Gazeta revista55 final:Layout 1 31-10-2007 20:25 Page 10 fruticultura Retratos de uma visita BOLZANO – A PROVÍNCIA ITALIANA ONDE A MAÇÃ É RAINHA (Parte I) Após sucessivos adiamentos provocados por múltiplos motivos, concretizámos, em Novembro passado, na companhia de um conjunto de técnicos da DRABL e DRATM, um objectivo que há muito perseguíamos: participar na INTERPOMA – Feira Internacional de Maçã, e, simultaneamente, visitar a província de Bolzano (Südtirol/AltoAdige), um autêntico “santuário” da fruticultura europeia O Südtirol, para os 330 mil habitantes de língua germânica, ou Alto Adige para os 135 mil que preferem o italiano, é uma região que, geograficamente, faz fronteira a norte e este com a Áustria (Tirol Setentrional e Salzburgo), a sudeste com Vêneto (província de Bellino), a sul com Trento, a oeste com a Suíça (Cantão Grisões) e a sudoeste com a Lombardia (Sondrio). Pertenceu à Áustria por muitos séculos, tendo sido anexada pela Itália em 1918, após a I Guerra Mundial. Deve o seu nome – Tirol – ao Castelo de Tirol, na cidade de Bolzano, morada dos condes que dominavam a área na Idade Média e que dividiam o poder com o Príncipe - bispo de Trento. A produção da fruticultura Agricolamente falando, a província de Bolzano possui uma superfície agrícola útil de 272.000 hectares e uma população activa de 8%. Na generalidade, as explorações agrícolas são familiares, possuem uma superfície média compreendida entre 2 e 4 hectares e são quase totalmente (97,5%) dirigidas pelo próprio agricultor, que considera a aquela última dimensão como a área ideal para que, com base na mão de obra familiar, se possa obter uma boa rentabilidade. Sendo o factor terra com aptidão frutícola um bem escasso, o preço por hectare atinge valores verdadeiramente astronómicos e quase irreais – 350.000 euros – o que faz com que o mercado fundiário de compra e venda, praticamente, não exista No que concerne à fruticultura, cujo forte desenvolvimento ocorreu no período compreendido entre o final dos anos cinquenta e o princípio da década de sessenta, pode dizer-se que é a actividade agrícola economicamente mais importante, como, 10 | gazetarural | 15 Janeiro 2007 etc. – não observámos grandes novidades, constatando-se, isso sim, que os fruticultores italianos se vêem obrigados a realizar um maior número de tratamentos por campanha para combaterem o pedrado e o bichado, para além de já se debaterem com novos problemas fitossanitários de elevada gravidade como são o “Fogo Bacteriano” e a “Apple Proliferation”, doenças que, felizmente, ainda não nos atingiram. Ainda que a produção se faça a partir dum conjunto diversificado de variedades, as macieiras do grupo Golden – Reinders e Clone B – continuam a ser as mais utilizadas (36%), seguidas dos grupos Gala (19%) – Schenitzer e Brookfield; Red Delicious (15%) – Erovan e Sandige; Fuji (10%) – Kiku 8; e Granny Smith (8%). Os restantes 12% integram variedades como a Pink Lady (5%), Braeburn (5%) e Jonagored (2%). Face aos mercados de destino, os produtores de Bolzano têm de se manter permanentemente actualizados relativamente às exigências aliás se demonstra pelos 18 mil hectares ocupados e pela produção anual de 900 mil toneladas, cifra que, por si só, representa metade do total do país, 16% da Europa a 15, tanto como na Alemanha e o triplo do produzido em Portugal. Sendo a produtividade média de 50 toneladas/hectare, facilCOM 900 MIL mente se deduzirá que esse TONELADAS DE quantitativo só é atingível PRODUÇÃO, CIFRA com o recurso à utilização de QUE, POR SI SÓ, tecnologias de ponta, das REPRESENTA METADE quais realçamos a qualidade e DO TOTAL DO PAÍS, uniformidade do material ve16% DA EUROPA A 15, getativo utilizado (produzemTANTO COMO NA se 5.000.000 de plantas/ano) e ALEMANHA E O TRIPLO a densidade de plantação suDO PRODUZIDO EM perior a 3000 árvores/ha, dois PORTUGAL aspectos que estão intimamente relacionados. Só a utilização de porta enxertos ananicantes, como o EMLA 9, predominante (90%) nas plantações, permite o compasso de 3x1 e de 3x0,60 que a esmagadora maioria dos fruticultores ali utiliza. Quanto às restantes técnicas – fertilizações, combate a pragas e doenças, sistemas de condução, podas, decorrentes dos hábitos alimentares dos consumidores e das preocupações com os modos de produção. Para responder a esses imperativos, 95% da produção é feita segundo as normas da “produção integrada” e 90% está certificada pelo sistema EUREPGAP. Existem também 450 hectares submetidos ao Modo de Produção Biológico (MPB) com a produção global de 14.000 toneladas, assegurada por 140 produtores e com resultados financeiros da ordem dos 12 milhões de euros. Quanto à disponibilidade comercial de novas variedades, ela está assegurada pela renovação dos pomares, que é realizada à média de 8% por ano e sempre que a sua idade atinge 12-15 anos. Refira-se que, ao contrário do que sucede em Portugal, Espanha ou França, por exemplo, em Bolzano não existem quais quer apoios financeiros para a instalação das plantações, facto que acentua ainda mais a importância socio-económica que o sector tem naquela região. Francisco Fernandes