AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE FLORES CORTADAS DE CHUVADE-OURO APÓS ARMAZENAMENTO EM CÂMARA FRIA A BAIXA
TEMPERATURA
CASTRO1, S. G. F.; CORTEZ2, L. A. B.
Departamento de Pré-processamento de Produtos Agropecuários, FEAGRI – UNICAMP
CEP 13081-970 - Campinas – SP tel.: (019) 788-1005 fax: (019) 788-1010
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RESUMO
A magnitude das perdas pós-colheita de
flores no Brasil é de no mínimo 30%. A importância
do perfeito manejo das condições que determinam a
manutenção da qualidade e redução de perdas de
produtos perecíveis, como as flores, envolve o
rápido
resfriamento,
transporte
refrigerado,
armazenagem e manuseio adequado. A refrigeração
retarda a ação dos agentes deteriorantes, assim como
reduz a níveis compatíveis a velocidade do processo
de maturação. Sendo que, o intervalo de tempo
decorrido entre a colheita e a redução da temperatura
ao nível adequado a conservação é inversamente
proporcional a manutenção da qualidade. Portanto, a
refrigeração auxilia na economia de energia pela
redução de perdas pós-colheita. Armazenou-se em
uma câmara fria, flores cortadas de ‘chuva-de-ouro’
(Oncidium flexuosum Sims) por um período de
tempo de 10 dias a uma temperatura de 8 ± 10C com
90 a 95% de umidade relativa. Um sistema de
aquisição de dados foi instalado para registrar dados
de cinco termopares posicionados em diferentes
locais da câmara fria. O programa utilizado para
1
receber e tratar os dados foi o AqDADOS. O
resfriamento teve o propósito de manter a qualidade
do produto, e estender a vida de vaso. A análise da
variação da qualidade em função do tempo de
armazenamento demonstrou que flores armazenadas
até seis dias nas condições especificadas
permaneceram com a mesma qualidade inicial. Após
este período o produto perde sua qualidade para a
comercialização. Neste experimento, o processo de
resfriamento do Oncidium flexuosum Sims verificouse um bom método para estender a vida de vaso das
flores e possivelmente regular o abastecimento do
produto no mercado.
ABSTRACT
The magnitude of the losses of flowers
postharvest in Brazil is at least of 30%. The
importance of the adequate handling conditions that
determine the preservation of the quality and reduces
the losses of perishable products, such as flowers,
involves fast cooling, refrigerated transport, and
proper storage. The refrigeration delays the action of
the decay agents; as well as reduces the compatible
levels the speed of the maturation process. Also, the
Aluna do mestrado na área de Tecnologia Pós-Colheita da Faculdade de Engenharia Agrícola, UNICAMP.
Endereço eletrônico: [email protected]
2
Professor Livre Docente do departamento de Construções Rurais da Faculdade de Engenharia Agrícola,
UNICAMP. Endereço eletrônico: [email protected]
time lag between harvest and the reduction of the
temperature to the required conservation level is
inversely proportional to the maintenance of the
quality of flowers. Therefore, refrigeration helps
saving energy by the reduction of postharvest losses.
Once stored in a cold chamber, cut ‘Goldenshowers’ flowers (Oncidium flexuosum Sims) can be
stored for a period of time of 10 days at a
temperature between 8 ± 10C with 90 to 95% of
relative humidity. A data acquisition system was
installed recording data from five thermocouples
positioned in different locations in the cold chamber.
AqDADOS was the software utilized to receive and
treat the data. The cooling system had the purpose of
maintaining the product quality, and to extend its
shelf life. The analysis of the variation of the quality
as a function of the storage time demonstrated that
flowers stored up to six days in the specified
conditions had remained with the same initial
quality. After this period the product loses its quality
for commercialization purposes. In this experiment,
the cooling process of Oncidium flexuosum Sims
verified to a good method to extend the flower’s
shelf life and possibly regulate the product supply to
the market.
INTRODUÇÃO
A produção de flores e plantas ornamentais
no Brasil teve início por volta da década de 30,
quando imigrantes japoneses se estabeleceram nos
arredores da cidade de São Paulo e deram início a
uma pequena produção comercial, voltada para
consumidores da grande São Paulo. Um novo
impulso foi dado somente em meados da década de
60, quando imigrantes holandeses trouxeram novas
técnicas de produção para a região de Holambra. Até
então, as flores disponíveis no mercado eram
somente rosas, gladíolos, cravos e algumas
variedades de crisântemos (PINTO,1997).
O mercado brasileiro de flores, no último
triênio, apresentou crescimento de 23% ao ano,
passando de US$ 700 milhões em 1995, valor no
varejo, para um valor estimado em US$ 1,3 bilhão
em 1998 (KIYUNA, 1998).
Da produção nacional, apenas cerca de 2 a
5% destinam-se à exportação. Entre os produtos
exportados, destacam-se flores tropicais, rosas,
flores secas, gladíolos, bulbos, mudas de cordilines e
dracenas, folhagens, sementes de palmeiras, mudas
de orquídeas, de gerânios e de crisântemos. A
floricultura brasileira concentra-se principalmente
nas regiões Sul e Sudeste, que representam 18% do
território nacional. O Estado de São Paulo é o
principal produtor do país. Avalia-se que haja cerca
de 1500 viveiros no estado, responsáveis por 70% da
produção nacional de flores e plantas ornamentais. A
floricultura paulista gera, aproximadamente, 28,5
mil empregos: 45% na produção, 7% na distribuição,
44% no comércio e 4% na indústria de apoio. Na
produção, a área média em cultivo nas propriedades
em torno da capital é de 3 ha, empregando quatro
pessoas por hectare. A mão-de-obra familiar (10%)
atesta o forte caráter empresarial da floricultura
paulista (KÄMPF, 1997).
Apesar da floricultura exibir uma presença
expressiva no panorama econômico agrícola, o setor
enfrenta ainda diversos entraves ao seu crescimento.
A magnitude das perdas pós-colheita de flores no
Brasil até o consumo final do produto, é de no
mínimo 30%. Como reflexo de tal fato, tem-se a
importância
da
tecnologia
pós-colheita,
considerando-se o perfeito manejo das condições
que determinam a manutenção da qualidade e
redução de perdas de produtos perecíveis, como as
flores. O manejo correto engloba processos
específicos como, o rápido resfriamento, transporte
refrigerado, armazenagem e manuseio adequado
(ARRUDA et al, 1996).
Este trabalho teve por objetivo avaliar a
qualidade de flores de Oncidium flexuosum após um
período de armazenamento a baixa temperatura em
câmara frigorífica, adequando uma técnica póscolheita, e avaliando a vida de vaso após o
armazenamento. Caracterizando fisicamente e
definindo sinais de senescência que permitiram a
elaboração de um critério de notas para avaliações
de manutenção da qualidade da espécie em estudo.
Determinando também a longevidade total, a
durabilidade comercial, e a média de dias em que as
inflorescências permanecem com qualidade máxima.
Com o prolongamento da durabilidade
comercial das flores, objetiva-se uma possível
regulação da oferta desta orquídea cortada no
mercado.
MATERIAL E MÉTODOS
MATERIAL VEGETAL: Inflorescências
de Oncidium flexuosum Sims foram coletadas em
duas épocas diferentes em junho de mil novecentos e
noventa e oito, e dezembro de mil novecentos e
noventa e nove, no município de Guararema em São
Paulo. O ponto de colheita das hastes foi de 1/3 do
volume total de flores abertas, 1/3 em
desenvolvimento e o último terço em estágio de
botão. Entretanto, a maior parte possível dos botões,
estavam maturos fisiologicamente para abrirem
posteriormente em vaso. As flores foram colhidas
pela manhã e transportadas em caixas de papelão
para o laboratório da Faculdade de Engenharia
Agrícola em Campinas.
No laboratório as hastes florais sofreram
padronização no seu comprimento, sendo este novo
corte realizado sob água a temperatura ambiente
para reidratação, por 10 a 15 minutos, e logo em
seguindo-se tratamento com solução preservativa.
industrialmente e posteriormente trazidos ao local e
montados. As dimensões são as seguintes:
♦ internas de 2,95 x 3,93 x 2,85m de altura
♦ externas de 3,15 x 4,13 x 2,95m de altura
Desta forma, a capacidade total é de 33m3.
A câmara é composta pelos seguintes
equipamentos; painel de controle, iluminação,
evaporador, tubulações e a unidade condensadora
composta pelo condensador e compressor.
Figura 1 Oncidium flexuosum Sims
TRATAMENTO QUÍMICO: Foram
testados três tipos de soluções preservativas. Duas a
base de 8-hidroxiquinolina, e outra de ácido cítrico.
Uma das formulações sendo de uso comercial. As
soluções foram mantidas com pH entre 3,5 e 4,5 e
preparadas com água destilada.
As bases das hastes foram mergulhadas em
solução por 12 horas, e posteriormente embaladas.
EMBALAGENS: As flores depois de
tratadas quimicamente foram reunidas em maços
com seis hastes cada. Na base de cada maço foi
colocado espuma floral ou algodão sintético, e um
saco plástico preso por fita aderente, com o objetivo
de reter a solução preservativa na base. Os maços
receberam ainda um envoltório de polietileno de 60
micra perfurado, para a proteção dos maços. Dentro
de cada caixa de papelão, utilizada como embalagem
final, foram colocados dois maços em sentidos
contrários, de modo a evitar injúrias.
Figura 2 Embalagem para as flores
SISTEMA DE ARMAZENAGEM:
Câmara fria: Foi utilizada uma câmara de
refrigeração para a armazenagem a frio, regulada
para manter a temperatura a 8 ± 1°C.
O sistema de refrigeração garante a
manutenção da temperatura de conservação dos
produtos dentro dos limites preestabelecidos nos
dados operacionais, sendo esta manutenção
dependente
do
correto
procedimento
do
carregamento do produto.
O sistema é composto de unidade
condensadora, unidade evaporadora e quadro de
comando único. A unidade evaporadora é do tipo
compacta e instalada no teto da câmara, sempre que
possível o mais afastado da porta. O evaporador do
compartimento com temperatura menor que 2 oC é
equipado com resistências elétricas de aquecimento
para efetuar o degelo. Os equipamentos de
frigorificação utilizados foram; evaporador da marca
McQuay, modelo FBA 190RT e unidade
condensadora da mesma marca, modelo HSAD
A225.
O evaporador é o da marca Mcquay,
modelo FBA 190RT, possuindo 4 ventiladores. A
unidade condensadora (compressor hermético e
condensador a ar) é da marca Mcquay, modelo
HSAD 225A. Foi construído um suporte metálico
para que a unidade condensadora. Este suporte foi
colocado no lado externo do laboratório e fixado
entre a laje superior e a parede. Foram utilizadas
parafusos com buchas de aço para maior segurança,
uma vez que o conjunto pesa aproximadamente
100kg.
O Painel de Controle da Câmara Fria
instalada é o da marca EveryControl, modelo
EC130. Este possui controle e regulagem de todos os
parâmetros necessários ao correto funcionamento do
equipamento de frigorificação, tais como:
temperaturas máxima e mínima, delta de temperatura
para início de funcionamento do sistema, tempo de
degelo do evaporador, periodicidade de degelo,
funcionamento ou não do sistema de ventilação do
evaporador quando em degelo, tempo de espera para
reentrada em operação após falta de luz, entre
outros.
A câmara fria instalada é do tipo préfabricada, onde as paredes e os tetos são elaborados
lâmpada
A iluminação é à prova de vapor com
incandescentes de 60W dentro de
luminárias tipo tartaruga, e o interruptor com
sinaleiro luminoso.
Figura 3 Câmara fria
As flores embaladas foram armazenadas por
um período de dez dias, e a cada dois dias retirou-se
amostras de cada lote que foram pesadas e avaliadas
comparativamente com a carta Munsell de cores.
Logo em seguida os maços foram dispostos em
vasos contendo água destilada para se determinar a
vida de vaso após o armazenamento.
Figura 5 Disposição do experimento
Umidificação: A umidade foi registrada
durante o experimento ficou mantida entre 90 e
95%.
A temperatura no interior da câmara, assim
como no interior das embalagens e do produto, foi
monitorada através de um sistema de aquisição de
dados por computador. O programa de aquisição foi
ajustado para leitura das temperaturas em intervalos
determinados de 20 minutos. O sistema automático é
composto por: um microcomputador compatível,
contendo uma placa de condicionamento de sinais
analógicos PCX-0802 e um conversor de sinais
CAD-12/32, canais de aquisição termopares tipo “T”
e termopares bulbo úmido para monitorar a umidade
relativa; software AQDADOS para transformar os
sinais de mV em graus Celsius (tomando-se como
referência a temperatura da junta fria medida pela
CAD 12/32).
Figura 4 Sistema de aquisição de dados
A umidade foi monitorada com o auxílio de
um psicrômetro.
DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL:
Cada caixa foi considerada a unidade experimental.
Esta unidade era composta por dois maços de flores
dispostos de forma oposta. Cada maço continha seis
hastes presas e embaladas com polietileno
microperfurado. Na base das hastes foi colocado um
substrato para reter a umidade.
O ensaio teve cinco tratamentos, sendo dois
sem refrigeração e três com refrigeração. Cada
tratamento teve quatro repetições.
CRITÉRIOS
DE
AVALIAÇÃO:
Determinação da durabilidade das flores em dias no
vaso. Para esta avaliação alguns parâmetros foram
desenvolvidos como a atribuição de notas, que
auxiliaram no descarte de material.
A análise comparativa realizada por três
pessoas previamente treinadas. A escala a adotada
variou de 0 a 5 para padrões de; coloração,
enrolamento do labelo e turgescência de pétalas,
inclinação da haste;
A atribuição de notas foi feita de acordo
com os seguintes parâmetros:
4: sem enrolamento, túrgida, coloração
original, haste normal
3: sem enrolamento, túrgida, coloração
original, haste levemente inclinada
2: sem enrolamento, leve perda de
turgescência, leve esmaecimento de cor, haste
levemente inclinada
1: sem enrolamento, evidente perda de
turgescência, evidente perda de cor, haste inclinada
0:enrolamento de pétalas, grave perda de
turgescência, perda total de cor, queda de pétalas
Registro das variações de temperatura e
umidade.
Figura 6 Escala comparativa para atribuição de notas
MÉTODO ESTATÍSTICO: Para a análise
de variância dos dados foi utilizado o software Splus
4.5. A análise da variância fornece dados que
permitem que fatores ou combinações exercem
influência significativa nos parâmetros estudados ao
nível de 5% de significância, através do Teste de
Fisher LSD.
Armazenamento,
flores,
Oncidium,
orquídea, refrigeração, solução preservativa.
A análise estatística comparou a
durabilidade da vida de vaso dos diferentes
tratamentos, amostrados a cada dois dias, ao longo
do tempo.
Verificou-se qual o maior período de tempo
de armazenamento a baixa temperatura em que as
flores mantenham uma qualidade aceitável para
comercialização, através da determinação do nível
de significância para cada variável resposta
estudada.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq e Capes pela concessão da bolsa
de mestrado.
À Faculdade de Engenharia Agrícola –
UNICAMP, pela disponibilização de material
necessário, dependências e auxílio financeiro.
Ao produtor Paulo Akama membro da
associação dos produtores de flores da região Dutra,
pela disponibilização de material vegetal.
RESULTADOS
REFERÊNCIAS
Através da análise da variância dos dados
os tratamentos armazenados em câmara fria até seis
dias não apresentaram diferença significativa.
Vida de vaso (dias)
AVALIAÇÃO DA DURABILIDADE DAS
AMOSTRAS DE 'CHUVA-DE-OURO'
16
14
12
10
8
6
4
2
-
C Ta alg
C TAC alg
C TAC fen
C T8Hq alg
C T8Hq fen
SC Ta fen
SC TAC fen
SC T8Hq fen
2
4
6
8
10
Tempo das amostras (dias)
Figura 7 Gráfico da durabilidade em dias nos diferentes
tratamentos
CONCLUSÃO
Verificou-se que o maior período de tempo
de armazenamento a baixa temperatura em que as
flores mantenham uma qualidade aceitável para
comercialização, é de seis dias sob a temperatura de
8 ± 10C e com umidade entre 90 e 95%. Após este
período a qualidade das flores armazenadas em
câmara fria já não possuem mais valor para
comercialização.
O armazenamento das flores em câmara
fria, demonstrou ser uma alternativa para estender a
vida de vaso do produto com qualidade, e diminuir
perdas pós-colheita, pois a vida útil das flores sem
aplicação de tecnologia pós-colheita se limita a 4
dias.
PALAVRAS CHAVES:
[4] ARRUDA, S.T.; OLIVETTI, M. P. A.
& CASTRO, C. E. F. Diagnóstico da Floricultura
do Estado de São Paulo. Revista Brasileira de
Horticultura Ornamental. Campinas, SP, v.2, n.2,
p.1-18,. 1996.
[3] KÄMPF, A. N. A Floricultura
Brasileira em Números. Revista Brasileira de
Horticultura Ornamental. Campinas, v.3, n.1, p.1-7,
1997.
[2] KIYUNA, I. Flores. Prognóstico
Agrícola. São Paulo, v.2, p. 189-194, 1998.
[1] PINTO, J. B. Tecnologia pós-colheita:
armazenamento de rosas cultivar “Vegas”.
Campinas, 1997. 75f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Agrícola) - Faculdade de Engenharia
Agrícola, UNICAMP, 1997.3
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avaliação da qualidade de flores cortadas de chuva