Campo Grande - MS | Sábado, 6 de setembro de 2014 oMatoEstado C7 Grosso do Sul Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul Avenida Calógeras, 3.000 - 67 3384-1654 - www.ihgms.org.br Memórias Era uma casa de taipa, Eron Brum* Choro e desespero na saga dos imigrantes nipônicos à margem direita do Bálsamo Com a espingarda, meu pai abateu a ave rapinadora e me deu de presente João Pereira da Rosa Desde a chegada no Porto de Santos, dia 18 de junho de 1908, do navio Kasato Maru com 781 passageiros ansiosos para iniciar nova vida no país, um fato chamava atenção: a maioria dos imigrantes era procedente da província de Okinawa. Nessa linha é da mais alta relevância o livro Banzai Brasil! Banzai Japão! Histórias de seis gerações (Santos, SP: Editora Espaço do Autor, 2008), da filha de imigrantes, a advogada Maria Cecília Missako Ikeoka, nas comemorações do então centenário da imigração. É comovente a história de seus pais, Tetsuo e Hide Yamauchi. Tetsuo, de apenas 14 anos, emigrou junto com dois tios no dia 3 de novembro de 1917. Eram 1.679 pessoas cheias de esperança com destino ao desconhecido Brasil a bordo do Wakasa Maru. Maria Cecília relata que seu pai sempre comentava que os passageiros sentiam náuseas, pois o navio era pequeno e balançava muito e a maioria permanecia quase o dia inteiro deitada. Viam-se crianças chorando, mães desesperadas. E foi a bordo do Wakasa Maru que o pequeno Tetsuo, nascido no ano 36 da Era Meiji, “comemorou” os seus 14 anos. Foi muito cumprimentado pelos tios, companheiros de viagem e até pela tripulação. Anos depois confessou à sua filha escritora que sentira, naquele momento, ao completar 14 anos, que não se era mais um menino, e sim um rapaz cheio de sonhos e esperanças. Após 55 dias os passageiros do Wakasa Maru, a 16ª leva de japonesas, desembarcara no porto de Santos e imediatamente seguira, de trem, para a Hospedaria dos Imigrantes, em São Paulo. Era o dia 28 de dezembro de 1917. Integrado à família Teruya, Tetsuo seguiu para a Fazenda Agudos, na Estação Orlândia, linha Mogiana, no então trem conhecido como Maria Fumaça. Em poucos meses de trabalho de sol a sol na lavoura de café Tetsuo já percebera que as dificuldades seriam bem maiores do que se imaginava e os sonhos de riqueza fácil e rápida se desmanchavam. Passaram-se quatro anos e Tetsou e Hide se casaram por procuração. No dia 12 de setembro de 1921, Hilde desembarcara do navio Tacoma Maru, no porto de Santos, e, ao descer as escadarias, nervosa e preocupada, tentava localizar o marido e os tios entre a multidão. Primeira decepção: ficou sabendo que eles a esperavam na fazenda. Fez o mesmo percurso de Tetsuo: Hospedaria dos Imigrantes e, quatro dias depois, Fazenda Agudos. E assim começava a saga de mais um casal de imigrantes japoneses, cheia de surpresas, decepções, trabalho árduo, quase escravo, mas vitoriosa e exemplar. Tetsuo e Hide perceberam logo que o trabalho nas fazendas de café do interior paulista não garantia o futuro sonhado e buscaram alternativas. Fixaram-se primeiro em São Vicente, litoral de São Paulo, e não demorou muito já estavam comercializando frutas e verduras no Mercado Municipal de Santos. E foi a bordo do Wakasa Maru que o pequeno Tetsuo “comemorou” os seus 14 anos *Eron Brum é titular da cadeira nº.24 do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul. Contato: [email protected] A os quatro anos de idade, morávamos em casa de taipa, construída à margem direita do córrego Bálsamo, distante uns oitocentos metros da casa do vovô Antônio Luís, hoje Museu José Antônio Pereira. Éramos: Nestor e Belchiorlina (Branca), meus pais, Jorge o caçula, na época com dois anos e eu. Ensaiei a primeira saída de casa. No terreiro da casa cucuricava uma galinha com uma rodada de pintinhos. Um gavião sobrevoou o ambiente e num voo rápido, zás, agarrou um dos filhos e foi pousar na ponta do galho seco do jenipapeiro para devorar a sua presa. Meu pai, que assistira à cena, buscou sua espingarda e abateu a ave rapinadora. Caída no chão, tomou-a pelos pés e me deu como presente. Imaginei dar um presente a Maria, e lá fui pela estrada que levaria à fazenda Diante do “belo espécime”, imaginei levá-lo para Maria Barbosa, jovem de dezesseis anos, filha da tia Neguinha, irmã mais velha do meu pai, que viera da cidade passar as férias na casa do vovô Antônio Luis. Maria era bonita e eu a via com grande admiração. Imaginei lhe dar um presente - um gavião, e lá fui pela estrada que me levaria à fazenda. Mas, na porteira que limitava o pátio do piquete da frente da nossa casa, minha mãe me alcançou e perguntou: - Onde Aprovação em Medicina e o exercício da profissão Havia chegado o esperado momento. Na segunda quinzena de dezembro de 1947, fui até a Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, na rua Frei Caneca, 94, onde fiz a inscrição para o vestibular, que seria realizado na segunda quinzena de janeiro de 1948. Recebi as informações de que a prova escrita de biologia, química e física seriam realizadas no Instituto de Educação, na rua Maris e Barros e as provas orais na Escola de Medicina e Cirurgia. Resultado: consegui classificação modesta, 64º lugar numa turma de cem classificados, dos quais 94 se graduaram em19 de dezembro de 1953. Quando instalei meu consultório na rua Cândido Mariano, 512, no ano de 1954, associei-me, para fazer frente às despesas, ao dr. Coriolano Ferraz Baís, clínico-geral e cirurgião, e ao dr. Kalil Rahe, cirurgião-dentista. Eu dedicava à clínica geral e à anestesia, minha especialidade. (JPR) vai com esse gavião? Respondi-lhe de pronto: - Vou levá-lo para minha namorada! Estava interrompida minha primeira escapada de casa. Era o ano de 1932. Na casa de taipa à margem direita do córrego Bálsamo, moramos até o final de 1933, quando papai mandou construir uma casa de alvenaria à margem esquerda do Bálsamo, em terras que lhe foram doadas pelo vovô Antônio Luís Pereira. O autor é titular da cadeira nº.16 do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul. Texto compilado do seu livro Da casa de taipa à Universidade – Memórias de um Médico. O primeiro Reitor da Universidade Estadual Eu dedicava à clínica geral e à anestesia Acervo IHGMS O governador Pedro Pedrossian assinou, em 16 de março de 1969, a Lei n.2.947,criando a Universidade Estadual de Mato Grosso – hoje Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. A instalação da Universidade foi no dia 25 de novembro de 1970, na presença do ministro da Educação, Jarbas Passarinhos e de muitas autoridades, e do primeiro reitor, João Pereira da Rosa. Desdobrávamo-nos para oferecer sempre o melhor para os alunos, chegamos a contratar professores e, antes que estes iniciassem as aulas, qualificávamos com cursos de didática do ensino superior. Foi um período promissor para edificar a Universidade.(JPR) A instalação da primeira Universidade do Estado foi no dia 25 de novembro de 1970, na presença do ministro da Educação, Jarbas Passarinhos, e do primeiro reitor, João Pereira da Rosa. A UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) teve sua origem com a criação da Faculdade de Farmácia e Odontologia. Curso de Didádica para qualificar os professores Campo Grande: Personalidades Históricas – Vol.3 Jipanko Brasiliense Banzai Brasil! Banzai Japão! Separação – Do nascimento à morte Organizador: Arnaldo Rodrigues Menecozi Editora: IHGMS Autora: Simone Katsuren Nakasato Editora: Mileto Autora: Maria Cecília Missako Ikeoka Editora: Espaço do Autor Autora: Iracilda Gonzales Editora: Life A série personalidades históricas tem, como objetivo primordial, a valorização de um nicho histórico que está necessitando de revigoramento, ou seja, o das biografias de personalidades que marcaram a construção de Campo Grande e de Mato Grosso do Sul. E, mais, atender à procura crescente, para trabalhos escolares, em todos os níveis, incluindo leitores dos mais variados perfis. Neste volume, há biografias de personalidades relevantes como Seitoku Ishikawa Nelly Martins e Paulo Coelho Machado, entre outros. Campo-grandense formada em direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, a autora confessa ser apaixonada pelo íntimo do imigrante japonês. E ao mergulhar na alma dos seus antepassados, descobre que eles sempre estão em busca de uma brecha para que “ sua alma se sinta `a vontade” . Essa brecha, garante, foi o Brasil. Seu livro é repleto de poemas com revelações como esta: “ Partida/Dor ferida/Pela sentida saudade/Crueldade/Separar pai e filho/Do navio/Dançava o adeus/Lenços, acenos, lágrimas. Este livro conta a história de imigrantes japoneses, que desembarcaram em terras brasileiras em busca de um futuro melhor para suas famílias. O Japão da Era Taisho enfrentava uma grave crise econômica e o Brasil necessitava de trabalhadores para as suas fazendas de cafés. Em busca de realizar o sonho de “ trabalhar alguns anos no Brasil e voltar ricos para o Japão”, a autora conta a história de seus pais, nascidos em Okinawa, por sinal bem diferente da propaganda dos governos do brasileiro e japonês. A autora, médica psicanalista, descreve neste livro as separações de casais, vividas muitas vezes como algo traumático e irreversível. Fundamenta-se, por exemplo, na separação do escritor russo Leon Tostói, para exemplificar essa ruptura já na vida adulta. Referência oportuna leva a análise de outro tipo de separação: o sonho do sociólogo francês Edgar Moran, com a mãe morta quando ele tinha apenas 10 anos, que o ajudou na elaboração do seu sentimento de perda.