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Quinta-Feira, 7 de Outubro 2010
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Escrito por Diário de Coimbra
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ALDEIAS DE XISTO
“Hoje viver na aldeia
é melhor do que
viver na cidade”
Em pleno século XXI assiste-se a um fenómeno, no que respeita à mobilidade, completamente
adverso ao que se passou até finais do século XX. Se há uns anos atrás as pessoas fugiam dos
campos, procurando melhores condições de vida nas cidades, hoje em dia viver na aldeia chega
mesmo a ser um luxo para muitos. Para outros, é mesmo uma paixão e um reviver de infâncias
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longínquas, em que se corria descalço na terra e se comia a fruta acabada de colher das árvores.
Muitos são, actualmente, os projectos que pretendem recuperar aldeias antigas, algumas delas
votadas ao abandono, para captar para ali famílias que queiram fugir ao stress das cidades e
manter um bem que faz parte da tradição popular portuguesa.
A aldeia de xisto do Gondramaz é um desses exemplos. Actualmente recuperada, aquela pequena
aldeia no concelho de Miranda do Corvo, que é apenas uma das 24 aldeias de xisto distribuídas por
14 municípios do Pinhal Interior, tem granjeado os mais rasgados elogios de quem a visita. Quem
lá vive, destaca o sossego e a natureza como as maiores preciosidades da vida na aldeia.
«Viver na aldeia é muito bom, mas hoje é mais fácil do que há uns anos atrás. Antes vivia-se do
queijo, da vaca que se ordenhava e do porco que se matava em cada ano», conta o Sr. David,
conhecido por todos por “México”, explicando que hoje em dia «os acessos e as condições que as
casas têm» tornam a vida na aldeia muito mais apetecível. México não vive no Gondramaz, pelo
menos a tempo inteiro, mas fez do seu cantinho na aldeia uma das suas, muitas, paixões, e talvez
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aquela a que hoje em dia dedica mais tempo.
Na “Casa do México” o bom cabrito, com a batatinha frita em azeite e alho, é iguaria que não
falta, acompanhada por bom vinho e outros petiscos. Na cave, um pequeno bar ampara a ginja que
consola o paladar, enquanto os olhos se regalam com a vista que o terraço oferece para a serra.
«Tenho uma empresa de máquinas agrícolas e vivo disso, para gastar o dinheiro aqui», conta
México, enumerando as várias empreitadas que foi fazendo, como a velha capelinha, cuja
restauração foi concluída no início de Setembro.
Questionado sobre a possibilidade de transformar a “Casa do México” num restaurante tradicional,
só diz que não pode porque senão tinha de ser diferente. «Se eu quisesse ter aqui uma pipa de
vinho não podia, tinha de ser em inox», afirma, reiterando que «aqui até o que se come é
tradicional, os galos, os cabritos», e atenção porque o bom cabrito tem de ser de leite, os de
pastagem, como defende, «não têm nada a ver».
Numa das extremidades da aldeia, situa-se o ponto de encontro de alguns moradores. Sentados em
cadeiras, aproveitam o ar puro que ali se respira, e a calma ambiente que dá azo a tarde de
conversas, sem o constrangimento do tempo e da pressão de tudo o que há para fazer.
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«Isto é maravilhoso, tenho vindo todos os anos. Tem sossego, boas amizades e isso é tudo!»,
confessa Álvaro Dias, chamando à casa que possui no Gondramaz, e onde nasceu há 82 anos, o seu
esconderijo. Dali partiu para o Brasil com 20 e poucos anos, mas regressa todos os verões, para
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matar saudades e descansar. Caso semelhante é o de José Dias. Nasceu no Gondramaz, mas
acabou por sair. Agora, confessa do alto dos seus 74 anos, que é ali que vive a maior parte do
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tempo. «Isto é tão sossegado e temos a vila aqui a quatro quilómetros», salienta.
Tornar a aldeia ainda mais bonita
À entrada da aldeia a vice-presidente da Associação de Amigos e Moradores do Gondramaz recebeu
o Diário de Coimbra para uma visita guiada, aos recantos e projectos existentes para «tornar a
aldeia ainda mais bonita».
«A associação não pode intervir, só pode falar com os proprietários e tentar impulsionar a
reabilitação», explicou Margarida Amaral, esclarecendo que o propósito da colectividade é
precisamente recuperar a aldeia na sua totalidade. Para já, a associação quer recuperar o antigo
salão de baile, para fazer ali um espaço de lazer coberto para os moradores da aldeia, mas não se
fica por aqui, uma vez que também o bar e a capela são alvos de intervenção. «Quando há
festinhas, faz-se aqui o arraial fora e isto serve de bar. Vamos tentar dar-lhe alguma qualidade»,
avançou Margarida Amaral, que é também a arquitecta responsável por esses projectos.
O objectivo é recuperar, mantendo o rústico. A aldeia já está no bom caminho para isso, e a prova
é que actualmente é já um espaço acessível a pessoas com mobilidade reduzida e inclusive,
invisuais que têm um sistema interactivo que lhes permite visitar o local, e conhecê-lo com os
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