ID: 38733088
a A Feira de Arte Contemporânea de
Lisboa tem dois tipos de visitantes.
Aqueles que compram e aqueles
que vêem. Na primeira categoria,
incluem-se os coleccionadores e os
amantes de arte com capacidade
financeira, mesmo que esporádica,
para adquirirem um desenho ou uma
pintura. Na segunda, estudantes e
professores (em visitas de estudo),
amadores curiosos e desinteressados,
sem meios para a aventura da posse.
Para uns e para outros, a feira tem
um encanto especial. Longe da
solidão do cubo branco e do aparato
cénico dos museus, sentem-se livres
para exprimir espanto, repulsa,
irritação. Ninguém está a ouvir,
ninguém está a olhar. As obras estão
a centímetros, desapareceram as
folhas de sala e os assistentes.
Apesar do ambiente democrático,
as galerias distinguem-se. As da
primeira linha são nomes da arte
contemporânea: Filomena Soares,
111, Baginski, Fonseca Macedo,
João Esteves de Oliveira Macedo,
Miguel Nabinho, Módulo, Carlos
Carvalho e Presença. Seguem-se
as presenças habituais da Perve,
São Mamede, Arte Periférica ou
Valbom, dirigidas a um mercado
alheio ou pouco entusiasmado com
as transformações que a arte viveu
nas últimas quatro décadas. Por
fim, as galerias espanholas, sem
monstros hiper-realistas (como tem
sido habitual), mas com pouco para
ver de interessante; a única excepção
é a SCQ, de Santiago de Compostela.
Para além de esculturas de Rui Chafes
e Natalie Stachon e pinturas de Pedro
Calapez e Tobias Lehner, apresenta
(surpresa) uma estrutura de vidro de
Dan Graham.
E a internacionalização da feira
fica por aí. A paisagem que se abre
no Pavilhão 1 da FIL ao visitante é
reveladora de um contraste confuso
e surge uma sensação de déjà vu. A
maioria das galerias repete nomes
de outras edições e somos capazes
de jurar que algumas obras já tinham
sido apresentadas no ano passado.
Por outro lado, as saídas da Alecrim
50, Quadrado Azul e Graça Brandão
vieram enfraquecer a qualidade
da feira, afastando-a ainda mais de
uma parte significativa do meio da
arte contemporânea portuguesa.
O divórcio, independentemente
das razões e dos efeitos, é hoje uma
situação aceite (o futuro é outra
conversa).
Feira de arte contemporânea ou
24-11-2011 | P2
Tiragem: 47306
Pág: 6
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 29,40 x 37,26 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 4
apenas feira de arte, a Arte Lisboa
2011 deve o seu poder de sedução
(cada vez mais tímido, diga-se) às
pinturas, aos desenhos, às esculturas
e às fotografias que durante quatro
dias mostra ao público. Na Galeria 111,
salientam-se os trabalhos feitos com
beatas de cigarros, de João Leonardo
(expostos pela primeira vez em One
Hundred And Six Columns, Four Heads
And One Table, em Setembro passado),
as superfícies encarnadas de Pedro A.
H. Paixão e as pinturas atmosféricas de
Diogo Evangelista. São três momentos
que sintonizam o visitante com o que
de melhor se vai fazendo no contexto
nacional. O mesmo se pode dizer dos
desenhos feitos a giz sobre ardósia
que João Pedro Vale exibiu em English
As She Is Spoke, na Fundação PLMJ
(podem ser apreciados no stand da
Galeria Filomena Soares), as telas
de Ana Vidigal (Baginski) os ecrãs de
papel de Ana Jotta (Miguel Nabinho),
os retratos dos espaços arquitectónicos
de Paulo Catrica (Carlos Carvalho) ou
as fotografias de Ângela Ferreira (outra
vez na Filomena Soares)
Ao mesmo tempo, não faltam
reencontros com nomes que, ainda
distantes de uma consagração
institucional, continuam a
surpreender nas suas abordagens
à narrativa, à cor e à história dos
suportes com que trabalham. Na
fotografia, Rodrigo Amado, Sandra
Rocha e Catarina Botelho; na pintura,
Vasco Monteiro e Mariana Gomes
e, na escultura, Catarina Saraiva.
Há também aparições inesperadas,
quase invisíveis, com as de Chéri
Samba, um dos mais importantes
artistas africanos da actualidade (com
várias pinturas no stand da Influx
Contemporary Art) ou da norueguesa
Lisbeth Moe Nilsen (Galeria 111).
Já o Espaço Proposta, sem
qualquer orientação curatorial,
assemelha-se a uma série de montras
individuais organizadas pelas galerias
participantes. Não podemos por
isso falar de um projecto paralelo
como Terraço, que Filipa Oliveira
comissariou na edição anterior.
A contextualização é mínima
ou inexistente e as obras dos 19
seleccionados (entre os quais Mariana
Gomes, Carla Cabanas, Rodrigo
Oliveira e Martinho Costa, Paulo
Brighenti e Pedro Valdez Cardoso)
arriscam passar despercebidas ao
público. Estão expostas nas paredes
do pavilhão e, tapadas pelos stands,
parecem tão desacompanhadas como
a própria Arte Lisboa.
Arte
Lisboa
Uma sensação de déjà vu
A 11ª edição da Arte Lisboa, que amanhã abre as portas ao público, ainda é um lugar de
encontros com a arte que uns compram e outros vêem. Mas vai padecendo de velhos
equívocos. E este ano parece espelhar o estado do país. Conformada, assustada, fechada
sobre si mesmo. Por José Marmeleira (texto) e Miguel Manso (fotografia)
ID: 38733088
24-11-2011 | P2
Tiragem: 47306
Pág: 7
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 29,01 x 36,80 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 2 de 4
Os trabalhos de
Catarina Saraiva
continuam a
supreender (nesta
página e fotografia
maior na página
da esquerda). A
internacionalização
da feira fica-se
pela presença de
galerias espanholas
(fotografia da dupla
Almalé/Bondia e
escultura na página
da esquerda)
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 28,64 x 36,96 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 3 de 4
MIGUEL MANSO
País: Portugal
de uma feira P
ág. 6
/7
Ar
te
oa
b
s
Li
24-11-2011 | P2
Pág: 1
ão
d
i
ol
As
ID: 38733088
Tiragem: 47306
ID: 38733088
24-11-2011 | P2
Arte Lisboa
boa
A feira
começa
hoje
ma
com uma
o
sensação
de
déjà vu
P2
Tiragem: 47306
Pág: 40(Principal)
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 5,66 x 7,02 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 4 de 4
Download

Uma sensação de déjà vu