Variação linguística
Fenômenos
linguísticos
SÓCIO E PSICOLINGUÍSTICA
Prof.ª Gláucia Lobo
Diversidade linguística

-
Dois fatores marcantes:
Norma: padrão linguístico;
Uso: variáveis.

Fatores extralinguísticos: distinções geográficas,
históricas, econômicas, políticas, sociológicas,
estéticas;

Linguística: estudo científico
humana – se baseia em fatos;

A variação é condição para o funcionamento de
uma língua;

Se a língua funciona, varia.
da
linguagem
Variação linguística

Na apostila – diversos autores, como:
-
Françoise Gadet, considerando o diálogo;
-
J. G. Herculano de Carvalho, tratando da
individualidade do saber linguístico;
-
Otto Jespersen, tratando da fala do indivíduo;
-
Eugenio
Coseriu
(1980)
–
Variedades
linguísticas:
diatópicas
ou
geográficas,
diastráticas ou sócio-culturais, diacrônicas e
diafásicas.
Variedades diatópicas ou
geográficas
Dya (grego): através de;
Topos (grego): lugar;
Dialeto
– vem do grego “dialektos” (conversa,
discussão por meio de perguntas e respostas);
Depois
passou a significar maneira de falar de
uma região.
Variedades diatópicas ou
geográficas
Fatores geográficos;
Ocasionadas pela região;
Dialetos ou falares locais;
Dialeto rural, urbano, carioca, gaúcho, paulista,
nordestino, entre outros;
Peão em Portugal – significa pedestre.
Exemplo: dialeto caipira
Norma culta
Dialeto caipira
nós (1ª pessoa plural)
nói ou nóis
falso
fárso
melhor
miór
os calmantes
us carmânti
você
ocê
nós fomos
nóis fumo
nós voltamos
nóis vortêmu
Corinthians (clube)
Curíntia
Palmeiras (clube)
Parmêra
cigarro de palha
cigarro de páia, picadão
fósforo
fósfiro, fosfro, forfro...
Exemplo:
dialeto paulista X gaúcho
Algumas comparações
Na Cidade de São Paulo:
Você pegou algumas frutas?
No Rio Grande do Sul:
Tu pegou algumas frutas?
Na Cidade de são Paulo:
Que "muleque" rápido!
No Rio Grande do Sul:
Que "guri" mas rápido esse!
Variedades diastráticas ou
sócio-culturais
Ocasionadas por fatores sociais;
Socioletos ou dialetos sociais;
Linguagem de uma comunidade específica.
Fatores sociais –
socioletos
a)
Idade: variações entre socioleto adulto,
infantil e jovem.
Ex.: “O au au tá duminu”, “Fui numa balada
irada!”; “Eu fui lá... Tipo assim e num tinha
ninguém. É cruel!”;
b)
Sexo: socioletos masculino e feminino.
Ex.: “E aí, campeão, traz uma ‘lôra gelada’,
aê!”; “Moço, traz uma cerveja, por favor!”;
c)
Raça: (ou cultura) fatores etnológicos.
Ex.: “Mama mia!” (italiano); termos indianos;
Fatores sociais – socioletos
d)
Profissão: vocabulário de acordo com a
atividade ou profissão.
Ex.: linguagem médica (infarto/ PS/ nome de
doenças); jargão policial (elemento/ viatura/
camburão/ meliante);
e)
Posição social: cultura, posição social e
instrução (idioleto: saber lingüístico individual).
Ex.: “Senhores, daremos início à nossa primeira
reunião do ano.”; “Bom, vamo começá logo a vê
o que tem pra fazê.”;
f)
Grau de escolaridade: socioleto culto e socioleto
popular.
Ex.: “Bom dia, como vai?”; “E aí, beleza? Como
tá as coisa?”.
Variedades diacrônicas ou
históricas
Condicionadas pelo tempo;
Dispostas
histórica;
em vários planos de uma só tradição
Observadas
no decorrer do tempo dentro da
história daquela língua e daquela comunidade
que a emprega.
Variedades diacrônicas ou
históricas - exemplos
A
forma de tratamento Vossa Senhoria é
atestada em meados do séc. XV como
expressão reservada ao Rei;
No
final do séc. XVI, perde seu estatuto de
realeza, sendo empregada no trato com
arcebispos, bispos, duques, marqueses, condes,
além de outros altos funcionários;
Séc.
XV: Livro dos ofícios – “(...) per elles
alguas vezes fuy requerido (...)” (fol. 1r).
Variedades diacrônicas ou
históricas - exemplos
“Mia
senhor branca e vermelha” (“Cantiga”,
de Paio Soares de Taveirós);
Senhor:
antigamente era uma palavra
comum de dois gêneros (como “dentista”);
Atualmente
é
senhor/senhora.
um
vocábulo
biforme
–
Variedades diafásicas
Ocorrem
devido à situação de comunicação:
circunstâncias (ocasião, lugar e tempo) e relações
(falante e ouvinte – grau de intimidade, variação do
tema e elementos emocionais);
Níveis
de fala ou registros: formal ou informal (ou
coloquial);
Também: variedades estilísticas – o usuário escolhe
um estilo para transmitir o seu pensamento;
Nível
de fala ou registro formal: variedade culta ou
padrão;
Nível
de fala ou registro informal ou coloquial:
variedade popular ou não-padrão.
Variedade culta (padrão)
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Falada pelas elites;
Padrão, prestigiada, conservadora;
Indica redundantemente o gênero, número e pessoa
(As bolas são amarelas);
Uso de todas as pessoas verbais;
Maior uso da coordenação e subordinação;
Maior uso da voz passiva analítica (foram vendidos) e
sintética (venderam-se);
Maior uso de preposições nas regências (Assistir ao
filme);
Uso de pronomes oblíquos como objetos (Eu o vi) e
retos como sujeito (para eu ver);
Rigorosa utilização da ortografia oficial;
Maior
precisão
vocabular
(tênue/fraco,
gostar/apreciar);
Muitas vezes perde em expressividade (marido
traído).
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Variedade popular (nãopadrão)
Falada pela comunidade em geral;
Não-padrão, estigmatizada, inovadora;
Tendência: eliminar as redundâncias (As bola é
amarela);
Redução das pessoas verbais;
Preferência quanto ao período simples e coordenação;
Usa-se mais a voz ativa (Eles venderam muitos
bilhetes);
Preferência quanto à regência direta sem preposição
(Assistir o filme);
Emprego dos pronomes retos como objetos (Eu vi ele)
e às vezes os oblíquos como sujeitos (para mim ver);
Desvios ortográficos;
Termos com significados amplos, abrangentes (coisa);
Grande expressividade (marido chifrudo).
Exemplo: situação formal
“A
AIDS
ou
SIDA
(Síndrome
da
Imunodeficiência Adquirida) é uma doença provocada
pelo HIV, um vírus com genoma de RNA, que infecta
as células, produz uma cópia do seu genoma em DNA
e incorpora o seu próprio genoma no genoma
humano, localizado no núcleo da célula infectada.
Causa a imunodeficiência e a infecção normalmente é
por secreções genitais ou sangue. Existem
tratamentos para a AIDS que diminuem a progressão
viral, mas não há nenhuma cura conhecida. O mais
importante para prevenir essa doença é fazer
campanhas
de
informação
e
sensibilização,
enfatizando o uso de preservativos nas relações
sexuais e a troca de agulhas para tóxicodependentes.”
(http://pt.wikipedia.org/wiki/AIDS)
Exemplo: situação informal
“Te liga aí: AIDS é uma praga que rói até os
mais fortes, e rói devagarinho. Deixa o corpo sem
defesa contra as doença. Quem pegá essa praga está
ralado de verde e amarelo, de primeiro ao quinto, e
sem vaselina. Num tem dotô que dê jeito, nem reza
brava, nem choro, nem vela, nem ai, Jesus. Pegou Aids
foi pro brejo! Agora sente o aroma da perpétua: AIDS
pega pelo esperma e pelo sangue, entendeu? (...) Eu
num tô te dando esse alô só pra te assombrar, então se
toca! (...) É preciso que cada um se cuide, ninguém
pode valê pra ninguém nesse negócio de Aids. Então,
já viu: transá, só de acordo com o parceiro e de
camisinha!”
(http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno0714.html)
Uso das variantes culta e
popular
Muitas vezes não depende da vontade do falante;
Fatores
extralinguísticos (nível sócio-econômico,
idade, profissão, região, situação);
O
falante da variedade culta, geralmente domina
também a variedade popular, podendo escolher
entre uma e outra;
O falante que só domina a variedade popular, não
tem escolha.
Fenômenos linguísticos
Fala:
mais espontânea, menos elaborada – economia
da língua;
Rápida, dinâmica, sem reflexão;
Contudo:
esses fenômenos
escrita de alguns falantes;
também
ocorrem
na
Depende: do falante e de seu conhecimento da norma
culta;
Falante
contemporâneo: comunicação rápida e
eficiente com redução, exclusão ou modificação de
certas formas;
Realidade
padrão.
da fala das variedades padrão e não-
Redução das marcas de
plural
Marcas
de plural: consideradas redundantes e
repetitivas;
Na
rapidez
desaparecer;
da
oralidade:
Para
tendem
a
indicar o plural: o falante marca uma só
palavra;
Não há alteração do sentido.
Redução das marcas de
plural
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Simplificação da
conjugação verbal
Levado
em consideração: a pessoa já está indicada na
forma pronominal, não sendo preciso conjugar o verbo;
Redundâncias eliminadas;
Inclusão ou troca: a gente, você, vocês;
Desacordo
com a norma culta: eu vou, tu/você vai,
ele/ela vai, nós/a gente vai, vocês vai, eles vai;
Concordância
verbal: norma culta + itens absorvidos
pela fala, como: eu vou, você vai, ele vai, a gente vai,
vocês vão;
Vós: maior ocorrência no discurso religioso.
Simplificação da
conjugação verbal
“Aonde tem mulher, nóis bota pra quebrar
Nóis faz o chão tremer
Faz as viola chorar
Nóis mete o peito mesmo
Nóis não segura a voz
Nóis fica bem doidão
A mulherada mima nóis.”
(Se Tiver Mulher "Nóis Vai“; Cezar & Paulinho)
Desnasalização da vogal
postônica

O som nasal das vogais que estão depois de
uma sílaba tônica é eliminado;

Redução do ditongo nasal;

Ditongo nasal: na pronúncia de “em”, há a o
som da vogal “e”, da semivogal “i”, mais o
nasal, ficando “eim”);

Home, onte, virge, garage, folhage, mirage ao
invés de homem, ontem, virgem, garagem,
folhagem, miragem.
Nasalização da consoante
linguodental

Conjugação de verbos na forma nominal
‘gerúndio’: falano, cantano, comeno, brincano e
tocano em vez de falando, cantando, comendo,
brincando e tocando;

Advérbio quando, pronunciado como quano;

Os fonemas /n/ e /d/ são consoantes linguodentais
e por serem produzidas no mesmo ponto de
articulação, sofrem a assimilação (dois sons
diferentes, mas com algum parentesco, se tornam
semelhantes);

Aqui, há a nasalização do /d/; pode ocorrer
também a nasalização na bilabial /b/, como em
também – tamém.
Redução do ditongo ou
monotongação
Também
há a assimilação, ocorrendo a
redução do ditongo OU em O e do ditongo EI
em E;
O
e U são articulados na mesma zona de
articulação, bem como E e I;
A
escrita ainda mantém esses ditongos, mas
eles são pronunciados como O e E;
Ex.:
enfermêro (enfermeiro); enloquecer
(enlouquecer); lôco (louco); rôpa (roupa).
Eliminação do –r final
Na
rapidez
comum;
da
fala:
fenômeno
bastante
Ex.: verbo estar geralmente é sintetizado para
tá; forma infinitiva dos verbos de todas as
conjugações;
e
outras
palavras,
como
substantivos (amor, dor).
Eliminação do –r final
bp1.blogger.com/.../6IHN0oQhMIU/s320/mijá.JPG
Rotacização ou rotacismo
Transformação
do L em R nos encontros
consonantais ou fim das sílabas; troca do L pelo
R;
Este
fenômeno sempre ocorreu, desde a
passagem do latim para o português, como
sclavu > escravo; plaga > praga; ecclesia >
igreja;
Camões
(“Doenças,
frechas,
e
trovões
ardentes” – em Os Lusíadas, X, 46) e Machado
de Assis (que escrevia froco em vez de floco).
Rotacização ou rotacismo
Assimilação da consoante
lateral pela semivogal
Transformação de LH em I;
Também
há o fenômeno da assimilação – troca
de um fonema por outro mais fácil de articular;
No
caso, o fonema /λ/ (“lhê”) – produzido com
o dorso da língua tocando o palato – é articulado
muito perto do ponto onde é produzida a
semivogal /j/.
Receita Cazêra Minêra de Môi
de Repôi nu Ái e Ói
INGREDIENTI:
5 denti di ái
3 cuié di ói
1 cabêsss de repôi
1 cuié di mastumati
Sá a gosto
MODI FAZÊ:
Cascá o ái, picá o ái i socá o ái cum sá;
Quentá o ói na cassarola;
Fogá o ái socado no ói quenti;
Picá o repôi beeemmm finim;
Fogá o repôi no ói quenti juntu cum ái fogado;
Pô a mastumati mexi cum a cuié prá fazê o môi.
Sirva cum rôis e meléte.
(http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20070909170717AAraqvo)
Hipercorreção
As
pessoas, na tentativa de “acertar” o
emprego da língua (gramática tradicional)
acabam corrigindo demais;
A
hipercorreção é usada geralmente pela
classe média da sociedade;
Ex.:
femenino, previlégio, fazem anos que
não fumo, tinha chego; uso excessivo do
sufixo –érrimo (cansadérrima, lindérrima,
chiquérrimo), haviam muitas pessoas, etc.
Arcaísmo
Heranças,
vestígios
de
outros
tempos,
ocorrências de formas linguísticas antigas;
Ex.:
-Verbos
iniciados com –a (falares regionais,
rurais, não-padrão), como alembrar, amostrar e
alumiar;
-Entonce, despois, escuitar;
-Emprego da preposição em regendo verbos de
movimento: vou no clube, cheguei em casa.
Arcaísmo
O caipira vira-se para o compadre e pergunta:
- Ô cumpadre, é verdade que bispo é muito mais
importante que padre?
- É, sim!
- Entonces a partir de agora eu vô chamá ocê de
cumbispo!
(http://www.piadinhas.net/index.php?page=piada&categoria=9&id=548)
Pronome oblíquo usado
como sujeito
Emprego
do pronome MIM como sujeito de
infinitivos: para mim fazer ao invés de para eu
fazer;
Explicação
(Bagno, 2001): há a influência da
preposição para, que atrai o pronome oblíquo; há
uma regra que diz “depois da preposição, pronome
oblíquo”, porém ela serve para orações como trouxe
um livro para mim;
Neste
caso há uma outra regra: “na função de
sujeito de um verbo, o pronome deve figurar no
caso reto”. Mas, os falantes tendem a generalizar a
primeira regra.
Protocolo
(Voz: Ana Carolina/ Composição: Carlinhos
Vergueiro)
É o Procotolo
É a Cardeneta
É a Falculdade
É o Estaltuto
É o Fenônemo
É um Pogresso
E é sempre um crima
E aí vareia
É a largatixa
Que é o pobrema
Essa é que é a Questã
Essa é que é a Questã
Quanto menas vezes falar
dela é melhor
Essa é que é a Questã
Essa é que é a Questã
Quanto menas vezes falar
dela é melhor
Com sastifação.
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