18º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Transversalidades nas Artes Visuais – 21 a 26/09/2009 - Salvador, Bahia LEITURA DE IMAGENS NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: INFÂNCIA E ESTANHAMENTO NOS PROCESSOS DE CRIAÇÃO Gerda Margit Schütz Foerstei Universidade Federal do Espírito Santo/ Centro de Educação/PPGE Fernanda Monteiro Barreto Camargo ii Universidade Federal do Espírito Santo/ Centro de Educação/PPGE Resumo: O presente trabalho em como eixo norteador as práticas de ensino das artes e a leitura de imagens com crianças nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Parte do questionamento Como as imagens apresentadas às crianças em processo de alfabetização na escola influenciam em sua produção imagética? A investigação exploratória buscou identificar imagens expostas no ambiente da escolar. Procedeu revisão teórica dos estudos relacionados à infância, as imagens e ao estranhamento como categorias da estética. Busca-se em Lukács, Sarmento, Machado, Santaella e Barbosa aporte teórico ao estudo. A pesquisa, em andamento, é realizada em uma escola pública da Rede Municipal de Serra – Espírito Santo, em uma turma de 1º ano, com 19 alunos (idade 6 e 10 anos) do corrente ano letivo. Palavras-chaves: Infâncias. Alfabetização. Criança. Leitura de imagens. Estranhamento. Abstract The present work in as norteador axle practical of education of the arts and the reading of images with children in the initial series of Basic Ensino. Part of the questioning As the images presented to the children in process of alfabetização in the school influences in its imagética production? The exploratória inquiry searched to identify images displayed in the environment of the pertaining to school. Theoretical revision proceeded from the studies related to infancy, the images and to the estranhamento as categories of the aesthetic one. One searchs in Lukács, Sarmento, Axe, Santaella and Barbosa arrives in port theoretical to the study. The research, in progress, is carried through in a public school of the Municipal Net of Mountain range - Espirito Santo, in a group of 1º year, with 19 pupils (age 6 and 10 years) of the current school year Word-keys: Infancies. Alfabetização. Child. Reading of images. Estranhamento. O início da pesquisa O gênese deste estudo deu-se em 2006, quando comecei lecionar o ensino da Arteiii para crianças em séries iniciais (1ª à 4ª séries) do Ensino Fundamental na Rede Municipal de Serra ,e especificamente, neste projeto, alunos de 1ª séries, com idades entre 6 a 8 anos. No decorrer do ano, enquanto ministrava as aulas, percebi que, na maioria das vezes, meu trabalho, enquanto professora de arte e mediadora no processo de formação dos “pequenos” leitores de imagens através da “alfabetização imagética”iv era ainda embrionário. 3296 18º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Transversalidades nas Artes Visuais – 21 a 26/09/2009 - Salvador, Bahia Os conceitos que eram construídos, ou pelo menos iniciados nos 50 minutos de aulas-semanais, acabavam por serem desconstruídos no restante desta pela própria prática educativa utilizada nas séries iniciais pelos professores regentes, por livros, pelos painéis nos corredores, por outros materiais didáticos e ainda pelas “interferências” da comunidade escolar. Observamos que pais de alunos queriam ver expostas as “mais lindas” atividades feitas por seus filhos. Um fato acontecido em uma aula de arte, com uma turma de 1ª série, foi determinante na construção deste tema como objeto de investigação. Durante uma aula de artes no desenvolvimento de um trabalho, a professora da turma entrou em sala e acabou por interferir, a produção de uma criança fazendo com que ela desistisse de sua idéia original e passasse a trabalhar “do mesmo jeito que a tia queria”. Naquele instante, passei a prestar mais atenção aos detalhes do ambiente escolar e seu entorno. Meu olhar buscou analisar quais eram as imagens recorrentes neste meio e como eram trabalhadas tanto nos horários das aulas de arte quanto no decorrer da semana, com professores regentesv, corpo docente e também, materiais didáticos expostos. Surgiu, então, um questionamento central que desencadeou a pesquisa: Como as imagens apresentadas às crianças em processo de alfabetização na escola influenciam em sua produção imagética? Discussões atuais: infâncias, imagens e estranhamento. Durante o tempo de observação até o início da pesquisa, tivemos a oportunidade de estar em contato com diversos processos de produção imagético infantil, visto por diferentes angulações, não só, aluno-autor/ativo, aluno-observador/mediador, aluno passivo/expectador, mas também do professor/mediador na (des)construção do conhecimento. Procurando delimitar campo da pesquisa, definimos então três palavras-chaves para iniciar a busca: 1. Infância como espaço de socialização da criança, nesse estudo, a sala de aula de séries iniciais do Ensino Fundamental; 2. Imagem, como produção visual bidimensional, na sua relação com a arte e seu ensino. 3297 18º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Transversalidades nas Artes Visuais – 21 a 26/09/2009 - Salvador, Bahia 3. Estranhamento, entendido no processo de provocação a novos estímulos. Nesse caminho, buscamos referências em autores que discutem as questões da infância (Sarmento, Vygotsky, Vasconcellos e Machado) e teóricos que nos possibilitem compreender a imagem, a arte e a estética (Lukács, Kosik e Santaella ) e no seu ensino (Barbosa e Foerste). Encontramos tanto em Vasconcelos, quanto em Sarmento e suas pesquisas sobre as imagens sociais da infância e suas (in) visibilidades histórica, social e cultural um caminho aberto ao diálogo sobre o papel da cultura nas infâncias e de como isso reflete no tratamento dado à criança nas pesquisas. As diversas imagens sociais da infância freqüentemente se sobrepõem e confundem no mesmo plano de interpretação prática dos mundos das crianças e na prescrição de comportamentos simbólicos estanques, mas dispositivos de interpretação que se revelam, finalmente, no plano da justificação da ação dos adultos com as crianças. A busca de um conhecimento que se desgarre das imagens constituídas e historicamente sedimentadas não pode deixar de ser operada senão a partir de um trabalho de desconstrução dos seus fundamentos, essa perscrutação da sombra que um conhecimento empenhado No resgate da infância é chamado de fazer. (VASCONCELLOS E SARMENTO, 2007, p.33). Segundo Cola é através da arte que a criança passa a expressar uma experiência de criação e de elaboração de conceitos que, na maioria das vezes, ainda não faz dentro dos moldes formais. Ao aluno deveriam ser dadas oportunidades que despertassem seu interesse pela expressão, por meio do visual, dos elementos essenciais à arte (linha, forma, cor, textura, etc.) Tal interesse, se desenvolvido adequadamente, despertaria outros interesses pelo novo, pela descoberta, pela invenção, pelo conhecimento artístico (COLA 1996, p. 10). Tratando das pesquisas com criança e arte, não poderia deixar de citar os estudos de Machado (2000) que traz à tona um conceito de à arte cuja importância está na relação do aluno e sua produção artística cultural, através da qual ele amplia seus conhecimentos das diversas linguagens. A criança quando está realizando sua produção artística cultural está, ao mesmo tempo, aprendendo e estabelecendo relações com o mundo que a cerca, através de um determinado tipo de linguagem, a visual e 3298 18º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Transversalidades nas Artes Visuais – 21 a 26/09/2009 - Salvador, Bahia plástica. È dessa ação verbal e não verbal que emergem os conhecimentos que estamos categorizando como: conhecimentos objetivos, subjetivos e sociais do mundo vivido. (MACHADO, 2000, p.19) Acreditamos também que a arte não é apenas um momento de relaxamento ou de vencer uma etapa, que de certa forma a criança teria oportunidade de fazê-la por outros meios, e critica o pensar a arte desta forma, posto que, as crianças não sejam objetos de reprodução um mundo adulto; pelo contrário, cada uma delas, através da arte e suas possibilidades, expressam seus pequenos /grandes mundo. Por isso é necessário reconhecer que a produção artística cultural infantil não é apenas mais uma etapa vencida, quer biológica ou psicologicamente, mas sim um processo de intervenções sociais mediadas por culturas, que ao mesmo tempo em que interferem , são interferidas por ela. Neste aspecto, o olhar sobre a produção infantil deve acima de tudo estarem despojado de preconceitos, valores pré determinados pela produção cultural adulta para criança e não pela/por criança. Não para atingir objetivos determinados nos planos de aula, pensado, na maioria das vezes, por adulto sem co-participação da criança, segundo Cola (1996, p.10) “ sem utilizar a arte para objetivos alheios aos de sua linguagem essencial”. Sendo assim entendo que encontrei a importância de meu objeto de estudo: a utilização da arte com forma de expressão da linguagem infantil. Como arte-educadoras, acreditamos que a arte participa da formação integral da criança em suas diversas infâncias. Para essa reflexão, estabelecemos interlocução com o referencial histórico-cultural na dialética materialista. Sobretudo, procurando compreender a crianças como sujeito social, com capacidade de expressão, que necessitam participar como indivíduos de todo processo orgânico/vivo que é a arte-educação. O estranhamento nas aulas de arte Buscamos em Santaella & Nöth um conceito de imagem no qual pudéssemos observar a relação entre imagem de semelhança e o objeto referencial. Partimos então do primeiro domínio de imagem tratado pelos autores da imagem como um signo icônico. 3299 18º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Transversalidades nas Artes Visuais – 21 a 26/09/2009 - Salvador, Bahia O primeiro é o domínio das imagens como representações visuais: desenho, pintura, gravuras, fotografias e as imagens cinematográficas, televisivas, holo e infográficas pertencem a esse domínio .Imagens, nesse sentido, são objetos materiais, signos que representam o nosso ambiente visual (SANTAELLA E NÖTH, 1998:15). Quais imagens costumam estarem presentes na escola? Como estas imagens estão dispostas no ambiente escolar? Com quais imagens as crianças têm contato todos os dias no ambiente escolar? A nós nos interessam aquelas imagens bidimensionais que estão presentes no ambiente escolar e cujos indícios, segundo Ciavatta (2004), nos auxiliarão no entendimento da relação infância–imagem-produção a guisa do qual está o movimento ensino-aprendizagem atual. Segundo Lukács (1966) a arte está para além de seu tempo, acima de (pré) conceitos elevam ao estagio capaz de provocar no apreciador o estranhamento. Que se constitui em um fenômeno social, cuja superação contribui para o desenvolvimento de um pensamento não mais particular, mas sim, social. Neste caso, independente da vontade o indivíduo, o estranhamento aconte orientado por raízes sociais, o que chamaremos aqui de mediações culturais,e faz com que o sujeito saia da categoria singular para o social, sem que no entanto perca a individualidade. Ao contrário da familiaridade que faz com que o homem perca a consciencia da realidade , tornando o estetico algo unificado , segundo Kosik , A familiaridade é um obstáculo ao conhecimento humano; o homem sabe orientar-se no mundo que lhe está mais próximo, no mundo da preocupação e da manipulação, mas ’não se orienta‘ em si mesmo, porque se perde no mundo manipulável com ele se identificando (...) O sujeito do indivíduo é, em primeira instância e na maioria das vezes, um sujeito que não lhe pertence e isto tanto na forma de falsa individualidade (falso eu), como da falsa coletividade ( o nós fetichizado). (KOSIK, 1989,75) O estranhamento provocando outras cria novas possibilidades saidas a determinadas situações de crescimento e ampliando as possibilidades produção imagética. 3300 18º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Transversalidades nas Artes Visuais – 21 a 26/09/2009 - Salvador, Bahia A Arte então enquanto disciplina lança mão de conceitos tão complexos e ao mesmo tempo subjetivos : Arte-trabalho, Arte-produção, Artetransformação, Arte-conhecimento, Arte- expressão. Arte disciplina que produz arte-educadores. Nós que educamos Arte pelo sujeito e não arte pelo fazer. Mas como ensinar crianças a gostar? Ensinar a ver com outros olhos? Ensinar a enxergar poesia? Ensinar a ler imagens? Ensinar a fazer arte? Demarcado o campo por onde iremos transitar e assinalado o cuidado que tem Lucáks quanto aos aspectos históricos do estranhamento, podemos avançar naquilo que de fato nos interessa neste capítulo. Na verdade não se tratamos aqui do estranhamento capitalvi, mas aquele estranhamento que promove mudança e da arte que promove o olhar de estranhamento. A leitura de imagens é segundo Barbosa “ impressindível” (BARBOSA,1991, p.12) . sejam elas quais forem , artísticas ou publicitarias de informaçoes, para que assim o leitor possa atingir um grau de maturidade e produzindo suas proprias imagens.A arte na sala de aula deve promover para além da mesmice, da mímese, do copismo, da repetição,deve levar a criança a um degrau a mais em sua caminhada, deve tentar mexer com os olhares emoldurados e possibilitar a expressão de valores. Assim poderemos promover uma ruptura de valores, que podem ou não provocar mudanças em suas produções imagéticas, mas que , necessariamente, serão possibilitadas. Sendo assim entendemos que a arte nas Séries Inicais, está para além do auxilio às disciplinas ou ilustração textos e decoração festas, devendo ter como objetivo , promover o “olhar de estranhamento” provocando uma ao olhar de familiadirade. Ainda pensando na arte enquanto “catarse” e entendendo as crianças como “sujeitos plenos” inserida em um meio social, cultural e educacional e que, por sua vez, fazem mediação e participam diretamente em seu desenvolvimento e na construção de conhecimentos, buscamos dimensionar a arte com na formação do sujeito. Partimos da análise dos desenhos infantis para desvelar processos de construção de conhecimentos, expressão e mediação dialógica entre os sujeitos, o que pode significar a ressignificação do processo de alfabetização. Buscamos nesse estudo superar a concepção utilitarista da arte como motivadora ou facilitador do ensino e aprendizagem do 3301 18º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Transversalidades nas Artes Visuais – 21 a 26/09/2009 - Salvador, Bahia ler, escrever e contar, analisando-a como importante e necessária no processo de conhecer, dizer e construir o mundo e sua humanidade. A criança é consumidora e também produtora de imagens e toda a produção imagética feita ou não para ela ficará armazenada em seu alfabeto estético-visual que, dependendo da forma com que for conduzida, irá (des)construir seus próprios conceitos e pensamentos. Nesse sentido, a pesquisa das imagens que são produzidas para/pelas crianças no ambiente escolar e seu entorno revelará outras nuances da educação visual e de como e até onde a arte, enquanto disciplina, medeia esse processo. Aproximações Ao retomar mais uma vez ao objeto de pesquisa, entendemos que existe uma narração, uma experiência em cada imagem apresentada e representada, em cada obra, em cada criança e em cada professor. Experiência esta que precisa ser respeitada quer na reprodutibilidade, quer na esfera da aura ou ainda na produção imagética, para que a pesquisa possa não apenas apresentar dados, mas ainda apresentar experiências de construção e até mesmo de desconstrução no processo ensino-aprendizagem e nas relações sujeito-objeto. Dessa forma, emerge a importância de dar voz e vida aos pensamentos da criança que é um dos objetivos da pesquisa das imagens, da arte e das crianças das séries iniciais no processo de (des) construção da leitura de imagens. A investigação nos permite, no momento, algumas aproximações que ainda não podem ser definidas como conclusivas, mas apontam para a necessidade de maior atenção aos processos de criação da criança pequena, observando as múltiplas mediações que interferem neste processo no contexto da sala de aula inclusive os estranhamentos. 3302 18º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Transversalidades nas Artes Visuais – 21 a 26/09/2009 - Salvador, Bahia i Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação, na linha de pesquisa Educação e Linguagens e nos curso de Licenciatura em Artes Visuais e Pedagogia – séries iniciais, da Universidade Federal do Espírito Santo. [email protected] ii Formada em Educação Artística pela Universidade Federal do Espírito Santo. Mestranda em Educação, no Programa de Pós-Graduação em Educação, do Centro de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo. Atuou nos anos de 2006-2008, como professora de Artes em séries iniciais do Ensino Fundamental, no município da Serra - ES e atualmente é tutora do curso Artes Visuais/EAD/UFES. [email protected] Arte com inicial maiúscula refere-se à disciplina Arte- Educação iv O termo alfabetização imagética está relacionada à apreciação artística, compreendida com o leitura de imagem, constituída pela estética e pela crítica (BARBOSA, 1991, apud FOERSTE, 2004, p.95). v Professores com formação em Pedagogia – Habilitados para lecionarem nas Séries Iniciais do Ensino Fundamenta vi O termo estranhamento capital faz referência a processualidade material que se estabelece a partir das mediações entre sujeito e a obra. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGAMBEN, GIORGIO. Infância e história: destruição da experiência e origem da história. Belo Horizonte: EDUFMG, 2005. ARAUJO, Vânia Carvalho de. Criança: do reino da necessidade ao reino da liberdade. Vitória: EDUFES, 1996. ARIES, Philippe. 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