“Semelhante ao mar” Carlos Eduardo Paulino Guilherme Thiago da Silva O título deste texto significa Paraná em Tupi-Guarani. Assim, vamos começar nossa viagem pelo mais importante rio brasileiro – afinal de contas, ele abastece a região mais rica do País. Primeiramente vamos contar a história geológica da Bacia do Paraná, que tem início por volta de 400 milhões de anos atrás, quando a região era um imenso mar interior. Quando falamos da Bacia do Paraná, estamos descrevendo uma imensa região de mais de um milhão de Km² que ocupa o centro-sul da América do Sul. Dentro do território brasileiro, ocupa o oeste das Regiões Sudeste e Sul, o Sul de Goiás e o Leste de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Já com nossos vizinhos abrange o Paraguai e o Uruguai, bem como o Nordeste da Argentina. Voltemos ao contexto histórico: o grande mar interior sofreu um lento soterramento, que durou cerca de 150 milhões de anos. Isso ocorreu devido à erosão dos arcos marginais, ou seja, das altas montanhas que circundavam a Bacia, como por exemplo a Serra do Mar. Esse sedimento, aos poucos, foi isolando a Bacia, para depois aterrá-la. Portanto, de mar passamos a um grande deserto de areia, que hoje representa o substrato da Bacia, com uma espessura de até 5.000 m. Quanto à água do mar, ela foi se infiltrando nos interstícios das camadas de areia, enquanto o sal foi sendo separado da água graças a este processo de percolação e decantação. Assim se formou um manancial de água doce de elevada pureza, conhecido como Aquífero Guarani. Entre 250 milhões e 200 milhões de anos atrás, os violentos movimentos tectônicos que separaram a Pangea (grande continente que reunia todos os atuais), originando a Laurásia e a Gonduana, começam a afetar profundamente a região, provocando grandes fissuras na Bacia - dentre elas, na parte central da região, uma grande geoclase que, mais tarde, originou o vale por onde, hoje, corre o Rio Paraná. A imensa geoclase apresentou, entre 225 milhões de anos a 65 milhões de anos, 70 grandes derrames vulcânicos, cobrindo o ‘mar’ de areia que ali existia. Na verdade, encontramos áreas na bacia com, até, 1.900 m de material vulcânico expelido por esse imenso vulcão de fenda, dando à Bacia uma profundidade de 7.000 m. O basalto, rocha negra que hoje encontramos em abundância no Interior de São Paulo, tão comum nos calçamentos, usada como brita no concreto ou, ainda, como material sólido do asfalto, foi a rocha magmática extrusiva que alcançou longas distâncias a partir do que é hoje o Rio Paraná. Portanto, nossa Bacia do Paraná foi mar; depois, um grande deserto; e mais tarde o maior derramamento vulcânico de que se tem notícia. No entanto, os derramamentos vulcânicos não foram contínuos ao longo deste período. E por terem sido intermitentes, para cada período de derramamento seguia-se um período de erosão, mais uma vez provocado pelos arcos marginais, que cobriam a Bacia de sedimentos, especialmente o arenito (Bauru, Botucatu, Furnas, Vila Velha). Isso formava aquilo que os geólogos chamam de ‘Trapp’, ou armadilhas, pois presas entre o basalto temos camadas de arenito. Daí os geógrafos terem batizado a Bacia de “Arenítico-Basáltica”. Na próxima semana continuaremos analisando a Bacia do Paraná. Até lá.