Moradores convivem com
Engenhos explosivos
Angolense...
25-11-06
No início do ano de 1990, o número de bairros na
cidade de Luanda era diminuto, o que não se pode
dizer nos dias de hoje. Com a intensificação do conflito
armado que assolou o país, foram surgindo vários
bairros nos arredores da cidade, uns em áreas
reservadas e outros em unidades militares, associando-se
a isso a falta de projectos habitacionais de baixa
renda. Foi assim que surgiu o bairro do Paiol, na zona
do campo militar do Grafanil. Nessa zona os
moradores, mulheres, crianças e velhos convivem com
os engenhos explosivos.
O bairro situa-se por detrás da famosa zona dos quartéis
do Grafanil, a noroeste do município do Kilamba Kiaxi.
Sem medirem as consequências, os populares invadiram
o local onde, até então, era armazenado o
armamento das Forças Armadas Angolanas (FAA).
Essa zona sempre se chamou "Paiol", mas o bairro
propriamente dito surgiu nos finais de 2001.
O perigo é eminente. Os habitantes do Paiol correm
sérios riscos, aguardam pela morte, porque a qualquer
momento a tragédia pode acontecer.
Para os que têm de confeccionar os alimentos com carvão,
o perigo é maior porque junto a um fogareiro
pode estar uma bala mortífera. O método adoptado é
pôr o fogareiro por cima de quatro blocos para se
evitarem desastres.
É visível a céu aberto munições uma realidade crítica
para os que não têm alternativa de viver num outro
ponto da cidade, como é o caso de Adão Francisco.
Reside nesse bairro desde o ano de 2001, integrantes
das antigas FAPLA, inicialmente depois de ter saído do
exército Francisco começou por viver em casa de num
irmão. Com o andar do tempo teve problemas com a
cunhada. Para evitar conflitos decidiu sair de casa e
ocupou uma parcela no bairro do "Paiol” onde
construiu uma pequena residência. "Se tivesse
possibilidade de construir num outro sítio já teria saído,
porque correm-se muitos riscos ", disse. É voz corrente
nesse bairro já deflagraram vários engenhos explosivos
e a consequente perda de vidas humanas,
particularmente crianças. Recentemente uma criança de
13 anos perdeu a vida
na sequência de um ferimento se a cabeça provocado
por uma bala que estava no solo. Engrácia Mateus,
outra moradora do bairro rende graças a Deus por não
ter ocorrido uma tragédia com a sua família, a
protecção dos petizes é um quebra-cabeças porque
quando menos se espera as mesmas, podem estar a
brincar com um engenho explosivo. "Há dois meses
que não acontecem explosões, as mães estão constantemente
a aconselhar as crianças a não brincarem com
objectos estranhos", explicou.
Alguns moradores são responsáveis pelos casos que
ocorrem no bairro, pois, põem fogo em qualquer lugar
o que resulta em rebentamento de explosivos.
O "Paiol" é habitado maioritariamente por cidadãos
deslocados das províncias do Kwanza-Norte, Malange,
Huambo e por militares das FAPLA. Damião Jorge é
um dos muitos militares que lutou nas várias frentes de
combate de armas em mão. "Não tínhamos outra
solução, senão construir as nossas residências aqui",
contou. Caso a transferência venha a acontecer, como
presumem os moradores, o Governo poderá os
atribuir-lhes novas casas e não tendas.
"Queremos que o Governo nos conceda casas, porque
de contrário preferimos morrer aqui", disse em defesa
dos demais moradores o "coronel Damião" como é também conhecido.
O local, apesar dos riscos, continua a receber novos inquilinos
a fazer fé nas obras que estão a ser feitas ao
redor do mesmo.
"Paiol" é um bairro pobre onde os principais serviços
básicos são inexistentes. Não há energia eléctrica, água
potável e quanto aos serviços de saúde, recorrem ao
município do Kilamba Kiaxi.
Convidada a pronunciar-se sobre os factos narrados,
uma fonte da administração municipal do Kilamba
Kiaxi afirmou não haver ainda um plano para se
desalojar os populares daquela zona.
Disse ainda desconhecer o envolvimento de fiscais na
venda de terrenos naquela área.
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