PRESENÇA DE CYSTICERCUS TENUICOLLIS EM MAZAMA SPP. NO MUNICÍPIO DE PASSO FUNDO, RS, BRASIL – RELATO DE CASOS. PRESENCE OF CYSTICERCUS TENUICOLLIS IN MAZAMA SPP. IN PASSO FUNDO, RS, BRASIL - A REPORT OF CASES. Bruno Dall”Agnol1*, Maria Isabel Botelho Vieira2, Adriana Costa da Motta2 , Fabiane Zanchin1, José Roberto da Silva Filho3, Nathalia dos Santos Wicpolt4 , Guilherme Bianchi Vieira da Cunha5, Bianca Silva Medeiros5 RESUMO Cysticercus tenuicollis é a larva do cestóide adulto da Taenia hydatigena que tem como hospedeiros definitivos os cães ou caninos silvestres e como hospedeiros intermediários ovinos, bovinos, caprinos, suínos e algumas espécies de ungulados selvagens, sendo estes últimos importantes para a manutenção do parasito na natureza. Este cestóide pode medir até 500 cm de comprimento. A enfermidade clínica raramente é provocada pela forma larval dessa tênia, entretanto, infecções maciças resultam em hepatite traumática aguda. No presente trabalho objetivou-se relatar quatro casos de Cysticercus tenuicollis em Mazama spp. necropsiados na rotina do Laboratório de Patologia Animal (LPA) e identificados pelo Laboratório de Parasitologia Veterinária (LPV) da Universidade de Passo Fundo. PALAVRAS-CHAVE: Cysticercus tenuicollis, Mazama spp., Taenia hydatigena, cisticercose. SUMMARY Cysticercus tenuicollis is the larva of the cestode Taenia hydatigena adult whose definitive hosts dogs or wild dogs and sheep as intermediate hosts, cattle, goats, pigs and some species of wild ungulates, the latter being important for maintaining the parasite in nature. This cestode can measure up to 500 cm in length. The clinical disease is rarely caused by the larval form of tapeworm, however, infections result in massive traumatic acute hepatitis. This paper aims to report four cases of Cysticercus tenuicollis in Mazama spp. in routine autopsies of Animal Pathology Laboratory (LPA) and identified by the Laboratory of Veterinary Parasitology (LPV) of Passo Fundo University. KEYWORDS: Cysticercus tenuicollis, Mazama spp., Taenia hydatigena, cisticercosis. Cysticercus tenuicollis é a larva do cestóide adulto da Taenia hydatigena que tem como hospedeiros definitivos os cães ou caninos silvestres e como hospedeiros intermediários ovinos, bovinos, caprinos e suínos (URQUHART et al, 1998). Segundo Bowman (2006) algumas espécies de ungulados selvagens também podem servir de hospedeiros intermediários do parasito, contribuindo para a manutenção do ciclo na natureza. Este cestóide pode medir até 500 cm de comprimento. As oncoferas infectantes são transportadas 1 Alunos do Curso de Medicina Veterinária e estagiários do Laboratório de Parasitologia Veterinária (LPV) da Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo, RS, Brasil 2 Professoras Dras do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo, RS, Brasil 3 Médico Veterinário responsável pelo zoológico da Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo, RS, Brasil. 4 Médica Veterinária Residente em Patologia Veterinária da Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo, RS, Brasil. 5 Alunos do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo, RS, Brasil. * Email: Autor correspondente: Campus I, Bairro São José- BR 285, Km 171. CEP: 99001-970- [email protected] pelo sangue ao fígado, onde migram por, aproximadamente, quatro semanas antes de emergir na superfície desse órgão e fixar-se ao peritônio. Em quatro semanas cada oncosfera se desenvolve no C. tenuicollis, que pode atingir até 8 cm de diâmetro. Ocasionalmente, os cisticercos em desenvolvimento são destruídos no fígado, nesses casos, a superfície subcapsular hepática encontra-se salpicada de nódulos esverdeados de, aproximadamente, 1 cm de diâmetro (URQUHART et al, 1998). A enfermidade clínica raramente é provocada pela forma larval dessa tênia, entretanto, infecções maciças resultam em hepatite traumática aguda. (BOWMAN, 2006). No presente trabalho objetivo-se relatar quatro casos de C. tenuicollis em Mazama spp. necropsiados na rotina do Laboratório de Patologia Animal (LPA) e identificados pelo Laboratório de Parasitologia Veterinária (LPV) da FAMV-UPF. Foram diagnosticados quatro casos de C. tenuicollis em Mazama spp. no município de Passo Fundo, RS, sendo o primeiro em 2003, o segundo em 2010 e o terceiro e o quarto em 2011. O primeiro caso ocorreu em um exemplar de Mazama americana (veado campeiro), do sexo feminino, de um ano de idade que havia sido encaminhado ao Hospital Veterinário (HV) da Universidade de Passo Fundo (UPF) para atendimento. Foi relatado que o referido animal havia fugido do recinto por dois dias, retornando com hipotermia e lacerações no membro posterior esquerdo, causadas provavelmente, por agressão de outro animal. Foi realizado tratamento com fluidoterapia, antibiótico e anti-inflamatório, mas o animal veio a óbito, sendo encaminhado para o Laboratório de Patologia Animal (LPA) da UPF para necropsia. A evolução do quadro clínico foi de três dias. À necropsia foram observados cistos acinzentados compatíveis com cisticercos no omento, mesentério e serosa do intestino delgado; abundante líquido sero-hemorrágico nas cavidades abdominal e torácica e no saco pericárdico; presença de úlceras na mucosa do abomaso; fígado com coloração acobreada, de aspecto rugoso e nodular nas superfícies capsular e de corte; rim direito de tamanho diminuído; congestão e hemorragia severa dos pulmões, que apresentavam edema discreto; sendo observado, também, atrofia serosa da gordura do coração. As lesões mais significativas observadas no exame histopatológico consistiram de cirrose hepática multifocal moderada; nefrose multifocal moderada com cilindros granulosos e hialinos, além de nefrite não supurativa multifocal crônica discreta; congestão pulmonar difusa severa e enfisema multifocal moderado, além de congestão cerebral difusa severa. O diagnóstico definitivo da morte foi choque hipovolêmico e neurogênico. O segundo caso foi diagnosticado também em um exemplar de M. americana (veado campeiro), do sexo masculino de treze anos de idade. O animal recebia alimentação a base de verduras, frutas e ração eqüina. Foi relatado que o animal apresentava edema da face, diarréia, prostração e petéquias na orelha. O animal veio a óbito, sendo encaminhado para o LPA para necropsia. A evolução do quadro clínico foi de três meses. À necropsia foi observado um cisto compatível com cisticerco no omento; presença de um piloconcremento de 2,5 cm de diâmetro obstruindo o piloro que apresentava algumas úlceras na mucosa; fígado e rins congestos; edema na porção distal da traquéia; severo edema, congestão e áreas de consolidação nos pulmões; hidropericárdio; sendo observado, também, congestão no cérebro e cerebelo. As lesões no exame histopatológico consistiram de congestão pulmonar difusa severa; pneumonia intersticial fibrinossupurativa multifocal subaguda moderada com colônias bacterianas; atelectasia multifocal moderada; enfisema multifocal discreto e antracose multifocal discreta; nefrose multifocal moderada com cilindros hialinos; estômago com ulceração multifocal discreta a moderada na região do piloro; lipidose hepática difusa moderada. O diagnóstico definitivo consistiu de insuficiência respiratória decorrente de pneumonia bacteriana. O terceiro caso ocorreu em um exemplar de Mazama gouazoubira (Veado catingueiro), do sexo masculino, adulto, não sendo possível determinar a idade exata. Foi encaminhado ao HV da UPF, sendo submetido ao exame clínico apresentando lacerações de pele e abrasões em todo o corpo, hematoma e edema na região mandibular lateral esquerda, hemorragia de pálpebra, ausência do corno esquerdo, secreção ocular bilateral, presença de 2 abrasões na pele na região escapular do lado esquerdo, presença de lacerações de pele nos membros torácicos, lesões com hematoma e hemorragia em torno do ânus, pequena quantidade de carrapatos e presença de projéteis no subcutâneo em diversas partes do corpo. Foi realizada sedação e tratamento com fluidoterapia, antibióticoterapia, analgésicos opióide e Antiinflamatórios, mas o animal veio a óbito, sendo encaminhado ao LPA para necrópsia. A evolução do quadro clínico foi de 12 horas. À necropsia foram observadas lacerações, por vezes hemorrágicas, nos membros torácicos e pélvicos e ao redor do ânus; treze projéteis de arma de fogo localizados no subcutâneo da cabeça, dois na musculatura pélvica, um no fêmur e os demais no subcutâneo dos membros torácicos e pélvicos direitos. Também foram observados edema e hematoma submandibulares, hemoperitônio abundante e numerosas úlceras na mucosa do abomaso. Foram encontrados três cistos parasitários no omento, além de um cisto na serosa do jejuno e um cisto na serosa do reto. O fígado apresentava-se congesto e com áreas pálidas na superfície capsular, sendo que esta apresentava uma pequena cicatriz. Ainda observou-se palidez nos rins; urina avermelhada; hematoma em um dos testículos; edema, congetão e hemorragia pulmonar; coração pálido e com área avermelhada na mitral; hematoma na musculatura dos membros posteriores, por vezes, com área pálida adjacente; fratura na periferia da fossa acetabular direita; fratura completa do isquio e do pubis e cérebro e cerebelo hiperêmicos. As lesões mais significativas observadas no exame histopatológico consistiram de congestão pulmonar difusa severa; edema pulmonar multifocal a coalescente severo; hemorragia pulmonar multifocal moderada; nefrose difusa moderada com cilindros hialinos e ulceração multifocal moderada do abomaso. O diagnóstico definitivo consistiu de traumatismo e choque hipovolêmico. O quarto caso ocorreu em um exemplar de Mazama bororo (veado bororó), macho de 8 anos de idade que foi enviado ao HV UPF para atendimento. Foi relatado que o animal apresentava anorexia a aproximadamente duas semanas e aumento de volume na região sub-mandibular. O animal veio a óbito sendo encaminhado ao LPA para necropsia. À necropsia foram observadas mucosas pálidas; líquido sero-hemorrágico na cavidade abdominal; preseça de um cisto compatível com cisticerco no omento; úlceras na mucosa do abomaso; fígado com acentuação do padrão lobular; regiões medulares renais pálidas; moderado líquido sero-hemorrágico na cavidade torácica; pequena quantidade de conteúdo ruminal no esôfago e pulmão apresentando edema, focos pálidos e hemorragia. No exame histopatológico as lesões encontradas foram pulmões apresentando congestão difusa severa; edema multifocal moderado; hemorragia multifocal discreta a moderada; pneumonia intersticial fibrinossupurativa multifocal subaguda discreta a moderada com colônias bacterianas; congestão hepática difusa severa; congestão difusa severa no cérebro e cerebelo e nefrose difusa moderada por vezes com cilindros hialinos. O diagnóstico definitivo foi dado como insuficiência respiratória. Em todos os quatro casos formas larvárias de C. tenuicollis foram identificadas no exame parasitológico realizado no LPV do Hospital Veterinário da UPF. A presença do C. tenuicollis não foi determinante para a morte dos animais, mas é um importante achado de necropsia que identifica o gênero Mazama como hospedeiro intermediário da T. hydatigena, contribuindo para a manutenção deste parasita no ambiente por meio de um ciclo silvestre. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOWMAN, Dwight D. Helmintos. In: Parasitologia veterinária de Georgis. 8. ed. Barueri: Manole, 2006. cap. 3, p. 137-146. Mac LACHLAN, N. J.; CULLEN, J. M. Fígado, Sistema biliar e pâncreas exócrino. In: CARLTON, W. W. & McGAVIN, M. D. Patologia Veterinária Especial de Thonson. 2 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. cap. 2, p.95-131.URQUHART, G. M.; ARMOUR, J.; DUNCAN, J. L.; DUNN, A. M.; JENNINGS, F. W.. Parasitologia Veterinária. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. 273p. 3