EDITORIAL Para uma sociedade harmoniosa Símbolos da foice e do martelo, slogans e painéis de propaganda enchem as ruas das cidades da China. O partido único, com os mais de dois mil delegados, confronta-se com o seu próprio futuro, no 17º congresso. No palácio da Assembleia Nacional, que se ergue na Praça Tienanmen, discutem-se programas, mas sobretudo cadeiras no comité central do partido. Não se esperam grandes mudanças. A corrupção continua a alastrar entre os dirigentes, com milhares e milhares de casos. Em vez de ser a vanguarda da sociedade, o partido converteu-se em opressor. Os seus membros transformaram-se numa oligarquia que se serve da economia para agarrar o poder político e usa-o para aumentar os seus benefícios económicos. Slogans como os da “sociedade harmoniosa”, para a qual todos devem contribuir e dela beneficiar, e do “progresso científico”, para sublinhar a industrialização do país, não bastam para apaziguar o clima de revolta que cresce entre o povo. A repressão contra dissidentes, defensores dos direitos humanos, personalidades religiosas, grupos de É urgente passar da palavra aos protesto e meios de comunicação, aparecem como a actos. Sem respeito pelos direi única estrada para criar o tal ambiente “de alegria e harmonia”, apregoado por Hu Jintao. tos humanos, nomeadamente pela Enquanto decorre o congresso, Dalai Lama, liberdade religiosa, a “sociedade har líder espiritual do povo tibetano é recebido em moniosa” não passa de um “bluff” Washington pelo presidente norte-americano Bush. O facto desencadeia as iras dos dirigentes chineses que convocam o embaixador americano na capital chinesa. A China não tolera que qualquer país receba Dalai Lama. Os seus governantes consideram tal gesto uma interferência nos seus assuntos internos. Segundo o dominicano Carlos Rodriguez, director do SEDOS, instituto de documentação e estudo sobre a missão, os dirigentes chineses não podem dar uma imagem de fraqueza. A sua reacção é sobretudo para consumo interno. Passado o tempo do congresso do partido comunista chinês, “as águas acalmar-se-ão”. É urgente passar da palavra aos actos. Sem respeito pelos direitos humanos, nomeadamente pela liberdade religiosa, a “sociedade harmoniosa” não passa de um “bluff”. Enquanto dentro das portas fechadas da Grande Sala do Povo, os mais de dois mil delegados do congresso do partido comunista chinês falam de “liberdade religiosa” e de “respeito de todas as crenças”, no país persistem as perseguições contra activistas, contra bispos e sacerdotes. A reconciliação social do país revela-se muito difícil com uma média de 200 revoltas violentas diárias, acompanhadas de confrontos com a polícia. A liberdade religiosa e o respeito dos direitos humanos talvez possam constituir a principal garantia da tal “sociedade harmoniosa”. EA FÁTIMA MISSIONÁRIA 0 Edição LIII | Novembro de 2007