Um Fórum voltado à construção de uma sociedade humanizada –
(é preciso ir além da crise)
Para fundamentar uma sociedade participativa e solidária é preciso crer que
ela é possível. Esta crença decorre da convicção de que:
1- os princípios que regem a atual ordem civilizatória – e não só econômica
gerados especialmente no século XVIII, no contexto da primeira
Revolução Industrial, se tornaram incompatíveis com os avanços
ocorridos no campo da ciência e da tecnologia;
2- tal incompatibilidade gera uma disritmia entre esses avanços e a ordem,
vigente ou a organização social global (civilizatória) causando um
desequilíbrio generalizado e crescente, o qual se manifesta em todos os
setores dessa organização: no campo da natureza (desequilíbrio
ecológico), no campo social (exclusão e insegurança), no campo
econômico
(insustentabilidade
da
economia
concentrada
e
especulativa), no campo psicológico (angustia ou escapismo –
desumanização), no campo espiritual (perda da ética e dos valores);
3- tal desequilíbrio, se não corrigido, como acontece com todo desequilíbrio
da natureza, quando não revertido, levará a sociedade a alguma forma
de ruptura, cujo preço a pagar será equivalente à dimensão do próprio
desequilíbrio e das distorções que se embutirem no processo;
4- no passado rupturas decorrentes de semelhantes desequilíbrios, sempre
geraram
transformações
de
dimensão
civilizatória,
como
a
transformação da vida tribal para as civilizações urbanas, ou das formas
de vida clássicas, para a organização feudal, ou desta para a idade
industrial. Os desequilíbrios atuais tem igual ou maior dimensão porque
a dimensão da tecnologia que os gera, é inimaginavelmente maior, do
que no passado. Isto significa dizer que neste momento a crise em que o
mundo está mergulhado, ou as várias crises, constitui uma mudança
civilizatória e não apenas uma bolha financeira com repercussões na
economia e respingos na sociedade;
5- a falta de percepção deste fato permite deduzir com segurança que
ainda que desta vez a crise venha a ser superada, à custa da
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transferência das gorduras podres das economias concentradas, se
está, na verdade, apenas dando uma sobrevida ao processo no aguardo
da próxima crise. Assim de crise em crise em agravamento, estaremos
cada vez mais próximos de alguma forma de ruptura, se não formos
capazes de reverter esse processo;
6- no entanto, há uma profunda diferença entre o processo atual e as
transformações civilizatórias ocorridas no passado. A mudança que
estamos vivendo comporta no mínimo duas dimensões diferentes: a
velocidade com que ocorre o processo e sua globalidade, o que se
ocorrer a ruptura, será global e instantânea, contrariamente ao o que
ocorria no passado quando as rupturas sempre foram localizadas e
diluídas em séculos ou milênios, porque este era o ritmo e a dimensão
do processo;
7- em favor da mudança - e antes que ocorra a ruptura, ou seja na
perspectiva de reverter o processo, é preciso perceber a existência e o
crescimento de uma poderosa massa de consciência que se contrapõe
ao desequilíbrio e aos desvios por ele provocados. Esta massa de
consciência traz no bojo valores capazes de inspirar os fundamentos de
uma nova ordem social – a nova civilização, ou a civilização póstecnológica, colocando em sintonia os valores e os avanços da ciência e
da tecnologia.
8- a massa de consciência em crescimento, seus valores, já não aceita o
uso da tecnologia para destruir a natureza, acumular a riqueza e demais
dimensões do homem e da sociedade concentrada - a tecnologia nas
mãos dos que dispõem dos sistemas globais; não mais aceita a guerra,
a prepotência, a desigualdade, e a exclusão; não aceita igualmente
massificação das consciências, das culturas e do conhecimento e,
portanto, o enquadramento do mundo por essas estruturas que vem
gerando um novo tipo de sociedade totalitária, infelizmente percebida
apenas em seus efeitos, não em suas causas. Assim estamos aceitando
e ensinando a competição e a concentração, que geram a exclusão e os
desequilíbrios, globais. Não há, pois surpresa na crise anunciada (como
a morte, de Vargas Lhossa).
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9- Em contrapartida, esta massa de consciência em crescimento nos
inspira a alternativa em favor da preservação da natureza, da paz, da
fraternidade e da igualdade; inspira igualmente o direto á participação, à
vida, à liberdade, ao pluralismo, às liberdades individuais e à
autodeterminação dos povos, enfim o conjunto de valores que
constituem os direitos humanos. Olhado como processo, o crescimento
desses valores e da massa de consciência que os reflete é irreversível.
10- no entanto pela lentidão com que as Instituições, se modificam ou pela
resistência que oferecem à mudança ou, ainda, pela inconsciência da
sociedade estabelecida, esses valores se manifestam ainda difusos,
desestruturados, às vezes caóticos. Assim permanecem no plano das
aspirações, das expressões de massa, das reivindicações, das utopias
ou dos voluntarismos, sem uma teoria que os sistematizem e,
sistematizados, os viabilizem na pratica, transformando-os em normas
jurídicas, econômicas, políticas, ou sociais em seus mais diversos
componentes, dando rumo ao processo civilizatório, e inspirando as
novas estruturas da sociedade pós tecnológica, ou a nova civilização - a
do século 21, uma civilização humanizada “em sintonia com os avanços
da ciência e da tecnologia”. Isto é possível.
11- Contribuindo na sistematização dos valores da massa de consciência e
na construção da sociedade humanizada, esses valores da massa de
consciência podem ser resumidos e operacionalizados através dos
princípios éticos da participação e da solidariedade. Esses conceitos
éticos por sua vez têm uma contrapartida pratica, ou operacional,
proposta como sendo, respectivamente a desconcentração e a
cooperação, como instrumentos capazes de substituir a competição e
concentração excludentes, responsáveis pelo desequilíbrio do processo.
Isto confirma que os princípios da competição e da concentração,
praticados como vem sendo através do poder da tecnologia e de sua
dimensão global, se tornaram inviáveis, contrariamente ao papel que
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desempenharam na era pré-tecnológica ou das tecnologias tradicionais,
quando foram gerados.
12- O desafio que nos é colocado de agora em diante, pois é como
transformar
a
cooperação
e a desconcentração
em normas
estratégias e instrumentos efetivos - práticos capazes de ordenar e
presidir uma nova ordem social, política, jurídica e econômica, uma nova
forma de relações interpessoais, institucionais e entre os povos, enfim,
as normas e os procedimentos capazes de estruturar a nova civilização,
humanizada, sintonizada com os avanços da Ciência e da Tecnologia.
Para isto existe a Cátedra Unisul Participação e Solidariedade, criada
pela UNISUL, em decorrência do que ela é – a Unisul, de sua identidade
e de seu compromisso expresso explicitamente em sua Missão.
“...contribuir para construção de uma sociedade humanizada,
em sintonia com os avanços da Ciência e da Tecnologia”.
Tenho fundada esperança, melhor tenho certeza, que a Unisul e sua
Cátedra que programa para o mês de junho a instalação do Fórum
Permanente Participação e Solidariedade e a realização do I Fórum
temático - Fundamentos para uma sociedade participativa e
solidária, não hão de falhar a este imperativo de sua Missão.
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