Campo Grande - MS | Sábado, 6 de setembro de 2014
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Grosso do Sul
Instituto
Histórico e
Geográfico
de Mato Grosso
do Sul
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Memórias
Era uma casa de taipa,
Eron Brum*
Choro e desespero na saga
dos imigrantes nipônicos
à margem direita do Bálsamo
Com a espingarda, meu pai abateu a ave rapinadora e me deu de presente
João Pereira da Rosa
Desde a chegada no Porto de Santos, dia 18
de junho de 1908, do navio Kasato Maru com 781
passageiros ansiosos para iniciar nova vida no país,
um fato chamava atenção: a maioria dos imigrantes
era procedente da província de Okinawa. Nessa
linha é da mais alta relevância o livro Banzai
Brasil! Banzai Japão! Histórias de seis gerações
(Santos, SP: Editora Espaço do Autor, 2008), da filha
de imigrantes, a advogada Maria Cecília Missako
Ikeoka, nas comemorações do então centenário da
imigração.
É comovente a história de seus pais, Tetsuo e
Hide Yamauchi. Tetsuo, de apenas 14 anos, emigrou
junto com dois tios no dia 3 de novembro de 1917.
Eram 1.679 pessoas cheias de esperança com
destino ao desconhecido Brasil a bordo do Wakasa
Maru. Maria Cecília relata que seu pai sempre
comentava que os passageiros sentiam náuseas, pois
o navio era pequeno e balançava muito e a maioria
permanecia quase o dia inteiro deitada. Viam-se
crianças chorando, mães desesperadas.
E foi a bordo do Wakasa Maru que o pequeno
Tetsuo, nascido no ano 36
da Era Meiji, “comemorou”
os seus 14 anos. Foi muito
cumprimentado pelos tios,
companheiros de viagem e
até pela tripulação. Anos
depois confessou à sua filha
escritora que sentira, naquele
momento, ao completar 14
anos, que não se era mais um
menino, e sim um rapaz cheio
de sonhos e esperanças.
Após 55 dias os
passageiros do Wakasa Maru,
a 16ª leva de japonesas,
desembarcara no porto de
Santos e imediatamente
seguira, de trem, para a
Hospedaria dos Imigrantes,
em São Paulo. Era o dia 28 de
dezembro de 1917. Integrado
à família Teruya, Tetsuo seguiu para a Fazenda
Agudos, na Estação Orlândia, linha Mogiana, no
então trem conhecido como Maria Fumaça.
Em poucos meses de trabalho de sol a sol
na lavoura de café Tetsuo já percebera que
as dificuldades seriam bem maiores do que se
imaginava e os sonhos de riqueza fácil e rápida se
desmanchavam. Passaram-se quatro anos e Tetsou e
Hide se casaram por procuração.
No dia 12 de setembro de 1921, Hilde
desembarcara do navio Tacoma Maru, no porto
de Santos, e, ao descer as escadarias, nervosa e
preocupada, tentava localizar o marido e os tios
entre a multidão. Primeira decepção: ficou sabendo
que eles a esperavam na fazenda. Fez o mesmo
percurso de Tetsuo: Hospedaria dos Imigrantes e,
quatro dias depois, Fazenda Agudos.
E assim começava a saga de mais um casal
de imigrantes japoneses, cheia de surpresas,
decepções, trabalho árduo, quase escravo, mas
vitoriosa e exemplar. Tetsuo e Hide perceberam
logo que o trabalho nas fazendas de café do interior
paulista não garantia o futuro sonhado e buscaram
alternativas. Fixaram-se primeiro em São Vicente,
litoral de São Paulo, e não demorou muito já
estavam comercializando frutas e verduras no
Mercado Municipal de Santos.
E foi a bordo
do Wakasa
Maru que o
pequeno Tetsuo
“comemorou” os
seus 14 anos
*Eron Brum é titular da cadeira nº.24 do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do
Sul. Contato: [email protected]
A
os quatro anos de idade,
morávamos em casa
de taipa, construída à
margem direita do córrego Bálsamo, distante uns oitocentos
metros da casa do vovô Antônio
Luís, hoje Museu José Antônio
Pereira. Éramos: Nestor e Belchiorlina (Branca), meus pais,
Jorge o caçula, na época com
dois anos e eu. Ensaiei a primeira saída de casa.
No terreiro da casa cucuricava
uma galinha com uma rodada de
pintinhos. Um gavião sobrevoou
o ambiente e num voo rápido,
zás, agarrou um dos filhos e foi
pousar na ponta do galho seco do
jenipapeiro para devorar a sua
presa. Meu pai, que assistira à
cena, buscou sua espingarda e
abateu a ave rapinadora. Caída
no chão, tomou-a pelos pés e me
deu como presente.
Imaginei dar um presente a Maria, e lá
fui pela estrada que levaria à fazenda
Diante do “belo espécime”,
imaginei levá-lo para Maria Barbosa, jovem de dezesseis anos,
filha da tia Neguinha, irmã mais
velha do meu pai, que viera da
cidade passar as férias na casa
do vovô Antônio Luis. Maria era
bonita e eu a via com grande
admiração. Imaginei lhe dar
um presente - um gavião, e lá
fui pela estrada que me levaria
à fazenda.
Mas, na porteira que limitava
o pátio do piquete da frente
da nossa casa, minha mãe me
alcançou e perguntou: - Onde
Aprovação em Medicina
e o exercício da profissão
Havia chegado o esperado
momento. Na segunda quinzena de dezembro de 1947,
fui até a Escola de Medicina
e Cirurgia do Rio de Janeiro,
na rua Frei Caneca, 94, onde
fiz a inscrição para o vestibular, que seria realizado na
segunda quinzena de janeiro
de 1948. Recebi as informações de que a prova escrita
de biologia, química e física
seriam realizadas no Instituto
de Educação, na rua Maris e
Barros e as provas orais na
Escola de Medicina e Cirurgia.
Resultado: consegui classificação modesta, 64º lugar
numa turma de cem classificados, dos quais 94 se graduaram em19 de dezembro
de 1953. Quando instalei
meu consultório na rua Cândido Mariano, 512, no ano
de 1954, associei-me, para
fazer frente às despesas, ao
dr. Coriolano Ferraz Baís,
clínico-geral e cirurgião, e ao
dr. Kalil Rahe, cirurgião-dentista. Eu dedicava à clínica
geral e à anestesia, minha
especialidade. (JPR)
vai com esse gavião? Respondi-lhe de pronto: - Vou levá-lo
para minha namorada! Estava
interrompida minha primeira
escapada de casa. Era o ano
de 1932.
Na casa de taipa à margem
direita do córrego Bálsamo,
moramos até o final de 1933,
quando papai mandou construir uma casa de alvenaria à
margem esquerda do Bálsamo,
em terras que lhe foram doadas
pelo vovô Antônio Luís Pereira.
O autor é titular da cadeira nº.16 do Instituto
Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul.
Texto compilado do seu livro Da casa de taipa
à Universidade – Memórias de um Médico.
O primeiro Reitor da
Universidade Estadual
Eu dedicava
à clínica
geral e à
anestesia
Acervo IHGMS
O governador
Pedro Pedrossian
assinou, em 16 de
março de 1969, a Lei
n.2.947,criando a Universidade Estadual
de Mato Grosso – hoje
Universidade Federal
de Mato Grosso do
Sul.
A instalação da
Universidade foi no
dia 25 de novembro de
1970, na presença do
ministro da Educação,
Jarbas Passarinhos
e de muitas autoridades, e do primeiro
reitor, João Pereira da
Rosa.
Desdobrávamo-nos
para oferecer sempre
o melhor para os
alunos, chegamos a
contratar professores
e, antes que estes
iniciassem as aulas,
qualificávamos com
cursos de didática do
ensino superior. Foi
um período promissor
para edificar a Universidade.(JPR)
A instalação da primeira Universidade do Estado foi no dia 25 de novembro de 1970, na presença do
ministro da Educação, Jarbas Passarinhos, e do primeiro reitor, João Pereira da Rosa. A UFMS (Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul) teve sua origem com a criação da Faculdade de Farmácia e Odontologia.
Curso de
Didádica para
qualificar os
professores
Campo Grande: Personalidades Históricas
– Vol.3
Jipanko Brasiliense
Banzai Brasil! Banzai Japão!
Separação – Do nascimento à morte
Organizador: Arnaldo Rodrigues
Menecozi
Editora: IHGMS
Autora: Simone Katsuren
Nakasato
Editora: Mileto
Autora: Maria Cecília Missako
Ikeoka
Editora: Espaço do Autor
Autora: Iracilda Gonzales
Editora: Life
A série personalidades históricas
tem, como objetivo primordial, a
valorização de um nicho histórico
que está necessitando de revigoramento, ou seja, o das biografias
de personalidades que marcaram
a construção de Campo Grande e
de Mato Grosso do Sul. E, mais,
atender à procura crescente, para
trabalhos escolares, em todos os
níveis, incluindo leitores dos mais variados perfis. Neste volume,
há biografias de personalidades relevantes como Seitoku
Ishikawa Nelly Martins e Paulo Coelho Machado, entre outros.
Campo-grandense formada em
direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, a autora
confessa ser apaixonada pelo
íntimo do imigrante japonês. E
ao mergulhar na alma dos seus
antepassados, descobre que
eles sempre estão em busca
de uma brecha para que “ sua
alma se sinta `a vontade” . Essa brecha, garante, foi o Brasil.
Seu livro é repleto de poemas com revelações como esta: “ Partida/Dor ferida/Pela sentida saudade/Crueldade/Separar pai e
filho/Do navio/Dançava o adeus/Lenços, acenos, lágrimas.
Este livro conta a história de
imigrantes japoneses, que desembarcaram em terras brasileiras
em busca de um futuro melhor
para suas famílias. O Japão da
Era Taisho enfrentava uma grave
crise econômica e o Brasil necessitava de trabalhadores para
as suas fazendas de cafés. Em
busca de realizar o sonho de “
trabalhar alguns anos no Brasil e voltar ricos para o Japão”, a autora
conta a história de seus pais, nascidos em Okinawa, por sinal bem
diferente da propaganda dos governos do brasileiro e japonês.
A autora, médica psicanalista,
descreve neste livro as separações
de casais, vividas muitas vezes
como algo traumático e irreversível.
Fundamenta-se, por exemplo, na
separação do escritor russo Leon
Tostói, para exemplificar essa ruptura já na vida adulta. Referência
oportuna leva a análise de outro
tipo de separação: o sonho do
sociólogo francês Edgar Moran, com a mãe morta quando ele
tinha apenas 10 anos, que o ajudou na elaboração do seu sentimento de perda.
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Era uma casa de taipa, - Instituto Histórico e Geográfico de Mato