NÚCLEO DE APOIO ÀS PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECÍFICAS DO COLÉGIO PEDRO II: NAPNE NO CAMPUS ENGENHO NOVO II MÁRCIA MARIA MARETTI [email protected] COLÉGIO PEDRO II ELAINE LOPES NOVAIS [email protected] COLÉGIO PEDRO II RESUMO Este relato tem como objetivo apresentar o trabalho do núcleo de apoio às pesssoas com necessidades específicas do campus engenho novo II. PALAVRAS-CHAVE: Inclusão – Atendimento educacional específico. 1 “o conhecimento está sempre se transformando. Isto é, o ato de saber tem historicidade, então o conhecimento de hoje sobre uma coisa não é necessariamente o mesmo de amanhã. O conhecimento transforma-se à medida que a realidade também se movimenta e se transforma. Então, a teoria também faz o mesmo. Não é algo estável, imobilizado.” (2003, p.114) Paulo Freire Há mais de sessenta anos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma o direito à educação de cada individuo. E desde então, em vários momentos, tem sido um princípio norteador, o pressuposto reafirmado pela Declaração de Salamanca1 de que “todas as escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. (...) As escolas têm que encontrar maneiras de educar com êxito todas as crianças.” (p.17-18) Governos, administradores do bem público e escolas têm como tarefa encontrar respostas educativas às necessidades de todos os alunos. A Constituição da República, quando adota como princípio a “igualdade de condições para o acesso e permanência na escola”, compreendido como efetivação do objetivo republicano de “promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”, prevê uma sociedade com escolas abertas a todos, em qualquer etapa ou modalidade, bem como o acesso a níveis mais elevados de ensino.1 1 Documento elaborado na Conferência Mundial sobre Educação Especial, em Salamanca, na Espanha, em 1994, com o objetivo de fornecer diretrizes básicas para a formulação e reforma de políticas e sistemas educacionais de acordo com o movimento de inclusão social. Ela é o resultado de uma tendência mundial que consolidou a educação inclusiva, e cuja origem tem sido atribuída aos movimentos de direitos humanos e de desinstitucionalização manicomial (décadas de 60 e 70) . A Declaração de Salamanca ampliou o conceito de necessidades educacionais especiais, incluindo todas as crianças que não estejam conseguindo se beneficiar com a escola, seja por que motivo for. Assim, a ideia de "necessidades educacionais especiais" passou a incluir, além das crianças portadoras de deficiências, aquelas que estejam experimentando dificuldades temporárias ou permanentes na escola, as que estejam repetindo continuamente os anos escolares, as que sejam forçadas a trabalhar, as que vivem nas ruas, as que moram distantes de quaisquer escolas, as que vivem em condições de extrema pobreza ou que sejam desnutridas, as que sejam vítimas de guerra ou conflitos armados, as que sofrem de abusos contínuos físicos, emocionais e sexuais, ou as que simplesmente estão fora da escola, por qualquer motivo que seja. 2 O documento oficial do Ministério de Educação intitulado Direito à Educação: Subsídios para a Gestão dos Sistemas Educacionais, de 2006 preconiza que a importância de fazer do direito de todos à educação um movimento coletivo de mudança aponta para a adoção de políticas públicas inclusivas, para a transformação dos sistemas educacionais e das práticas sociais, que envolvem as relações com as famílias e a comunidade. As políticas educacionais devem prever a eliminação das barreiras à educação dos alunos com deficiência, com síndromes, com altas habilidades/superdotação prevendo o atendimento às necessidades educacionais especiais, promovendo a participação a partir de novas relações fundamentais para uma socialização humanizadora”. Ao mesmo tempo em que o Estado Brasileiro legitima o direito de todos à educação e os convoca a ocupar seu lugar, tenta ignorar que a escola − espaço privilegiado de interação entre os aprendizes − enfrenta inúmeras dificuldades tanto físicas quanto conceituais para atender essa demanda. Ainda usando como referencial de reflexão o documento oficial do MEC podemos verificar que uma educação inclusiva pressupõe novas relações pedagógicas centradas nos modos de aprender das diferentes crianças e jovens e de relações sociais que valorizam a diversidade em todas as atividades, espaços e formas de convivência e trabalho. Dessa forma, na efetivação do direito de todos à educação direito à igualdade e o direito à diferença são indissociáveis e os direitos específicos servem para eliminar as discriminações e garantir a plena inclusão social. Como resultado da pressão social e dos compromissos internacionais com a Educação, o Conselho Nacional de Educação resolve através da Resolução nº 4, de 2 de outubro de 2009 , instituir as diretrizes operacionais para o atendimento educacional especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial, regulamentada em seu artigo 10: ART.10 O projeto pedagógico da escola de ensino regular deve institucionalizar a oferta do AEE prevendo na sua organização: I – sala de recursos multifuncionais: espaço físico, mobiliário, materiais didáticos, recursos pedagógicos e de acessibilidade e equipamentos específicos; II – matrícula no AEE de alunos matriculados no ensino regular da própria escola ou de outra escola; III – cronograma de atendimento aos alunos; IV – plano do AEE: identificação das necessidades educacionais específicas dos alunos, definição dos recursos necessários e das atividades a serem desenvolvidas; V – professores para o exercício da docência do AEE; VI – outros profissionais da educação: tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais, guia intérprete e outros que atuem no apoio, principalmente às atividades de alimentação, higiene e locomoção; 3 VII – redes de apoio no âmbito da atuação profissional, da formação, do desenvolvimento da pesquisa, do acesso a recursos, serviços equipamentos, entre outros que maximizem o AEE. ESCOLA INCLUSIVA E O COLÉGIO PEDRO II Embora essa forma de conceber a Educação esteja presente no discurso da escola, sua concretização está ainda em processo de consolidação no Colégio Pedro II. Isso se evidencia na revisão de seu PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, em 2008: Neste momento, um dos grandes desafios teórico-práticos se volta para a educação inclusiva. O colégio tem sido procurado por um número cada vez maior de famílias que buscam educação de qualidade aliada ao compromisso de atendimento às necessidades especiais de seus filhos. Paralelamente à procura da comunidade, observa-se um grande envolvimento dos diversos setores do Colégio – inclusive do corpo docente – na busca de novas/diferentes práticas que tanto estejam embasadas em conhecimentos teóricos da educação especial quanto estejam adequadas a uma proposta de trabalho com alunos especiais incluídos em um grupo anteriormente considerado “regular” de ensino. Nesse aspecto, nossa maior preocupação é de construir práticas pedagógicas que possam enriquecer diferentes universos infantis. Como resposta às demandas do trabalho pedagógico no Fundamental I, além do Laboratório de Aprendizagem (LA)2, uma outra modalidade de atendimento foi implementada: a Bidocência3 . As duas formas de atuar ofereciam alternativas de intervenção que se mostraram adequadas ao trabalho realizado. Contudo, os alunos que antes estavam no Fundamental I chegam ao Fundamental II e isso requer uma nova reorganização do trabalho realizado nesse 2 O Laboratório de Aprendizagem tem como finalidade facilitar a aprendizagem de alunos que, após vivenciar todos os recursos pedagógicos disponíveis para o grupo, continuaram apresentando dificuldades no aprender e acabaram destacando-se nas turmas pela diferença de ritmo na aquisição de conhecimento. 3 O conceito de bidocência ou ensino colaborativo é empregado nas experiências de inclusão, em que o professor regente de turma tem a parceria de um colega com conhecimento específico na área das necessidades especiais. É importante destacar que isto não significa a ação de apenas um especialista na área, porém é igualmente importante que os conhecimentos, de ambos os docentes, sejam compartilhados entre os mesmos, e sejam disponibilizados a todas as crianças em sala de aula, não apenas àquelas que apresentam necessidades educacionais específicas. 4 segmento, resultando na implementação em 2011 da Sala de Recursos Multifuncional4, na Unidade Engenho Novo II, atual Campus Engenho Novo. Vem se juntar a esse quadro, a equiparação do Colégio Pedro II a uma Instituição Federal de Ensino o que resultou, em 2012, na criação dos Núcleos de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (NAPNE)5. NAPNE E EEU COTIDIANO O trabalho desenvolvido no NAPNE toma para si, o princípio defendido por Lévy (1998) relativo ao conceito de inteligência coletiva: uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências. (...) a base e o objetivo da inteligência coletiva são o reconhecimento e o conhecimento mútuos, e não o culto de comunidades fetichizadas ou hipostasiadas (p. 28). A crença de que a aprendizagem é um processo fortemente marcado pela interação, seja pela necessidade de compreender o mundo simbólico que nos envolve, seja pelo desejo de encontrar interlocutores e parceiros que compartilhem essa visão de mundo embasam as práticas desenvolvidas no/do NAPNE. Nesse sentido, as ideias de Vygotsky (1984) apud Freitas (1995) expressam e traduzem as experiências ali desenvolvidas: A aprendizagem é um processo essencialmente social - que ocorre na interação com adultos ou companheiros mais experientes, onde o papel da linguagem é destacado- percebe-se que é na apropriação de habilidades e conhecimentos socialmente disponíveis que as funções psicológicas humanas são construídas (p.104). Propor um trabalho a partir de projetos de aprendizagem coletiva nos aproxima 4 As SR são definidas como ambientes dotados de equipamentos, mobiliários e materiais didáticos para a oferta do atendimento educacional especializado” 5 O TEC NEP é uma ação coordenada pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação que visa à inserção das Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas – PNE – (deficientes, superdotados/altas habilidades e com transtornos globais do desenvolvimento) em cursos de formação inicial e continuada, técnicos, tecnológicos, licenciaturas, bacharelados e pósgraduações da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, em parceria com os sistemas estaduais e municipais de ensino.O Napne) prepara a instituição para receber as PNE, providenciando a adaptação de currículo conforme a necessidade de cada aluno. 5 de uma perspectiva teórico-metodológica que proporciona a possibilidade de atender a todos e a todas que querem aprender, precisando ou não de ensino especializado. As práticas desenvolvidas pelo NAPNE propõem: • organizar grupos de estudo que visam promover aprendizagem a partir da interação entre os alunos, com a participação dos professores regentes e dos residentes6; • participar dos espaços de interlocução pedagógica : Reunião de Planejamento Semanal das disciplinas, COPAS7, Conselhos de Classe • acompanhar (dentro e fora da sala de aula) as crianças que têm, já diagnosticado ou não, algum tipo de necessidade especifica; • propor atividades a serem realizadas fora do horário de aula, relativas às demandas de cada criança; • mediar os processos avaliativos, através de instrumentos adaptadosoferecidos aos professores- ou durante a realização do processo de “ensinoaprendizagem”. • elaborar Plano de Ensino Individualizado (PEI) • instrumentalizar as discussões internas sobre o fazer pedagógico construído através de práticas diferenciadas; • colaborar com a formação profissional em serviço através da supervisão dos residentes e dos estagiários; • divulgar os resultados desse trabalho, visando ampliar o reconhecimento das ações inclusivas e sua expansão para os outros segmentos do CPII. 6 A Residência Docente pareia professores recém-formados (aqui denominados Residentes Docentes) com professores orientadores do Colégio Pedro II (Professores Supervisores e Coordenadores de Área), de modo a dar ao novo profissional uma formação complementar em questões de ensino-aprendizagem na área/disciplina, assim como em aspectos da vida escolar. Além disso, pretende possibilitar a aplicação de novas metodologias e estratégias pedagógicas na instituição de atuação do Professor Residente, que venham a incrementar os resultados de aprendizagem dos alunos da Educação Básica. 7 CONSELHO PEDAGÓGICO-ADMINISTRATIVO SETORIAL (COPAS) das Unidades Escolares do Colégio Pedro II. 6 A inserção do NAPNE no Campus Engenho Novo II tem sido um processo lento e gradual, que, no início gerou uma atitude de desconfiança e receio de uma “facilitação” dos conteúdos e uma superproteção para os alunos portadores de necessidades específicas. No entanto, com a construção do caminho em conjunto com os participantes do processo pedagógico, já superamos a fase do medo do desconhecido e estamos, pouco a pouco buscando alternativas para solucionar as questões trazidas pelos alunos atendidos pelo NAPNE (adaptação de conteúdos, planos de estudo individualizados, ampliação de provas, etc.) na busca de incluir estes alunos no processo de ensino-aprendizagem, de modo a garantir a TODOS uma educação de qualidade, que coadune com a missão do Colégio que é “Educar crianças e adolescentes, tornando-os capazes de responder às transformações técnicas, culturais, emocionais e sociais do mundo de hoje.” (http://www.cp2.g12.br/o-cpii/missao.html). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil.1988. BRASIL. Direito à Educação Subsídios para a Gestão dos Sistemas Educacionais: Orientações Gerais e Marcos Legais. 2a Edição: Brasília-DF MEC/SEESP, 2006. BRASIL. RESOLUÇÃO Nº 4, DE 2 DE OUTUBRO DE 2009. Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. COLÉGIO PEDRO II: Projeto Político-Pedagógico. Brasília-DF,2002. ESPANHA, Declaração de Salamanca sobre princípios, políticas e práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais, 1994. FREIRE, P.; HORTON, M. O caminho se faz caminhando: conversas sobre mudança social. Petrópolis: Vozes, 2003. educação e FREITAS, Maria Teresa de Assunção. Vygotsky e Bakhtin Psicologia e Educação: um intertexto. 4 ed. São Paulo: Ática, 1999. LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Edições Loyola, 1998. Diponível 7 em: <http://books.google.com.br/booksid=N9QHkFT_WC4C&printsec=frontcov er&dq=inteligencia+coletiva+pierre+levy&hl=ptBR&sa=X&ei=WoEbT9XfO MzWtwe75eWGCg&ved=0CDYQ6AEwAA#v=onepage&q=inteligencia %20coletiva%20%20pierre%20levy&f=false > Acesso em 25/02/2012 MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos."Declaração de Salamanca" (verbete). Dicionário Interativo da Educação Brasileira – EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2002 http://www.cp2.g12.br/o-cpii/missao.html 8