UTILIZAÇÃO DE CINZAS PROVENIENTES DA QUEIMA DE MADEIRA EM CALDEIRA DE AGROINDÚSTRIA COMO ADITIVO EM ARGAMASSAS PARA FINS NÃO ESTRUTURAIS. Alexsandro Luiz Julio(1) Biólogo pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ. Mestre em Engenharia Civil pela Universidade de Passo Fundo – UPF. Professor do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade do Contestado – UnC campus Concórdia – SC. Julian Grub Arquiteto Urbanista pela Universidade do Vale dos Sinos – UNISINOS. Mestre em Engenharia Civil pela Universidade de Passo Fundo – UPF. Professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale dos Sinos – UNISINOS campus São Leopoldo – RS. Daniela Bagnara Matemático pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó - UNOCHAPECÓ. Pós-graduada em ensino de Matemática e Física pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas – CELER. Mestranda em Engenharia Civil pela Universidade de Passo Fundo – UPF. Guilherme Händel Dipp Arquiteto Urbanista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Pósgraduado em Arquitetura Comercial pela Universidade do Vale dos Sinos – UNISINOS. Mestranda em Engenharia Civil pela Universidade de Passo Fundo – UPF. Águida Gomes de Abreu Engenheira Civil pela Universidade do Vale dos Sinos – U NISINOS. Mestrado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Doutora em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Professora dos Cursos de Engenharia Civil e Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Passo Fundo – UPF. Endereço(1): Rua Victor Sopelsa, 3000. Bairro Salete. Concórdia – SC – CEP 89700000 – Brasil – Tel.: (49) 3441-1000 – e-mail: [email protected]. UTILIZAÇÃO DE CINZAS PROVENIENTES DA QUEIMA DE MADEIRA EM CALDEIRA DE AGROINDÚSTRIA COMO ADITIVO EM ARGAMASSAS PARA FINS NÃO ESTRUTURAIS. INTRODUÇÃO As cinzas provenientes da queima de combustíveis de origem vegetal em caldeiras é um problema recorrente nas plantas de beneficiamento de grãos do sul do Brasil, em especial o da soja. Devido ao custo e a disponibilidade, a madeira ainda é muito usada. A quantidade de resíduo gerado deste processo tornou-se um problema, pois é um Material Particulado Fino (MPF), que espalhar-se por quilômetros. O mesmo possui reatividade com o solo, sendo usadas como corretivo, mesmo que de forma empírica. Por essas características este resíduo tornou-se um problema ambiental de solução complexa. Segundo Maltz (2003) a forma mais comum de lançamento de resíduos ainda são os aterros sanitários, que mesmo tendo alta tecnologia ainda apresentam o risco da alta concentração de poluentes. O gerenciamento dos resíduos sólidos e a destinação ou o reaproveitamento ganha força com a responsabilidade ambiental exigida de empresas que precisam conquistar novos mercados. Nesta realidade a construção civil passou a ser consumidora de resíduos produzidos por ela mesma, como se tornou destino adequado de resíduos de outros processos produtivos. O uso de resíduos na construção civil é crescente. Lébeis (2003) afirma que com a legislação ambiental mais restritiva dia após dia, além dos custos do tratamento dos resíduos poderão ser repassados aos cidadãos em formas de impostos. Assim, utilizar resíduos sólidos como matéria-prima e sua transformação passam a ser viáveis para empresas e pessoas e para o meio ambiente. Este trabalho propôs avaliar o uso do resíduo cinza de caldeiras alimentada com madeira de uma indústria de Passo Fundo, RS, nas formas in natura e queimada em comparação com um aditivo tradicional, a sílica ativa, em argamassas para uso não estrutural, substituindo parcialmente o cimento e avaliando o comportamento aos testes exigidos pela NBR 9778/2006 para absorção de água, índice de vazios e massa específica. Além disso, foi testada a resistência à compressão e a resistência à compressão diametral conforme as NBR 7215/1996 e NBR 7222/1994. As avaliações foram feitas em corpos de prova em laboratório com diferentes concentrações de resíduo misturado a argamassa em comparação com misturas com sílica ativa e de argamassa sem aditivos. OBJETIVOS Avaliar a qualidade de argamassas que receberam em sua constituição do resíduo sólido cinza de caldeira através das análises de rompimento de corpos de prova comparando seu desempenho com argamassas tradicionais e com argamassas que receberam aditivos consagrados comercialmente. Quantificar a capacidade de absorção de água nas argamassas que possuem o resíduo cinza de caldeira em comparação a argamassa sem a mesma e com o aditivo comercial sílica ativa. MATERIAIS E MÉTODOS As amostras do resíduo foram coletadas após a limpeza das caldeiras. Em seguida foram peneiradas para eliminar materiais grossos. Foram preparadas duas amostras, uma in natura e outra que passou por processo de queima para a retirada de sobras de matéria orgânica com o uso de um recipiente metálico e uma fonte de calor (fogareiro). Ao final obtiveram-se duas amostras distintas denominadas cinza preta (CP), in natura e cinza queimada (CQ). Foram preparadas, em duplicata, misturas com diferentes concentrações de resíduos entre 10%, 20% e 30% para a construção dos corpos de prova. Para sílica ativa utilizou-se 10%, o que é tradicionalmente usado. O cimento utilizado foi do tipo CP II. O tempo de cura dos corpos de prova foi de 28 dias. Os traços utilizados e a nomenclatura identificadora são apresentados na tabela 1. Tabela 1: Proporções dos materiais utilizadas para a confecção dos corpos de prova. Quantidade de materiais (g) Traço Cimento Resíduo Areia Água 0 CP10% CP20% CP30% CQ10% CQ20% CQ30% S.A.10% 700 630 560 490 630 560 490 630 70 140 210 70 140 210 70 2100 2100 2100 2100 2100 2100 2100 2100 350 350 350 350 350 350 350 350 Após a preparação das misturas as mesmas foram submetidas a testes de consistência, conforme rege a NBR 13276/2002. Para a construção dos corpos de prova foram utilizados tubos de PVC e seguido o que determina a NBR 5738/2003. Após o período de cura os mesmos foram submetidos a testes de resistência conforme as NBR 7215/1996 e NBR 7222/1994. Para avaliar se a adição de tal resíduo na argamassa causaria modificações com relação a índice de vazios, absorção de água e massa específica os corpos de prova foram submetidos aos testes previstos na NBR 9778/2006, em duplicata e avaliados conforme as diretrizes da mesma. Esta pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Materiais de Construção Civil – LABOMACC da Universidade do Passo Fundo, sendo que as amostras não foram preparadas no mesmo dia, tendo um intervalo de uma semana entre cada preparação e avaliação dos corpos de prova. O rompimento ocorreu respeitando a diferença da data de construção dos mesmos e foi feito de forma aleatória para evitar possíveis interferências e diluir erros de amostragem. RESULTADOS Os resultados a seguir representam os ensaios realizados com os corpos. Inicialmente foram verificados os valores para resistência a compressão. Os valores estão na tabela 2. Tabela 2: Resultados dos testes de compressão. Traço/Identificação fc28 (MPa) Média Traço/Identificação fc28 (MPa) Média O 22,9 CQ10% 20,7 CP10% 19,4 CQ20% 19,0 CP20% 20,9 CQ30% 15,6 CP30% 16,8 S.A.10% 20,9 As composições que apresentaram maiores resistências foram as elaboradas com cinza in natura (CP20%) com 20,9 MPa média e cinza queimada (CQ10%) com 20,7 MPa média. Comparando com a mistura de referência os valores ficaram em uma faixa próxima. O mesmo se observou em relação a argamassa com a sílica ativa com 20,9 MPa media. A tabela 3 apresenta os valores para os ensaios de tração por compressão diametral realizado sobre os corpos de prova. Tabela 3: Resultados dos testes de tração por compressão diametral. Traço/Identificação ft28 (MPa) Média Traço/Identificação ft28 (MPa) Média O 2,2 CQ10% 2,0 CP10% 2,2 CQ20% 2,0 CP20% 2,2 CQ30% 1,8 CP30% 1,8 S.A.10% 1,9 Para este parâmetro os valores seguem a tendência anterior. Os melhores resultados foram obtidos com as misturas com cinza in natura no percentual de 10% e 20%, valores iguais ao da mistura de referência, 2,2 MPa em média. A mistura com cinza queimada obteve valores de 2,0 MPa em média para as porcentagens de 10% e 20%. Em ambos, os valores ficaram acima da sílica ativa, 1,9 MPa média. Assim, para este item as misturas conseguiram superar o aditivo comercial tendo resultados expressivos, principalmente com a cinza in natura. Outro fator que deve ser levado em conta para adição de outros materiais as argamassas é o índice de vazios, pois este colabora no volume de espaços sem material, que podem comprometer a absorção de água pela argamassa e comprometer a qualidade. Os valores para os parâmetros de índice de vazios e percentuais de absorção de água estão na tabela 4. Tabela 4: Resultados dos testes de índice de vazios. Traço/Identificação Índice de vazios (%) Traço/Identificação Índice de vazios (%) O 21,0 CQ10% 21,7 CP10% 22,6 CQ20% 23,1 CP20% 23,4 CQ30% 23,4 CP30% 25,2 S.A.10% 22,2 Feitas as análises observou-se que os corpos de prova que receberam os aditivos e que apresentaram menor índice de vazios foram o CQ10% e o com sílica ativa S.A.10%. Os demais tiveram índices superiores. A mistura com 10% de cinza queimada teve seu índice de vazios próximo ao da mistura de referência. Esse resultado é expressivo, pois se na análise de absorção de água esta tendência permanecer o uso de cinzas acrescidas ao cimento tende a ganhar força. Para o parâmetro de absorção de água previsto na NBR 9778/2006 a qual os corpos de prova foram submetidos os resultados estão na tabela 5. Tabela 5: Resultados do teste de índice de consistência. Absorção de Absorção de água Traço/Identificação Traço/Identificação água (%) (%) O 10,6 CQ10% 11,0 CP10% 11,4 CQ20% 11,9 CP20% 11,9 CQ30% 12,2 CP30% 13,1 S.A.10% 11,6 O resultado aqui observado mostra que a mistura com 10% de cinza queimada (CQ10%) obteve o melhor desempenho. Os valores de CP10% também merecem destaque, pois se alguma sobra de matéria orgânica existiu, interveio em uma escala pequena. Comparando com a sílica ativa as misturas com 10% de resíduo tiveram melhor desempenho. Visando o comportamento da argamassa com a adição do resíduo cinza de caldeira. Testes de consistência com base na NBR 13276/2002 foram realizados. A tabela 6 apresenta os resultados do teste. Tabela 6: Resultados do teste de índice de consistência. Traço 0 0 CP10%/1 CP10%/2 CP20%/1 CP20%/2 CP30%/1 CP30%/2 Consistência (mm) 335/343 341/347 318/328 329/327 298/302 308/311 290/280 300/301 Traço CQ10%/1 CQ10%/2 CQ20%/1 CQ20%/2 CQ30%/1 CQ30%/2 S.A.10%/1 S.A.10%/2 Consistência (mm) 297/313 337/331 324/334 337/331 273/271 304/308 297/297 308/296 Para evidenciar bem os resultados estes são apresentados de todas as amostras, ou seja, em duplicata e mensurados conforme a NBR 13276/2002, assim, as medidas foram realizadas em três diâmetros tomados em pares de pontos uniformemente distribuídos ao longo do perímetro. Avaliando os resultados não foi possível afirmar que a adição de resíduos de cinza de caldeira ou de sílica ativa possa ter alterado as amostras. O que se percebe e que em todas as amostras há diferenças nas medidas realizadas, porém todas com uma margem não distante dos valores de referência. CONCLUSÕES Após as avaliações realizadas em todos os corpos de prova podemos considerar que a utilização das cinzas de caldeiras proveniente da queima de madeira é viável como aditivo em argamassas. Em todos os testes de aplicação de carga o comportamento dos corpos de prova mostrou desempenho semelhante à composição tradicional de argamassas ou mesmo quando utilizada um aditivo consagrado como a sílica ativa. Em alguns momentos, como no teste de tração por compressão diametral, os resultados dos corpos de prova com resíduo cinza de caldeira foram superiores os resultados comparados com o aditivo tradicional, tendo o mesmo valor da mistura padrão. Já para o índice de vazios das misturas com cinzas queimadas na proporção de 10% foi próximo ao da mistura padrão, o que mostra que a granulometria das cinzas causa interferência significativa na composição da argamassa, já que aumentando o percentual na mistura deste aumenta o índice de vazios. E isso se reflete na capacidade de absorção de água, sendo que o comportamento é seguido, ou seja, mais cinza, mais absorção de água. Finalmente o que se pode considerar é que como forma de destino final, a utilização deste resíduo na construção civil é viável frente aos impactos que a disposição inadequada deste pode causar a saúde ambiental de moradores próximos aos depósitos do mesmo. Conforme cita do Carmo e Portella (2008), o benefício de se usar tais produtos como as escoria, fibras ou resinas, centra-se no aspecto tecnológico, observando que a qualidade do concreto convencional seja, no mínimo, mantida ou melhorada. A adição das cinzas de caldeira pode não ter proporcionado melhorias, mas o desempenho da mesma em quantidades de até 20% do total abre um leque de utilização para tal resíduo, pois o desempenho de modo geral foi satisfatório. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. 5. MALTZ, R. Ampliação dos conceitos do ambientalista José Antonio Lutzenberger no tratamento de resíduos da Klabin Riocell. In: Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental, 5., 2003, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: 2003. LÉBEIS, V. D. L. Viabilidade do uso de resíduos da fabricação de papel em argamassas. 2003. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003. CARMO, J. B. M. do; PORTELLA, K. F. Estudo comparativo do desempenho mecânico da sílica ativa e do metacaulim como adições químicas minerais em estruturas de concreto. Cerâmica, São Paulo, n. 54, 2008. Disponível em: < www.scielo.br/pdf/ce/v54n331/a0754331.pdf>. Acessado em 08 jun 2011. Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. Cimento Portland - Determinação da resistência à compressão NBR 7215/1996. Rio de Janeiro, 1996. ____________________________________________. Argamassa e concreto - Determinação da resistência à tração por compressão diametral de corpos-de-prova cilíndricos NBR 7222/1994. Rio de Janeiro, 1994.