manoel de oliveira protagonista “Douro Faina Fluvial” (1931), o seu primeiro filme, e “Aniki-Bóbó” (1942), a primeira longametragem, são símbolos quer da zona da Ribeira, quer da cidade em geral e representam para si um grande orgulho.“O reconhecimento do trabalho de um realizador, como o de qualquer artista, é sempre o mais gratificante”, salienta. Questionado sobre a idade da alma, já que o corpo tem cem anos, o realizador refere que ambos “são siameses, até à morte que liberta o espirito”. Nasceu no Porto, na freguesia de Cedofeita, em Dezembro de 1908, e a infância foi passada na cidade. “Tive uma infância normal numa sociedade burguesa”. Os estudos foram feitos no Colégio Universal, no Porto, tendo também passado pelo Colégio Jesuíta de La Guardia, na Galiza e O filme de uma vida Manoel de Oliveira é um nome incontornável no meio cinematográfico nacional e internacional. O realizador, um dos grandes vultos do cinema mundial, nasceu no Porto e completa cem anos em breve. “Douro Faina Fluvial” e “Aniki-Bóbó” são dois dos seus primeiros filmes que prenunciaram e consagraram uma carreira recheada de grandes êxitos. 66 Texto: Marta Almeida Carvalho Fotos: Virgínia Ferreira Manoel de Oliveira é, sem dúvida, o realizador português mais conceituado, quer a nível nacional quer internacional, e também um dos mais premiados em todo o mundo. pela Escola de Actores de Cinema, onde se matriculou aos vinte anos. “Eu e o meu irmão Casimiro - mais velho cerca de ano e meio - frequentamos um só dia a escola de cinema e não voltamos mais. Também não havia mais ninguém”, recorda. 7 manoel de oliveira protagonista protagonista Vida dedicada ao cinema A paixão pelo cinema surgiu da frequência com que o seu pai o levava a assistir a filmes de Chaplin e Max Linder. Apaixonou-se então pela 7ª arte à qual dedicou a vida profissional e muito da pessoal. O seu nome também ganhou notoriedade como desportista de ginástica, natação, atletismo e automobilismo. A relação que estabelece com os seus filmes é essencialmente de trabalho e de proximidade com os actores e diferentes colaboradores, e não tanto de afectividades. Questionado sobre qual o seu filme mais querido não teve dúvidas – o próximo. Manoel de Oliveira teve duas experiências como actor - “Fátima Milagrosa”, onde participou com o seu irmão Casimiro de Oliveira, e “A Canção de Lisboa” onde contracenou com grandes “monstros” do cinema português da época António Silva e Vasco Santana. “No primeiro fui apenas figurante, no segundo amador. No entanto foi muito engraçado trabalhar com esses actores tão conhecidos que vinham da revista e com quem criei relações muito amistosas”, conta. Os anos sessenta consagraram Manoel de Oliveira no plano internacional, em Itália e França – a homenagem no Festival de Locarno (1964) e a passagem da sua obra na Cinemateca de Henri Langlois (1965), em Paris, foram os momentos mais marcantes. A partir da década de 70, com o filme “O Passado e o Presente”, acumularam-se os 8 galardões e os louvores, bem como as polémicas à volta da sua obra. “Benilde ou a Virgem Mãe” (1975) e “Amor de Perdição” (1978) foram alguns dos êxitos da década. Em 1980 conquistou a Medalha de Ouro pelo conjunto da sua obra, atribuída pelo CIDALC. Cinco anos depois voltou a ser galardoado com o Leão de Ouro pelo seu filme “Le Soulier de Satin”, no Festival de Vene- 9 manoel de oliveira protagonista protagonista za. Em 1988 apresentou “Os Canibais”, no Festival de Cannes e, passados dois anos, no mesmo evento cinematográfico exibiu extraconcurso “Non ou a Vã Glória de Mandar”, o qual lhe valeu uma menção especial do júri. Sucederam-se as homenagens em Veneza (1991), La Carmo (1992), Tóquio (1993), São Francisco e Roma (1994), que consolidaram o seu nome no prestígio mundial. Em 1994 participou na “Viagem a Lisboa” de Wim Wenders e, um ano depois, a Sociedade Portuguesa de Autores atribuiu-lhe o Prémio Carreira, inserido na comemoração do centenário do cinema. Em 1996 participou, com Antoine de Baecque, num livro sobre diálogos para os “Cahiers du Cinéma” e um ano depois conquistou o Prémio de Melhor Realizador. Manoel de Oliveira tem pronto um documentário autobiográfico, “A Visita - Memórias e Confissões” (1982) mas que só será projectado após a sua morte, por desejo expresso do realizador. Uma questão de vocação Manoel de Oliveira acredita na vocação e na inspiração como ingredientes necessários à realização profissional. “As escolas de cinema ensinam a técnica mas a vocação não se ensina, é um dom. Ou se tem ou não, está na natureza de cada um”, assegura. Apesar das suas raízes portuenses, confessa que não são os lugares que o inspiram. “A inspiração vem da vivência, não dos lugares”. Segundo o realizador, o aspecto determinante na sua obra é a condição humana. Não será, por isso, de estranhar que considere o prémio do Humanismo, que lhe foi recentemente atribuído, como o mais importante da sua carreira, em detrimento de todos os outros. E como lida Manoel de Oliveira com a crítica? “Não lido. Os realizadores têm a sua função e a crítica é livre e independente”, sublinha. Sente-se acarinhado pelo público e o seu reconhecimento é gratificante. Sempre que pode vai ao cinema e não tem predilecção especial por qualquer género cinematográfico bem como por qualquer realizador. “Quando posso vou e assisto a qualquer tipo de filmes”, assegura. 10 Rápidas Um lugar – O Céu Uma viagem – A Espiritual Livro – “Crime e Castigo” de Dostoievski Música – Clair de Lune, tocado ao piano por Maria João Pires Filme inesquecível – “Ger trude” de Carl Dreyer Um projecto inadiável – O que estiver a realizar até ao final da montagem Clube do coração – O Cinema Figura da cidade – Adolfo Casais Monteiro Porto numa só palavra – Por to 11