Fornecedores de cana – as dificuldades para dimensionar e qualificar uma categoria social no Estado de São Paulo Nome Autor Eliana Tadeu Terci – CPF- 05400578861 Professora da UNIMEP. Faculdade de Ciências Humanas. Rodovia do Açúcar, km 156. Taquaral. CEP: 13400911. Piracicaba, SP - Brasil - Caixa-Postal: 68. E-mail: [email protected] Nome Autor Alice Miguel de Paula Peres – CPF – 21808489861 Filiação Institucional - Professora das Faculdades Integradas Einstein – Limeira Rua Voluntários de Piracicaba, 1070 apto.52, Piracicaba-SP, CEP 13.400-000. E-mail: [email protected] Nome Autor Maria Thereza Miguel Peres – CPF- 04962586807 Professora da UNIMEP. Faculdade de Gestão e Negócios. Rodovia do Açúcar, km 156. Taquaral. CEP: 13400911. Piracicaba, SP - Brasil - Caixa-Postal: 68. E-mail: [email protected] Nome Autor Sebastião Neto Ribeiro Guedes - CPF - 31880657104. Professor da UNIMEP. Faculdade de Gestão e Negócios. Rodovia do Açúcar, km 156. Taquaral. CEP: 13400911. Piracicaba, SP - Brasil - Caixa-Postal: 68. E-mail: [email protected] Área Temática - 4 - Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais Forma de Apresentação -apresentação em sessão sem debatedor. Fornecedores de cana – as dificuldades para dimensionar e qualificar uma categoria social no Estado de São Paulo Resumo Este artigo é resultado de uma das etapas das atividades de campo desenvolvida pela pesquisa Impactos do progresso técnico e da mudança institucional sobre a categoria dos fornecedores de cana dos Estados do Paraná e São Paulo, que busca analisar as modificações recentes nas relações econômicas entre usinas e fornecedores de cana dos estados de São Paulo e Paraná. Este artigo circunscreve-se ao Estado de São Paulo e seu objetivo é demonstrar de que forma poderiam ser superadas as dificuldades encontradas para quantificar e qualificar os fornecedores, conforme características delineadas pela pesquisa. Isto por que o discurso e os dados apresentados pelas Associações dos Fornecedores de Cana do estado de São Paulo sugerem que no seio desse contingente social não há diferenciação social. Assim como continuam qualificando o fornecedor como pequeno, médio e grande em função da quantidade de cana entregue na usina. Como resultado, o artigo apresenta uma estimativa preliminar sobre o número de fornecedores de cana ativos de duas das principais regiões do estado de São Paulo: Piracicaba e Ribeirão Preto, a fim de apresentar evidências que relativizam os argumentos da pretensa homogeneidade dos fornecedores de cana e do predomínio, entre eles, da pequena propriedade familiar. PALAVRAS-CHAVE: DESENVOLVIMENTO CANAVIEIRA - FORNECEDOR DE CANA REGIONAL - AGROINDÚSTRIA Fornecedores de cana – as dificuldades para dimensionar e qualificar uma categoria social no Estado de São Paulo 1. Introdução: A produção canavieira no estado de São Paulo passou por várias transformações de ordem tecnológica e institucional A respeito do ambiente institucional inicia-se, a partir de 1930, gradativamente uma forte intervenção do Estado sobre os preços, quantidades produzidas, localização da produção, subsídios para a modernização do parque produtivo etc. Todavia, a partir dos anos noventa do século XX este cenário se modifica, surgindo o que os economistas chamam de regulação pelo mercado. Ou seja, este novo ambiente institucional sugere a saída do Estado nas atuações de regulador e controlador direto da produção canavieira passando para a posição de coordenador. Este fenômeno gerou impactos sobre a ação dos agentes envolvidos usina e fornecedor de cana – no mercado. Com este novo ambiente ampliou-se a concorrência entre usinas, assim como foram geradas indefinições sobre o modelo mais adequado a ser utilizado para definir o preço da canade-açúcar. O que nos interessa aqui,é salientar como os fornecedores de cana vêm reagindo a estas transformações. Ou seja, tal mudança de cenário institucional trouxe impacto sobre a categoria, resta saber a qualidade e extensão destes impactos, para compreendermos em linhas gerais como está atuando este produtor de cana. A produção de cana tanto no Brasil como no estado de São Paulo tem sido historicamente atribuída ao chamado fornecedor de cana que vem sobrevivendo ao avanço no processo de concentração e centralização de capitais envolvidos na cadeia produtiva de açúcar e álcool. Já não é possível desconsiderar o impacto da extinção dos principais órgãos de regulamentação e incentivo da produção agroindustrial ao sinalizar não só para um novo tipo de relacionamento entre fornecedores e usinas de açúcar, mas também na redefinição deste próprio contingente de fornecedores vistos indistintamente como produtores independentes responsáveis pela atividade canavieira. Quem é hoje o fornecedor de cana do estado de São Paulo? Qual a relação que ele tem como a terra e com as atividades produtivas canavieira? Para comprovar a relevância do estado de São Paulo, assim como das suas principais regiões canavieiras, alguns dados divulgados pela ORPLANA - Organização de Plantadores de Cana do Estado de São Paulo são bem representativos: Na safra 2003/04, foram processadas no Estado de São Paulo, aproximadamente 207 milhões de toneladas de cana, sendo 155 milhões de toneladas das unidades industriais e 52 milhões de toneladas dos produtores independentes em número de 12.655 fornecedores, correspondentes a 25% do total. Em termos do ATR (Açúcar Total Recuperável) significou 7,73 milhões de toneladas que gerou 3,83 milhões de toneladas de açúcar e 2,07 bilhão de litros de álcool carburante, para um mix de produção de 51,6% para açúcar, 31,5% para álcool anidro e 15,9% para hidratado. Em termos de Brasil, os denominados produtores independentes são responsáveis por, aproximadamente, 27% da produção de cana (em torno de 358 milhões de toneladas na safra 2003/04), sendo que os produtores do Estado de São Paulo contribuem com 67% da produção total dos fornecedores e 14,5% do total produzido no País. O segundo maior Estado em cana de produtores independentes é o de Pernambuco, com 8,4% da produção total desta categoria e 3,3% do total produzido no Brasil. Segundo a ORPLANA "para que se tenha uma idéia da magnitude da produção de cana de produtores independentes do Estado de São Paulo, hoje, ela se iguala à produção do México e supera a produção da Austrália, dentre os maiores produtores mundiais." Diante deste cenário, definimos num primeiro momento que estudaríamos as regiões de Piracicaba e Ribeirão Preto situadas no Estado de São Paulo. Foi neste contexto, que nos deparamos com um desafio muito maior, o de obter uma base de dados para podermos dimensionar e a partir daí qualificar a figura do Fornecedor de cana. Desta forma, este texto busca demonstrar as dificuldades metodológicas que a pesquisa atravessou, na medida em que ela assumiu importância fundamental. Assim, o objetivo deste artigo consiste em revelar a necessidade de aprimorar os procedimentos da pesquisa de campo, quanto ao acesso aos dados e informações de uma categoria social – o fornecedor de cana - com grande peso na atividade agrícola brasileira, sobretudo no Estado de São Paulo. 2.Revisão da Literatura: Muitos autores já trataram da evolução do setor canavieiro no Brasil. Dentre eles podemos destacar as contribuições de Ramos (1999) que chamou a atenção para a integração vertical e concentração fundiária, revelando assim o avanço na aquisição de terras por parte das usinas de açúcar. Tal fenômeno é importante discutir porque nele esta intrínseco o estreito espaço que fica para o produtor agrícola independente, que chamamos de fornecedor de cana. A partir de 1930 deu-se o início de um novo período para a agroindústria canavieira no Brasil com a emergência de iniciativas estatais buscando controlar e planejar a atividade canavieira. Primeiramente, com a CDPA (Comissão de Defesa da Produção do Açúcar) controlando o preço do açúcar no mercado interno, e depois, com a criação do IAA (Instituto do Açúcar e Álcool), em 1933, que passou a se preocupar em determinar limites para a produção interna de cana e açúcar. Destas transformações, para o presente trabalho, vale a pena salientar o impacto nas relações entre usinas e fornecedores, destacando as dificuldades enfrentadas pelos produtores agrícolas independentes. Com a estabilidade do preço do açúcar no mercado interno, o preço da cana-de-açúcar para o produtor agrícola também ficou estável, neste sentido reduziu-se os riscos de oscilação do preço na atividade agrícola. Isto estimulou a ampliação do interesse dos usineiros pela produção agrícola, sobretudo através da ampliação do seu ativo em terras. Além disto, a imposição de um limite para a produção de açúcar nos Estados acabou prejudicando a inversão de capitais na produção açucareira, aparecendo como única opção para os industriais continuar o processo de acumulação, a ampliação dos investimentos na atividade agrícola. Desta forma, estes fatores, acabaram provocando um aprofundamento do “processo usineiro” expresso pela ampliação de compra de terras pelas usinas. Ou seja, as usinas investiam ainda mais na produção agrícola, reduzindo as oportunidades de participação para os produtores agrícolas independentes. (RAMOS,1999: 98/99) Como buscou demonstrar Lima Sobrinho (1943) através das análises específicas de cada região, pode-se dizer que a partir de 1930 tem-se nas regiões produtoras uma redução no número de fornecedores de cana expandindo os problemas ou litígios entre as duas principais categorias sociais da agroindústria canavieira. Todavia, diante das disputas pelas terras entre os fornecedores e as usinas em diversas regiões do país, e da deterioração das condições de vida dos moradores e agregados dos engenhos, foi elaborada uma legislação que buscou criar limites para a produção agrícola da usina. Isto deu origem ao Estatuto da Lavoura Canavieira – ELC - (Decreto Lei Nº 3855 de 21/11/1941), acontecimento importante para a categoria dos fornecedores de cana já que este documento consistia em definir legalmente esta categoria. Como lembrou Pina (1972) para um produtor de cana ser fornecedor:“...o lavrador deve ter na lavoura o seu principal insucesso de sua colheita. Uma das finalidades do Estatuto está em despertar no interessado a importância de sua área cultivada e o que ela representa em sua atividade quotidiana. O conceito utilizado por Chermont de Miranda (O Estatuto da Lavoura Canavieira e sua Interpretação, p. 321) sintetiza este aspecto, que se prende ao fornecedor: é a pessoa que exerce como principal, ou única ocupação, uma atividade agrícola”. (PINA,1972:80) Assim, o ELC estipulou que a usina poderia processar no máximo 60% de cana própria. Ou seja, este documento garantia que 40% da matéria prima utilizadas nas usinas, poderia ser entregue por produtor agrícola independente. Assim, os produtores agrícolas ao se tornarem fornecedores de cana cadastrados no IAA, estariam sob o direito de produzir uma determinada cota de cana que deveria ser produzida em um “fundo agrícola” para ser entregue em uma usina específica. Caso a cana não fosse entregue, perdia-se o direito de pertencer à categoria de fornecedores de cana. Desta forma, o ELC buscou distribuir a produção de cana tanto entre os fornecedores através das cotas de produção como resguardar dentro de cada região, o limite de produção definido pelo Estado. (LIMA SOBRINHO,1943:274) Cabe levantar que um dos aspectos mais importantes do ELC se deve a resolução que buscava garantir a sustentação da pequena produção de cana. O ELC idealizou na figura do fornecedor de cana a agricultura familiar com base na pequena propriedade fundiária, proibindo assim as divisões de terras que resultassem em uma área muito pequena, insuficiente para garantir o sustento da família. Buscou também melhorar o bem-estar dos fornecedores de cana, estimulando e facilitando a criação da assistência médica e de cooperativas para a assistência técnica e créditos. Como explicou Queda (1972), “É preciso esclarecer que o Estatuto, para ser aplicado, deveria de início criar condições para a melhoria de vida dos pequenos proprietários fornecedores. Um exemplo é a criação de uma rede de assistência médica”. (1972:131) Assim, foram definidas taxas que seriam cobradas na produção de cana e açúcar com o intuito de fomentar financeiramente estas iniciativas, seja no caso da assistência médica com a criação de hospitais, seja para a ampliação de créditos aos produtores de cana. A partir daí, foram criadas instituições em diversas regiões do país. Ou seja, ao lado de uma categoria, emergiu a organização de seus interesses, cuja força permanece nos dias de hoje. Como foi possível perceber, o Estado brasileiro assumiu importante papel de regulador da atividade canavieira, buscando orquestrar o crescimento da produção garantindo a sustentação do pequeno produtor ou da inserção do fornecedor de cana na produção agrícola. Todavia, este objetivo não perdurou, e a noção de fornecedor foi-se modificando a medida que se tornava necessário ampliar a produção agrícola e a eficiência produtiva com o uso das novas tecnologias. No âmbito legal, destaca-se a resolução nº 2008 em 1968 permitindo que qualquer sociedade anônima pudesse ser fornecedor de cana tal como os sócios ou acionistas das usinas, assim como seus parentes de até 2º grau. Com efeito, percebe-se que deixou-se de associar a figura do fornecedor de cana apenas ao produtor agrícola, ou, ao lavrador. Críticas foram feitas em relação a estas modificações, questionando o próprio caráter legal desta resolução. (JUNGMANN,1971:76) Um outro aspecto importante que envolve a inserção do fornecedor de cana se refere ao plano de modernização do complexo agroindustrial iniciado na década de 1970, cujo objetivo era recuperar o mercado externo do açúcar a partir de uma estrutura produtiva mais eficiente e competitiva. Ou seja, buscava-se uma nova inserção do Brasil no mercado mundial do açúcar. Como a eficiência da produção foi atribuída aos ganhos da economia de escala, os financiamentos foram direcionados aos grandes capitais desencadeando o aprofundamento e consolidação do processo de concentração e centralização do capital. Assim, não seriam todas as unidades industriais que teriam o acesso aos financiamentos. Além disso, como argumentou Ramos, “pode-se notar com facilidade a desigualdade em relação ao acesso a tais recursos entre usinas e fornecedores”.(1999:161) Destaca-se como resultado deste plano a concentração da produção em unidades mais eficientes e naquelas com capacidade ociosa, assim como a incorporação de áreas onde os proprietários das indústrias já possuíam as terras para o plantio da matéria-prima. Embora os fornecedores atingidos recebessem as indenizações, “todo o discurso de sustentação do fornecedor e da pequena produção, que surgira de base para a legislação anterior foi, por decreto, posta de lado.” (RAMOS,1999:163) Um outro aspecto importante que merece ser salientado foi o Próalcool, que surgiu como uma “tábua de salvação” do setor, e que também acabou contribuindo para a perpetuação do modelo de produção integrada com base nos latifúndios, como enfatizou Ramos (1999:171). Sobre a viabilidade econômica de uma pequena produção canavieira, Queda (1972) evidenciou os efeitos da ampliação do custo, a partir da modernização da agricultura. Salientou que, “Com relação às vantagens econômicas da pequena propriedade familiar em relação à grande empresa, os resultados de recentes pesquisas tem rejeitado aquelas afirmações: Os grandes produtores de cana tiveram uma vantagem econômica sobre o pequeno e, a longo prazo, o pequeno produtor tenderá a ser expulso da produção de cana”.. (HUGHES, 1971 apud. QUEDA, 1972:138) “Estes resultados confirmam os de ETTORI et al. (1968) indicando que o preço da tonelada de cana não cobriu os custos de produção para os fornecedores com menos de 2000 toneladas de cana”. (QUEDA,1972:141) Diante desses aspectos, vale destacar o estudo de Caron (1986). Este autor analisou o processo de diferenciação pelo qual vinha passando a categoria de fornecedores de cana no Estado de São Paulo. Sob o intuito de analisar a heterogeneidade dos fornecedores de cana, o autor construiu tipologias utilizando como parâmetros as relações sociais assim como a origem da renda do produtor. Desse modo, o autor identificou quatro categorias: o fornecedor familiar, o fornecedor capitalista, o fornecedor rentista e o fornecedor espúrio. Os fornecedores familiares seriam aqueles que utilizam mão-de-obra familiar e vivem do cultivo da cana; fornecedores capitalistas seriam aqueles que assalariam mão-de-obra vivendo também da cultura da cana; os fornecedores rentistas, seriam aqueles que alugam a terra para outros cultivarem e vivem da renda da terra; e os fornecedores espúrios, que seriam os acionistas das usinas ou os sócios de agropecuárias. Assim, Caron definiu o o fornecedor familiar destacando sua tendência ao desaparecimento:“moram no fundo agrícola, vivem exclusivamente de lavoura e sobretudo da cana-de-açúcar. A família toda trabalha na terra da propriedade. O chefe da família é tido como ‘um sujeito com tradição na cultura; desde o pai ou avô a família planta cana. Executa por sua conta, com sua mão-de-obra e suas máquinas, todas as operações produtivas: plantio, tratos culturais e colheita”. (CARON,1986:110) Foi nesta perspectiva que Caron destacou o crescimento dos contratos de parceria e arrendamento na cultura canavieira, pelos quais quem cuida da terra e da produção passa a ser a usina ou outros fornecedores, e não o pequeno proprietário de terras: “Pelos cálculos do entrevistado um arrendamento feito à base de 25% dá mais que o conseguido pelo fornecedor verdadeiro. Este não retém mais que 20%, com todo o trabalho que tem de executar. Embora sem dados numéricos para demonstrar, a veracidade de muitos anos com fornecedores, nos autoriza a tomar esta informação como iniciativa de estímulo ao arrendamento que vem ocorrendo no meio canavieiro paulista”. (CARON,1986:117) Além disso, para a própria usina, muitas vezes o arrendamento aparece como vantagem à compra da propriedade, já que a demanda por terras pode inflacionar os preço das propriedades rurais. Assim, o autor deixou claro que “ao usineiro também interessa mais o arrendamento, portanto, indo ao encontro das aspirações dos rentistas que não querem deixar de ser donos das terras”. (CARON,1986:117) Diante destas transformações o autor destacou a dificuldade em dimensionar precisamente a categoria dos fornecedores de cana, sobretudo aqueles que não se envolvem mais no cultivo e tornaram-se rentista. Peres (2003) estudou tal categoria no município de Piracicaba revelando os motivos que levaram ao abandono da atividade agrícola pelos pequenos proprietários de terras. Tal autora destacou como fatores que influenciaram a decisão de desistir do cultivo e ceder a terra aos arrendamentos: o crescimento da família, o uso de novas tecnologias e o avanço da idade. Além do arrendamento e das parcerias, a terceirização também vêem vêm crescendo trazendo ainda mais heterogeneidade para a categoria estudada. Segundo o gerente de uma Usina entrevistada (localizada no estado de São Paulo), este terceiro possui um contrato de prestação de serviço com a usina, e suas funções são: plantar a cana, adubar a terra dentre outras especificadas no contrato. A terra pode ser arrendada ou própria da usina, no entanto a cana que é colhida pela usina pertence à usina, e este terceiro em relação àquela cana não é fornecedor. Cabe acrescentar que isto não significa que este terceiro também não possa ser fornecedor, cultivando cana em outras terras e entregando a cana em seu nome. Este fenômeno nos interessa na medida em que a proposta é quantificar e qualificar a categoria de fornecedor de cana. Neste contexto, este agente produtivo pode ser um pequeno fornecedor (em função da quantidade (ton) de cana entregue na usina), onde em sua terra ele planta, faz os tratos culturais, contrata outros (pode ser a usina) para cortar, e, ao mesmo tempo, ele pode prestar serviço para a usina, ou seja, cuidar de mais cana, porém sua remuneração, neste caso, se dá em cima do serviço prestado. Isto e mais comum do que parece já que a usina revela que de 27.000 hectares, aproximadamente 20.000ha estão sob os cuidados dos terceiros. Desta forma, percebemos o surgimento de novos arranjos produtivos, revelando as estratégias de sobrevivência destes produtores agrícolas independentes. Estes produtores se especializam em determinadas etapas do processo produtivo, compram maquinas apropriadas e prestam serviço seja para a usina seja para outros fornecedores. Com isto, ampliam-se as questões sobre quantos são e como são os fornecedores de cana. Ou seja: como qualificamos este produtor agrícola que entrega pouca tonelada de cana-de-açúcar, mas possui muitas máquinas e presta serviço para outros produtores? Pode ainda ser considerado um pequeno fornecedor? Como será observado, nesta segunda parte, a base de dados existente não da conta de incorporar esta pluralidade, e continua qualificando o fornecedor como pequeno médio e grande em função da quantidade de tonelada de cana entregue na usina. Para compreendermos esta questão, cabe agora explicitar os desafios que foram encontrados na pesquisa a qual o texto se refere. 3.Material e Métodos Inicialmente o recorte espacial da pesquisa sobre os fornecedores foi a região Centro Sul, precisamente os estados de São Paulo e Paraná. Todavia, procurou-se definir as regiões canavieiras mais representativas, conforme a definição do Censo Agropecuário do IBGE (1995/96) 1 . Antes de prosseguir, convém esclarecer que o censo agropecuário do IBGE, entretanto, não possibilita a contabilização dos fornecedores de cana, pois nas tabelas referentes à lavoura de cana de açúcar, os produtores estão indiscriminados, constando usinas e fornecedores na mesma categoria. Assim, tomamos a regionalização do IBGE para efeito de definição do universo da pesquisa e buscamos os dados quantitativos sobre os fornecedores e usinas separadamente, através das informações fornecidas pela ORPLANA - Organização dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo. Dentre as 60 microregiões do IBGE existentes no estado de São Paulo, identificamos as dez principais em relação à área colhida2 com cana, as quais concentram aproximadamente 64,01% do total da área colhida no Estado, conforme tabela numero 1. Definidas as dez maiores microregiões do estado de São Paulo no que se refere à participação da área colhida com cana, coube definir o universo das unidades agroindustriais e de fornecedores de cana existentes. Para tal valeu-se de um levantamento preliminar realizado através dos dados da UNICA (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo), através do qual foi possível dimensionar a importância da área recortada pela pesquisa no Estado de São Paulo: existem aproximadamente 140 unidades industriais no Estado de São Paulo que participam do “complexo cana” e o recorte espacial proposto para este projeto envolve cerca de 30% destas unidades. Cabe salientar que nas microrregiões selecionadas localizam-se duas das três principais usinas do estado em relação à quantidade de cana moída 3 . Tabela 1- Principais microrregiões produtoras de cana segundo a área colhida (ha) no Estado de São Paulo, 1995/96 Microregiões (há) São Joaquim da Barra 252.660,28 Ribeirão Preto 216.252,83 Jaboticabal 190.651,89 Jaú 163.776,12 Assis 107.213,73 Araraquara 102.136,62 Piracicaba 90.919,89 Catanduva 87.082,51 São José do Rio Preto 79.587,06 Araçatuba 69.588,93 Total 1.359.869,86 Fonte: IBGE – Censo Agropecuário, 1995/96 1 (%) 11,89 10,18 8,97 7,71 5,05 4,81 4,28 4,10 3,75 3,28 64,01 A utilização do Censo Agropecuário do IBGE como referência, tem o intuito de compatibilizar esta investigação com o trabalho que vem sendo desenvolvido pela equipe no Paraná, bem como para que se possa estabelecer comparações com trabalhos já realizados anteriormente sobre o mesmo tema em Piracicaba e demais regiões do Estado de São Paulo. 2 Para efeito da definição da amostra utilizamos como referência a área colhida com cana-de-açúcar, uma vez que o principal objeto da pesquisa é a relação usinas-fornecedores de cana, relação essa mediada pela questão do uso da terra. 3 A três usinas mais importantes são Usina da Barra localizada na microregião de Jaú com 4.930.16 ton. de cana moída em 2000/2001; a Usina São Martinho localizada na microregião de Ribeirão Preto com 5.313.58 ton de cana moída em 2000/2001 e a Usina Santa Elisa localizada também na microregião de Ribeirão Preto, com 5.074,65 ton. de cana moída em 2000/2001. (Ramos e Szmrecsányi, 2002). Os fornecedores de cana podem ainda ser identificados através das suas entidades de classe, as associações de fornecedores de cana. Existem 19 Associações dos fornecedores de cana do Estado de São Paulo, congregadas pela ORPLANA: Associação CANAOESTE (Sertãozinho), Associação Guariba, Associação Capivari, Associação Catanduva, Associação Barra Bonita, Associação Jaú, Associação Lençóis Paulista, Associação AFOCAPI (Piracicaba), Associação de Assis, Associação de Araraquara e Associação de Orindiúva O problema com a disponibilidade dos dados fornecidas por essas associações reside no fato de que a contagem dos fornecedores tem como referência a usina para a qual eles entregam a cana e não o município de origem do fornecedor. Buscamos compatibilizar então a regionalização do IBGE com os dados relativos ao número de fornecedores disponibilizados pelas associações, destacando os sediados nos municípios pertencentes as microregiões do IBGE. A partir dos dados e informações disponibilizados pela Organização dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (ORPLANA), identificou-se, conforme a tabela abaixo, a quantidade de municípios em cada microregião (conforme regionalização do IBGE) e o número aproximado de fornecedores (segundo dados da ORPLANA) para cada uma das unidades industriais 4 existentes nestas localidades. Ver tabela 2. Das microregiões selecionadas, foi possível perceber a existência de aproximadamente 80 unidades industriais, cujos fornecedores de cana pertencem àquelas associações. Destas 80 unidades localizadas nas microregiões selecionadas, conforme tabela acima, tem-se 6.985 fornecedores de cana, abrangendo 62% do total dos fornecedores do estado de São Paulo associados às entidades de classe. A definição do universo da pesquisa considerava, então, a população de fornecedores computada pela ORPLANA somada à população de fornecedores do Paraná. No estado do Paraná, onde a pesquisa de campo já foi concluída, a definição do universo considerou a mesma base, a saber, a divisão regional do IBGE. Assim, passou-se a considerar para efeito da definição da amostra em São Paulo, apenas o número de fornecedores para este estado, a saber, 6.985, segundo dados da ORPLANA. 4 Cabe destacar que, embora as unidades industriais estejam localizadas no interior de cada microregião, quando se trata de especificar o fornecedor, este pode não estar localizado nos municípios do alcance da pesquisa. Desta forma, será necessário flexibilizar a base territorial no momento da localização destes fornecedores de cana para viabilizar as entrevistas. Tabela 2 – Número e participação (%) de municípios, unidades de produção e fornecedores de cana das microregiões no Estado de São Paulo, 1995/96 Microregiões São Joaquim Barra Ribeirão Preto Municípios ( % ) Unidades da ( % ) Fornecedores (%) 9 6,34 7 8,75 200 2,86 18 12,68 18 22,5 1.433 20,52 Jaboticabal 16 11,27 7 8,75 712 10,19 Jaú Assis Araraquara Piracicaba Catanduva 12 16 13 10 13 8,45 11,27 9,15 7,04 9,15 9 8 8 6 7 11,25 10 10 7,5 8,75 1.092 200 800 2.063 370 15,63 2,86 11,45 29,53 5,3 São José do Rio 28 Preto Araçatuba 7 Total 142 Fonte: Elaboração própria. 19,72 4 5 85 1,22 4,93 100 6 80 7,5 100 30 6.985 0,43 100 4. Resultados Realizou-se uma amostra piloto em Piracicaba o que confirmou a necessidade de revisão da população alvo da pesquisa para os denominados fornecedores ativos. Explicando melhor: já era sabida a diversidade de situações dos fornecedores de cana em termos de escala de produção e envolvimento nas várias fases do processo da lavoura canavieira, comumente distinguida em três atividades básicas – plantio, corte e transporte. Isto define uma gama enorme de arranjos que pretendemos explorar na pesquisa, mas que já permite adiantar uma classificação preliminar: tem-se uma distinção por escala – micro, pequeno, médio e grande fornecedor – e ainda uma distinção que leva em conta a participação total ou parcial dos fornecedores nos eventos ligados à lavoura. Por esta classificação, tem-se um quadro bastante heterogêneo que contempla desde o fornecedor passivo que arrenda a terra e não se envolve em nenhuma atividade (sendo apenas arrendante ou rentista), até o fornecedor que possui a terra, arrenda outras parcelas e realiza todas as tarefas relativas à lavoura canavieira. Com a pesquisa piloto pode-se aferir que os fornecedores passivos não têm condições de responder ao questionário, visto que não dominam quaisquer informações sobre as condições de produção. Decidiu-se, então, excluir esta parcela da categoria da amostra, que terá cobertura diferenciada através de entrevista de outra natureza. Assim, solicitou-se da ORPLANA os dados separados tendo em vista essa primeira classificação. Infelizmente nem a ORPLANA, nem as Associações de Fornecedores puderam disponibilizar tais dados. Os dados de que tais instituições dispõem agregam fornecedores ativos e passivos 5 . Entretanto foi possível chegar a um quadro preliminar a partir da estimativa fornecida pelos técnicos da Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba e confirmada pelo quadro de fornecedores de uma grande usina da região de 5 Há um levantamento desse tipo sendo feito por um dos diretores da AFOCAPI para o município de Piracicaba, mas não há previsão de conclusão. Piracicaba. Segundo tais fontes, aproximadamente 40% dos fornecedores são de fato fornecedores ativos. Utilizando, então essa referência, a população alvo da pesquisa passou a 2.794 fornecedores ativos (40% de 6.985). Na fase inicial da pesquisa destacamos da amostra as duas principais regiões do Estado, a saber Piracicaba, região mais antiga e Ribeirão Preto, mais moderna. Ambas sediam as principais empresas produtoras de máquinas e equipamentos do setor sucroalcooleiro, além de congregarem o maior número de fornecedores do estado de São Paulo, como pode ser visto na tabela 2: juntas representam aproximadamente 31% do total de fornecedores do estado e 50% dos fornecedores do recorte regional realizado para a definição do universo que contempla a amostra desta pesquisa. Finalmente, considerando ainda as diferentes escalas de produção, a amostra deve ser distribuída de acordo com a estratificação da categoria. A ORPLANA oferece uma estratificação, considerando o universo de 11.156 fornecedores de cana no Estado de São Paulo. Cabe salientar que ainda aqui estão os fornecedores ativos e passivos. Tal estratificação será tomada apenas como referência, pois não se pode aplicar o mesmo procedimento de considerar 40% de ativos para cada extrato, visto que estima-se que a maioria dos passivos encontra-se entre os micro e pequenos fornecedores. Tendo em vista a dificuldade que a equipe está tendo para identificar esses números reais, uma estimativa poderá ser produzida por esta pesquisa. Tabela 3 – Estratificação da produção de cana-de-açúcar de fornecedor do Estado de São Paulo, safra 2001/02 Estrato de Produtores Produção (ton.) (%) Produção (%) <200 1.331 201 –800 3.254 801-4.000 4.449 4.000-10.000 1.277 >10.000 845 Total 11.156 Fonte: ORPLANA 11,93 29,17 39,88 11,45 7,57 100 154.491 1.535.115 8.523.367 8.086.819 24.852.058 43.151.850 0,36 3,56 19,75 18,74 57,59 100 41. – Definição da amostra Para a definição da amostra dos fornecedores tomou-se como base a população conhecida de fornecedores de cana de SP 6 de 2.794. Assumiu-se que esta população representa 63% da população total do estado de São Paulo; um intervalo de confiança de 95,5% (com um valor da abscissa da distribuição normal padrão, Z, de 2); um erro amostral de 5% (0,05). A partir desses parâmetros utilizou-se a técnica da amostragem aleatória proporcional para estimar o tamanho da amostra. Conforme Martins (2001), este tipo de técnica é definido como: n= 6 Visto que no Paraná a pesquisa já está concluída Z 2. p.q.N d ( N − 1) + Z 2 . p.q 2 Onde: N = tamanho da população; Z= abscissa de distribuição padrão normal; p= estimativa da proporção; q = 1- p; d = erro amostral; n = tamanho da amostra da população. Se N é igual a 2794 Z a 2, d a 0,05 e p a 0,63 então, conforme a fórmula acima, o valor da amostra (n) será de 330, valor que define o número de questionários que serão aplicados aos fornecedores do Estado de São Paulo. Para a distribuição da amostra e considerando a proporcionalidade das microregiões tem-se o seguinte quadro: Tabela 4– Número e participação (%) de municípios, unidades de produção e fornecedores de cana das microregiões no Estado de São Paulo, 1995/96 Municípios ( % ) Fornecedores (%) Distr. Amostra Microregiões São Joaquim da Barra 9 6,34 200 2,86 9 Ribeirão Preto Jaboticabal Jaú Assis Araraquara 18 16 12 16 13 12,68 11,27 8,45 11,27 9,15 1.433 712 1.092 200 800 20,52 10,19 15,63 2,86 11,45 68 34 52 9 38 Piracicaba 10 7,04 2.063 29,53 97 Catanduva São José do Rio Preto Araçatuba Total Fonte: Elaboração própria. 13 28 7 142 9,15 19,72 4,93 100 370 85 30 6.985 5,3 1,22 0,43 100 17 4 2 330 A primeira fase da pesquisa de campo, em andamento, envolveu as duas principais microregiões canavieiras Piracicaba e Ribeirão Preto, e estamos definindo os sujeitos da pesquisa, que contam 165 fornecedores, sendo 68 para Ribeirão Preto e 97 para Piracicaba, considerando duas referências: i) as associações de fornecedores de cana sediadas nas microregiões que compõem a amostragem, visto que elas congregam, senão a totalidade, uma porcentagem de fornecedores muito próxima da totalidade, e ii) deste universo compreendido pelos fornecedores membros das associações em referência, aqueles fornecedores sediados nos municípios pertencentes as microregiões definidas na pesquisa, iii) organizamos o quadro a seguir: Tabela 5 – Numero de municípios das Microrregiões, Fornecedores e unidades produtivas de Ribeirão Preto e Piracicaba. Microregiões Fornecedores Usinas/Destilarias Ribeirão Preto Barrinha Brodósqui 1.935 # # Cravinhos # Dumont Guatapará Jardinópolis Luiz Antonio # Pontal Pradópolis Ribeirão Preto ## # # 109 # # # 5 + 245 Jardest Moreno N.Sra.Aparecida Bazan Bela Vista São Martinho # # ### 57 Galo Bravo Sta. Lídia Santa Rita Santa Rosa de Viterbo # 25 Ibirá São Simão Serra Azul Serrana # # # # 117 Sertãozinho # 153 # 355 # 364 # 137 # ## + 24 54 # ## + 14 276 Santa Rita do Passa Quatro Nova União Da Pedra Albertina Sta. Elisa I Sta. Elisa II Dest. Sta. Ines São Francisco Sto. Antonio AB Piracicaba Capivari Charqueada 20.120 Mombuca Piracicaba Rio das Pedras Saltinho Santa Maria Serra São Pedro Tietê 926 636 Costa Pinto Santa Helena 158 Pederneiras da Fonte: Elaboração própria.No. de fornecedores, segundo ORPLANA, 2004. (relatório) # Pertencem a Associação de Sertãozinho ## Pertencem a Associação de Guariba ### Pertence a Associação de Piracicaba **Segundo Pires (1996) produz aguardente e, residualmente produz álcool. 1- prioridade são os municípios das microregiões IBGE 2- nos municípios identificamos as usinas - ORPLANA, Jornal da Cana (?) 3- identificação dos municípios através da UNICA 4- Pires (1996) Vale frisar que os dados revelam ligeira alteração no número de fornecedores entre 2004 e 1996/1996 , sugerindo redução daquele número para a microregião de Piracicaba de 2.063 para 2.012 e aumento para Ribeirão Preto de 1433 para 1.840. Solicitou-se, então às associações de fornecedores de cana que compreendem as microregiões selecionadas (AFOCAPI, CANOESTE e Guariba) a disponibilização dos dados relativos ao número de fornecedores por município, considerando as microregiões de referência, bem como aquela estratificação inicial que separa os fornecedores ativos e passivos. Aqui já surgiu uma dificuldade, pois para que as Associações nos fornecessem os dados teria que desagregá-los, uma vez que o recorte regional dela é diferente do qual estamos trabalhando. Além disso, tanto a AFOCAPI como a CANOESTE trabalham com os dados de fornecedores distribuídos por usina, o que também extrapola o nosso recorte regional. Ainda, precisávamos dos números para o que denominam fornecedores ativos, ou seja, os que realmente atuam na produção de cana, que segundo a Associação perfazem 40% do total de fornecedores, os demais 60% são passivos, ou seja arrendam as terras para os produtores de cana, reais fornecedores. Ocorre que tanto ativos como passivos estão no quadro de associados da AFOCAPI e fazem parte da categoria dos fornecedores de cana. Assim para as Associações nos fornecer os dados que estávamos solicitando teriam que produzi-los e, evidentemente, não dispunham de recursos para fazê-lo. Concomitante a esse procedimento, tendo em vista a dificuldade das entidades em fornecerem os dados, buscou-se um contato com as usinas da região de Piracicaba para obtenção da relação dos fornecedores, o que foi bastante satisfatório a medida que duas delas (Usina Costa Pinto e Usina Pederneiras) disponibilizaram os dados. Este procedimento estabelece uma outra forma de disponibilização da amostra que é a referência nas usinas, o que é compatível com os dados das associações, visto que elas contabilizam os fornecedores por usina e não por município. No entanto coloca-nos um problema, pois a área de abrangência das usinas não coincide com o recorte regional do IBGE, o que nos leva a buscar compatibilizar as referências. Decidimos então considerar a área de abrangência das usinas pertencentes às microregiões selecionadas, extrapolando em alguma medida o recorte do IBGE., o que se justifica tendo em vista que o recorte do IBGE é arbitrário, ao passo que a área de abrangência das usinas é o espaço real de inserção socioeconômica destas unidades. Por outro lado, tem-se desta forma que a abordagem aos fornecedores leva em conta seu elo mais próximo na cadeia produtiva da agroindústria canavieira. A partir deste procedimento iniciamos o trabalho por Piracicaba que foi onde obtivemos os dados iniciais. Considerando o peso relativo de cada usina na composição da amostra chegouse a seguinte estratificação: Tabela 6 - Número de fornecedores da microregiões de Piracicaba e Ribeirão Preto, distribuídos por usina, safra 2003/2004. Usina Número fornecedores Participação % Entrevistas Costa Pinto Santa Helena 926 636 46 31 45 31 São José Pederneiras Total Piracicaba 292 158 2.012 14 9 100 14 7 97 Albertina Ibirá Moreno Usina da Pedra Santa Elisa I 153 25 109 117 355 8,31 1,35 5,92 6,35 19,29 6 2 4 4 13 Santa Elisa II 364 19,78 13 Santa Inês 137 7,44 5 Santo Antonio São Francisco 276 54 15 2,93 10 2 São Martinho Total RB 250 1.840 13,58 100 9 68 Total Geral Fonte: Elaboração própria. 3.852 165 Ainda assim, iniciamos o trabalho em Piracicaba, com as listagens disponíveis, pois tínhamos que dar início ao trabalho. Tomamos as relações e estratificamos conforme a dimensão utilizada pela ORPLANA, que já dispõe dos dados para safra 2004/2005. Ver tabela 7 Vale esclarecer que para a disposição da amostra a partir desta listagem consideramos o número de fornecedores com produção efetiva, ou seja, acima de 1 tonelada e desprezamos os que produziram 0. Assim o universo, neste caso passou a ser 368 fornecedores ativos desta usina, cuja amostra seguiria a disponibilização acima. Procedemos da mesma forma com a listagem da Usina Pederneiras. Tabela 7 – Distribuição por estrato ESTRATO DE PRODUÇÃO(t) Número de Produtores % de Produtores ÁREA ha Produção (t) % da Produção < 200 201 – 800 801 – 4.000 4.000 - 10.000 > 10.000 TOTAL 1.315 3.524 5.189 1.610 1.017 12.655 10,4 37,9 41 12,7 8 100 1 6 24 78 366 50 154.608 1.638.542 9.791.712 10.108.432 30.205.705 51.898.999 0,3 3,1 18,9 19,5 58,2 100 Fonte: ORPLANA, 2005. Tabela 8 - Fornecedores de cana da Usina Costa Pinto, segundo estratos de produção, safra 2003/2004 Estrato de produção (ton.) No. de fornecedores Porcentagem Produção Amostragem 0 1 – 200 201 – 800 52 37 98 10,05 26,63 0 5.210 49.630 0 5 12 801 – 4.000 168 45,65 305.540 17 4.001 – 10.000 33 Mais de 10.000 32 Total 420 Fonte: Usina Costa Pinto 8,86 8,69 100 198.740 789.489 1.348.609 5 4 43 Iniciamos o trabalho por essa relação e tentamos o mesmo procedimento para as usinas de Ribeirão Preto. Tínhamos claro que teríamos maior dificuldade com as usinas de lá, pois havendo maior quantidade de usinas, a concorrência entre elas pela cana disponível, faz com que tomem mais cuidado na divulgação dos dados. Isto nos colocava um problema metodológico sério, pois em mantendo-se tal procedimento, teríamos que adotá-lo para toda a amostra ou não atingiríamos todo o universo da pesquisa, o que era difícil para Ribeirão Preto, pelos motivos expostos. Obtivemos, no entanto, uma tabela com o número de fornecedores por estrato de produção através da CANOESTE: Tabela 9 - Fornecedores de cana da Usina Pederneiras, segundo estratos de produção, safra 2003/2004 Estrato de produção (ton.) No. de fornecedores Porcentagem Produção Amostragem Ton 0 1 – 200 201 – 800 801 – 4.000 4.001 – 10.000 Mais de 10.000 3 4 18 38 14 7 Total 84 Fonte: Usina Pederneiras 0,99 22,23 46,91 17,28 8,64 0 630 9.740 65.450 89.200 233.500 0 1 2 2 1 1 100 398.520 7 Tabela 10 - Número de fornecedores associados a CANOESTE, segundo as usinas e estratos de produção, safra 2003/2004. Usina Fornecedores Passivos Albertina Andrade Batatais Carolo Guarani Ibirá M.B. Moreno Pedra Pitangueiras Santa Elisa I Santa Elisa II Santa Inês Santo Antonio São Francisco Virálcool São Martinho São José (CESJ) total/média CANAOESTE Fornecedores Ativos Ativos Ativos Ativos Ativos Ativos 1 - 200 ton 201 - 800 ton 801 - 4.000 ton 4.001 - 10.000 ton > 10.000 ton 153 4 28 64 32 25 46 1 12 24 6 3 60 3 22 16 19 101 8 18 36 21 18 140 15 31 53 19 22 25 1 3 4 6 11 147 1 14 59 32 41 109 6 9 39 38 17 117 5 13 44 25 30 186 9 37 106 21 13 355 61 115 122 31 26 364 83 122 125 20 14 137 17 41 66 10 3 276 12 80 120 38 26 54 3 13 24 12 2 222 16 53 111 27 15 5 3 1 1 4 1 1 2 2.501 242 592 1.023 356 288 Notas: com os fornecedores desta região é muito frequente ocorrer sub-divisões de entregas entre irmãos ou entre pais e filhos. Não configurando a relaidade de fornecedores muito pequenos - estratos até 200t, ou mesmo 800t. Na região de abangência da CANAOESTE, ocorre ainda uma faixa do estrato de fornecedores acima de 50.000t. 5. Considerações Finais No caso da região de Piracicaba, esta referência da distribuição da amostra por usina, serviu apenas para a disposição percentual da amostra e para darmos início ao trabalho, pois as relações de fornecedores disponibilizadas pelas usinas revelam números muito diferentes dos reais: as relações fornecidas estavam desatualizadas – muitos fornecedores constantes como ativos eram passivos, muitos fornecedores constantes das relações não eram mais fornecedores, muitos dos endereços e telefones haviam mudado e não puderam ser encontrados na lista telefônica e, mais complicado, o acesso às propriedades rurais para a aplicação dos questionários era absolutamente inóspito devido às chuvas as estradas rurais estavam muito ruins. De fato, o transcorrer dos trabalhos mostrava-se extremamente moroso e ineficiente pelos motivos expostos, além do fato de que, com a chegada das chuvas do mês de janeiro, ficou impossível se dirigir às propriedades rurais. Nesse ínterim fomos contatados por uma fornecedora de cana que havia tomado conhecimento da pesquisa pelo Jornal de Piracicaba e se manifestou disposta a ajudar-nos. Justifica seu interesse na necessidade de ver divulgadas as condições do fornecedor de cana de Piracicaba e na busca por políticas públicas mais favoráveis. Sugeriu que fizéssemos um mutirão na sede da AFOCAPI, visto que ela sedia o Banco da Cooperativa dos Fornecedores de Cana e eles sempre presentes para compromissos financeiros diversos. De fato esta foi a solução que precisávamos, pois pudemos cumprir a amostra entrevistando os fornecedores na entidade. Este procedimento mostrou-se bastante adequado, pois permite identificar os fornecedores procedentes dos vários municípios que compõem a região de Piracicaba, segundo recorte da ORPLANA, bem como de todas as usinas sediadas na região. Tal procedimento facilitou o acesso, pois eles estão com disponibilidade de tempo para participar da pesquisa. O único inconveniente detectado foi que o encontro fora do local de trabalho e moradia, inviabiliza a observação sobre as condições de infra-estrutura do domicílio, no entanto, decidimos sacrificar este bloco de questões, priorizando os demais. A AFOCAPI, reúne os fornecedores de cana da região de Piracicaba que compreende 58 municípios 7 . Foram contemplados 8 municípios conforme os procedimentos já delineados. Os questionários aplicados estão em fase de tabulação. No contato com Ribeirão Preto definimos que adotaríamos o mesmo procedimento com a CANOESTE. Enviamos a equipe de campo para Sertãozinho, onde está sediada a CANOESTE para realizarmos a amostra . Diferente da AFOCAPI que mantém um banco centralizado no município de Piracicaba e que atende a todos os fornecedores de cana da região, a CANOESTE mantém igualmente uma Cooperativa de crédito a CONCRED, cujas filiais estão espalhadas em 5 municípios da região de Ribeirão Preto que congregam os fornecedores de cana, exigindo portanto que a equipe que se desloca-se para tais municípios: Sertãozinho, Pontal, Morro Agudo, Cravinhos, e Severínia. A CANOESTE abrange 32 municípios do oeste paulista: Altinópolis, Barretos, Barrinha, Batatais, Bebedouro, Brodósqui, Cajobi, Colina, Cravinhos, Dumont, Jaborandi, Jardinópolis, Luiz Antonio, Luzitânia, Monte Azul Paulista, Monte Verde, Morro Agudo, Nuporanga, Orlândia, Pitangueiras, Pontal, Ribeirão Preto, Sales de Oliveira, Santa Rosa do Viterbo, Santo Antonio da Alegria, São Simão, Serra Azul, Serrana, Sertãozinho, Severinia, Terra Roxa e Viradouro. A amostra atingiu 13 destes municípios na seguinte distribuição: Batatais – 01, Cravinhos – 06, Dumond – 02, Luiz Antonio – 01, Morro Agudo – 13, Nuporanga – 01, Orlândia – 01, Pitangueiras – 10 , Pontal – 12, Ribeirão preto – 02, Santa Rosa do Viterbo – 01, Sertãozinho – 08, Severínia – 10 , Total – 68 7 Adamantina, Arthur Nogueira, Aguai, Analândia, Anhembi, Araras, Botucatú, Brotas, Charqueada, Cosmópolis, Cordeirópolis, Corumbataí, Clementina, Clarínia, Casa Branca, Caporanga, Campinas, Caconde, Conchal, Divinolândia, Espirito Santo do Turvo, Espirito Santo do Pinhal, Itapira, Iracemápolis, Itapetininga, Itirapina, Itobi, Jaguariúna, Leme, Limeira, Mococa, Mogi-Mirim, Mogi-Guaçu, Oriente Penápolis, Pirassununga, Piracicaba, Promissão Rio Claro, Rio das Pedras, Santa Rita do Passa Quatro, Santo Antonio da Posse, Santa Cruz das Palmeiras, Saltinho, Santa Cruz do Rio Pardo, Santa Cruz da Conceição, Santa Gertrudes, Santa Maria da Serra, Santo Antonio do Jardim, São João da Boa Vista, São José do Rio Pardo, São Pedro, São Sebastião da Grama, Tapiratiba, Tambaú, Tietê, Torrinha e Vargem Grande do Sul. Nosso próximo passo será buscar a compatibilização regional da amostra, assim como a estratificação real absorvida pela pesquisa de campo. No que se refere a estratificação a amostra revelou uma realidade muito diferente daquela registrada pelas Associações e pela Orplana. Já era sabido que isto poderia ocorrer devido ao fato de as Associações considerarem indistintamente os fornecedores ativos e passivos, constando como fornecedores os arrendantes de terra. Nossa amostra deixou-os fora do universo da pesquisa. Este procedimento fez com que elevasse substancialmente o número de grandes fornecedores em detrimento aos pequenos, como se pode observar nas tabelas abaixo. Além disto, um outro fator que faz com que as estratificações das associações fiquem enviesadas demonstrando a forte presença de pequenos fornecedores na lavoura canaviera: o arrendante de terras mantém-se no quadro de associados como fornecedor de cana , sendo classificado com uma quota igual ao valor do arrendamento, geralmente cerca de 14,5 toneladas de cana por hectare de terra. Considerando-se uma produtividade média por hectare de 74,5 toneladas de cana, o arrendamento equivale a cerca de 1/5 da produção. Como a usina paga diretamente ao arrendante, descontando aquela parcela de cana do total de cana entregue pelo fornecedor ativo essa quantia de cana é computada na associação no nome do arrendante como a sua quota de produção. Assim se ele arrenda 20 hectares de terra o que renderia 1490 toneladas de cana (20 X 74,5), figurando como médio fornecedor, aparece como um produtor de 290 toneladas (20 x 14,5), ou seja figurando entre os pequenos fornecedores. Como na verdade a maioria dos arrendantes são pequenos proprietários, cria-se um cenário distorcido sobre a pequena produção canavieira. Tabela 11 - Fornecedores de CANOESTE, segundo estratos de produção, safra 2003/2004 e amostra pesquisa de campo safra 2004/2005 Estrato de produção (ton.) No. de Porcentagem Amostra Porcentagem fornecedores 1 – 200 201 – 800 801 – 4.000 110 395 840 5,61 20,15 42,85 2 4 17 2,94 5,88 25 4.001 – 10.000 344 17,55 13 19,12 Mais de 10.000 Total 271 1.960 13,82 100 32 68 47,59 100 Fonte: elaboração própria. Tabela 12 - Fornecedores de Afocapi, segundo estratos de produção, safra 2003/2004 e amostra pesquisa de campo safra 2004/2005 Estrato de produção (ton.) No. de fornecedores 1 – 200 201 – 800 801 – 4.000 4.001 – 10.000 Mais de 10.000 Total 656 1.446 1.439 299 120 3.960 Fonte: Elaboração própria. Porcentagem Amostra Porcentagem 15,57 36,52 36,34 7,55 3,03 100 0 9 30 18 40 97 0 9,28 30,93 18,56 41,23 100 6. 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