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ABRANTES SARMENTO, JOSÉ DARCIO; DANTAS DE MORAIS, PATRÍCIA LÍGIA; BEZERRA ALMEIDA,
MARIA LUCILANIA; NOGUEIRA DE SOUSA NETO, OSVALDO; DA SILVA DIAS, NILDO
QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DA ALFACE CULTIVADA COM REJEITO DA DESSALINIZAÇÃO
Revista Caatinga, vol. 27, núm. 3, julio-septiembre, 2014, pp. 90-97
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
Mossoró, Brasil
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=237132104010
Revista Caatinga,
ISSN (Versão impressa): 0100-316X
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Universidade Federal Rural do Semi-Árido
Brasil
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ISSN 0100-316X (impresso)
ISSN 1983-2125 (online)
QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DA ALFACE CULTIVADA COM REJEITO DA
DESSALINIZAÇÃO1
JOSÉ DARCIO ABRANTES SARMENTO2*, PATRÍCIA LÍGIA DANTAS DE MORAIS3, MARIA LUCILANIA
BEZERRA ALMEIDA4, OSVALDO NOGUEIRA DE SOUSA NETO5, NILDO DA SILVA DIAS6
RESUMO – Objetivou-se avaliar o efeito da água de rejeito da dessalinização na qualidade e conservação póscolheita de alface, cultivares Verônica e Quatro Estações, produzida em sistema hidropônico com fibra de coco.
O ensaio foi desenvolvido em um ambiente protegido do Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, localizado em Mossoró-RN, instalado em delineamento experimental de blocos ao acaso, em esquema fatorial 2 x 2 x 5, com três repetições, sendo os tratamentos constituídos por duas
cultivares de alface (Verônica e Quatro Estações), dois tempos de avaliação (na ocasião da colheita e após três
dias de conservação) e cinco níveis de salinidade da solução nutritiva obtidos com ou sem a necessidade de
diluição do rejeito da dessalinização de água salobra (1,1; 2,4; 3,6; 4,7 e 5,7 dS m-1). A cultivar Quatro Estações destacou por apresentar menor perda de massa fresca ao longo do período de conservação, maior conteúdo
médio de clorofila total e maior valor de pH. O conteúdo de vitamina C e o teor de sólidos solúveis foram influenciados pelo reuso de rejeito da dessalinização em solução nutritiva, apresentando maior teor, no maior nível
salino estudado. As alfaces cultivadas em fibra de coco irrigada com reuso do rejeito da dessalinização na solução nutritiva apresentaram, em geral, boa aparência tanto na colheita como após três dias de conservação refrigerada.
Palavras-chave: Lactuca sativa L. Água salina. Ambiente protegido. Armazenamento.
QUALITY AND CONSERVATION OF LETTUCE CULTIVATED WITH DESALINATION WASTEWATER
ABSTRACT – The objective of this work was to evaluate the effect of desalination wastewater on the post
harvest quality and conservation of lettuce, cultivars Verônica and Quatro Estações, produced in hydroponic
system with coconut fiber. The test was developed in an protected environment from the Department of Environmental Sciences of Universidade Federal Rural do Semi-Árido, located in Mossoró/RN, installed in an experimental design of randomized blocks, in factorial scheme 2 x 2 x 5, with three replicates, the treatments consisted of two lettuce cultivars (Verônica and Quatro Estações), two times of evaluation (at the time of harvest
and after three days of conservation) and five levels of salinity of the nutrient solution with or without a further
dilution of the tailing desalination of brackish water (1.1; 2.4; 3.6; 4.7 and 5.7 dS m-1). Quatro Estações cultivar
showed lower weight loss during the conservation period and higher total value of chlorophyll and pH. The
matter of vitamin C and soluble solids were influenced by the reuse of tailing from desalination in nutrient solution, presenting higher level in the highest salt content studied. The cultivated lettuce on coconut fiber irrigated with reuse of the tailing nutrient solution in desalination presented, in general, good appearance both at
harvest and after three days of conservation.
Keywords: Lactuca sativa L. Water saline. Greenhouse. Storage.
____________________
*Autor para correspondência.
1
Recebido para publicação em 20/03/2013; aceito em 14/07/2014.
Projeto de pesquisa financiado pelo CNPq.
2
Doutorando em Fitotecnia pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Departamento de Ciências Vegetais, BR 110, Km
47, Costa e Silva, 59625-900, Mossoró-RN; [email protected].
3
Departamento de Ciências Vegetais, UFERSA, Mossoró-RN; [email protected].
4
Doutoranda em Fitotecnia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Departamento de Fitotecnia, Fortaleza-CE; [email protected].
5
Doutorando em Engenharia de Sistemas Agrícola pela Universidade de São Paulo (USP), Piracicaba-SP;
[email protected].
6
Departamento de Ciências Ambientais e Tecnológica, UFERSA, Mossoró-RN; [email protected].
Revista Caatinga, Mossoró, v. 27, n. 3, p. 90 – 97, jul. – set., 2014
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QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DA ALFACE CULTIVADA COM REJEITO DA DESSALINIZAÇÃO
J. D. A. SARMENTO et al.
INTRODUÇÃO
No semiárido brasileiro o desafio, devido à
escassez de águas superficiais, é promover o abastecimento de água às famílias rurais e garantir a produção de alimentos. O uso de águas subterrâneas é uma
alternativa viável, entretanto, essas fontes hídricas
apresentam, na maioria dos casos, restrições de uso
para o consumo humano por apresentarem problemas
de salinidade (MEDEIROS et al., 2003; SOUSA et
al., 2009).
O tratamento amplamente utilizado para reduzir a concentração de sais destas águas tem sido a
dessalinização. Entretanto, faz-se necessário que se
considerem os riscos ambientais decorrentes dessa
técnica, porque, na dessalinização, gera-se, além da
água potável, água residuária (rejeito) altamente salina e com risco de contaminação ambiental elevado
(DIAS et al., 2011b).
O grande desafio é a destinação adequada do
rejeito da dessalinização de forma a evitar impactos
negativos ao ambiente das comunidades que se beneficiam desta tecnologia, possibilitando seu uso no
preparo da solução nutritiva ou apenas na reposição
do volume evapotranspirado na produção de alimentos (SANTOS, R. et al., 2010a; SOARES et al.,
2010).
Nas comunidades rurais de Mossoró (RN),
onde têm sido implantadas as unidades de tratamento
de água por dessalinização possibilitando sua utilização para consumo humano, a água potável produzida, cerca de 60% aproximadamente da água bruta
tratada origina água residuária. Este rejeito não está
recebendo tratamento ou destinação adequada, sendo
despejado diretamente ao solo e, quando utilizado na
irrigação de culturas, não há qualquer fundamentação técnico-científica para o seu uso, causando problemas de salinização nos solos (DIAS et al., 2010;
DIAS et al., 2011a).
A salinidade dos solos pode comprometer o
desenvolvimento das plantas, pois dificulta absorção
de água, provoca toxicidade de íons específicos e
outras interferências indireta nos processos fisiológicos (SILVA et al., 1999). Todavia, tolerância das
plantas à salinidade é influenciada por diversos fatores, dentre elas a condição ambiental, tipo de substrato e sistema de produção (ADAMS, 1991). Estudos
sobre o efeito do sistema de produção (cultivo orgânico, hidropônico e convencional) e da salinidade da
solução nutritiva na produção da alface veem sendo
realizados (DIAS et al., 2011b; FAVAROTRINDADE et al., 2007; PAULUS et al., 2010; MORAIS et al., 2011; SANTANA et al., 2006; SANTOS, A. et al., 2010; SANTOS, C. et al., 2010;
SANTOS, et al., 2011; SOARES et al., 2010;
STERTZ et al., 2005). Entretanto, são raros estudos
sobre o efeito do uso da água de rejeito da dessalinização na solução nutritiva sobre a qualidade e conservação pós-colheita da alface, produzida em fibra
de coco.
91
Desta forma, considerando o aproveitamento
do rejeito da dessalinização em solução nutritiva
como forma de otimizar o uso da água para a agricultura do semiárido brasileiro, bem como minimizar o
descarte inadequado, objetivou-se no presente trabalho avaliar o efeito da água de rejeito da dessalinização na qualidade e conservação pós-colheita de alface, cultivares Verônica e Quatro Estações, produzida
em sistema hidropônico com fibra de coco.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho constituiu-se de um experimento
utilizando-se duas cultivares de alface, Verônica
(crespa) e Quatro Estações (roxa), conduzido em
ambiente protegido do Departamento de Ciências
Ambientais da Universidade Federal Rural do SemiÁrido (UFERSA), situado no município de Mossoró,
RN (5° 11’ S, 37° 20’ W e altitude 18 m). Segundo a
classificação de Köppen, o bioclima da região é do
tipo BSwh’, com temperatura média anual de 27,4
°C, precipitação pluviométrica anual bastante irregular, com média de 673,9 mm, e umidade relativa de
68,9%. O ambiente protegido utilizado foi do tipo
capela com pé direito de 3,0 m, 12,0 m de comprimento e 16,0 m de largura, coberta com filme de
polietileno de baixa densidade com aditivo antiultra
violeta e espessura de 150 micras, protegida nas laterais com malha negra 50%. Durante o experimento, o
ambiente protegido apresentou temperatura média de
29,7 °C e umidade relativa do ar de 67,4%.
O delineamento experimental adotado foi o de
blocos completamente casualizados no esquema fatorial 2 x 2 x 5 com três repetições, sendo o primeiro
fator constituídos pelas diferentes cultivares
(Verônica e Quatro Estações), o segundo pelos tempos de avaliação (na ocasião da colheita e após três
de conservação a 7,6 ± 1 ºC e umidade relativa de 27
± 5%) e o terceiro fator constou dos níveis de salinidade da solução nutritiva (1,1; 2,4; 3,6; 4,7 e 5,7 dS
m-1). Os níveis de salinidade foram obtidos com ou
sem a necessidade de diluição do rejeito da dessalinização de água salobra (M1 = 100% água de abastecimento, M2 = 25% água de rejeito + 75% água de
abastecimento, M3 = 50% água de rejeito + 50%
água de abastecimento, M4 = 75% água de rejeito +
25% água de abastecimento e M5 = água de rejeito),
que após a adição dos fertilizantes, a salinidade final
da solução nutritiva para cada tratamento foram de
1,1; 2,4; 3,6; 4,7 e 5,7 dS m-1, respectivamente.
Cada parcela experimental foi composta por
um sistema hidropônico aleatorizado entre os blocos,
constituído por uma canaleta de PVC tipo trapézio
com 6 m de comprimento, tendo em sua base perfurações a cada 0,5 m para escoar o excesso de solução. As canaletas de cultivos foram preenchidas com
fibra de coco, substrato que serviu de sustentação às
raízes e de material de retenção da solução nutritiva
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QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DA ALFACE CULTIVADA COM REJEITO DA DESSALINIZAÇÃO
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e, foram colocadas a 0,90 m do nível do solo do ambiente protegido, fixadas por suporte de madeira com
declividade de aproximadamente 3% para facilitar a
drenagem do excesso de solução nutritiva.
A solução nutritiva foi preparada utilizando as
águas das misturas descritas anteriormente e, a quantidade de fertilizantes adicionados foi suficiente para
atender as necessidades nutricionais da cultura durante o ciclo da alface, conforme recomendação de
um produtor de alface hidropônico da região, em que
foram adicionados para 100 L de mistura de água as
quantidades de 50 g nitrato de cálcio, 37 g nitrato de
potássio, 14 g de MAP, 27 g sulfato de magnésio e 6
g Quelatec.
Para aplicar a solução nutritiva foi instalado,
em cada tratamento, um sistema de irrigação constituído por um tubo gotejador na superfície com emissores espaçados de 0,5 m e vazão de 2,5 L h-1, um
reservatório com capacidade para 500 L e uma eletrobomba (modelo EBD 250076). O sistema de irrigação foi acionado diariamente, até que a solução
nutritiva começasse a escoar pelos orifícios. Ressalta
-se que durante a condução do experimento as plantas não apresentaram sintomas visuais de deficiência
hídrica nem, tampouco, falta de oxigenação.
As mudas de alface foram produzidas em
bandejas de poliestireno com 128 células, preenchidas com vermiculita, duas sementes por cavidade. O
desbaste foi realizado cinco dias após a emergência
das plântulas, sendo mantida uma planta por célula.
O transplante das mudas foi realizado aos 16 dias
após a semeadura, quando as plantas apresentaram
de 5 a 6 cm de altura e cinco folhas definitivas.
As mudas das cultivares Verônica (crespa) e
Quatro Estações (roxa) foram transplantadas alternadamente nas parcelas, coincidindo com o emissor,
sendo essas distribuídas aleatoriamente por sorteio.
Considerando as 12 plantas por canaleta, 4 foram
consideradas útil de cada cultivar e, as duas plantas
localizadas nas extremidades das canaletas designadas como bordadura.
Aos 24 dias após o transplantio, no ponto de
colheita, foram coletadas oito plantas de cada parcela
para a realização das análises de qualidade. Quatro
plantas de cada parcela foram avaliadas no dia da
colheita e as demais foram acondicionadas em sacolas de polietileno de baixa densidade (70 µm) com
perfurações (usadas para comercialização em supermercado) mantidas a temperatura de 7,6 ± 1 °C e
umidade relativa de 27 ± 5% e avaliados após três
dias.
Para aparência externa foi estabelecidos limites de tolerância para a coloração da folha, queimadura das bordas, presença de insetos (pulgão, lagarta
minadora, tesourinha, etc.) e manchas nas folhas,
sendo atribuídas as seguintes notas: 3,1- 4,0 (ótimo);
2,1 – 3,0 (bom); 1,1 – 2,0 (regular); 0 – 1 (ruim)
(MORAIS et al., 2011). A perda de massa foi determinada pela diferença da massa no dia da colheita e
a massa obtida a cada 12 h de conservação, durante
três dias.
O conteúdo de sólidos solúveis (SS) foi determinado por leitura em refratômetro digital (modelo
PR – 100, Palette, Atago Co, LTD., Japan) com correção automática de temperatura (escala de 0 a 32%),
a partir da maceração em gral (almofariz) de 1,0 g
folha com 1,0 mL de água destilada, homogeneizada,
filtrada e os resultados expressos em porcentagem
(%). Para determinação da acidez titulável (AT) foi
utilizado 1,0 g da folha, obtida da maceração em
gral, sendo utilizado o indicador fenolftaleína a 1% e
realizada a titulação com hidróxido de sódio (NaOH)
a 0,1 N, sendo os resultados expresso em gramas de
ácido cítrico/100 g de folha; pH determinado a partir
da maceração de 1,0 g da folha diluída em 30 ml de
água destilada, utilizando um potenciômetro digital
com membrana de vidro, conforme Instituto Adolfo
Lutz (2005).
Para a determinação da vitamina C realizouse a titulação com solução de DFI (2,6 diclorofenolindofenol 0,02%) até coloração róseo claro, utilizando 1,0 g de folha macerada em gral, conforme metodologia proposta por Strohecker e Henning (1967).
Os resultados foram expressos em mg de ácido ascórbico por 100 g de folha. Para determinação da
clorofila total partiu-se da maceração em gral de 1,0
g da folha com 10 mL de uma solução de acetona a
80% para desintegração, conforme recomendação de
Bruinsma (1963). Ao volume do extrato, após a homogeneização, adicionou-se a acetona a 80% até a
completa descoloração, seguida de filtração. O volume final do extrato foi de 50 mL. A leitura de absorbância foi feita a 652 nm até meia hora do início da
extração e os extratos envolvidos em papel alumínio.
Os níveis de clorofila total foram determinados em
mg/100g de folha, seguindo a equação sugerida por
Engel e Poggiani (1991).
Os resultados foram interpretados pela análise
de variância utilizando-se o programa “SISVAR”
para a comparação das medias de cada variável. As
médias das variáveis de qualidade foram analisadas
por teste de média, com base no teste de Tukey a 5%
de probabilidade. Já para o fator quantitativo (CEsol),
os dados foram interpretados por meio de regressão
polinomial (linear e quadrática). Para a perda de matéria fresca a análise estatística adotada foi em esquema de análises em medidas repetidas no tempo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As cultivares apresentaram diferenças significativas para a variável clorofila total (p<0,01) e pH
(p<0,05). Já para o efeito da salinidade da solução
nutritiva, foi observado efeito significativo (p<0,05)
para vitamina C e sólidos solúveis; quanto ao tempo
de avaliação (colheita e após três dias de conservação) foi observado efeito significativo (p<0,05) para
acidez titulável, sólidos solúveis e pH. Houve intera-
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QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DA ALFACE CULTIVADA COM REJEITO DA DESSALINIZAÇÃO
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ção significativa (salinidade x tempo) apenas para a
variável pH (Tabela 1).
Tabela 1. Resumo da análise de variância para vitamina C (Vit. C), clorofila total (Clorof. Total), acidez titulável (AT),
sólidos solúveis (SS) e potencial hidrogeniônico (pH) da alface, cvs. Verônica e Quatro Estações, cultivada em fibra de
coco com reuso do rejeito da dessalinização em solução nutritiva e submetida a três dias de conservação.
Fonte de variação
Quadrado Médio
Gl
Bloco
Vit. C
Clorof. Total
AT
SS
pH.
8,13ns
6077,37*
0,0015*
0,11ns
0,02*
4
9,79 *
ns
ns
0,63*
0,007ns
1
ns
ns
0,032*
2
Salinidade (Sal)
Cultivar (Cult)
Tempo
10,55
1
1,99
ns
ns
3060,86
44420,32**
195,08
0,00004
ns
1991,46
ns
0,09
0,0058**
ns
Sal x Cult
4
3,47
Sal x Tempo
4
3,85ns
540,66ns
Cult x Tempo
1
6,87
ns
ns
Sal x Cult x Tempo
4
4,65ns
1496,23ns
Resíduo
38
3,81
7,47
CV%
0,0007
0,0003
1,54**
ns
0,06
2,65**
0,003ns
0,22ns
0,015*
0,66ns
0,0006ns
0,0001ns
0,14ns
0,0002ns
1596,67
0,00
0,18
0,01
11,81
13,37
9,99
1,17
763,76
0,00003ns
ns
0,000002
ns
*, ** e ns – Significativo a 5%, 1% de probabilidade e não significativo, respectivamente, pelo teste F.
Para a perda de matéria fresca, analisando as
cultivares separadamente, verificou-se que não houve efeito significativo para a salinidade e para a interação (salinidade x tempo). No entanto, verificou-se
diferença significativa para o tempo isoladamente. A
cultivar Verônica foi a que apresentou maior perda
de massa fresca durante o tempo de conservação,
tendo com 12 horas verificado uma perda de massa
de 3,24% e ao final de três dias atingiu 8,15%
(Figura 1a). Já a cultivar Quatro Estações com 12
horas de conservação apresentou perda de 2,68% e
ao final de três dias atingiu 6,97% (Figura 1b).
(a )
10,00
y = 2,2555 + 0,0819**x
R2 = 0,97**
9,00
8,00
PMF (%)
7,00
6,00
5,00
4,00
3,00
2,00
1,00
0,00
0
12
24
36
48
60
72
84
72
84
Tempo (h)
(b)
10,00
9,00
y = 1,8246 + 0,0715**x
R² = 0,98**
8,00
7,00
PMF (%)
6,00
5,00
4,00
3,00
2,00
1,00
0,00
0
12
24
36
48
60
Tempo (h)
Figura 1. Perda de massa fresca (PMF) da alface cv. Verônica (a) e Quatro Estações (b) em função do tempo de conservação a temperatura de 7,6 ± 1 ºC e umidade relativa de 27 ± 5%.
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Segundo Dias et al. (2011b) a alface cultivar
Quatro Estações é mais tolerante à salinidade, em
relação a cultivar Verônica. Característica também
observado por Freire et al. (2009) estudando cinco
cultivares de alface. Essa tolerância a salinidade pode ter contribuído para conferir capacidade a cultivar
Quatro Estações de perder menos água durante o
período de conservação, pois essa é uma das respostas a tolerância a salinidade.
A maior perda de matéria fresca nas duas
cultivares foi detectada nas primeiras 12 horas de
conservação, demonstrando serem as primeiras horas
após a colheita as mais críticas na determinação da
perda de água pelas folhas, comportamento observado em outras pesquisas (SANTOS et al., 2001).
O teor de vitamina C da alface aumentou em
resposta ao incremento da salinidade da solução nu-
tritiva, apresentando teor de ácido ascórbico de 24,54
mg 100g-1 quando irrigada com solução nutritiva
com CE de 1,1 dS m-1 e valor máximo de 26,67 mg
100g-1 em solução nutritiva com CE de 5,7 dS m-1
(Figura 2). Segundo Freire et al. (2009) o teor de
vitamina C em alface é influenciado pela salinidade,
os mesmos observaram que o nível salino de 2,5 dS
m-1 foi o que proporcionou o maior teor de vitamina
C para cultivares Quatro Estações, Grandes Lagos
659, Veneranda, Folha Stella. Para a cultivar Mônica
SF31 estes mesmos autores observaram que o nível
salino de 3,5 dS m-1 proporcionou o maior teor de
vitamina C. Segundo Ohse et al. (2001) a cultivar
Verônica apresenta maior teor de vitamina C quando
produzidos em sistema de cultivo hidropônico (30,8
mg 100g-1) quando comparado com o convencional
(21,4 mg 100g-1).
30
4,50
y = Não ajustado R2 < 0,70
4,00
3,50
Sólidos solúveis (%)
Vitamina C (mg 100g-1 )
25
20
y = Não ajustado R2 < 0,70
15
10
3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
5
0,50
0
0,00
1,10
2,40
3,60
4,70
5,70
1,10
2,40
CE Sol (dS m -1 )
3,60
4,70
5,70
CE Sol (dS m -1 )
Figura 2. Conteúdo de vitamina C e sólidos solúveis da alface cultivada em fibra de coco em função da salinidade da
solução nutritiva.
Comparando os níveis de salinidade da solução nutritiva os teores de sólidos solúveis foi maior
para o maior nível salino (5,7 dS m-1) (Figura 2), já
quando comparado o tempo de conservação houve
um acréscimo de sólidos solúveis ao final dos três
dias de conservação (Tabela 2). Comportamento
observado em outras hortaliças em ensaios em campo e casa de vegetação, pois a salinidade provoca
redução no turgor celular, concentrando a quantidade
de sais, resultando em teores de sólidos solúveis maiores nessas condições (BECKLES, 2012). Em rela-
ção ao período de conservação, também pode ter
ocorrido concentração dos sólidos solúveis, pois
houve aumento na perda de água com o avanço do
período de conservação, atingindo ao final do período teores de perda de massa fresca em torno de 7%
(Figura 1). Comportamento semelhante foi observado por Freire et al. (2009) para alfaces cultivares
Quatro Estações, Stella, Grandes Largos 659 e Veneranda, em que apresentaram aumento no teores de
sólidos solúveis com o incremento da salinidade da
água da irrigação.
Tabela 2. Médias do teor de sólidos solúveis (SS) e acidez titulável (AT) da alface, cultivada em fibra de coco com reuso
do rejeito da dessalinização em solução nutritiva, na ocasião da colheita e após três dias de conservação a temperatura de
7,6 ± 1 ºC e umidade relativa de 27 ± 5%.
Tempo
AT (%)
SS (%)
Colheita
0,12 b
2,99 b
Conservação
0,14 a
3,32 a
D.M.S
0,01
0,22
Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
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J. D. A. SARMENTO et al.
armazenamento foi satisfatória para manter a tonalidade da coloração.
Para alface Olinda, tipo crespa, observou-se
variação no teor de clorofila total de 493,7 mg 100g-1
no dia da colheita para 387,7 mg 100g-1 ao final de
quatro dias de conservação (MORAIS et al., 2011),
valores superiores ao encontrado no presente trabalho. Em contraste ao verificado nesta pesquisa, Paulus et al. (2010) observou efeito linear positivo para
clorofila a, b e totais com o aumento da salinidade da
água de irrigação para as cultivares de alface Verônica e Pira Roxa.
A cultivar Quatro Estações apresentou 14,9%
a mais de clorofila total que a cultivar Verônica
(Tabela 3). Entretanto, não foi detectado diferenças
significativas para os teores de sólidos solúveis, acidez titulável e vitamina C entre as cultivares.
O alto teor de clorofila total é uma variável de
qualidade importante para a alface, pois a cor verde
intensa da alface, proporcionado pela clorofila, torna
-a atrativa para os consumidores (SANTOS et al.,
2001). Não houve diferença significativa entre os
teores de clorofila no dia da colheita e após os três
dias de conservação, isso indica que as condições de
Tabela 3. Conteúdo de clorofila total e valores de pH da alface cv. Verônica e Quatro Estações, cultivadas em fibra de coco
com reuso do rejeito da dessalinização em solução nutritiva.
Cultivares
Clorofila total (mg/100g)
pH
Verônica.
311,26 b
6,32 b
Q. Estações
365,68 a
6,37 a
D.M.S
20,88
0,03
Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Os resultados reportados no presente trabalho evidenciam que o uso de água salina com até 5,7 dS m-1
não acarreta em alterações elevadas no pH e acidez
do tecido vegetal da alface ‘Verônica’ e ‘Quatro
Estações’.
Em condições semelhante ao presente trabalho Freire et al. (2009) avaliando alfaces em condições salinas obtiveram valores de acidez para as cultivares de alface Quatro Estações (0,0101%) e Stella
(0,112%), próximo ao observado no presente trabalho. Stertz et al. (2005) observaram valores de pH de
6,05 para cultivar Verônica, menor que o encontrado
no presente trabalho.
Os níveis de salinidade não influenciaram na
acidez, entretanto, durante o período de conservação
houve um aumento considerado estatisticamente
significativo (Tabela 2). Já o pH apesar de ter constatado diferença, observa-se que foi reduzida a variação com aumento do nível salino, tanto no dia da
colheita como após conservação (Figura 3).
Na colheita observou-se uma variação de 6,23
a 6,10 de pH, para o menor e maior nível de salinidade, respectivamente. Após três dias de conservação a
variação foi de 6,53 para salinidade de 1,1 dS m-1 e
valor máximo de 6,60 para salinidade de 2,40 dS m-1
(Figura 3). Considerando o fator cultivar, a Quatro
Estações apresentou valor de pH maior (Tabela 3).
7,50
Colheita
Arma
zenamento
Conservaçã
o
y = Não ajustado R2 < 0,70
7,00
pH
6,50
6,00
5,50
5,00
1,10
2,40
3,60
4,70
5,70
CE Sol (dS m -1 )
Figura 3. Valores de pH da alface cultivada em fibra de coco em função da salinidade da solução nutritiva e tempo de
avaliação.
Para a aparência das alfaces a cultivar Quatro
Estações apresentou excelentes notas para as variáveis cor, presença de insetos, queima e manchas,
tanto na colheita como após três dias de conservação,
sendo atribuídas nota média subjetiva classificada
como ‘ótimas’ (Tabela 4). Entretanto, a cultivar Ve95
rônica, após o período de conservação, apresentou
notas inferiores, sendo classificada como ‘bom’ para
variáveis cor e queima quando irrigada com salinidade da solução nutritiva de 5,7 e 2,4 dS m-1, respectivamente; apresentando incidência de manchas e coloração não característico da cultivar (Tabela 4). É
Revista Caatinga, Mossoró, v. 27, n. 3, p. 90 – 97, jul. – set., 2014
QUALIDADE E CONSERVAÇÃO DA ALFACE CULTIVADA COM REJEITO DA DESSALINIZAÇÃO
J. D. A. SARMENTO et al.
importante mencionar que a cultivar Verônica foi a
que apresentou menores valores de clorofila total,
sendo, portanto, uns dos fatores que provavelmente
contribuiu na nota inferior para coloração das folhas.
Contudo, alguns trabalhos demonstram uma maior
sensibilidade da alface cultivar Verônica a salinidade
(DIAS et al., 2011b; FREIRE et al., 2009; SANTOS
R. et al., 2010b), podendo ser este, uma das causas
da qualidade inferior desta cultivar.
Tabela 4. Análises de aparência da alface, cultivada em fibra de coco com reuso do rejeito da dessalinização em solução
nutritiva, na ocasião da colheita e após três dias de conservação a temperatura de 7,6 ± 1 ºC e umidade relativa de 27 ±
5%.
CE
sol (dS m-1)
1,10
2,40
3,60
4,70
5,70
Cultivar
Verônica
Q. Estações
Verônica
Q. Estações
Verônica
Q. Estações
Verônica
Q. Estações
Verônica
Q. Estações
Aparência
Queima
Cor
Insetos
Manchas
Colh.*
Três dias**
Colh.
Três dias
Colh.
Três dias
Colh.
Três dias
3,50
3,67
3,58
3,42
3,42
3,67
3,42
3,50
3,75
3,92
3,83
3,92
3,67
3,17
3,50
3,42
3,67
3,33
3,25
3,58
3,33
3,08
2,75
3,50
4,00
3,83
3,92
4,00
3,92
3,33
3,42
3,50
3,67
3,33
3,25
3,67
3,83
3,42
3,42
3,42
4,00
3,67
3,83
3,75
3,50
3,00
3,50
3,33
3,67
3,67
3,33
3,67
3,25
3,50
3,50
3,58
3,75
4,00
3,75
4,00
3,83
3,42
3,25
3,33
3,17
3,50
2,92
3,58
3,50
3,25
3,17
3,42
3,83
3,92
3,75
3,67
3,83
3,42
3,42
3,17
*Colh – Colheita; **Após três dias de conservação.
O sistema de cultivo hidropônico utilizado no
presente trabalho também pode justificar a boa aparência observada nas duas cultivares de alfaces estudadas, mesmo sob efeito da salinidade da água de
rejeito. Pois, segundo Santana et al. (2006) alfaces
comercializadas nos principais supermercados de
Salvador (BA) proveniente do cultivo hidropônico
foram inseridas como hortaliças da classe Extra
(melhor qualidade) e as de cultivo orgânico e tradicional na Primeira e Segunda classe (qualidade inferior), respectivamente. Segundo Favaro-Trindade et
al. (2007) nesse sistema de cultivo há menor contaminação por bactérias aeróbias mesófilas, proporcionando melhor qualidade.
AGRADECIMENTOS
CONCLUSÕES
BECKLES, D. M. Factors affecting the postharvest
soluble solids and sugar content of tomato (Solanum
lycopersicum L.) fruit. Postharvest Biology and
Technology, Amsterdam, v. 63, n. 1, p. 129-140,
jan. 2012.
A cultivar Quatro Estações destacou por apresentar menor perda de massa fresca ao longo do período de conservação, maior conteúdo médio de clorofila total e maior valor de pH.
O conteúdo de vitamina C e o teor de sólidos
solúveis foram influenciados pelo reuso de rejeito da
dessalinização em solução nutritiva, apresentando
maior teor, no maior nível salino estudado.
As alfaces cultivadas em fibra de coco irrigada com reuso do rejeito da dessalinização na solução
nutritiva apresentaram, em geral, boa aparência tanto
na colheita como após três dias de conservação refrigerada.
Os autores agradecem, ao Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), o financiamento do projeto e bolsas de pesquisa.
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