Revista
TIM LIBERTY
É REALMENTE
do CORREIO
ILIMITADO.
CORREIO BRAZILIENSE
domingo, 21 de outubro de 2012.
ano 8. número 388
TIM LIBERTY +50
FLORES E CORES
Na moda e na casa,
a primavera chega para
colorir looks e ambientes
AUTISMO
Há mentes brilhantes
que convivem com
o problema
SAMSUNG
GALAXY S II LITE
Blue Man Group
LIGAÇÕES ILIMITADAS PAR
QUALQUER TIM DO BRASILA
E 50 MINUTOS PARA OUTRAS
OPERADORAS
132 MÊS
R$
/
PLANO + SMARTPHONE
E MAIS:
NAVEGUE
ILIMITADO
POR R$ 29,90/MÊS.
SEM BLOQUEIO,
SEM MULTA,
SEM ASPAS.
Ligações ilimitadas para TIM e RÁDIOS*,
locais e DDD com o 41.
Mais informações em tim.com.br
O valor refere-se à mensalidade do plano TIM Liberty +50 na Oferta Superdesconto TIM (R$ 49) incluindo o serviço Liberty Rádios, somada a parcela mensal do Samsung S II Lite
parcelado em 12 vezes (R$ 82,42). Preço do aparelho à vista: R$ 989. O parcelamento em 12 vezes sem juros é exclusivo para clientes pós-pagos e Liberty Controle, para compras com
cartão de crédito e está sujeito a análise de crédito. O valor do desconto varia conforme o plano contratado e o Estado do cliente. O serviço Liberty Rádios é gratuito por 12 meses.
Após este período o mesmo será desativado e o Cliente poderá entrar em contato para contratá-lo. O serviço pode ser desativado pelo cliente a qualquer momento sem multas por
fidelização. As ofertas são válidas até 23/10/2012 no Distrito Federal e só serão validas para novas ativações no TIM Liberty +50. Esta data poderá ser prorrogada a critério exclusivo
da TIM mediante comunicado no site. Para mais informações sobre as ofertas acima, acesse os regulamentos em www.tim.com.br, ligue *144 do seu TIM ou 1056 de qualquer telefone.
Retratos de uma vida
Um pouco do acervo fotográfico do fundador da Rede SARAH, Aloysio Campos da Paz.
“Fotografia é história”, diz. Aqui, uma das cenas preferidas: um flagrante no hospital do Lago Norte, em 2000
Ca p a
Zuleika de Souza/CB/D.A Press
Dr. Campos da Paz,
com sua Leica:
“lente insuperável”
O fundador
da Rede
SARAH,
Aloysio
Campos da
Paz Júnior,
tem outras
paixões,
além da
medicina.
Velejar e
tocar
trompete são
duas delas.
Fotografar,
no entanto,
parece ser a
maior
Um olhar
CORREIO
BRAZILIENSE
Brasília, domingo,
21 de outubro de 2012
22 e 23
privilegiado
POR CRISTINE GENTIL
Aloysio Campos da Paz/Acervo pessoal
U
ma fotografia conta uma história. O
que dizer, então, de um acervo fotográfico de 4 mil imagens? Certamente, elas sugerem uma vida. Momentos
únicos; instantes mágicos capturados com a
ajuda de técnica, senso estético e um pouquinho de sorte; registros com força de uma
biografia. Há mais de seis décadas, o médico Aloysio Campos da Paz Júnior, fundador
da Rede SARAH, que completa 77 anos em
novembro, transita por dois mundos com
uma máquina fotográfica sempre a tiracolo.
Por hobby, fotografou suas viagens, seus parentes, seus amigos. Monumentos, paisagens, cenas inusitadas, os costumes do Brasil e do mundo. Por ofício, documentou, digitalizou e arquivou mais de 13 mil fotos,
feitas por ele, por fotógrafos contratados e
por outros profissionais do hospital. Mostram cirurgias, a evolução dos tratamentos,
estudos de caso, em última instância, contam milhares de histórias de reabilitação.
O apreço pela fotografia não é obra do
acaso. Desde os 14 anos, quando ganhou do
pai sua primeira câmera, uma Voigtländer,
aprofunda-se na técnica e na história. Nunca
fez cursos, mas leu e lê tudo o que pode a respeito. Viu e vê mais ainda. Conhece a obra de
grandes fotógrafos, fontes permanentes de
inspiração, como Henri Cartier-Bresson,
considerado por muitos o pai do fotojornalismo, o norte-americano André Kertèsz e o
brasileiro Sebastião Salgado. Tem consciência da força de uma imagem. Diante dela, é
capaz de deitar-se no chão — “Perco a máquina, mas não perco essa foto”, pensou,
quando viu a tempestade formada sobre o
Lago Paranoá. Também vale esperar até seis
horas por mais raios de sol, como ocorreu
numa igreja em Roma. Essas e mais algumas
fotografias você vê nas próximas páginas.
Dr. Campos da Paz fez mais do que fotografar. Preocupou-se em conservar os arquivos. “Essa foi a grande vantagem da digitalização”, diz. Também manteve os equipamentos. Tem uma coleção particular. Comprou de volta — graças ao eBay — todos os
modelos dos quais se desfez ao longo da vida. “Eu ia vendendo para comprar outra câmera melhor. Quando tive condições, fui recuperando os mesmos modelos que tinha.
“Hoje, tenho coleção de câmeras analógicas,
que reproduzem esses momentos da minha
vida como fotógrafo”, explica.
Alguns de seus equipamentos serão doados
para o museu que montou na biblioteca do
SARAH. Ali, estão guardadas todas as máqui-
Ao SARAH, com carinho
Este é o hospital Sarah , fotografado por seu mestre. Muito além de suas fachadas, o SARAH
guarda preciosos arquivos fotográficos. São 13 mil slides de documentação dos tratamentos.
“Quando eu cheguei ao SARAH, não tinha máquina, aí eu convenci o pessoal a comprar uma e
comecei a fotografar; depois, trouxe os fotógrafos para cá, o Luiz Humberto, o Samuca, o Juan,
um monte de gente.” Eles conservaram as máquinas muito bem cuidadas, por isso tive a ideia
de fazer o museu.” Na área médica, dr. Campos começou a fotografar quando, ainda
estudante, foi encaminhado para uma enfermaria de crianças com defeitos congênitos.
“Não havia documentação fotográfica e eu tinha uma Kodak reflexa, comecei a fotografar e
documentar aquilo, e aí não parei mais. Hoje, cada ala aqui no SARAH tem uma câmera
digital. As pessoas fotografam, colocam no prontuário, tem o antes e o depois, ajuda no
planejamento. A fotografia transoperatória ajuda muito, a da microscopia eletrônica e óptica,
também. Hoje, você faz uma cirurgia de manhã, colhe o material para biopsia e, de tarde, um
patologista te manda a foto por e-mail para você analisar no seu computador.
Nisso, a digitalização avançou muito. Em 1968, quando cheguei ao Sarinha, os filmes
coloridos eram revelados em Porto Rico, esperava dois meses para receber de volta.”
nas usadas no hospital. Preciosidades como
a primeira máquina submarina da Nikon, a
primeira Nikon de titânio, uma Hasselblad,
como a usada pelos astronautas para fotografar a Lua no projeto Apollo, uma copiadora de
slides, o primeiro flash para fotografia cirúrgica, as primeiras digitais. Kodaks, Exactas e várias outras usadas para documentar os tratamentos no SARAH estão lá. No meio delas, dr.
Campos é capaz de descrever com minúcia
cada modelo, o tipo de lente, a resolução, a capacidade e a indicação de uso. Conhece as
marcas e as histórias das marcas.
Apesar de não ter aderido às redes sociais ou
às fotos via celular, é especialista em garimpar
na internet equipamentos fotográficos e consegue identificar se estão novos ou desgastados.
Atualmente, ainda namora sua Leica digital,
comprada há um ano e meio. “A lente dela é insuperável.” Não quer dizer que a fotografia analógica tenha perdido seu espaço. Ele reconhece
que o digital trouxe grande avanço para o fotojornalismo, mas acredita que a motorização
acabou com aquela mágica do segundo em que
se aperta o dedo e está feita a foto, uma só foto.
“Houve uma vulgarização da fotografia”, admite.
Nesta conversa, Campos da Paz comenta
suas fotos e, por meio delas, fala ao mundo e
sobre o mundo, Brasília e sobre Brasília. Um
olhar, por vezes, detalhista ao extremo, que
privilegia a beleza das formas, a simetria, o
enquadramento, a natureza, também a humana. “Fotografia é história”, diz. A história
dele, inclusive. ➧
Ca p a
Fotos: Aloysio Campos da Paz/Acervo pessoal
CORREIO
BRAZILIENSE
Brasília, domingo,
21 de outubro de 2012
24 e 25
“Essa foto foi tirada nos anos 60 com uma Exacta. A Catedral ainda não tinha os vitrais. Oscar Niemeyer dizia:
‘Você nunca deve vestir uma mulher bonita’. Essa frase podia ser aplicada à Catedral (risos). Ela era mais bonita assim”,
explica Campos da Paz, autor das fotos.
“Aqui, é uma tempestade no Lago
Paranoá, caí no chão de barriga e
disse: ‘Perco a máquina, mas não
perco a foto’, estava batendo um
vento oeste, muito forte e raro em
Brasília”, lembra. Dr. Campos é
velejador desde os 17 anos. “Eu velejo
no meio do lago. Em setembro, você
vê o sol se pondo e a lua nascendo
com pouca diferença de tempo. O
lago trouxe um equilíbrio muito
grande à cidade. No entanto, Brasília
é a única que tem um lago, mas está
virada de costas para ele. A pessoa
tem que entrar num clube ou ter a
sorte de morar como eu. Fui
privilegiado, minha família comprou
do Israel Pinheiro o terreno onde ele
ia morar, lá perto da represa. São 100
mansões nas MLs. O Lago Sul foi
invadido. Isso bloqueou o acesso ao
lago à grande maioria da população.
Era para a cidade ter uma avenida
beira-mar. Não ter isso é um dos
grandes erros de Brasília.”
Brasília, sempre um cenário
“O pôr do sol em Brasília é fantástico. É realmente indescritível.
Brasília trouxe para mim essa noção de horizonte. Esses 360
graus de horizonte… Achei feio o que fizeram com a Torre Digital
porque ela quebra a harmonia da linha do horizonte. Por outro
lado, é um convite à especulação imobiliária.”
“O céu de Brasília combina com fotografia. Isso era
um show de rock que teve na Torre, quando ela ainda
não tinha virado aquela favela. Tinha o restaurante,
não era detonada. Achei bonito aquelas pombas
voando, aquela barulheira…”
“Essa foi na sorte, taquei uma teleobjetiva 300
e fotometrei a Lua e troquei por uma lente de 50,
usando a mesma abertura e velocidade.
Acabou dando certo.”
“Essa foto, eu gosto por causa da simetria. As pessoas
observam pouco isso nas obras do Oscar (Niemeyer). Estava
passeando, parei, subi na rampa, o pessoal começou a
reclamar… Mas fiz a foto”, lembra. ➧
CORREIO
BRAZILIENSE
Brasília, domingo,
21 de outubro de 2012
26 e 27
Choque de culturas
Ca p a
Fotos: Aloysio Campos da Paz/Acervo pessoal
Num local privilegiado da estante, repousa o livro Revoluções, uma coletânea de
impressionantes fotografias de guerra. Para o dr. Campos da Paz, a importância histórica
da fotografia ganha uma evidência inquestionável com tais registros. “Vi muitos
documentários sobre fotografia de guerra. A fotografia e o cinema acabaram com a
guerra doVietnã. A imagem do vietnamita explodindo a cabeça do vietcong e da criança
queimada correndo fez mais pelo fim da guerra do que qualquer outra coisa”, acredita.
Mas as imagens do mundo são curiosas também por outros motivos, sobretudo por dizer
muito sobre a cultura dos lugares. “Uma vez, tirei uma foto do exército inglês marchando,
uma simetria perfeita. Uma semana depois, fotografei a banda do exército francês, uma
esculhambação (risos). Isso mostra o choque das culturas.” Avesso aos autorretratos, ele
se surpreende com a relação das pessoas com a fotografia. Em duas ocasiões, apontou
suas lentes para o lado contrário. No museu do Louvre, em Paris, mirou as pessoas que
tentavam fotografar a Monalisa. “Você vê as caras mais esquisitas. Muitos estão ali apenas
tirando um retrato, não olhando mesmo para o quadro”, diverte-se. Fez o mesmo na
Fontana di Trevi, em Roma. “Nesse sentido, houve uma perda para a fotografia. Ninguém
está preocupado com o enquadramento, com o foco…”
“Cheguei nessa
catedral, em
Roma, e vi um raio
de sol entrando.
Pensei: ‘São tantas
janelas… Vão
entrar mais raios’.
Fiquei umas seis
horas ali, até que
entraram três raios
e consegui fazer
essa foto. Às vezes,
tem que esperar o
momento.”
“Essa foto foi
tirada num
cabaré em
Buenos Aires, foi
com uma Nikon.
Fiquei regulando
a abertura e
fotografando
com velocidade
baixa para pegar
essa cor”
Ainda brincando de trenzinho
“Passava pela Oxford Street e estavam
montando a vitrine de uma loja. Montei a
lente de 75mm e fiquei ali, esperando. Na
hora em que a mulher meteu a mão debaixo
da saia da modelo, fotografei e o cara saiu
correndo atrás de mim”, lembra, aos risos.
Do artesanato de Mestre
Vitalino, fez-se um trenzinho
para fotografar. Do seu livro,
Percorrendo memórias, pode-se
resgatar lá na infância de onde
veio essa inspiração: “Me
lembro de meu pai na antiga
estação da Central do Brasil
levando-me para ver as
locomotivas brilhantes pintadas
de vermelho e preto, que
puxavam os trens noturnos que
do Rio iam para São Paulo,
soltando vapor e ensaiando as partidas. Talvez por isso meu fascínio por modelos, o que
anos depois, na Inglaterra, me fez comprar um trenzinho de brinquedo a vapor”.
Um brasileiro,
muitos brasis
O cenário é Itaparica, na Bahia. O homem
com a câmera pendurada no pescoço é Aloysio
Campos da Paz, médico por vocação, fotógrafo
por opção. Posto frente a uma igrejinha da ilha,
documentava a vida. Mas os convidados o
confundiram com o fotógrafo da cerimônia de
casamento, que aconteceria ali.“Eu entrei e
fotografei o casamento todinho”, lembra, aos
risos. Desfeito o engano, as fotos foram
enviadas aos donos da festa.
Dr. Campos da Paz viu o país através
das lentes, de ângulos diversos.
Do Círio de Nazaré — “uma coisa
de louco aquilo” — à miséria humana.
Aqui, três fotos que dizem muito do Brasil:
um morador de rua no Pelourinho;
o sorriso maroto do menino que trabalha,
também na Bahia, e o curioso registro de um Brasil rural, no Piauí.
“A gente fica pensando como o bode chegou lá em cima”, ri o médico-fotógrafo. ■
Download

Retratos de uma vida