RELATÓRIO FINAL
O CANTO NAS AULAS DE MÚSICA DE UMA TURMA DE 4º ANO1
Teresa Mateiro2, Andréia Tonial Zanella3 e Ana Ester Correia Madeira4
Palavras-chave: canto, ensino fundamental, ensino e aprendizagem
Esta pesquisa teve como objeto de estudo as aulas de música curriculares de uma turma de 4º ano, de
uma escola pública de Florianópolis, tendo por objetivo investigar de que forma se desenvolveu a
atividade de cantar em sala de aula. Os dados foram analisados focando no repertório utilizado durante
as aulas e nos procedimentos de ensino adotados pela professora. A prática do canto não estava
direcionada à aprendizagem do domínio da voz cantada e nem à aprendizagem mais ampla de
conceitos musicais. Cantar com prazer e para aprender canções folclóricas e populares parece ter sido
o principal propósito dessa prática.
Introdução
O canto é uma prática musical cotidiana nas escolas, dentro e fora da sala de aula, e pode ter diversas
funções, como mecanismo de controle, meio para trabalhar valores estéticos, terapia, entre outros
(TOURINHO, 1993; SOUZA, et al., 2002; FUCCI-AMATO, 2012; ILARI, 2003; BRISOLA, 2000).
Especificamente nas aulas de música, as práticas que envolvem o canto podem ser desenvolvidas com
diferentes propósitos, desde ensinar elementos musicais como ritmo, melodia, harmonia e dinâmicas
ou, ser uma atividade lúdica, sem qualquer outra intenção. Vale ressaltar que, independente do
conteúdo a ser proposto nas aulas de música, a ludicidade é um dos aspectos entreposto nos
procedimentos de ensino e aprendizagem.
Cantar para aprender música é uma prática comum em várias pedagogias de educação musical.
Willems, segundo Parejo (2011), aponta que para os principiantes, o canto tem papel fundamental no
ensino de música, tendo essa ideia justificada pela afirmação de que as crianças cantam antes de falar.
O músico pedagogo destaca que cantando, desenvolvemos o ouvido interno e a musicalidade, tendo
nas canções, melodia, ritmo e harmonia subentendidos. Assim como Willems, Kodály tem a voz como
principal meio para o ensino de música porque o cantar está disponível para qualquer pessoa, durante
toda a vida. As canções, nessa proposta, são trabalhadas de forma progressiva, onde o professor é o
principal modelo vocal para as crianças (SILVA, 2011). Dalcroze dá à voz grande importância por
desenvolver aspectos como a afinação, aptidão vocal, leitura, interpretação e respiração, afirma
Mariani (2011). Suas propostas pedagógicas apresentam o canto sempre em conjunto com
movimentos e gestos, fazendo interação entre experiência física e auditiva.
É durante o período escolar que as crianças devem ser estimuladas a desenvolver o canto, afirma Ilari
(2003), pois o ato de cantar, espontaneamente ou de forma dirigida em sala de aula, pode ativar os
sistemas vitais para o desenvolvimento cognitivo infantil, como os sistemas da linguagem, da memória
e da ordenação sequencial. Pesquisas têm sido realizadas com o intuito de investigar a predominância
das atividades que envolvem o canto nas aulas de música da escola básica (PINTO, 1988;
TOURINHO, 1993; ARAÚJO, 2000; GUIMARÃES, 1999; SIQUEIRA, 2000)
Outros trabalhos como, por exemplo, Targas e Joly (2009), Ramos (2001) e Barboza (2008) utilizaram
as canções para investigar possíveis contribuições nos processos de musicalização, socialização e
comunicação de crianças em contexto escolar. Pode-se, ainda citar, um outro grupo de investigações
que teve como foco o estudo de aspectos técnicos da voz infantil e juvenil, citando-se: a desafinação
1
Vinculado ao Projeto de Pesquisa Educação Musical e Formação Docente (Diretório CNPq) - CEART/UDESC.
Orientadora, Professora do Departamento de Música do Centro CEART – [email protected]
3
Acadêmico(a) do Curso de Música - Licenciatura – CEART/UDESC, bolsista de iniciação científica
PROBIC/CNPq.
4
Acadêmica do Curso de Mestrado em Música – CEART/UDESC.
2
RELATÓRIO FINAL
(SOBREIRA, 1992), o funcionamento do trato vocal no ensino do canto para crianças e adolescentes
(CARNASSALE, 1995); a escuta e a emissão da voz (FISCHER, 2004); e, o treinamento vocal na
infância (BATISTA, 2011).
O canto, trabalhado de uma forma lúdica, é proposto normalmente por meio de jogos, brincadeiras,
cantigas de roda ou do folclore. Barboza (2008) acredita que as atividades lúcidas, além de serem
prazerosos para as crianças, os jogos e brincadeiras musicais estimulam a criatividade e a imaginação,
o que possibilita o indivíduo adquirir um novo olhar sobre a realidade. De acordo com a definição de
Brito (2003), a canção “é um gênero musical que funde música e poesia. Cantando, as crianças imitam
o que ouvem, desenvolvendo sua expressão musical, desde que essa atividade seja realizada num
ambiente de orientação e estímulo ao canto, à escuta, à interpretação” (p.93). As canções, para
Barboza (2008), servem também como instrumento de representação das culturas. As folclóricas,
regionais e as cantigas de roda transmitem e conservam elementos culturais dos povos e são
importantes para resgatar a história, permitindo que as crianças conheçam culturas diferentes e
reconheçam a sua. Para Brito (2003) é necessário ampliar o universo musical e cultural das crianças, e
estabelecer, desde a primeira infância, uma consciência em relação aos valores da identidade cultural.
O presente estudo teve como principal objetivo observar como a atividade do canto foi desenvolvida
nas aulas de música de uma turma de 4º ano de uma escola pública da cidade de Florianópolis. Este é
um recorte de uma pesquisa mais ampla que versa sobre as perspectivas culturais e educacionais das
aulas de música, enquanto disciplina curricular no ensino fundamental de escolas da rede pública de
ensino.
Métodos
O período da coleta de dados aconteceu durante os meses de agosto e setembro de 2012, quando foram
realizadas as observações e as entrevistas. As aulas de música, com duração de 90 minutos, foram
observadas e gravadas em vídeo de forma contínua, durante cinco semanas. De acordo com Lüdke e
André (1986, p. 26), a observação é a melhor forma para se verificar um fenômeno, pois permite que o
observador se aproxime do ponto de vista do observado.
Com a professora de música, foram realizadas duas entrevistas. A primeira, no formato de entrevista
semiestruturada (TRIVIÑOS, 1987, p. 145) durou 25 minutos e as perguntas versaram sobre a sua
formação e experiência profissional, as aulas e os alunos do 4º ano, o planejamento e as aulas de
música naquela escola. A segunda foi uma entrevista de estimulação de recordação (THEOBALD,
2008; p. 2; ROWE, 2009, p. 426) onde a professora foi convidada a assistir à gravação de uma de suas
aulas e falar livremente. Em ambas as entrevistas apenas a captação do áudio foi realizada.
As entrevistas e os vídeos foram transcritos literalmente e os dados foram organizados em três grandes
categorias de análise: escola, professora e aula de música. Neste trabalho são apresentados e discutidos
apenas os dados da categoria referente à aula de música. Vale ressaltar que, para maior credibilidade e
confiabilidade do trabalho, foram adotados os seguintes procedimentos éticos: autorização para a
realização da pesquisa na escola; consentimento para filmagem das aulas e uso dos dados em trabalhos
científicos; proteção da identidade da escola, alunos e professora; revisão das transcrições das
entrevistas realizada pela professora entrevistada.
Resultados
Repertório: cantigas folclóricas e canções populares
Nas aulas de música utilizaram-se canções populares e folclóricas do estado de Santa
Catarina. Quando os dados para esta pesquisa foram coletados, estava acontecendo na escola a
execução do Projeto do Boi-de-Mamão, uma proposta em que as crianças cantaram algumas cantigas
da brincadeira e, em conjunto com a professora da turma, confeccionaram cada personagem, fazendo
montagens e colagens.
RELATÓRIO FINAL
O repertório folclórico desenvolvido em sala de aula foi composto pelas seguintes cantigas do Boi-deMamão: Chamada do Povo, Cantiga do Boi, A Morte do Boi, A Ressurreição do Boi. Observando as
aulas e analisando os vídeos gravados percebe-se que as crianças pareciam gostar desse repertório,
pois acompanhavam a música cantando e batendo palmas de forma empolgada. Esse folguedo popular,
por si só, proporciona aos participantes momentos de criatividade e improvisação, pois é uma
manifestação marcada por coreografias livres, musicalidade e cantorias (FARIAS, 2000, p.378). Isso é
reforçado por Barboza (2008) e Brito (2003) quando destacam os jogos e as brincadeiras aliadas às
canções folclóricas como representação das culturas.
O Boi-de-Mamão é uma manifestação folclórica de grande importância em Santa Catarina,
principalmente no município de Florianópolis. A brincadeira se desenvolve em torno da morte e
ressurreição do Boi, tendo na versão catarinense, os seguintes personagens: o Boi, o Cavalinho, a
Bernúncia, o Mateus, o Vaqueiro, a Maricota, o Cachorro, o Macaco, a Cabra e o Urso. Para iniciar e
coordenar a brincadeira existe um ritual onde “um chamador comanda a apresentação cantando, em
versos tradicionais e improvisados, e chamando as diversas figuras, que desenvolvem a trama
dançando ao som da cantoria” (FUNDAÇÃO FRANKLIN CASCAES, 1993, p. 10).
Segundo Farias (2000, p.378) os folguedos populares relacionados ao Boi ocorrem em diversas
regiões do Brasil, se espalhando com vários nomes, entre eles o Boi-Bumbá, o Bumba-Meu-Boi, o
Boi-de-Reis, o Boi-Calemba e o Boi-da-Cara-Preta. Podem ter origens religiosas, como no caso do
Boi-de-Mamão, que comemora o Dia de Reis, dia em que, na tradição cristã, os três reis magos
visitam e presenteiam Jesus Cristo, recém-nascido. Antigamente, as apresentações eram feitas nos
terreiros das casas, seguindo tradições religiosas e o calendário do Boi, no período entre o Natal e o
Carnaval. Hoje, são realizadas em locais públicos e em muitas escolas da região, independente da
época do ano.
O repertório de MPB trabalhado na turma foi constituído por quatro músicas, compostas nas décadas
de 80 e 90 que, por seu sucesso, são referências da música infantil:
Aquarela (Toquinho), Amigo e Companheiro (A Turma do Balão Mágico), Criança Não
Trabalha (Palavra Cantada) e Era uma Vez (Toquinho).
A canção Aquarelai foi lançada no Brasil em 1983, por Toquinho, compositor e intérprete
brasileiro. Do mesmo compositor, porém, interpretada pela dupla Sandy e Júnior, a música
Era Uma Vez também foi utilizada pela professora. As duas músicas possuem a imaginação e
a criatividade como temas principais.
Amigo e Companheiro é uma composição do grupo musical brasileiro “A Turma do Balão
Mágico”, criada nos anos 80. A música fez parte do segundo disco da banda, em 1983. Como
conseqüência do sucesso alcançado por esse lançamento, o grupo ganhou espaço na televisão
brasileira, com o programa reproduzido pela Rede Globo, intitulado Balão Mágico, entre 1983
e 1986.ii
O grupo musical Palavra Cantada foi criado para o público infantil em 1994, por Paulo Tatit e
Sandra Peres. Criança Não Trabalha é uma composição da dupla em parceria com o
compositor e intérprete Arnaldo Antunes. A letra faz uma denúncia implícita ao trabalho
infantil.iii
Dessas canções, a primeira – Aquarela – fez parte do Projeto O Livro da Aquarela que consistia numa
atividade artística, na qual o aluno deveria representar a música com desenhos. No decorrer da
pesquisa, foi presenciado apenas o momento em que os alunos criaram a capa do livro com um
desenho que representasse a parte da canção que mais gostavam. A preferência das crianças em
relação às músicas fica claro quando todos cantam juntos e se envolvem, demonstrando interesse nas
atividades. De acordo com a professora, o motivo para eles gostarem muito dessas músicas se deve ao
fato de não terem ainda os “preconceitos” com os estilos musicais, mesmo que tenham as suas
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preferências. Em turmas de alunos mais velhos, eles já detêm uma ideia formada e, para eles, as
músicas que a professora propõe são infantis e lentas.
As cantigas folclóricas e as canções populares foram analisadas melodicamente, levando em conta a
tonalidade escolhida pela professora, a extensão vocal e seus intervalos:
Tabela 1
MÚSICA
Chamada do Povo
TONALIDADE
Sol maior
EXTENSÃO
Fá#2 – Mi3
Cantiga do Boi
Sol maior
Si2 – Mi3
A morte do Boi
Sol maior
Sol2 – Sol3
A ressurreição do Boi
Sol maior
Si2 – Mi3
MÚSICA
Era Uma Vez
TONALIDADE
Mi maior
EXTENSÃO
Fá#2 – Si3
Aquarela
Sol maior
Dó3 – Dó4
Criança Não Trabalha
Mi maior
Si2 – Lá3
Amigo e Companheiro
Lá maior
Dó#3 – Si3
INTERVALOS
3ª maior, 4ª justa,
maior e menor
2ª maior e menor,
menor
2ª maior e menor,
menor, 6ª menor
2ª maior e menor,
menor
2ª
3ª
3ª
3ª
Tabela 2
INTERVALOS
2ª maior e menor, 3ª
maior e menor, 4ª justa
2ª maior e menor, 3ª
maior, 4ª justa
2ª maior e menor, 3ª
maior, 4ª justa, 5ª justa,
6ª maior
2ª maior e menor, 3ª
menor, 4ª justa, 5ª justa
De maneira geral, os intervalos melódicos encontrados (2ª maior e menor, 3ª menor, 4ª justa) são
semelhantes e repetidos com frequência nas músicas, demonstrando sequências melódicas fáceis de
memorizar e cantar. Além disso, as músicas apresentam formas estruturais fixas.
Procedimentos de ensino
A atividade de cantar, nas aulas observadas, foi desenvolvida, principalmente, por meio de dois
procedimentos de ensino: cantar com o auxílio de um CD e com o acompanhamento de instrumentos
musicais. O repertório folclórico, de maneira geral, foi trabalhado com o auxílio de um CD que conta a
história do Boi-de-Mamão e reproduz as cantigasiv. A professora colocava o CD e, automaticamente,
as crianças começavam a cantar e, de forma espontânea, a bater palmas. O mesmo ocorreu quando a
professora colocou a gravação de Aquarela. O CD parece ser utilizado como um recurso de
aprendizagem para reforçar a letra e a melodia.
Nas músicas da MPB, a professora tocava teclado ou violão fazendo o acompanhamento harmônico,
sempre cantando junto, enquanto os alunos realizavam batidas rítmicas nas mesas. Na entrevista de
estimulação de recordação, a professora expõe que além de trabalhar com a letra de Criança Não
Trabalha, ela fez atividades rítmicas com a música através de movimentos corporais e uma bola,
citando Dalcroze. Em seu método de educação musical, o músico pedagogo ressalta e valoriza a
interação entre experiências físicas e auditivas, tendo a rítmica como um dos aspectos básicos para o
ensino da música (MARIANI, 2011, p.40).
RELATÓRIO FINAL
Discussão
A professora parece não perceber que a voz cantada pode fazer parte do processo de desenvolvimento
das habilidades musicais como, por exemplo, cantar afinadamente. Isso é percebido durante o
desenvolver das atividades, pois em nenhum momento a professora parou para exemplificar, cantar ou
fazer algum comentário sobre questões relacionadas à audição ou afinação. Da mesma forma,
percebemos que elementos musicais básicos como ritmo e melodia, também não foram ressaltados
como conteúdos que estariam sendo desenvolvidos por meio do canto. Entretanto, a professora,
frequentemente, se referia à dinâmica da música que estava sendo cantada. Tourinho (1993, p.95) em
seu trabalho confirma que ensinar música por meio da voz é uma abordagem pedagógica pouco
utilizada pelos professores.
Acreditamos que, nas aulas observadas, as músicas cantadas tiveram uma função mais de
preenchimento do tempo e espaço em sala de aula do que musical, pelo fato das atividades não
estarem conectadas à aprendizagem mais ampla de conceitos musicais. Tourinho (1993, p.98) justifica
que “com o canto, evita-se problemas de comportamento, mantêm-se os alunos ocupados, produz-se
uma imagem aceitável da instituição e libera-se o professor de suas obrigações pedagógicas”. Para o
desenvolvimento do canto propriamente dito, a professora em apenas uma das aulas, fez um exercício
para o “aquecimento da voz” no início da aula, pedindo para que os alunos cantassem as músicas já
trabalhadas para aquecer a voz e relembrar as letras.
Na entrevista semiestruturada, a professora coloca que a turma está num processo de evolução, que em
relação ao cantar e ao fazer musical já estão bons, porém, falta explorar nas aulas a questão do ouvir e
do ensino da história da música. Ela destaca também que está seguindo a matriz curricular geral para
todas as escolas, onde são propostas as atividades de execução, apreciação e criação, ideias baseadas
nos conceitos de Swanwick (ver FRANÇA; SWANWICK, 2002).
De acordo com Barboza (2008), é muito importante que o professor, ao trabalhar com o canto, entenda
que é a referência, ou o primeiro modelo para as crianças e precisa “formar e manter bons hábitos para
uma boa saúde vocal” (p.28), sendo fundamental a qualidade do som que as crianças recebem,
incluindo uma boa afinação. A autora descreve alguns fatores que servem para nortear a prática do
canto infantil. O primeiro aponta o conhecimento que o professor precisa ter de seus alunos para poder
adequar as informações que serão repassadas, não exigindo um esforço vocal desnecessário e tornando
a aprendizagem mais natural. A escolha das canções é outro fator, enfatizando a compreensão das
letras das canções pelas crianças. Elas precisam entender o que estão cantando e dar significado às
canções. Por fim, a expressividade das crianças também precisa ser incentivada através do canto.
Fazendo relação entre os conceitos descritos e a análise das gravações das aulas, percebe-se que, ao
mesmo tempo em que um repertório simples e compreensível em termos de letra e significado é
trabalhado, as melodias, extensões e tessituras diversas exigidas pelas canções dificultaram, por vezes,
sua execução por parte das crianças. A professora, como modelo vocal, parece não auxiliar os alunos,
em relação à afinação, por exemplo. Isso acontece pela não observação e mudança de tonalidades, que
são diferentes para a voz adulta, da professora, e para a tessitura vocal das crianças. Egg (2011, p.407)
ao discutir sobre a necessidade de formação docente destaca a questão do professor como modelo,
assim como Kodály (apud SILVA, 2011, p.78) já havia sublinhado quando propôs o ensino de música
nas escolas a partir do cantar e a importância de desenvolver o hábito de entonação desde muito cedo.
Na aula observada destacam-se aspectos que vão além da técnica: a expressividade e liberdade são
sempre incentivadas nas aulas, onde as crianças batem palmas, executam ritmos nas carteiras e cantam
sem receios. Essa maneira de utilizar o canto remete à pedagogia de Maurice Martenot (FIALHO;
ARALDI, 2011, p.171), pois em seu método de ensino, o músico pedagogo insere a prática do canto
livre, trabalhado por imitação. É um cantar espontâneo, sem preocupações técnicas com a voz, onde a
criança faz exercícios fáceis, escolhe o repertório que vai ser trabalhado, gesticula durante a música,
evitando possíveis bloqueios psicológicos que possam interferir na sua aprendizagem musical.
RELATÓRIO FINAL
Conclusão
Este micro estudo apresentou e discutiu alguns aspectos relacionados à prática do canto nas aulas de
música de uma turma de 4º ano de uma escola da rede pública de ensino. Em primeiro lugar, o
repertório que estava sendo trabalhado fazia parte de dois projetos propostos pela professora: Boi-deMamão e O Livro da Aquarela, constituídos por canções folclóricas e populares, respectivamente. Por
um lado, verificamos que o repertório escolhido pela professora foi bem aceito pelas crianças e, por
outro, que as canções, compostas por frases curtas, graus conjuntos, pequenos intervalos e formas
estruturais fixas, eram de fácil execução e interpretação.
Tanto as cantigas do Boi quanto as músicas do Toquinho, da Turma do Balão Mágico e do Grupo
Palavra Cantada carregam consigo elementos lúdicos que induzem as crianças a brincar, imaginar e a
se expressar de forma espontânea. Foi dessa forma que percebemos os alunos em sala de aula, isto é,
cantando com prazer. A prática do canto não estava direcionada à aprendizagem do domínio de um
instrumento, como o da voz cantada, pelo fato de não termos observado durante as aulas o ensino de
aspectos técnicos essenciais para a aquisição de uma qualidade vocal de excelência.
Pode-se dizer que as crianças cantavam por imitação, pois ouviam e repetiam, ora com o auxílio de um
CD, ora com a professora cantando e tocando o acompanhamento harmônico no teclado ou no violão.
Nas cinco aulas observadas e nas entrevistas com a professora ficou evidente que não existia uma
preocupação em ensinar conteúdos (intervalos, ritmo, forma, etc.) e habilidades (afinação, entonação,
etc.) musicais por meio das canções. Talvez, por isso, em alguns momentos, houve a falta de cuidado
com a escolha das tonalidades que, por vezes, dificultou a execução vocal dos alunos por não ser uma
região confortável àquela faixa etária.
Apesar de diversos trabalhos, elaborados na área de educação musical, apontarem o canto como uma
atividade presente, tanto nas práticas escolares quanto nas aulas de música, poucas são as pesquisas
que se dedicam a produzir conhecimento científico relacionado à pedagogia vocal infantil. Esse pode
ser um indicativo para futuras pesquisas, pois acreditamos que o professor, seja generalista ou
especialista, necessita de habilidades musicais para propor, realizar e conduzir atividades de canto para
todos os níveis escolares da educação básica.
i
Composta em 1982 por Antonio Pecci Filho, mais conhecido como Toquinho, em parceria com o músico
italiano Maurizo Fabrizio, e o letrista Guido Morra, em sua primeira versão, em italiano, Acquarello. A letra foi
inspirada em versos da música Uma rosa em minha mão, feita por Toquinho e Vinícius de Moraes em 1974.
ii
Informações retiradas dos sites: http://pt.wikipedia.org/wiki/Bal%C3%A3o_M%C3%A1gico,
http://pt.wikipedia.org/wiki/Turma_do_Bal%C3%A3o_M%C3%A1gico
iii
Informações retiradas do site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Palavra_Cantada
iv
CD pertencente ao livro “Boi-de-Mamão: Grupo Folclórico Infanto-Juvenil do Porto da Lagoa” de Graça
Carneiro.
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