Grandes petroleiras realizam maior ajuste em
uma geração para agradar investidores
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Javier Blas
07/08/201515h24
As petroleiras estão realizando as maiores reduções de custos em uma geração para tranquilizar
os investidores. Elas estão colocando seu próprio crescimento futuro em risco.
Da Chevron Corp. até a Royal Dutch Shell Plc, as produtoras estão demitindo milhares de
trabalhadores e cancelando investimentos a fim de defender seus dividendos. Os ajustes no setor
inteiro totalizam US$ 180 bilhões no que vai deste ano, o maior montante desde o colapso do
petróleo em 1986, segundo a Rystad Energy AS, uma consultoria de energia com sede em Oslo.
O CEO da BP Plc, Bob Dudley, disse na semana passada que sua "primeira prioridade" eram os
pagamentos a acionistas. A diretora financeira da Chevron, Patricia Yarrington, disse que sua
companhia estava comprometida a continuar seu histórico de 27 anos com incrementos anuais
dos dividendos.
Embora os pagamentos de dividendos agradem os investidores, as produtoras correm o risco de
repetir os padrões de 1986 e 1999, quando os preços declinaram e elas cortaram gastos. As
petroleiras demoraram anos em reconstruir suas carteiras de projetos para o crescimento da
produção.
"É necessário questionar se é ideal basear a estratégia inteira na preservação do dividendo",
disse Thomas Moore, diretor da empresa britânica de gestão de fundos Standard Life Investments
Ltd., que administra 1,2 bilhão de libras esterlinas de forma direta. "A resposta aos preços baixos
do petróleo tem sido um ajuste selvagem de custos".
A Exxon Mobil Corp., a Shell, a Chevron, a BP e a Total SA disseram aos investidores na semana
passada que os planos de crescimento para o futuro não estão em perigo e mantiveram suas
metas de produção para vários anos à frente. O histórico das anteriores reduções de custos serve
de advertência.
Chevron
A Chevron é um exemplo. Depois de reduções de gastos em 1998 e 1999, quando os preços do
petróleo caíram para menos de US$ 10, a produção declinou. A empresa com sede nos EUA
extraiu o equivalente a 1,99 milhão de barris de petróleo em 2000 e quatro anos depois estava
produzindo 1,7 milhão. A Shell e a Exxon experimentaram uma estagnação do seu crescimento.
A diminuição de custos e as vendas de ativos foram alguns dos motivos dos declínios, segundo
os relatórios anuais das companhias. O impacto de uma produção mais baixa foi abafado pela
alta dos preços.
Não é difícil entender por que os investidores gostam dos dividendos. De 2000 a 2004, enquanto
a produção da Chevron caía, as ações com dividendos reinvestidos tiveram um retorno de mais
do dobro daquele obtido com a valorização dos preços: 44% frente a 21%.
Fluxo de caixa
Como os dividendos são sacrossantos, o ajuste é inevitável. Alastair Syme, analista do petróleo
do Citigroup Inc. em Londres, disse que o dispêndio de capital e os dividendos totalizaram 146%
do fluxo de caixa das grandes petroleiras no primeiro semestre do ano.
As maiores produtoras aprenderam algumas lições do passado. Elas não têm demitido
trabalhadores fundamentais como geólogos e engenheiros, cortando funcionários com menos
qualificações em seu lugar. Além disso, elas estão se beneficiando com uma queda nos custos, já
que as empreiteiras oferecem descontos para manter as torres de perfuração e outros
equipamentos funcionando.
As recompras de ações caíram e algumas companhias, entre elas a Total e a Shell, introduziram
"scrip dividends" opcionais, pagos com ações em vez de dinheiro. No que vai deste ano, a Exxon
recomprou ações pelo valor de US$ 1,5 bilhão, frente a quase US$ 13 bilhões em 2014 e US$ 16
bilhões em 2013.
Per Magnus Nysveen, diretor de análise da Rystad, disse que as petroleiras provavelmente
reduzam seus investimentos em mais 5% a 15% no ano que vem, depois de um ajuste de 21%
em 2015.
"Mesmo se não pudermos ver a ponta do penhasco da oferta ainda, parecerá íngreme quando a
virmos", disse ele.
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