Rev. Bras. Fisiol. Vegetal 3(1): 57-61, 1991 CULTURA “IN VITRO” DE AMEIXEIRA: EFEITO DO ACIDO INDOLBUTIRICO, TIPO DE LÂMPADA E INTENSIDADE LUMINOSA NO ENRAIZAMENTO1 ARIANO M. DE MAGALHÃES JÚNIOR2 e JOSÉ ANTÔNIO PETERS3 COMUNICAÇÃO propagação convencionais (Ponchia & Roselli 1980). A técnica de propagação “in vitro” baseia-se principalmente no cultivo de brotos em meio enriquecido com citocininas que induzem a multiplicação dos mesmos. Estes são então transferidos a meios de cultura, geralmente contendo auxinas, para que possam enraizar (Baleriola — Lucas & Mullins, 1984). No entanto, apesar do sucesso da micropropagação, existem espécies e cultivares com pouca habilidade para o enraizamento “in vitro” (Zimmerman 1984). A ameixa cv. Santa Rosa apresenta problemas de enraizamento, que afetam a sua posterior sobrevivência quando transferida a novo substrato, em casa de vegetação. Em vista disto, este trabalho relata a utilização de várias concentrações de ácido indolbutírico (AIB), em meio mineral de Murashige & Skoog (1962) diluído, associadas a diferentes intensidades luminosas e tipo de lâmpadas, com a finalidade de melhorar o enraizamento desta cultivar de ameixeira, bem como reduzir os custos da produção “in vitro”. RESUMO — A percentagem de brotos enraizados, o comprimento das raízes e a formação de raízes secundárias aumentam com a diminuição da concentração de ácido indolbutírico (AIB) no meio de cultura. O enraizamento dos brotos é pouco influenciado pela intensidade luminosa e pelo tipo de lâmpada utilizada. Termos para indexação: micropropagação, Prunus salicina, enraizamento. “IN VITRO” CULTURE OF PLUM: EFFECT OF INDOLE-3-BUTYRIC ACID, LIGHT BULB TYPE AND INTENSITY OF LIGHT IN THE ROOTING ABSTRACT — The percentage of rooted shoots, the average root lenght and the formation of secondary roots increased as the indole-3-butyric acid concentration in the media was lowered. On the other hand, the light intensity and light bulb type show little effect on the rooting of plum shoots. MATERIAL E MÉTODOS Index Terms: micropropagation, Prunus salicina, rooting. Foram utilizados brotos de ameixeira Prunus salicina da cultivar Santa Rosa obtidos através da cultura de meristemas. Para o enraizamento, brotos medindo cerca de 1,0 cm foram transferidos para meio de cultura contendo 1/3 dos sais minerais de Murashige & Skoog (1962) (MS) e ácido indolbutírico (AIB) a 0,2, 0,5 e 0,8 mg/l. O pH do meio foi ajustado para 6,2, antes da adição do agar (6 g/l) e posteriormente autoclavado a 121*C e 1,5 atm por 15 minutos. Os frascos com os explantes foram expostos a diferentes intensidades luminosas (1.000, 2.000 e 4.000 lux), oriundas de lâmpadas fluorescentes, tipos “Gro-lux” e branca-fria, isoladamente, ou em combinação. Deste modo, as culturas ficaram expostas a três diferentes espectros luminosos INTRODUÇÃO A utilização da micropropagação para espécies frutíferas permite a obtenção de uma enorme quantidade de plantas partindo-se de um único explante, em tempo menor que os métodos de 1 2 3 4 Trabalho recebido em 30/01/90 e aceito em 21/05/91. Eng* Agr*, M.Sc., EMBRAPA/Centro de Pesquisa Agropecuária de Terras Baixas de Clima Temperado (CPATB), Cx. P.553 - Capão do Leão, RS. Eng* Agr*, Ph.D., Universidade Federal de Pelotas. Departamento de Botânica - Cx. P.354 - 96001 - Pelotas, RS. Parte do trabalho do primeiro autor, para obtenção do grau de Mestre em Agronomia, Faculdade de Agronomia da UFPel. 57 58 MAGALHÃES JR. & PETERS (lâmpadas branca-fria; lâmpadas “Gro-lux”; lâmpadas branca-fria / lâmpadas “Gro-lux”). Todas as culturas foram incubadas por 30 dias, sob 16 horas de fotoperíodo e temperatura de 25 1*C, durante o período claro, e 23 1*C, no escuro. Com auxílio de um sensor quântico (LI 190-S-1), mediu-se a radiação fotossinteticamente ativa (RFA), em uE s-1m-2, a que foram submetidos os brotos (Tabela 1). primento de raízes e número de raízes (devidamente transformado segundo a Vy + 0,5). As variáveis percentagem de enraizamento e percentagem de brotos com raízes secundárias não foram submetidas à análise estatística. Fezse, apenas, uma avaliação da presença ou ausência destas variáveis, expressando isto percentualmente. TABELA 1 — Radiação fotossinteticamente ativa (RFA) obtida pela utilização de lâmpadas “Gro-lux”, branca-fria e pela combinação de ambas, a diferentes intensidades luminosas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Tipo de Lâmpada Branca-fria Mista “Gro-lux” Intensidade Luminosa (lux) 4.000 2.000 1.000 4.000 2.000 1.000 4.000 2.000 1.000 A média geral de enraizamento foi de 85,19% sendo que esta percentagem foi, praticamente, independente da intensidade luminosa e do tipo de lâmpada (Tabela 2). Por outro lado, a concentração de 0,2 mg/l de AIB apresentou maior percentagem de enraizamento (91,11%) quando comparado com as demais concentrações. Conforme pode ser observado nas Fig. 1 e 2, concentrações mais baixas de AIB diminuíram o número de raízes/broto, porém aumentaram o comprimento das raízes bem como contribuíram para a obtenção de uma maior percentagem de brotos com raízes secundárias (Tabela 2). Estes resultados estão de acordo com os obtidos por Cossio et al (1981) em pesquisa com cerejeira ácida. Tricoli et al (1985), igualmente notaram que o aumento da concentração de AIB, elevava o número de raízes/broto, porém, diminuia o crescimento das mesmas. Esta auxina é uma regulador de crescimento comprovadamente responsável pela indução de enraizamento, conforme considerações de Duffus (1985), sendo que na sua ausência a formação de raízes é nula ou restringe-se a al- RFA (lux) ( Es-1m-2 ) 3.805 2.583 1.028 3.222 2.500 805 3.000 1.778 638 45,66 31,00 12,34 33,66 30,00 9,66 36,00 21,34 7,66 O experimento conduzido foi um fatorial com três tipos de espectros luminosos, três intensidades luminosas e três concentrações de AIB (meio), num delineamento inteiramente casualizado com 20 repetições (20 explantes). Para complementar os resultados de análise de variância utilizou-se o teste de Duncan para o fator lâmpada e a regressão polinomial para os demais fatores. Foram analisadas as variávveis com- TABELA 2 — Percentagem de enraizamento e percentagem de brotos de ameixeira cv . Santa Rosa, com raízes secundárias em função da concentração de AIB, tipo de lâmpada e intensidade luminosa. Conc. de AIB(mg/l) 0,2 Enraizamento(%) Brotos com raízes secundárias(%) 0,5 0,8 Intensidade Luminosa (lux) Tipo de Lâmpada Branca-Fria Mista “Glo-Lux” 1.000 2.000 4.000 91,11 83,88 80,55 82,77 85,00 87,77 85,55 85,55 84,44 77,77 71,66 52,22 65,55 63,33 72,77 53,33 71,66 76,66 Rev. Bras. Fisiol. Vegetal, Vol. 3, 1991 59 CULTURA “IN VITRO” DE AMEIXEIRA guns brotos (Marino, 1982 e Willians et al., 1985). Hu & Wang (1983) salientam que a rizogênese envolve três fases distintas: indução, iniciação e alongamento. Outros pesquisadores, como Cossio et ali.(1981) e Tricoli et al. (1985), observaram que a auxina embora responsável pela indução de enraizamento inibe o crescimento ou alongamento das raízes, o que se verificou no presente trabalho, nas concentrações mais elevadas de AIB. Verificou-se, ainda, que concentrações mais elevadas propiciaram a formação de calo na base dos brotos, retardando o enraizamento. FIGURA 2 — Efeito da concentração do ácido indolbutírico sobre o comprimento médio de raízes formadas em brotos de ameixeira, cv. Santa Rosa. sais minerais poderia contribuir para tornar este processo mais econômico. TABELA 3 — Efeito do tipo de lâmpada sobre o número de raízes/broto e comprimento médio de raízes de brotos de ameixeira, cv. Santa Rosa. Tipo de Lâmpada FIGURA 1 — Efeito da concentração do ácido indolbutírico (AIB) sobre o número de raízes formadas em brotos de ameixeira, cv. Santa Rosa. A composição mineral proposta por Murashige & Skoog (1962) reduzida a um terço, foi eficiente no enraizamento da ameixeira cv. Santa Rosa (85,19%). Esta percentagem média é similar as obtidas por vários pesquisadores (Cossio et al., 1981; Marino, 1982 - 1983; Baleriola-Lucas & Mullins, 1984 e Bassi, 1984), que obtiveram entre 80 e 100% de enraizamento, utilizando a metade dos macro e micronutrientes do meio de MS. Portanto, o emprego de MS contendo 1/3 dos “Gro-lux” Branca-fria Mista N* de Raízes/ Broto Comp. de Raízes (cm) 5,08a* 4,80ab 4,20b 2,51a 2,45a 2,37a *Médias seguidas por letras distintas diferem entre si ao nível de 5% de significância. Quanto ao tipo de lâmpadas (Tabela 3), verificou-se que embora tenha se observado diferença estatística entre as lâmpadas utilizadas, este fator pouco influi sobre a variável número de raízes/broto e não acusou diferença para o comprimento das raízes. Sendo assim, o emprego de lâmpadas branca-fria, mais baratas, em substi- Rev. Bras. Fisiol. Vegetal, Vol. 3, 1991 60 MAGALHÃES JR. & PETERS tuição as lâmpadas “Gro-lux” ou associadas a estas, poderia diminuir os custos de produção das mudas. Porém, notou-se que lâmpadas “Gro-lux” apresentaram melhores respostas na formação de raízes secundárias. De acordo com as considerações de Tricoli et al. (1985) e Chee (1986), a luz vermelha poderia estar favorecendo a formação de um inibidor da AIA oxidase, a quercetina que auxiliaria indiretamente na formação das raízes secundárias. Na Fig. 3, observa-se que intensidades mais baixas (1.000 lux) ou mais elevadas (4.000 lux) diminuíram o número de raízes/broto, no entanto, a percentagem de brotos com raízes secundárias (Tabela 2) e o comprimento das raízes (Fig. 4) foram beneficiados pelo aumento da intensidade de luz. Segundo Tricoli et al. (1985), o estímulo FIGURA 4 — Efeito da intensidade luminosa sobre o comprimento médio de raízes formadas em brotos de ameixeira, cv. Santa Rosa. da uxina nos brotos determinasse a redução do número de raízes/brotos e aumentasse o comprimento das mesmas. A maior intensidade luminosa (4.000 lux) também foi benéfica para o crescimento da parte aérea dos brotos atingindo, em certos casos 6,0 cm de altura. Esta resposta poderia estar relacionada com um melhor aproveitamento da radiação fotossinteticamente ativa (RFA) (Tabela 1), que é maior nas intensidades mais altas, fazendo com que ocorresse uma melhor absorção de nutrientes, do meio de cultura, após a formação das raízes. CONCLUSÕES FIGURA 3 — Efeito d intensidade luminosa sobre o número de raízes formadas em brotos de ameixeira, cv. Santa Rosa. dado ao enraizamento “in vitro” é um resultado da soma do AIA endógeno dos brotos mais a auxina adicionada ao meio de cultura. Sendo assim, poder-se-ia tentar explicar os resultados obtidos através de uma possível degradação pelas altas intensidades luminosas do AIA presente nos brotos (Hess, 1975), fazendo com que a diminuição Os resultados mostraram que se pode diminuir os custos de produção de mudas sadias de ameixeira, utilizando-se para o enraizamento “in vitro”, lâmpadas branca-fria como fonte de luz e meios de cultura com concentrações mais baixas de reguladoras de crescimento e sais minerais. REFERÊNCIAS BALERIOLA-LUCAS, C. & MULLINS, M. G. Micropropagation of two French prune cultivars (Prunus domestica L.). Agronomie, 4(5):473-7, 1984. Rev. Bras. Fisiol. Vegetal, Vol. 3, 1991 CULTURA “IN VITRO” DE ALMEIXEIRA BASSI, D. Propagazione “in vitro” del sucino europeo “Prugna d’Agen-Ente 707”.Revista di Fruticultura, 2:31-4, 1984. CHEE, R. “In vitro” culture of Vitis: The effects of light spectrum, manganese sulfate and potassium iodide on morphogenesis. Plant Cell Tissue Organ Culture, 7:121-34, 1986. 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