#obaileesemparar No final dos anos 80, início de 90, uma geração de músicos influenciada pelos sambistas tradicionais e pela turma do Cacique de Ramos, que ganhou as paradas de sucesso a partir de 1983, 1984, surgiu com um samba diferente, sem compromisso, bem-humorado e debochado. O sucesso nacional, que se refletiu em recordes de vendas e execuções em rádios, fez desta turma, chamada erroneamente de “a segunda geração do pagode”, um dos marcos da indústria fonográfica nacional. Digo erroneamente porque esta foi uma forma de diferenciar, de separar Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Jorge Aragão, Jovelina Pérola Negra do samba que esta turma fazia. E isso me faz lembrar um show em que Zeca chamou um sambista desta geração para subir ao palco do Canecão. Ele estava voltando aos seus dias de glória, enquanto o outro artista estava no auge. Muito a contragosto, com medo de não ser reconhecido pela “turma do samba”, o convidado subiu ao palco e cantou clássicos do gênero, sendo muito aplaudido. Pagodinho então disse: “Sambista é sambista, bebemos da mesma fonte, somos frutos da mesma raiz”. Curiosamente, em seu depoimento a este “25 anos #obaileesemparar”, Bira Hawaii, um dos responsáveis pelo sucesso do grupo, disse que “os meninos” queriam cantar um repertório de sambas tradicionais, mas que veio dele, produtor experiente e atento, pai de Anderson Leonardo, a ideia de fundir o samba com outros ritmos, coisa que, por sinal, Anderson já fazia em shows de música brasileira pelo exterior. O grupo correu bares e clubes até alcançar o sucesso nacional com “Caçamba”, do primeiro disco, de 1994. Empresário dos primeiros tempos da banda e pai de Claumirzinho, Claumir Jorge, lembra que a música abriu muitas portas. “A gente ia vender show e só tinha esta música. Mas falávamos para o contratante: ‘Você compra três shows, se não gostar, não paga nenhum’”. Pelo jeito, a tática deu certo, pois até a primeira metade dos anos 2000 o Molejo foi sinônimo de sucesso, cativando públicos de todas as classes sociais, unindo Zona Norte e Zona Sul, expandindo as fronteiras do samba. E na comemoração dos 25 anos da primeira formação do grupo, os músicos que hoje seguem na estrada, Anderson Leonardo, Lúcio Nascimento, Robson Calazans, Jimmy Batera, Marquinhos Pato e Claumirzinho decidiram fazer um show com convidados. Deste show surgiu a ideia de fazer o “Baile do Molejão”. E, por sugestão do dono da casa Barra Music, Júnior, este baile virou um DVD, logo abraçado pela Sony Music. Além de um grande apanhado dos sucessos de todos os discos do Molejo, a escolha de convidados reflete bem o ecletismo dos músicos. Sobem ao palco para participações especiais os contemporâneos Revelação (“De Sampa a São Luís” e “Pula por cima da dor”) e Pique Novo (“Pensamento verde”); os herdeiros musicais Bom Gosto (“Caçamba”), “Imaginasamba” (“Doidinha por meu samba”) e Nosso Sentimento (“Cilada”), além do cantor Belo , que interpreta “Ah moleque” e a romântica “Amor estou sofrendo”. O Molejo também recebe o badalado Trio Ternura, formado pelo ator Thiago Martins e pelos músicos Jhama e Dhum Neves, no “Samba Rock do Molejão”. Mumuzinho interpreta “Voltei”, enquanto o promoter David Brazil faz uma engraçadíssima participação em “Amigo gaguinho”. O funk surge pelas mãos dos MCs Bola (“A bruxa está solta”) e Ludmila (“Polivalência/ Fala mal de mim”). Fechando o bloco de convidados, o baiano Léo Santana, o criador do “Rebolation”, exBanda Parangolé, bota para quebrar em “Deboche” e “Samba diferente”. Mas a grande atração do DVD é mesmo o Molejão, com seu suingue e a sua capacidade de tocar horas a fio sem perder a pegada irreverente. Com 25 anos de estrada, o grupo atualiza seus clássicos como “Garoto Zona Sul”, “Clínica geral”, “Não quero saber de ti ti ti”, “Brincadeira de criança” e “Dança da vassoura” mostrando que ainda tem muito fôlego e público para seguir em frente. As palavras de incentivo de Anderson Leonardo, na entrada do grupo no palco, diz tudo: “Astral, astral, astral”. João Pimentel