Liderança: Uma Escada uma Flor e um Regador Capítulo 2 Segundo Elemento: Cenário. Não me refiro apenas ao Cenário econômico, no qual temos uma falsa sensação de que tudo vai bem, com uma taxa de desemprego de 5% frente a uma taxa europeia de 20%. Falsa sensação, pois não podemos esquecer que o Brasil tem um dos mais altos custos unitários do Globo. Isso em virtude de um aumento explosivo da remuneração, baixa produtividade, e da absurda intervenção legal e burocrática trabalhista no Brasil. Sem contar com os entraves sistêmicos e logísticos, junto aos minguados investimentos em educação e desenvolvimento pessoal e profissional. Não me refiro apenas a um Cenário com dificuldades reais em acolher a geração y e que entra cada vez mais tarde no mercado com mais expectativa autônoma, junto a uma dose exemplar de apoio financeiro e retaguarda dos pais. Jovens que gostam de correr riscos e investem na bolsa de valores com o dinheiro da poupança da avó. Refiro-me, diretamente a você. Vivemos em um Cenário apressado, que nos faz tomar decisões imediatas e sempre voltado para os resultados imediatos. Apertamos constantemente o “botão de pânico”, “corremos atrás do próprio rabo” e “vivemos apagando incêndios”. Um Homem no deserto. Pense no Cenário abaixo e responda: “Que decisão tomar?” Você está perdido em um deserto, andando por vários dias e acabou sua água. Você já deve ter assistido esta cena em algum filme, onde a sede e angústia do personagem são enormes, que chegam a causar sede até em você que está no aconchego do sofá e dispõe de toda água que precisa. Pois bem, voltemos ao deserto e você com sede, andando, perdendo as esperanças e quase entregue, quando de repente se depara 38 Rodrigo De Los Reyes Clemente com a seguinte cena: Uma jarra com água pela metade, (suficiente para matar sua sede naquele momento) e ao lado dessa jarra, esta uma maquina de bombear água. Nessa máquina, você lê o seguinte texto: “Despeje toda água da jarra, no cano ao lado da máquina e passe a bombear e assim você terá água para matar sua sede e seguir viagem”. Entenda a complexidade dessa cena. Você deve, a partir de agora, tomar uma decisão importante para sua vida. Beber a água ou arriscar despejá-la no cano da máquina? Nós vivemos em um cenário, que nos convida, quase nos empurra a tomarmos decisões sempre em busca do resultado imediato, do ganho prático da produtividade instantânea. Por conta disso, nosso pensamento é direcionado a beber a água resolvendo nosso problema imediato, mesmo parecendo óbvio que o problema se repetirá a alguns metros à frente. E o pior, é que daqui a alguns metros, quando estivermos com sede novamente vamos questionar: Por que não colocaram outra jarra com água? Agora imagine o contrário: Você despeja toda água da jarra, no cano da máquina de bombear e passa a bombeá-la com expectativa de ter água imediatamente. Mas isso não acontece, você bombeia uma, duas, cem, duzentas vezes e nada... Começa então a se arrepender por ter confiado nos dizeres e não ter matado a sede quando tinha a chance. Porém, de repente, depois de mil bombeadas, a maquina passa a despejar uma quantidade enorme de água, suficiente para você matar sua sede, encher seu cantil e seguir viagem. Vamos analisar alguns pontos: 1- CONFIANÇA: Para você optar em despejar a água no cano, é necessário confiança. A confiança é direcionadora de nossas ações com o meio. Por exemplo, um Gestor trata aquele funcionário em quem confia, de forma democrática e despende energia para desenvolvê-lo. Por outro lado, costuma tratar aquele colaborador em quem ainda não confia, de forma autoritária. 2- EXPECTATIVA: Após confiar e despejar a água, é necessário reavaliar a expectativa imediata. Isso significa que depois de mudarmos nossa atitude e passarmos a confiar, não significa que teremos resultados imediatos do meio, ou seja, após despejar a água da jarra 39 Liderança: Uma Escada uma Flor e um Regador no cano, você deve saber que não terá água imediatamente, antes será preciso insistir e bombear diversas vezes. Se você não ajustar essa expectativa, fatalmente encontrará a frustração e, o caminho seguinte à frustração é sempre a generalização, onde achamos que está tudo certo ou tudo errado. Por outro lado, com ajuste fino da expectativa, você sabe que vale a pena insistir na confiança, pois uma hora o resultado virá. 3- LEGADO: Esse é o principal ponto da questão. Deixar seu legado constitui em nossa principal missão. Deixar legado nessa questão implica em após confiar e despejar a água no cano, persistir e bombear até ter água, você enche novamente a jarra e deixa os seguintes dizeres para o próximo viajante: “Pode confiar, a água da jarra é suficiente para molhar o cano, pois se o mesmo estiver seco você só bombeará ar. E lembre –se de após beber água, encher novamente a jarra para o próximo viajante”. Não questione o Cenário que você atua, questione suas ações no mesmo! Por mais que esse cenário convide-o a sair fazendo, a conquistar apenas resultados imediatos, só você pode tomar a decisão de respirar, pensar, confiar, ajustar expectativa e entregar sua principal missão: Deixar seu legado. Infelizmente acabamos escolhendo beber a água e só nos resta cobrar a atitude de alguém para colocar mais uma água daqui alguns quilômetros. O Cenário da Sabotagem: Criamos para nós mesmos o Cenário da Sabotagem, sabotamos praticamente tudo dentro desse Cenário, profissionalmente, sabotamos qualquer processo ou procedimento que “atrapalhe” nossos resultados imediatos, como por exemplo, aqueles relatórios chatos que criaram para nos controlar. Sabotamos o significado das reuniões e conferências por telefone, quando fingimos estarmos interessados. Sabotamos o sentido de protagonista, pois uma vez que ser protagonista segundo esse cenário é fazer o papel principal, basta eu cumprir as metas que estão descritas em minha lista de obrigações e então, mesmo não tendo bom relacionamento, não promovendo 40 Rodrigo De Los Reyes Clemente trabalho em equipe e não desenvolvendo pessoas, ainda assim, se cumprir aquelas listas de tarefas, serei um protagonista. Eu não preciso desenvolver meu funcionário, pois o Cenário em que eu atuo valoriza apenas os resultados imediatos e para desenvolver um funcionário, a princípio eu tenho que abrir mão de um resultado imediato. Por esse motivo, gastei um dinheiro à toa quando comprei um livro sobre Líder Coach, pois esse líder consegue equilibrar as delegações de tarefas para sua equipe entre tarefas de desenvolvimento e tarefas de resultado, lembrando que para cumprir tarefa de desenvolvimento eu devo abrir mão de resultado imediato. Não serei também um líder servidor, pois em sua essência consiste o fato de não delegar tarefas “quebra-galho” e apenas as tarefas necessárias. Na prática, as tarefas necessárias seriam aquelas que constam na minha avaliação de desempenho e estão vinculadas às competências da mesma. Eu saboto nesse cenário os ensinamentos de uma geração acima da minha, que falava em honra e caráter. Saboto essa geração quando vejo no workaholic uma figura a se espelhar, quando me vejo em um ambiente competitivo, onde devo pensar que só os melhores sobrevivem, onde sou eu ou ele. Então, serei eu sempre que vencerei, portanto aprendo artimanhas para me sobressair perante meus concorrentes. Sabotei minha capacidade intelectual quando busquei apenas diplomas com e pós-graduações, mas no fundo precisava apenas do papel e não da bagagem. Sabotei minha família, pois se tenho alguém que não vou magoar é meu chefe. Aprendi que meu poder e minha submissão são irmãos inseparáveis e que tarefa dada é tarefa cumprida. Faltei ao teatrinho de minha filha e no final de semana aceitei ir para o sítio do chefe ao invés de viajar com a família. Comprei livros de autoajuda, pois passei a acreditar que sou autossuficiente e que não preciso de mais ninguém. Usei o medo para obter resultados de meus funcionários e usei bem essa arte, pois meu chefe usou contra mim. Passei a gostar de palavras como comprometimento, para dizer que aquele que está no mesmo barco furado que eu tem, e aquele que quer sair desse barco, não têm. Delego quebra-galho e quem não faz não tem comprometimento, não tenho agenda e sou indisciplinado, pois tenho que fazer tudo para ontem e, se alguém de minha equipe acaba antes e não sai que 41 Liderança: Uma Escada uma Flor e um Regador nem louco fazendo outros trabalhos, acho que não tem pro-atividade. Por fim, quando tudo está indo mal, uso motivação, elemento que mostrarei ser do Capeta. Apesar de tantos livros de autoajuda, não entendi bem o significado do desenho Bee Movie. Significado: O Princípio das Colmeias: Cada abelha na colmeia tem sua função e a desempenha de forma brilhante, produzindo mel até a morte. Cada operária é conduzida pelas líderes e, por fim, todas são brilhantemente conduzidas pela abelha rainha. Esse desenho animado nos mostra claramente que nenhuma daquelas abelhas, jamais experimentou o mel, que é usurpado pelo ser humano quando estiver pronto. Não tivemos tempo para refletir sobre esse desenho e o nosso cenário, entendendo que no final, nossa saúde, família, amigos, valores e tudo mais que nos interessa foi usurpado. Por isso cobramos que cada funcionário nosso se entregue como nós a cada dia. Nós sabotamos a nossa saúde, uma vez que passamos a acreditar que qualidade de vida é propaganda de margarina. Não compreendemos a fábula do fazendeiro: Um Fazendeiro tem um plano, tomar café. O porco é comprometido, dará sua vida para que o fazendeiro tenha o bacon e a galinha é envolvida, pois dará o ovo para a omelete. Ambos fazem parte do plano do fazendeiro. Eles podem escolher? Se pudessem, optariam por isso? Sabotamos o Tempo: Essa sabotagem merece atenção especial, pois dará passagem ao terceiro elemento você contra você. 42 Rodrigo De Los Reyes Clemente Para falar sobre a sabotagem de nosso próprio tempo, inicio falando sobre tempo Chronos e Kairos. Os gregos antigos tinham três conceitos para o tempo: chronos e kairos Enquanto chronos refere-se ao tempo cronológico, ou sequencial, que pode ser medido, kairos refere-se a um momento indeterminado no tempo, em que algo especial acontece. Desta forma, Chronos é o tempo cronológico, ou sequencial, o tempo que se mede. Kairos é a experiência do momento oportuno. É a forma qualitativa do tempo. Na mitologia, Chronos era um Titã, pai dos Deuses, que apenas comia seus filhos. É o tic-tac do relógio, nunca para, só tira, não devolve, não negocia, não ajusta, não interpreta. São nossos 74,29 anos de vida ou nossas 24horas diárias. Kairos é a percepção do tempo. Uma hora chronos para mim é igual à uma hora chronos para você. Uma hora Kairos pode ser diferente para nós. Exemplo: Sexta feira, 6horas da tarde, quero ir para casa. Quantas vezes eu aperto o botão do elevador? Aquele momento até o elevador chegar torna-se uma espera angustiante? Quando você quer que o Chronos acelere, quem acelera é o kairos. “Não vejo a hora de chegar sexta-feira”. Ainda é segunda. Arrumo minha mala com materiais apenas para o destino, sem pensar quantas coisas posso ter no percurso. Faço amor pensando no gozo final, que dura apenas oito segundos, sem pensar que as “preliminares” podem ser interessantes. Chronos é o tempo mensurável, linear, no qual todas as criaturas nascem, crescem, envelhecem e morrem. É a passagem do tempo percebida através das mudanças. É o tempo vivido nos dias da semana, nos meses do ano e finalmente, nos anos de nossas vidas e dele não se pode fugir. Chronos é a Ampulheta, cuja areia escorre sem parar e nesse passar incessante do tempo nos deparamos com nosso ser mortal, nossa finitude. Mas como todo veneno tem um antídoto, nos é dada uma saída apontada por Kairos, o outro deus grego do Tempo. Sim, porque os gregos tinham dois deuses e duas palavras para o Tempo: Chronos para o tempo que pode ser medido e Kairos para o tempo indeterminado, oportuno. O significado de Kairos seria “o momento certo”. Kairos era o filho caçula de Zeus, jovem atlético e de extrema beleza, e que se movia muito rápido, pois portava asas nos ombros e nos pés. Usava cabeça raspada, deixando apenas um belo tufo de ca- 43 Liderança: Uma Escada uma Flor e um Regador belo na testa, e a razão para isso é que as pessoas só podiam agarrá-lo pela frente, pegando no tufo de cabelo. Ele era tão rápido, que sequer Zeus conseguia pegá-lo depois que tivesse passado. Por essa razão os pitagóricos, que explicavam todo o Universo por relações numéricas, identificavam Kairos como o número sete e o chamava Oportunidade. Por quê? Porque Pitágoras dizia que o sete carrega a vibração que propicia toda criação; vibração essa que provocou a descontinuidade entre o Nada (contínuo) e o Universo Criado. Analogamente, Kairos provoca uma descontinuidade nesse tempo burocrático de Chronos, propiciando-nos ocasiões diversas, mas a realização de um tempo especial, significativo, fica por nossa conta. Afinal, somos os protagonistas de nossa própria história – Kairos precisa ser pego de frente pelo tufo de cabelo, lembra? Depois, o momento propício passa. O corpo, que é matéria, está submetido ao tempo de Chronos, que quantifica e mantém a areia de nossa existência escorrendo pela Ampulheta imaginária. A alma, que é divina e eterna vive o tempo de Kairos, que não traz um início, meio e fim. Por essa mesma razão os teólogos associam Kairós ao tempo de Deus, ao divino. É esse tempo em que aproveitamos para brincar com nossos filhos ou lhes contamos uma estória, o tempo que usamos para a prática de um hobby ou esporte preferido, o tempo que passamos admirando o pôr do sol, passeando de mãos dadas com a pessoa amada, comendo uma pizza com os amigos. Todas essas coisas que pensamos ser banais e fazerem parte da vida, todas elas de certa forma nos libertam daquela contagem de horas, dias e meses e nos levam a medir o tempo pelos momentos vividos. Quando acrescentamos qualidade na nossa vida, transcendemos o tempo cronológico (perdemos até a noção de tempo muitas vezes), e por esse tempo qualitativo descontinuamos o que é contínuo. Kairos está sim associado a grandes oportunidades ou momentos marcantes, ou ainda tomadas de decisões importantes, mas não se limita a isso. Kairos é o nosso próprio tempo vivido em paralelo às horas, aos dias e aos meses do ano. Para reflexão, sugiro ler e, principalmente ouvir intensamente duas músicas que podem retratar bem o Tempo Chronos e Kairos: Tempo Perdido Legião Urbana e Epitáfio Titãs. 44 Rodrigo De Los Reyes Clemente Tempo Perdido - Legião Urbana Todos os dias quando acordo Não tenho mais O tempo que passou Mas tenho muito tempo Temos todo o tempo do mundo Todos os dias Antes de dormir Lembro e esqueço Como foi o dia Sempre em frente Não temos tempo a perder Nosso suor sagrado É bem mais belo Que esse sangue amargo E tão sério E Selvagem! Selvagem! Selvagem! Veja o sol Dessa manhã tão cinza A tempestade que chega É da cor dos teus olhos Castanhos Então me abraça forte E diz mais uma vez Que já estamos Distantes de tudo Temos nosso próprio tempo Temos nosso próprio tempo Temos nosso próprio tempo Não tenho medo do escuro Mas deixe as luzes Acesas agora 45 Liderança: Uma Escada uma Flor e um Regador O que foi escondido É o que se escondeu E o que foi prometido Ninguém prometeu Nem foi tempo perdido Somos tão jovens Tão Jovens! Tão Jovens! Epitáfio - Titãs Devia ter amado mais Ter chorado mais Ter visto o sol nascer Devia ter arriscado mais E até errado mais Ter feito o que eu queria fazer... Queria ter aceitado As pessoas como elas são Cada um sabe a alegria E a dor que traz no coração... O acaso vai me proteger Enquanto eu andar distraído O acaso vai me proteger Enquanto eu andar... Devia ter complicado menos Trabalhado menos Ter visto o sol se pôr Devia ter me importado menos Com problemas pequenos Ter morrido de amor... Queria ter aceitado A vida como ela é A cada um cabe alegrias E a tristeza que vier... 46 Rodrigo De Los Reyes Clemente O acaso vai me proteger Enquanto eu andar distraído O acaso vai me proteger Enquanto eu andar...(2x) Devia ter complicado menos Trabalhado menos Ter visto o sol se pôr... Administração do Tempo. Responda rápido: Tempo é dinheiro? Por quê? Resposta: Se a resposta foi sim, me desculpe, pois além deste texto não lhe servir, tenho que dizer que você é infeliz e está em “liquidação”. O texto a seguir trata da administração do seu tempo e, portanto, do quanto você consegue aproveitá-lo. Se você acredita que tempo é dinheiro, você provavelmente pensa em descansar apenas quando se aposentar e será feliz apenas quando conquistar alguma coisa. A má notícia é que, além de você não ficar satisfeito quando conseguir e projetar uma nova conquista, jamais saciará seu desejo que cada vez será maior e estará mais ao seu alcance. A projeção de sucesso é justamente seu maior algoz. Sucesso e felicidade são fórmulas opostas, pois o sucesso você projeta e alcança, e a felicidade você projeta e comete o suicídio diário, pois felicidade é um estado e é observada apenas no presente. Desta forma, o simples fato de projetar felicidade o torna infeliz. Tempo não é dinheiro, tempo é vida e a sua vida é preciosa e rara. Rara na natureza significa cara para nós, um preço alto demais para que você entre em liquidação tão facilmente e por um preço tão baixo. Um dia li uma frase que diz “Só o trabalho produz riqueza” e fiquei pensando que eu nunca trabalhei, pois não sou rico e desde os dezesseis anos acordo às cinco horas da manhã. Foi tudo em vão! O que é mais importante: O destino ou a viagem? O fim ou os meios? A subida ou o topo? 47 Liderança: Uma Escada uma Flor e um Regador Resposta: Se sua resposta anterior foi que tempo é dinheiro, você realmente acha que os fins justificam os meios e que o destino é mais importante que a viagem e que o topo é mais importante que a subida. Proponho uma reflexão enquanto você arruma suas malas para uma viagem, que pode ser, inclusive, uma viagem de trabalho. Você pensa nos itens que levará para o trajeto? Pois devia, pois o tempo de trajeto faz parte do seu tempo de vida e desprezá-lo significa desprezar a própria vida. Se você é casado e tem relação sexual com seu companheiro (a), saiba que o tempo médio de orgasmo de um homem é de 6 a 8 segundos, o de uma mulher é de 10 a 12 e de um porco chega a 50 segundos. Na relação, você está ansioso para alcançar esses seus grandiosos segundos? Se a resposta foi sim, você deve estar se lamentando por não ter nascido um porco. Ou você de fato entende que o caminho pode ser tão intenso quanto a chegada. O tempo está correndo, ele não para! Querer chegar ao destino é estar ansioso pelo final de seu tempo. E, no topo da montanha você reflete o quanto foi intensa a subida e como vale a pena o trajeto. O tempo passa! Estamos contando e vivendo o tempo de forma adequada? Será que não estamos vivendo pelo desejo do fim das coisas? Felicidade é meta? Resposta: Lembre-se do conceito Chronos e Kairós: O tempo kairós não vivido gera arrependimentos... Listas de Epitáfios: ESPÍRITA - Volto já. INTERNAUTA - www.aquijaz.com.br ALCOÓLATRA - Enfim, sóbrio. PALEONTÓLOGO - Enfim, fóssil. ASSISTENTE SOCIAL - Alguém aí, me ajude! 48 Rodrigo De Los Reyes Clemente BROTHER - Fui. CARTUNISTA - Partiu sem deixar traços. ECOLOGISTA - Entrei em extinção. FUNCIONÁRIO PÚBLICO - É no túmulo ao lado. GARANHÃO - Rígido, como sempre. HERÓI - Corri para o lado errado. HIPOCONDRÍACO - Eu não disse que estava doente?!?! HUMORISTA - Isto não tem a menor graça. JANGADEIRO DIABÉTICO - Foi doce morrer no mar. MATERIALISTA - O que vocês estão fazendo aqui? Quem está tomando conta da lojinha? PESSIMISTA - Aposto que está fazendo o maior frio no inferno. SEX SYMBOL - Agora, só a terra vai comer. VICIADO - Enfim, pó! ADVOGADO - Disseram que morri... Mas vou recorrer!!! E o que disseram os Titãs? Releia a letra da música “Epitáfio”: Arrependimentos antes da morte: Retratado pela enfermeira australiana Bronnie Ware, especializada em cuidados paliativos, no livro “The Top Five Regrets of the Dying” (“Os Cinco Maiores Arrependimentos à Beira da Morte”, em tradução livre). Esse conceito será encontrado no capítulo 3. 49 Liderança: Uma Escada uma Flor e um Regador 1. Eu gostaria de ter tido a coragem de viver uma vida verdadeira para mim, e não a vida que os outros esperavam de mim. 2. Eu gostaria de não ter trabalhado tanto. 3. Eu gostaria de ter tido a coragem de expressar meus sentimentos. 4. Eu gostaria de ter mantido contato com meus amigos. 5. Eu gostaria de ter me deixado ser mais feliz. Mas, como podemos viver o tempo kairós? Resposta: Mantendo o foco... Mas, o que é foco? Vamos construir juntos este conceito. Escolhemos pessoas em nossas vidas? NÃO! Nossa escolha pode estar apenas na qualidade dos relacionamentos. Nem mesmo seu marido ou esposa foi uma escolha primaria. Isso mesmo, quando você conheceu seu cônjuge, você tinha como escolha primaria um local, por exemplo seu trabalho, um restaurante ou uma festa. Onde você for, já vai ter gente, portanto seu cônjuge é uma escolha secundaria. ???? Portanto: Foco significa estar no mesmo lugar e na mesma hora, com pessoas que não escolhemos estar... Relacionamentos são opcionais? NÃO Por exemplo, eu sou palestrante e entro mudo e saio calada de uma palestra. Eu me relacionei? Sim. Minha omissão causou nos participantes uma reação, portanto eu me relacionei. Até a ausência é uma relação. Por exemplo: Você faz uma festa de casamento para sua filha e convida 150 pessoas e n data do evento 50 pessoas não comparecem. A ausência dessas 50 pessoas foi sentida por você, causou um sentimento, você pensou nelas, portanto se relacionou com elas mesmo as mesmas estando ausentes. ???? Portanto: Foco significa estar no mesmo lugar e na mesma hora, com pessoas que não escolhemos estar e sermos “obrigados” a nos relacionar com elas de forma negativa ou positiva. 50 Rodrigo De Los Reyes Clemente Mas, como fazer isto? De forma ÍNTEGRA... Através de nossas memórias, que são duas: Curto Prazo – Memória Randômica Longo Prazo – HD Só há vínculo se houver memória a longo prazo. Armazenamos apenas aquilo que nos é caro... Isto serve para tudo em nossas vidas. Isto é kairós... Isto é foco. E só há foco se houver integralidade. Mas, o que significa ser íntegro? Estar no mesmo lugar com cabeça, corpo e alma presentes. Encontre o conceito de integridade escrito no capítulo 3, no tópico a síndrome da mula-sem-cabeça. Seres com Corpo: SOMA, Cabeça: PSIQUE e Espírito: PNEUMA. Soma Somos Triunos Ser Humano Pneuma Psique Sensações físicas Soma / Corpo Sentimentos Amor EROS 51 Liderança: Uma Escada uma Flor e um Regador Quando nascemos, somos energia pura. Pense em uma fogueira... Quanto mais próxima mais você sente sua energia e conforme você vai se distanciando você passa a sentir menos a energia dela, ou seja, menos calor. Conforme o tempo passa, vamos perdendo nossa energia e caminhando para a morte. O amor Soma, significa Eros. O Eros tem a ver com o corpo. Enquanto o corpo está saudável existe o amor, pois quando não estiver mais saudável o amor acaba. Esse amor é frágil, nunca será eterno pois o corpo piora com o tempo. Energia Corpo O amor EROS tende a desaparecer com a queda da vitalidade do corpo. “Que seja eterno enquanto dure”. Chrono O amor PHYLEO, é o amor do cérebro, é o amor que você encontra por meio dos olhos das pessoas, acessando direto o caminho da alma. Você ama a pessoa pelos: pensamentos, inteligência, lógica, valores, ideologias, emoções, crenças e etc. 52 Rodrigo De Los Reyes Clemente Pensamentos Amor PHYLEO Inteligência Lógica Valores Cognição Ideologias ALMA Emoções MENTE Crenças CÉREBRO Etc Ser Humano PSIQUE Esse amor se fortalece com o tempo, pois quanto mais você envelhece maior é seu poder cognitivo, mais fortalecida está sua alma. Esse amor, portanto, é o amor até que a morte os separe. Corpo Kairós O amor PHYLEO tende a aumentar e fortalecer à medida que a alma evolui. “Até que a morte o separe”. Alma Chronos Tempo 53 Liderança: Uma Escada uma Flor e um Regador PNEUMA traz o amor ÁGAPE, esse amor não pode ser explicado pela ciência, é um amor sem lógica. Você ama independente do corpo (SOMA), ou da cabeça (PISIQUE). Mesmo o mais terrível e desprezível ser humano, ainda sim terá uma mãe que o ama por exemplo. O amor ÁGAPE pode ser explicado em diversas religiões. Amor ÁGAPE Porção etérea do ser humano Ser Humano Espírito Pneuma Vamos concluir nossa definição: Foco, portanto, significa: Estar no mesmo lugar e na mesma época, com pessoas que não escolhemos estar, sendo “obrigados” a nos relacionar com essas pessoas, de forma negativa ou positiva, no tempo chamado “hoje”, de maneira tão profunda a fim de garantir um vinculo com essas pessoas, de corpo, alma e espírito. Só há tempo Kairós se houver foco... Só há foco se houver consciência de si mesmo no AQUI E AGORA. Isto é VIDA PLENA. Vamos ouvir uma canção: PACIÊNCIA Letra: Mesmo quando tudo pede Um pouco mais de calma 54 Rodrigo De Los Reyes Clemente Até quando o corpo pede Um pouco mais de alma A vida não para... Enquanto o tempo Acelera e pede pressa Eu me recuso faço hora Vou na valsa A vida é tão rara... Enquanto todo mundo Espera a cura do mal E a loucura finge Que isso tudo é normal Eu finjo ter paciência... O mundo vai girando Cada vez mais veloz A gente espera do mundo E o mundo espera de nós Um pouco mais de paciência... Será que é tempo Que lhe falta pra perceber ? Será que temos esse tempo Pra perder? E quem quer saber ? A vida é tão rara Tão rara... Mesmo quando tudo pede Um pouco mais de calma Mesmo quando o corpo pede Um pouco mais de alma Eu sei, a vida não para A vida não para não... Será que é tempo Que lhe falta pra perceber ? 55 Liderança: Uma Escada uma Flor e um Regador Será que temos esse tempo Pra perder ? E quem quer saber ? A vida é tão rara Tão rara... Mesmo quando tudo pede Um pouco mais de calma Até quando o corpo pede Um pouco mais de alma Eu sei, a vida não para A vida não para não... A vida não para... Portanto, administrar o tempo significa viver um Chronos repleto de significado Kairós... Viver cada dia como se fosse o último. Valorizar mais a jornada do que o destino... Significar a vida pelo que somos e não pelo que possuímos. Ser capaz de encontrar em si mesmo motivos para viver plenamente. A partir destes dois elementos, entender que somos seres de necessidades e fonte que supre necessidades humanas e que sem isso é impossível uma vida plena. Você como fonte de necessidade do outro. Minha esposa Carol e eu fomos pela primeira vez em um Motel, no ano passado, para comemorarmos nosso décimo aniversário de casamento. Como era uma novidade para ambos, escolhemos um de luxo, no qual desembolsamos boa quantia em dinheiro para pernoitarmos. Chegamos por volta da meia noite e logo de cara me deparei com uma cama enorme e redonda, que nunca tinha visto antes, nem em filmes. Ao lado da cama uns “brinquedinhos”, que se eu contar como usamos certamente não terei mais esposa (nesse momento podemos perceber que homens e mulheres são bem diferentes em determina- 56 Rodrigo De Los Reyes Clemente das condutas). A Carol foi para o banheiro dizendo que iria se preparar para mim e já fiquei imaginando um desenho de asa-delta em seus pelos pubianos. Enquanto isso, eu fui explorar o local... A suíte era enorme! Devia ter uns 500 metros quadrados e, ao explorar o recinto, encontrei uma piscina. Estava pronto para realizar um antigo sonho de nadar pelado, ainda mais em uma piscina aquecida. Nadei por mais ou menos vinte minutos e já ouvi a Carol chamar “Amor, já estou pronta!”. E gritei “Já vou querida”. Ainda dentro da piscina eu vi um painel com botões e, como homem é curioso, apertei e uma enorme cachoeira apareceu e para relaxar fiquei debaixo mais uns vinte minutos. Quando sai da piscina e estava me dirigindo para Carol, observei uma espreguiçadeira dessas que só vimos no cinema e resolvi deitar. Ao lado dela, mais um painel para apertar botões e então o teto solar se abriu e pude contemplar as estrelas por mais ou menos dez minutos. Quando ouvi minha esposa me chamando novamente eu respondi que estava apenas contemplando os astros para melhorar meu desempenho. Saí da espreguiçadeira e observei uma banheira enorme e resolvi colocar todos os sais de banho de uma só vez, fazendo uma enorme quantidade de espuma. Entrei na banheira com espumas e por lá permaneci durante uma hora até que a Carol falou que se eu demorasse mais ela iria dormir. Ao sair da banheira, não pude deixar de reparar em uma porta que levava a uma sauna; só para mim e então resolvi abrir os poros na sauna a vapor. Saí da sauna e fui para uma elegante ducha que me deu frio e resolvi dar só mais um mergulho na piscina aquecida. Piscina pede cachoeira, que pede espreguiçadeira, que pede banheira com espuma, que cai a pressão e pede sauna, que pede ducha novamente. Quando fui para o quarto, já passava das seis horas da manhã e estava praticamente na hora de irmos embora. A Carol estava dormindo e eu a acordei para irmos embora. Até tentei dar uns beijinhos para que pudéssemos fazer sexo, mas quando ela me viu todo enrugado, me falou que eu estava parecendo o Alf, o ET do antigo seriado de TV. Esta história ilustra bem o assunto que segue, pois o ser humano é um ser de necessidades. Por exemplo, você tem sede e sua necessidade é água, tem fome e sua necessidade é comida. Mas também pode ter sede de uma caipirinha quando está em um Hotel de férias à beira da piscina, ou de uma cerveja quando está em um churrasco com amigos, ou de um suco gelado depois de uma corrida, de um 57 Liderança: Uma Escada uma Flor e um Regador chocolate quente no inverno ou de um café no trabalho. E o mais interessante: depois de saciar a sede ou a fome, após umas três horas, lá está você novamente bebendo e comendo. Mas com já dizia os Titãs “A gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte”. Como humanos, temos outras necessidades, como sermos valorizados, ouvidos, aceitos, elogiados, prestigiados e respeitados. Por exemplo, meu público é fonte de satisfação de minha necessidade de ser elogiado e esta é suprida quando recebo aplausos. Mas essa necessidade não acaba e, para próxima turma no dia seguinte, tenho novamente a mesma necessidade, bem como a água e a comida. E essas necessidades são encontradas no outro ser humano. Precisamos do outro para suprir as nossas necessidades e ao mesmo tempo somos fonte que supre as do outro. Temos dificuldades, infelizmente, de entender isso e passamos o tempo todo nos preocupando apenas em termos a nossa necessidade suprida pelo outro e não em suprirmos as dele. No caso do Motel com a Carol, fica claro que eu me preocupei o tempo todo em suprir as minhas necessidades, “brincando” com o clube que encontrei. Por outro lado, deixei de suprir as necessidades da Carol que eram diferentes das minhas. O outro é a maior fonte de satisfação afetiva e emocional, então devemos estabelecer relacionamentos e não apenas nutrir relações humanas. A dificuldade aqui é que o que queremos do outro, não é necessariamente o que o outro quer nos dar ou que o outro quer de nós. Na realidade isto depende da maneira como entendemos os relacionamentos e o mundo que nos cerca. Isso ocorre em decorrência da subjetividade, pois nela residem nossas diferentes histórias de vida, memória emocional, valores intrínsecos, cultura, experiências pessoais, conhecimentos adquiridos, vivências afetivas, maneira como vemos a vida, forma como reagimos a dor, julgamentos que damos aos fatos, opiniões que formamos do outro, prioridades que estabelecemos na vida e a visão que temos do futuro e dos sonhos. Enfim, somos completamente diferentes uns dos outros; assim sendo, temos necessidades bem específicas e procuramos satisfazê-las de maneira bem peculiar. Todos nós temos necessidades, porém, não as idealizamos da mesma maneira. Então temos que aprender que, como fonte de satisfação do próximo, faz- 58 Rodrigo De Los Reyes Clemente -se necessário compreender a subjetividade do outro a fim de construir caminhos para o bom relacionamento. Pela dificuldade de compreender esses simples pontos sobre sermos fonte de satisfação do outro, é que estamos sempre transferindo para o outro a responsabilidade e a culpa pelos conflitos gerados. Prova disso é a síndrome do bode expiatório, que assola o homem desde Adão. Sobre o bode expiatório conta a lenda que, antigamente, um sacerdote matava um bode e derramava seu sangue sobre um outro que era retirado da cidade e acreditava-se que ele sairia levando todos os pecados da cidade junto com ele. Desta forma, todos os pecadores ficavam livres de seus pecados, pois os mesmos iriam embora com o bode. Transferiam sua culpa para o bode que levava a culpa no lugar dos moradores. 59