O Criador:
questão bíblica e
teológica
Gen 1,1-2,4ª
Gen 2,4b- 3,24
 Em
hebraico o primeiro livro da Bíblia
chama-se Bereshît significa “no início”;
 Na
tradução grega dos Setenta o nome
Génesis significa “origem”; “princípio”
Três temas distintos no Livro do Génesis

Gen 1-11 – O cenário é a humanidade no seu conjunto; é um texto
construído à base de mitos e lendas sobre os indícios da humanidade que
pretendem responder às grandes interrogações humanas acerca das
origens da vida, do mundo e do homem…

Gen 12-37 – o cenário é o povo de Israel. É um texto onde se juntam
histórias lendárias com velhas histórias acerca da vida e das aventuras dos
patriarcas primordiais de Israel.

Gen 37-50 – trata-se de um romance histórico, que simultaneamente
diverte e ensina, utilizado para fazer a ponte entre os patriarcas primordiais
e os hebreus que, em pleno sec XIII a.C., estão a ser escravizados na terra
do Egipto.
Estrutura Literária de Gen 1,1-2,4a
 Introdução
 “No principio, Deus criou o céu e a terra. Ora, a
terra estava vazia e vaga, as trevas cobriam o
abismo, um vento de Deus pairava sobre as
águas” (Gen 1,1-2)
Corpo da narração (Gen 1,3-31)
Obras de separação
Obras de ornamentação
1º dia
separação da luz e das trevas
4º dia
criação dos dois luzeiros (sol e
lua)
2º dia
separação das “águas
inferiores” das
“águas superiores” através do
firmamento
3º dia
separação da terra e do mar
através da verdura e das
árvores
5º dia
criação dos animais aquáticos
e das aves
6º dia
criação dos animais terrestres
e do homem
Conclusão da narração (Gen 2,1-4ª)

“Assim foram concluídos o céu e a terra, como todo o
seu exército. Deus concluiu no sétimo dia a obra que
fizera e no sétimo dia descansou, depois de toda a obra
que fizera. Deus abençoou o sétimo dia e o santificou,
pois tinha descansado depois de toda a sua obra de
criação.
Essa é a história do céu e da terra, quando foram criados” (Gen
2,1-4a)
Fórmulas Fixas

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
- fórmula de introdução - “E disse Elohim”;
- fórmula de comando - por exemplo, “haja luz”;
- fórmula de constatação - por exemplo, “e a luz
apareceu”;
- fórmula de execução ou descrição - por exemplo,
“Elohim separou a luz”;
- fórmula de denominação - por exemplo, “chamou à luz
‘dia’”;
- fórmula de louvor - por exemplo, “e viu Elohim que era
bom”;
- fórmula de conclusão - por exemplo, “veio uma tarde e
uma manhã”.
Sal 19
 “Os céus proclamam a glória de Deus,





E o firmamento proclama a obra de suas mãos.
O dia entrega a mensagem a outro dia,
E a noite a faz conhecer a outra noite.
Não há termos, não há palavras,
Nenhuma voz que deles ouça” (Sal 19, 2-4)
Criação do Homem
 “Deus
disse: ‘Façamos o homem á nossa
imagem, como nossa semelhança e que
eles dominem sobre os peixes do mar, as
aves do céu, os animais domésticos,
todas as feras e todos os répteis que
rastejam sobre a terra” (Gen 1,26)
 “Deus
criou o homem à sua imagem, à
imagem de Deus ele o criou, homem e
mulher ele os criou” (Gen 1,27)
Mensagem Religiosa de Gen 1

- há um só Deus, origem da vida e do homem;

- foi por vontade desse Deus que o céu, a terra, o mar e todos os
seres vivos começaram a existir;

- as águas, as estrelas, o sol e a lua não são deuses: são criaturas
que resultaram da palavra criadora do Deus único;

- Deus criou um mundo “bom”, quer dizer, perfeito, sem tensões
nem conflitos, em total equilíbrio e harmonia;

- a criação foi completada com o “toque de génio” de Deus: a
criação do homem. Ele é o ponto mais alto do projecto criador de
Deus;




- esse homem não é um ser inferior, indigno e escravo,
criado para servir os deuses; é um ser criado “à imagem
e semelhança” de Deus, quer dizer, criado para ser o
representante de Deus face aos outros seres criados;
- como “imagem de Deus”, o homem é aquele a quem
Deus confiou a criação, competindo-lhe a missão de
completar o plano criador de Deus;
- o homem não foi criado sozinho: Deus criou o homem
e a mulher, porque o amor faz parte do plano criador de
Deus; e só através do amor que é fecundo, o homem
pode ser “imagem e semelhança” de Deus no mundo;
 - criado para a comunhão com Deus, o homem deve
inventar espaços de encontro com Deus e de louvor ao
criador. Assim, é proposto ao homem que reserve o
ultimo dia da semana (o sétimo), para a glorificação e o
culto devidos a Deus.
Texto Jahvista (Gen 2,4b-3,24)

* Gn 2,4b-25 - Criação do paraíso e do homem e situação deste no
paraíso. Exprime-se a intenção do criador sobre o mundo e sobre o
homem. O paraíso aparece como um mundo ideal, um espaço onde
é possível ser feliz, onde tudo é bom e o homem vive em comunhão
total com o Deus criador;

* Gn 3,1-7- Descreve-se o pecado do homem e da mulher... O autor
jahwista mostra como se passou da situação ideal do paraíso, para
a situação real da experiência diária;

* Gn 3,8-24 - Apresenta-se o castigo divino, resultante do pecado
do homem e da mulher. Na descrição desse castigo, o leitor
reconhece a situação diária e comum da sua própria experiência
humana.

Siuação ideal
(Gen 2,8-25)
A- Terra fecunda (vv.8-14)
Queda
(Gen 3,1-6)
H-
Pecado
Situação actual
(Gen 3,7-19)
G - Vergonha (vv7-13)
B - Trabalho agradável (v 15)
D - Tensão com os animais (vv14-15)
C- Homem para a vida (v17)
E - Nascimento com dor (v.16)
D- Harmonia com os animais (vv 18-20)
F- desigualdade homem/mulher (v.16)
E- Nascimento normal (v21)
A – Terra maldita (v.17)
F -Igualdade homem/mulher (vv 21-24)
B - Trabalho penoso (v.18)
G- Inocência (v25)
C - Homem para a morte (v.19)
Conclusões Teológicas de Gen 2,4b-3,24

Quanto às origens da vida, o autor ensina:

* que o homem é o ser mais importante da criação e que foi para o
homem que Deus fez tudo a resto;

* que o homem aparece devido a uma intervenção especial de
Deus. Deus foi o oleiro que, cuidadosamente, modelou o homem; e
o mesmo Deus transmitiu ao homem um toque divino, insuflandolhe nas narinas o “espírito”, a “respiração” do próprio Deus. É esse
“espírito” que torna o homem um ser vivente;

* que o homem é colaborador de Deus na obra criadora... Deus
forma da terra todos os animais e leva-os ao homem para que este
lhes ponha um nome (segundo as ideias vigentes no Antigo Médio
Oriente, o facto de dar um nome era o exercício de um direito de
soberania, um acto de domínio);

* que o homem foi criado por Deus para ser totalmente
feliz; e Deus deu-lhe tudo o que era necessário para
isso (imagens de um “jardim” com muitas pedras
preciosas, muitas árvores e água em abundância: é o
“mundo ideal”, na perspectiva de um povo que vive
numa terra pouco fértil e rodeada de desertos);

* que o homem foi criado para o amor. Por isso, Deus
criou a mulher e colocou-a diante do homem. Os dois,
iguais em dignidade, serão uma só carne: a sua
vocação é a comunhão, a entrega um ao outro, a
partilha da vida;

Quanto à reflexão sobre a origem do mal, o autor pretende ensinar:

* que o mal não foi introduzido na realidade humana pelo Deus criador.
Deus criou para o homem um “paraíso” de felicidade, onde havia tudo o
que era necessário para ser feliz. Se nesse “paraíso” entrou o mal, não foi
por responsabilidade do criador;

* que ao homem e à mulher, Deus deu a conhecer onde encontrar a vida e
a imortalidade; e avisou-os contra o sofrimento e a morte. Convidou-os a
escolher a
vida e a evitar o orgulho e o egoísmo que conduzem à
morte;

* que o homem, seduzido por vozes que não vinham de Deus (serpente) ,
escolheu
ser orgulhoso e auto-suficiente, ignorando os apelos de
Deus e escolhendo para si próprio caminhos de egoísmo e de pecado;

* que foi o homem (ao recusar a vida e a felicidade que Deus lhe
propunha) que introduziu no mundo os desequilíbrios responsáveis
pelo sofrimento e pela morte;

* que todos somos responsáveis pelo mal que afecta a nossa
existência. Se quisermos eliminá-lo, é preciso convertermo-nos às
propostas de Deus, acolher as suas indicações e fechar os ouvidos
aos apelos da “serpente” que procura afastar-nos dos valores de
Deus;

* Deus desistiu deste homem que recusou a comunhão com ele ?
Não, diz o jahwista... As páginas seguintes vão garantir-nos que
Deus continuou a cuidar desse homem orgulhoso e egoísta e a
querer fazer com ele uma história de diálogo e comunhão.
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O Criador: questão bíblica e teológica