2013. T. Marcelo Savignano. Ed. PT, IT. 53) Ilias Selfati, Arrest, 2013. T. Marie Deparis-Yafil. Ed. PT, IT, FR. Ilias Selfati Arrest Festival Sete Sóis Sete Luas Arrest “Arrest” Ilias Selfati (Morocco) Pontedera (Tuscany, Italy), 08.03.2013 – 30.03.2013, Centrum Sete Sóis Sete Luas Ponte de Sor (Alentejo, Portugal), 04.05.13 – 25.05.13, Centrum Sete Sóis Sete Luas Promoted Ass. Cult. Sete Sóis Sete Luas Comune di Pontedera Câmara Municipal de Ponte de Sor Coordination Marco Abbondanza (Ass. Cult. Sete Sóis Sete Luas) Câmara Municipal de Ponte de Sor Pedro Gonçalves (Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sor) Production Coordination Maria Rolli (Ass. Cult. Sete Sóis Sete Luas) Installation assistant João Paulo Pita (Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sor) Raquel Raposo (Ass. Cult. Sete Sóis Sete Luas) Administration Sandra Cardeira (Ass. Cult. Sete Sóis Sete Luas) Graphic Design Sérgio Mousinho (Ass. Cult. Sete Sóis Sete Luas) Press Office Sara Valente (Ass. Cult. Sete Sóis Sete Luas) Printed Bandecchi & Vivaldi, Pontedera Info www.7sois.eu [email protected] Projet cofinancé par la Fondation Anna Lindh www.euromedalex.org “Perpétuel insatisfait, Selfati poursuit un travail sur la forme et avance sans regarder en arrière. Il donne l’impression de quelqu’un qui a un itinéraire et qui le poursuit avec une sérénité apparente mais qui cache au fond une grande intranquillité. Selfati trace son chemin, prenant des risques au point de surprendre et de désarçonner ceux qui le suivent depuis le début. Il a raison de ne pas céder à la tentation des origines, de ne pas se laisser prendre par l’appel des racines, celles qui réduiront forcément son champ de travail. Ni nostalgie, ni folklore. Là réside son originalité. Elle existe par elle-même et non en référence à une tendance ou à une appartenance géographique ou culturelle.” Tahar Ben Jelloun Arrest 6 Recebemos Ilias Selfati em Ponte de Sor, na rede do Festival Sete Sóis Sete Luas com enorme carinho, sabendo que o enriquecimento das nossas comunidades neste projecto ímpar a nível europeu será profundamente importante e motivador. Ponte de Sor sente-se feliz em receber no Centrum Sete Sóis Sete Luas / Centro de Artes e Cultura tão importante manifestação, fazendo votos que tal seja do agrado de todos, pois esta multiplicidade cultural permite augurar um futuro cada vez mais promissor. Dr. João José de Carvalho Taveira Pinto Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Sor Arrest CENTRUM SETE SÓIS SETE LUAS Centros para as Artes do Mediterrâneo e do mundo lusófono Os Centrum Sete Sóis Sete Luas: - são portos em terra: espaços estáveis sem fronteiras. Tal como portos são locais de passagem, de encontro e de diálogo intercultural, onde ecoam as ondas da cultura mediterrânica e do mundo lusófono. Tal como portos são abertos, sem fronteiras. Mas estão em terra. Estão ancorados às raízes do território que os viu nascer e os acolheu. São espaços de socialização, confronto e descoberta para a população local. - são oficinas artísticas onde importantes personagens do mundo mediterrânico e lusófono chegam, encontram inspiração, criam, dialogam, partilham e partem rumo a novos portos. - são locais de sinergia entre arte, música, turismo cultural e promoção do território. - são projectos arquitectónicos de recuperação de edifícios antigos, abandonados. Produção, exposição e residências artísticas, laboratórios de criatividade, encontros multiculturais, debates, video-conferências, apresentações, concertos e aperitivos: estas são as principais actividades que animam as “casas” do Festival Sete Sóis Sete Luas. A ampla programação artística, da responsabilidade da associação Sete Sóis Sete Luas, prevê anualmente 7 a 10 projectos de dimensão internacional em cada Centrum SSSL, promovidos de forma coordenada nos portos internacionais SSSL (com a mesma imagem, o mesmo plano de comunicação e o mesmo dia de inauguração) e cujos protagonistas são diversos: os prestigiosos artistas, reconhecidos no seu país de origem, mas não ainda a nível internacional; os jovens talentos; os estudantes que participam nos laboratórios e nos programas de intercâmbio entre as cidades da Rede SSSL. Anualmente 7.500 visitantes e mais de 35 prestigiosos artistas do Mediterrâneo passam pelas casas do Festival SSSL. Elementos em comum são: - o nome: Centrum Sete Sóis Sete Luas; - a imagem do Centrum SSSL: o mosaico de uma onda que se estende sinuosa pela parede externa com os nomes das cidades que fazem parte da Rede dos Centrum SSSL; - a possibilidade de fazer ligações em directo, através da internet, com os diversos Centrum SSSL nos vários países; - um espaço dedicado à colecção permanente, com a memória da actividade local e internacional do Festival SSSL; - uma sala dedicada às exposições temporárias; - um laboratório de criação onde os artistas podem realizar as suas obras durante as residências; - uma art-library e um bookshop onde são apresentados ao público todas as produções culturais, artísticas, editoriais, gastronómicas do Festival Sete Sóis Sete Luas: cd’s, dvd’s, livros, catálogos e os produtos enogastronómicos e artesanais mais representativos dos Países da Rede SSSL; - uma sala de conferências para encontros, apresentações, debates, concertos, inaugurações… - quartos para os jovens estagiários da Rete SSSL e para os artistas; - um jardim mediterrânico e/o atlântico; Estão neste momento activos os Centrum SSSL de Pontedera (Itália), Ponte de Sor (Portugal) e Frontignan (França). O projecto prevê ainda a criação de outros Centrum SSSL no Brasil (em Aquiraz, no estado do Ceará), em Cabo Verde (na Ribeira Grande, ilha de Santo Antão), em Marrocos (Tanger), na Espanha (em Tavernes de la Valldigna, na região de Valencia). Marco Abbondanza Director do Festival Sete Sóis Sete Luas Arrest « Arrest » - Ilias Selfati A exposição «ARREST» no Centro Sete Sóis Sete Luas apresenta uma nova série de telas do artista marroquino Ilias Selfati. Suspensas em dípticos, as obras – nas quais se revela o fascínio do artista pelo negro, como já aconteceu em muitas outras ocasiões – colocam pela primeira vez em paralelo dois universos que o artista terá sem dúvida explorado noutras séries do passado, mas sem nunca as ter colocado em confrontação desta forma. Assim, este encontro inédito abre novos horizontes de reflexão e inaugura uma dinâmica interna para as imagens, onde se torna mais claro um sentido e um discurso. Através desta escolha, mais do que simplesmente cenográfica, Selfati revela de uma forma explícita, como nunca antes o fez, o que o preocupa e inquieta, e também o seu olhar de homem comprometido que se pousa sobre o mundo contemporâneo. Em cada painel dos dípticos expostos, é notoriamente reconhecível a atenção particular que Selfati dedica à representação da natureza, seja ela botânica ou zoológica. A figura animal recorrente – a representação do cavalo, por exemplo –, atua tanto a nível figurativo como na sua dimensão simbólica, podendo a vida animal ser imaginada – fantasiada – como símbolo de liberdade, mas também, diríamos nós, de uma liberdade primitiva, o “ser selvagem sem propósito”. Não é demais recordar que o cavalo, que Selfati pôde pintar e desenhar tantas vezes, é sem dúvida um dos animais simbolicamente mais dotados de significado: desde os mitos ctónicos às narrações iniciáticas, ele encarna a domesticação e o “selvagem domado”. Em Selfati, estas figuras ou motivos saídos do seu pendor pela natureza voltam vezes sem conta; mas eis que aqui aparecem em diálogo com imagens novas, como uma incessante dança, um vaivém permanente entre dois tipos de imagens ligadas entre si, tanto através das formas como através dos conteúdos significantes, que se parecem confrontar. Imagens exumadas da memória, pedaços de recordações, ecos da infância, impressões. Acima de tudo, porém, as sensações do contacto com a natureza. E depois o preto, em todas as suas formas e matizes. Velaturas de preto sobre negro, ou preto escuro sobre fundo claro, Selfati cria jogos de sombra, ocupa-se das opacidades que absorvem a luz, dos contrastes que a restituem, dos claroescuros mais delicados do que gráficos. “O belo deixa de existir se suprimirmos os efeitos de sombra” escrevia Tanizaki*. Que estranho fascínio pela beleza da sombra, para alguém que, utilizando as palavras de Pierre Loti, viveu a sua infância debaixo do “sudário branco” da luz de Tânger! Mais do que as encruzilhadas do Oriente, Selfati produz uma estética nutrida com o seu cosmopolitismo que, de uma forma ou de outra, aprendeu a beleza dos contrastes. A estas imagens refletivas intimamente ligadas ao passado e à infância, justapõemse outras imagens, aquelas que surgem do mundo mediático em que vivemos, tão evanescentes e fugazes que as impressões do passado podem a revelar-se como uma obstinação. Desde há alguns anos que Ílias Selfati recolhe fotografias, provenientes em grande parte da imprensa quotidiana espanhola, fotografias que mostram detenções, muitas vezes tiradas ao vivo no decorrer da ação e sem qualidade plástica, e que constituem, assim, o material que lhe virá a servir para Arrest. Passadas pelo filtro da sua energia criativa e do seu savoir-faire, estas imagens “documentais” de detenções, quase irreconhecíveis enquanto tais, vêem-se transformadas plástica e esteticamente. Aqui chegamos àquela que parece ser a principal preocupação do artista. Na paleta de pretos desenham-se silhuetas, quase minimalistas. As formas arquetípicas, por vezes no limite da abstração, parecem querer libertar uma essência das formas, como uma tentativa de alcançar “a própria essência das coisas”, sejam quais forem as suas variações reais. No campo do reconhecimento, o objecto real tem, sem dúvida, menos importância do que a sensação da sua presença. Da sobriedade e do rigor das obras de Selfati propaga-se um essencialismo subtil, que tem a ambição de levar as imagens da atualidade até uma forma de eternidade. Contudo, esta preocupação formal do artista não deve ocultar a natureza política das suas reflexões, aqui posta em evidência através da apresentação das obras em dípticos que, com clareza, permitem que emirjam os antagonismos. Vemos por um lado, uma representação recorrente – na obra do artista – da natureza, entendida como lugar por excelência do mistério, dos mitos e dos Arrest símbolos mas também, e acima de tudo, como princípio de proteção, pacificação e permanência. Por outro lado, mostrando o funcionamento dos aparelhos repressivos estatais em plena ação, a representação paroxística da violência humana e, em particular – e isto não será certamente um acaso – da violência instituída, não permanente e sujeita ao arbitrário. É evidente que seria necessário evitar o escolho do maniqueísmo, imaginando uma natureza despojada de qualquer poder destruidor e uma humanidade política consagrada ao reino da lei do mais forte, se uma tal oposição de forças presentes não evidenciasse a questão da intencionalidade da violência do homem para com o homem, dos problemas de poder e de dominação que ela coloca e aos quais o mundo está longe de ser poupado. Nestas “detenções”, a coação dos corpos representada por Selfati revela o famoso paradoxo da violência instituída, da repressão estatal, tanto no totalitarismo como na democracia, a “violência legítima” da qual os Estados detém o monopólio, de acordo com a expressão de Max Weber**. Para Selfati, contra esta liberdade oprimida pela provável necessidade de uma ordem que nós temos de produzir, parece erguer-se a de uma natureza traçada como uma utopia, ou então que se tornaria (de novo) numa nova utopia, talvez num paraíso perdido que se teria de conquistar como uma nova Arcádia. Artista comprometido com o seu tempo, Selfati convida-nos a observar o mundo atual através do prisma da sua arte, romântica à sua maneira, mais melancólica do que nostálgica, de um romantismo contemporâneo alimentado pela observação das derivas das nossas sociedades contra as pessoas, desde a guerra à obsessão pela segurança, desde o terrorismo ao imperialismo mercantil. Marie Deparis-Yafil Janeiro 2013 * Junichiro Tanizaki, Elogio da sombra, 1933 ** Max Weber, O sábio e o político, 1919 13 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 Mi menor lápis grafite, 72,5x110cm CENTRUM SETE SÓIS SETE LUAS Centro per le Arti del Mediterraneo e del mondo lusofono I Centrum Sete Sóis Sete Luas: - sono porti di terra: spazi stabili senza frontiere. Del porto hanno l’essere luoghi di passaggio, d’incontro e di dialogo interculturale in cui riecheggiano le onde delle culture mediterranee e del mondo lusofono. Del porto hanno l’essere aperti, senza frontiere. Ma sono di terra. Sono ancorati alle radici del territorio che li ha visti nascere e li ospita. Sono spazi di aggregazione, confronto e scoperta per la popolazione locale. - sono officine artistiche in cui importanti personaggi del mondo mediterraneo e lusofono trovano ispirazione, sostano, creano, dialogano, condividono e ripartono. - sono luoghi di sinergia tra arte, musica, turismo culturale e promozione del territorio. - sono nati da progetti architettonici di recupero di edifici in disuso. Produzioni, esposizioni e residenze artistiche, laboratori di creatività, incontri multiculturali, dibattiti, video-conferenze, presentazioni, concerti e aperitivi: queste sono le principali attività che animano le “case” del Festival Sete Sóis Sete Luas. L’ampia programmazione artistica, di responsabilità dell’associazione Sete Sóis Sete Luas, prevede 7-10 progetti di dimensione internazionale annui in ogni Centrum SSSL, che vengono promossi in maniera coordinata nei porti internazionali SSSL (con la stessa immagine, lo stesso piano di comunicazione e lo stesso giorno d’inaugurazione) ed i cui protagonisti sono molteplici: i prestigiosi artisti, affermati e quotati nel proprio paese d’origine ma non ancora a livello internazionale; i giovani talenti; gli studenti che partecipano ai laboratori ed ai programmi di scambio tra le città delle Rete SSSL. Annualmente 7.500 visitatori e più di 35 prestigiosi artisti del Mediterraneo passano per le case del Festival SSSL. Arrest Elementi comuni sono: - il nome: Centrum Sete Sóis Sete Luas; - l’immagine simbolo del Centrum SSSL: un’onda mosaico si snoda sinuosa sulla parete esterna con i nomi delle città che fanno parte della Rete dei Centrum SSSL; - la possibilità di collegare in diretta, attraverso internet, i diversi Centrum SSSL nei vari paesi; - uno spazio dedicato alla collezione permanente, depositario della memoria delle attività locali ed internazionali del Festival SSSL; - una sala dedicata alle mostre temporanee; - un laboratorio di creazione dove gli artisti potranno realizzare le loro opere durante le residenze; - un art-library e un bookshop dove vengono presentate al pubblico tutte le produzioni culturali, artistiche, editoriali, gastronomiche del Festival Sete Sóis Sete Luas: cd’s, dvd, libri, cataloghi e i prodotti enogastronomici e artigianali più rappresentativi dei Paesi della Rete SSSL; - una sala conferenze per incontri, presentazioni, dibattiti, concerti, inaugurazioni… - foresterie per i giovani stagisti della Rete SSSL e per gli artisti; - un giardino mediterraneo e/o atlantico; Sono al momento attivi i Centrum SSSL di Pontedera (Italia), Ponte de Sor (Portogallo) e Frontignan (Francia). Il progetto prevede la creazione di altrettanti Centri in Brasile (ad Aquiraz, nello stato del Ceará), a Capo Verde (a Ribeira Grande, nell’isola di Santo Antão), in Marocco (a Tangeri) e in Spagna (a Tavernes de la Valldigna). Marco Abbondanza Direttore del Festival Sete Sóis Sete Luas « Arrest » - Ilias Selfati Al Centrum Sete Sóis Sete Luas, l’esposizione «ARREST» presenta una nuova serie di tele dell’artista marocchino Ilias Selfati. Appese in dittici, le opere, in cui si esprime – come accade spesso – il fascino dell’artista per il nero, mettono a confronto per la prima volta due universi che l’artista ha senza dubbio esplorato in altre serie passate, ma non ha mai messo così a confronto. Quest’incontro inedito apre allora nuovi orizzonti di riflessione ed inaugura una dinamica interna alle immagini ed un significato e un discorso che diventano più chiari. Attraverso questa scelta, più che puramente scenografica, Selfati svela, in un modo che non è mai stato così esplicito, ciò che lo preoccupa e lo agita ed il suo sguardo, di uomo impegnato, che si posa sul mondo contemporaneo. Si riconosce, sicuramente, in ciascuna anta dei dittici presentati, l’attenzione particolare che Selfati presta alla rappresentazione della natura, botanica o zoologica. La figura animale, ricorrente, come ad esempio la rappresentazione del cavallo, agisce tanto a livello figurativo quanto nella sua dimensione simbolica, in quanto la vita animale può essere immaginata – nella fantasia - come simbolo di libertà ma anche, diremmo noi, di una libertà primitiva, «ferocia senza intenzione». Non è vano ricordare che il cavallo, che Selfati ha potuto dipingere o disegnare così spesso, è senza dubbio uno degli animali più simbolicamente carichi di significato, dai miti ctoni fino ai racconti iniziatici, incarna l’addomesticamento e la « ferocia domata». In Selfati queste figure o motivi, nati dalla sua inclinazione per la natura, ritornano senza sosta; ma qui sono confrontati con delle immagini nuove, come un incessante ballo, un vai-e-vieni permanente tra due tipi di immagini legate tra loro dalla forma, da una parte e dall’altra, dei significati che sembrano opporre. Immagini riesumate dalla memoria, brandelli di ricordi, echi della sua infanzia, impressioni. Innanzitutto, quindi, le sensazioni al contatto con la natura. E poi Arrest il nero, la potenza del nero, in tutte le sue forme e sfumature. Vele di nero su nero, o nero scuro su fondo chiaro, Selfati crea dei giochi d’ombra, si adopera per delle opacità che assorbono la luce, dei contrasti che la restituiscono, dei chiaro-scuro meno grafici che delicati. «Il bello cessa di esistere se sopprimiamo gli effetti d’ombra» scriveva Tanizaki*. Strano fascino per la bellezza dell’ombra, per qualcuno che ha vissuto la sua infanzia sotto il «sudario bianco» della luce di Tangeri, per riprendere le parole di Pierre Loti? Piuttosto che i crocevia d’Oriente, Selfati produce un’estetica nutrita dal suo cosmopolitismo, che, in un modo o nell’altro, ha imparato la bellezza dei contrasti. A queste immagini meditative intimamente legate al passato e all’infanzia si giustappongono delle altre immagini, quelle che sorgono dal mondo mediatico in cui noi viviamo, così evanescenti e fugaci che le impressioni del passato possono rivelarsi ostinate. Da qualche anno Ilias Selfati archivia fotografie, la maggior parte prese dalla stampa quotidiana spagnola, che mostrano degli arresti, fotografie spesso scattate nel vivo dell’azione e senza qualità plastica, che costituiscono così il materiale che gli sarebbe servito per Arrest. Passate al filtro della sua energia creatrice e del suo savoir-faire, queste immagini «documentarie» di arresti, quasi irriconoscibili come tali, si vedono trasformate plasticamente ed esteticamente. Qui ritroviamo quella che sembra essere la preoccupazione maggiore per l’artista. Nella tavolozza dei neri si disegnano delle sagome, quasi minimaliste. Le forme archetipiche, talvolta al limite dell’astrazione, sembrano aspirare a voler liberare un’essenza delle forme, come un tentativo di afferrare «l’essenza stessa delle cose», qualsiasi siano le loro variazioni reali. Nel campo del riconoscimento, l’oggetto reale importa sicuramente meno che la sensazione della sua presenza. Dalla sobrietà e il rigore delle opere di Selfati si diffonde un essenzialismo sottile, che ha l’ambizione di portare le immagini dall’attualità verso una forma di eternità. Questa preoccupazione formale dell’artista non deve però occultare la natura politica della sua riflessione, qui messa in evidenza dalla presentazione in dittici delle opere che lasciano emergere con chiarezza gli antagonismi. Da una parte una rappresentazione ricorrente, nell’opera dell’artista, della natura, percepita come luogo per eccellenza del mistero, dei miti e dei simboli ma anche e soprattutto come principio di protezione, pacificazione e permanenza. Dall’altra, mostrando il funzionamento degli apparati repressivi statali in piena azione, la rappresentazione parossistica della violenza umana, e in particolare – e non è certamente un caso - della violenza istituita, impermanente e soggetta all’arbitrio. Sicuramente bisognerebbe evitare lo scoglio del manicheismo, pensando a una natura spogliata di ogni potere distruttore e un’umanità politica votata al regno della legge del più forte, se una tale opposizione di forze presenti non mettesse in luce la questione dell’intenzionalità della violenza dell’uomo sull’uomo, dei problemi di potere e della dominazione che essa solleva e di cui il mondo contemporaneo è lungi dall’essere dispensato. In questi « arresti », l’oppressione dei corpi raffigurata da Selfati manifesta il famoso paradosso della violenza istituita, della repressione statale, nel totalitarismo come nella democrazia, « violenza legittima» di cui gli Stati detengono il monopolio, secondo l’espressione di Max Weber**. Contro questa libertà oppressa dalla probabile necessità di un ordine che noi dobbiamo produrre sembra erigersi per Selfati quella di una natura disegnata come un’utopia, o che (ri)diventerebbe una nuova utopia, forse un paradiso perduto che si dovrebbe riconquistare come una nuova Arcadia. Artista impegnato nel suo tempo, Selfati ci invita a osservare il mondo presente sotto il prisma della sua arte, romantica alla sua maniera, più melanconica che nostalgica, di un romanticismo contemporaneo nutrito dall’osservazione delle derive delle nostre società, della guerra all’ossessione della sicurezza, dal terrorismo all’imperialismo commerciale contro le persone. Marie Deparis-Yafil gennaio 2013 * Junichiro Tanizaki, Elogio dell’ombra, 1933 ** Max Weber, Il sapiente e il politico, 1919 INDEX OBRAS pág. 13 77x97cm // técnica mista sobre cartão pág. 14 77x97cm // técnica mista sobre cartão pág. 15 77x97cm // técnica mista sobre cartão pág. 16 77x97cm // técnica mista sobre cartão pág. 17 77x97cm // técnica mista sobre cartão pág. 18 77x97cm // técnica mista sobre cartão pág. 19 77x97cm // técnica mista sobre cartão pág. 20 77x97cm // técnica mista sobre cartão pág. 21 77x97cm // técnica mista sobre cartão pág. 22 77x97cm // técnica mista sobre cartão pág. 23 77x97cm // técnica mista sobre cartão pág. 24 115x130cm // técnica mista sobre veludo pág. 25 115x130cm // técnica mista sobre veludo pág. 26 115x130cm // técnica mista sobre veludo pág. 27 50x50cm // técnica mista sobre veludo pág. 28 30x30cm // técnica mista sobre veludo pág. 29 30x30cm // técnica mista sobre veludo pág. 30 50x50cm // técnica mista sobre veludo pág. 31 115x130cm // técnica mista sobre veludo pág. 32 22x26cm // técnica mista sobre tela CATÁLOGO N. 53 Festival Sete Sóis Sete Luas