CASO CLÍNICO DE GELSEMIUM SEMPERVIRENS
Pedro Luiz Ozi
Caso Clínico apresentado no XXXII Congresso Brasileiro de Homeopatia – São Paulo – Set/2014
CSPG, 24 anos, advogada, solteira, brasileira
Data da primeira consulta: 21/6/06
Quadro de síndrome do pânico, há cinco anos. Fez tratamento psiquiátrico com fluoxetina e
alprazolam há 2 anos, melhorou. O quadro voltou na mesma intensidade há seis meses.
Sinto uma dor no peito quando vou dormir! “Será que vou morrer?” Dá dor no peito, pontadas,
dor nos ombros, nas costas, fico muito tensa. É um mal estar tão grande dá dor de barriga, tenho
que evacuar. Fico mole, parece que vou desmaiar, parece que o pescoço não sustenta, não aguenta
a cabeça, dá vontade de pôr de lado. Não sustenta! É uma moleza, até a vista parece que vai sumir,
que não consigo abrir os olhos, fica pesado; sinto um mal estar, impotente, que a pressão vai cair.
Dá uma angústia, o aperto no peito está constante. Dá uma quentura e não posso deitar, dá falta de
ar, fico molenga, largada, dá um desespero e tenho que ficar andando, senão parece que vou
morrer. Daí começo a chorar. Não quero sair nem falar com ninguém, só ficar deitada o dia inteiro.
Só quero dormir.
É uma sensação de moleza, parece que estou largada, mole, braços e pernas largados, o pescoço
também, molenga e dor nas costas.
Sempre fui nervosa, estressada e agora pior, tudo o que vou fazer, penso “será que vou
conseguir?”. Estou apavorada. E irritada, fechada, seca. Eu almoço e saio.
Às vezes quero demonstrar, falar “te amo” ou “estou brava”, mas não consigo, daí um momento
eu explodo e falo. Mas eu guardo muito.
Tenho fobia onde tem muita gente. E entrevista, dá dor de barriga, diarreia, fico apavorada. Dá até
dor de estômago.
E altura, olhar para baixo, fico atordoada e apreensiva.
I.D.A.: Eu não tenho queixas, minha saúde é ótima exceto alergia. Tenho rinite, que ataca pouco,
escorrendo “água” e às vezes coça e entope. E na pele, fico empolada com cobertor. E eczema leve
nos cotovelos.
Repertorização:
1 - Medo, coração cessar de bater a menos que se ponha em constante movimento.
2 - Vertigens, altos lugares.
3 - Excitação, antecipando eventos.
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4 - Reto, diarreia, excitação emocional.
5 - Generalidades, fraqueza muscular.
Conduta: Gels, LM 12, 14 e 16.
Matéria Médica Pura (9 sintomas)
AL: Sensação lânguida em todo o corpo, principalmente nas mãos e pés.
AL: Langor e sonolência, > após mover-se ao redor.
AL: Eu perdi gradualmente o controle dos meus membros de tal maneira que eu não podia dirigir
meus movimentos com precisão.
AL: Completa perda de força muscular; era incapaz de mover os membros ou mesmo levantar as
pálpebras.
AL: Inabilidade para falar ou mover-se
AL: Ele não pode sustentar a cabeça ereta
HE: Zonzo, confuso, perda da coordenação muscular.
HE: Confuso, quando tenta mover-se, os músculos recusam-se a obedecer.
HE: medo que, a menos que esteja em constante movimento, seu coração cessará de bater com
medo da morte.
Gelsemium - hipótese diagnóstica segundo Masi Elizalde
Gelsemium vive com medo de receber uma má notícia. Está sempre pensando que pode ocorrer
uma desgraça. E não pode prestar atenção, seus olhos se fecham. É flácido, carece de força
muscular, “desliza-se até o fundo do leito”. Tudo está relacionado com a problemática da atenção,
mas não qualquer atenção e sim a espera, a surpresa, que implica numa atitude de vigilância. E
não pode fazer nada disso; perdeu a capacidade de aguardar, teme que apareça algo diferente do
que espera.
Sintetizando: má sentinela. Não quer estar alerta nem aceita que as coisas possam ser diferentes.
Evolução
Retorno: 26/9/06
Estou bem. Ainda sinto mal estar quando deito, mas diminuiu; e eu sento, melhora.
Tive uma melhora grande, estou mais otimista, menos angustiada; não passou tudo, mas o grau
melhorou bastante.
As crises espaçaram e o aperto no peito só deu uma vez. Eu tenho rinite e alergia nos cotovelos e
joelhos desde criança e aumentou um pouco.
Conduta: Gels LM 18 e 20.
Retorno: 28/11/06
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Nestes meses, piorei. Não como antes, mas tive aperto no peito com mais frequência; parece que a
pressão fica baixa, dá falta de ar, o aperto e até dor de estômago.
E me sinto mole quando vou andar.
E fico com as mãos trêmulas.
Fico inquieta e melhoro andando. Deitada melhora um pouco.
Conduta: Gels. LM 22, 24, 26, 28 e 30.
Retorno: 23/4/07
Estive bem, mas de 20 dias para cá está voltando a ansiedade, o mal estar, as pontadas, daí acordo
para urinar e vêm pensamentos como “será que vou morrer?” Ou “Vou ter um peripaque?” Ou “E
se minha mãe perde o emprego?”
Conduta: Gels. 30 CH (X/2). Se estiver bem, repita em maio, junho e julho.
Retorno 25/8/07
Estou muito bem. Parece que foi melhor com as doses, as crises ameaçam, mas são bem fracas.
Minha mãe falou que estou melhor, converso mais, o humor melhorou e que eu só ficava trancada
e que não estou tão agressiva.
Clinicamente: não tenho tido nada.
Conduta: Gels. CH 200 (X/2). Se estiver bem, repita mensalmente.
Retorno: 19/2/08
É sempre assim: fico muito bem durante 20 dias, daí começo a sentir pontadas no peito, gelo na
barriga, fico mole e parece que os olhos ficam pesados.
Tudo vem bem mais leve. Tomo a dose, passa tudo.
Conduta: Gels. 300 CH (X/2), 4 doses, uma por mês.
Retorno: 18/6/08
Estou passando muito bem. Às vezes dá um gelo e um aperto de leve e sem achar que vou morrer
nem mais nada. Antes ficava desesperada. É quando há uma tensão no trabalho ou discussão na
família. Ou então se vou fazer prova como quando fui fazer a apresentação oral da prova da PósGraduação.
Retorno: 23/12/2013: Nestes cinco anos, a paciente seguiu tomando doses crescentes de Gels., com
intervalos de um a três meses. Neste ano tomou 5 doses de Gels. 700 CH (X/2).
Dinâmica Miasmática - paciente funcional, em psora secundária (sensação que não terá êxito,
medo de apresentar-se em público, antecipação, transtornos por más notícias, medo de provas
etc.), permanecendo em psora em atividade alternando com psora latente por curtos períodos.
Discussão - é interessante notar que o sintoma de moleza e desfalecimento não é frequente em
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pacientes com síndrome do pânico, que é o matiz diferencial e que levou à prescrição deste
medicamento. Os transtornos de ansiedade generalizada, em geral, impedem os pacientes de
dormir e relaxar, com todo o corpo em estado de alerta; sensação de tensão, rigidez muscular e dor
no corpo; contratura involuntária de pequenos grupos musculares, tremores de pálpebras, pescoço
e braços, chegando à tetania. Nesta paciente, chama a atenção o sintoma “não consigo abrir os
olhos, fica pesado", ou seja, não conseguia ficar alerta, exatamente o contrário de outros pacientes
com pânico, além de ser preponderante o estado de "moleza, largada, que não sustenta".
Exatamente a peculiaridade de Gelsemium.
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